O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse nesta quinta-feira, 5, que as reservas internacionais robustas, o crescimento da economia e a trajetória mais benigna da inflação colocam o Brasil em posição privilegiada frente ao impacto da alta dos juros americanos.
Ele reconheceu, porém, que a remuneração mais alta dos títulos dos Estados Unidos, citando yields de 5% ao ano, não costuma ser um cenário tranquilo a países emergentes. O diretor do BC atribuiu à elevação dos Treasuries, como são chamados os títulos emitidos pelo Tesouro dos Estados Unidos, e as previsões mais pessimistas do mercado, que apontam uma taxa de 10,5% para a Selic ao fim do ciclo de flexibilização monetária.
“O que a gente escuta lá fora é: ‘vocês fizeram a lição de casa, estão performando melhor do que seus pares, mas o diferencial de juros está estreitando’. E, sendo o Brasil um país de carry (carry trade, operação que visa ganhos com base na diferença entre as taxas), começa a discussão sobre o estreitamento do diferencial.”
Durante fórum sobre fundos imobiliários, realizado em São Paulo pelo GRI Club, Galípolo destacou as surpresas positivas da inflação, mas reconheceu que o BC ainda tem a “última milha” para reancorar as expectativas de inflação na meta central de 3% nos próximos anos. Hoje, as expectativas para 2025 adiante estão em 3,5%.
“Quem está no Banco Central não discute a meta, apenas persegue a meta. E a meta é 3%”, disse. Galípolo salientou haver espaço para o BC ajustar o ritmo de contração da taxa básica, sem tirar a Selic da zona contracionista. Ao explicar a indicação de novos cortes de 0,5 ponto porcentual da Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), ele assinalou que esse ritmo permite à autoridade monetária ajustar o passo, se necessário, ao mesmo tempo em que observa a reação da economia ao ciclo de flexibilização monetária.
Ao elencar as explicações possíveis para a elevação e volatilidade dos Treasuries, o diretor de política monetária do BC citou a possibilidade de o Japão ter deixado de comprar os títulos americanos — hoje, uma explicação mais frágil —, a venda de reservas em dólares por países como a China, e a reversão da expansão monetária quantitativa nos Estados Unidos.
Ele também lembrou da necessidade de financiamento dos Estados Unidos — US$ 200 bilhões por mês —, o que leva o Tesouro do país a emitir mais títulos, pressionando as taxas para cima. Galípolo disse não perceber um risco de default na maior economia do mundo — ou seja, um calote da dívida —, mas, sim, uma maior pressão fiscal pela maior necessidade de financiamento.
Em paralelo à resiliência da atividade econômica nos Estados Unidos, a situação pode exigir que o Federal Reserve, o banco central do país, mantenha os juros em patamar alto por mais tempo, pontuou Galípolo.
Inflação mais resiliente
Galípolo apresentou durante o fórum um cenário no Brasil que se repete em outras economias do mundo, no qual tanto a atividade econômica quanto a inflação exibem resiliência.
Após falar das preocupações iniciais no mercado sobre a condução das pautas econômicas pelo governo, ele lembrou que os juros futuros começaram a cair antes mesmo do ciclo de cortes da Selic, em decorrência tanto das medidas anunciadas no primeiro semestre, como o novo marco fiscal e a manutenção da meta de inflação, quanto de um cenário mais benigno da inflação doméstica.
Apesar disso, ele ponderou que a inflação se mostra mais persistente e resiliente do que era esperado inicialmente. Ele citou, em especial, a resiliência de indicadores como serviços subjacentes.
Galípolo disse que os economistas estão revendo variáveis não observáveis, como o hiato do produto, a taxa de juros neutra e o PIB potencial, na tentativa de entender as surpresas positivas com a atividade, que cresce acima do inicialmente previsto, e da inflação, cuja queda é maior do que se esperava.
Ele citou previsões de crescimento entre 2,8% e 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e a volta das captações de fundos.
Ao elencar as possíveis explicações às surpresas tanto de PIB quanto de inflação, o diretor de política monetária do BC apontou o impulso da supersafra, assim como a leitura de que as reformas realizadas nos últimos anos podem ter elevado o PIB potencial.
Galípolo observou que vários países em situação similar — com o mercado de trabalho aquecido e a inflação cedendo, embora com resiliência — estão buscando explicações mais domésticas para resultados parecidos com os do Brasil.