O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, que votou pelo corte de 0,5 ponto porcentual da Selic na reunião do Copom da semana passada, disse nesta quarta-feira, 15, que cogitou votar em um corte de 0,25 ponto porcentual em vários diálogos, mas que entendeu que haveria um custo, um risco reputacional, para a credibilidade da comunicação da autarquia.
Galípolo, um dos nomes mais cotados para assumir o comando do BC após a saída de Roberto Campos Neto, fez esta afirmação durante participação em evento do Jornal Valor Econômico, em Nova York, ao ser questionado sobre seu voto no Copom. Na última reunião, houve uma divisão dentro do colegiado: os quatro diretores indicados por Lula votaram por um corte de 0,5 ponto, enquanto os cinco remanescentes da gerstão Bolsonaro optaram por uma redução de 0,25 ponto.
“Minha preocupação foi em romper a lógica da comunicação do BC, mas se tivesse votado em 0,25 ponto estaria confortável hoje em justificar o meu voto. Mas tinha esse custo de abandonar o guidance (orientação sobre os próximos passos)”, disse o diretor, emendando que na discussão sobre o abandono do guidance houve pesos distintos para cada diretor. Na reunião anterior, a comunicação do banco apontava para mais um corte de 0,5 ponto neste encontro de maio.
Segundo Galípolo, esse BC está relacionado com a credibilidade que os diretores que lá já estavam conquistaram e com a coerência entre o que fala e faz. “Credibilidade se conquista e é natural que diretores que estão chegando sejam mais demandados a explicarem o que pensam. Mas quem acompanha o que falo não se surpreendeu com o meu voto”, disse Galípolo.
Ainda de acordo com ele, não houve dentro do Copom a divisão em dois grupos dos diretores, porque nas conversas dos membros aparecem justificativas para os dois lados e há a compreensão do lado dos que votaram em 0,5 ponto de que o cenário mudou, que a desancoragem das expectativas incomoda muito e que a taxa terminal (ao fim do ciclo de cortes) da Selic na Focus subiu bastante.
“Os tempos são diferentes para quem está começando uma corrida. O meu mandato vai até março de 2027. Eu só quero ganhar credibilidade, preciso mostrar coerência entre minhas falas e ações. Do meu ponto de vista particular, me preocupo com função e reação que eu poderia passar com a comunicação. Se quero ganhar credibilidade preciso mostrar coerência entre as minhas falas e minhas ações”, disse.
Guinada na comunicação
Galípolo disse também que não foi consultado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, sobre a guinada de comunicação uma semana antes da reunião da última quarta-feira. “Não fui consultado, mas em nenhum momento, antes de fazer qualquer fala, eu liguei para o Roberto para perguntar, ou ele me ligou antes para dizer o que eu deveria falar”, assegurou.
O diretor do BC fez o comentário após ser questionado se houve conversa com o presidente do BC antes de Campos Neto comunicar em Washington, a poucos dias da reunião do Copom, que seria apropriado reduzir o ritmo de corte da Selic diante das incertezas elevadas.
Galípolo salientou que a liberdade do presidente e de diretores do BC em suas declarações ao mercado e votos faz parte da autonomia da instituição, algo pelo qual Campos Neto “é muito zeloso”. Se Campos Neto quisesse fazer campanha para que todos votassem junto, pontuou Galípolo, a autonomia do BC seria questionada.
Assim, o diretor de política monetária do BC disse haver “zero problema” no rearranjo de comunicação feito por Campos Neto, uma vez que este é o processo de autonomia. Considerou ainda ser normal existir dissensos técnicos.
“Ele não só não fala antes e me dá esta liberdade, como em todas as vezes que alguma fala minha gerou qualquer tipo de ruído, foi o primeiro a me ligar para dizer ‘não se preocupe com isso, acontece’.”