BRASÍLIA - Após ruídos na sua chegada ao Banco Central, o novo diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, adotou um tom apaziguador e de conciliação na sua primeira participação pública no cargo e depois da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa Selic de 13,75% para 13,25% ao ano.
Durante debate organizado pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon), o ex-braço direito do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou afastar um postura conflituosa dentro do BC. Galípolo elogiou a qualidade técnica da reunião da reunião Copom.
Galípolo disse que nunca tinha participado de uma reunião tão bem “brifada” do ponto de vista de quantidade e qualidade de informações como a do Copom. Segundo ele, a sua primeira reunião aconteceu em clima cordial e educado.
“Isso é uma resultado de uma capacidade técnica enorme que existe dentro do BC”, afirmou. “A cada reunião que eu faço com técnicos eu queria sair com um diplominha de horas de curso que eu fiz adicional. Eu aprendo demais”, disse. Na sua avaliação, a última ata do Copom teve “coragem” de explicitar os debates que foram realizados, com posições técnicas e defensáveis. Ele, no entanto, não fez nenhuma referência ao presidente do BC, Roberto Campos Neto - nem a favor e nem crítica. Campos Neto votou por um corte maior dos juros, desempatando a decisão do comitê.
O novo diretor também disse que as decisões do Copom foram técnicas e todos os argumentos apresentados, válidos. Ele foi questionado sobre as divergências entre os grupos de diretores do BC na última reunião. Respondeu apenas que estavam relacionadas ao tamanho do corte: 0,25 ou 0,50 ponto porcentual. Mas sinalizou que há convergência sobre os próximos passos.
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‘Mensageiro’
Indicado pelo presidente Lula para o cargo em meio a uma sequência de ataques de integrantes do governo a Campos Neto contra os juros altos, Galípolo é visto como um mensageiro do governo para acelerar a queda da taxa Selic e garantir maior diversidade de opinião no Copom.
As críticas do governo ao BC continham justamente a visão de que Campos Neto não estava sendo técnico ao manter os juros em patamar elevado por muito tempo, prejudicando a condução da atividade econômica e a gestão do governo Lula.
Os ruídos aumentaram com informações de que haveria uma espécie de “mordaça” no BC para tolher falas do novo diretor, o que foi negado pelo banco. O novo diretor é apontado como possível sucessor de Campos Neto. No debate, ele citou a escassez de pessoal, falta de concursos e a demanda por mudança na carreira dos servidores do banco. O governo e BC buscam uma transição suave até o final de 2024, quando termina o mandato de Campos Neto.
‘Economia real’
No debate, Galípolo apoiou proposta do ex-presidente do Cofecon, Antônio Corrêa de Lacerda, para ampliar o processo de captura de expectativas de inflação do Copom com outros segmentos da sociedade. Ele disse que o diretor de o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, tem falado sobre o tema.
Lacerda também propôs a criação de um conselho consultivo do Copom de experts sobre política monetária, formado por integrantes de fora do mercado. O economista, que foi professor de Galípolo, defendeu maior clareza no processo de operacionalização da autonomia do BC. Sobre esse ponto, Galípolo não comentou e nem respondeu pergunta do Estadão se o Copom precisa de mais diversidade de opinião.
Como antecipou o Estadão, Campos Neto se comprometeu a fazer pesquisas frequentes com empresários para captar o pulso da economia real do Brasil. A ideia do BC é fazer um novo indicador para monitorar as expectativas do ponto de vista das empresas. O Banco Central hoje capta as expectativas de mercado por meio do boletim Focus, uma pesquisa coletada apenas com representantes do mercado financeiro.