Os bancos se destacam entre as empresas brasileiras com maior reputação ESG (sigla em inglês para a sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa), segundo o Anuário Integridade ESG, idealizado pela Insight Comunicação em homenagem a Semana do Meio Ambiente, data comemorada nesta segunda-feira, 5. O estudo foi obtido pelo Estadão em primeira mão.
O levantamento aponta que o setor financeiro, predominante no top 10 do ranking das 100 empresas brasileiras com maior reputação na área, é um dos maiores responsáveis por fomentar práticas ESG no mundo corporativo atualmente.
Ainda segundo o estudo, que analisou dados referentes às iniciativas e investimentos corporativos no âmbito das questões ambientais, sociais e de governança, a explicação para isso seriam as ações práticas do setor, que impulsionam a ampliação de acesso ao crédito e às diversas formas de financiamento com critérios ESG.
O diretor de sustentabilidade do Bradesco, Marcelo Pasquini, em quarto lugar na pesquisa, e Luciana Nicola, diretora de relações institucionais e sustentabilidade do Itaú Unibanco, em quinto lugar, destacam que o grande diferencial dos bancos neste sentido é alinhar os objetivos do setor com a agenda ESG, garantindo que haja geração de valor para os diversos públicos com os quais o banco se relaciona.
Ambev é destaque
Embora as instituições financeiras tenham se destacado no levantamento, as três primeiras posições do estudo, são ocupadas por empresas de outras áreas, com a Ambev ocupando a primeira posição no ranking classificada como a empresa com a maior reputação ESG do Brasil.
Para a vice-presidente de impacto positivo e relações corporativas da Ambev, Carla Crippa, o destaque na pesquisa é consequência da cultura da empresa ir além do conceito da sigla e transformar todos estes ideais em ações efetivas.
“Mais do que idealizar, estimulamos nossos times a colocarem em prática. Queremos gerar impacto positivo para nossa gente, parceiros, fornecedores, clientes e consumidores, agregar valor a todo ecossistema”, afirma Crippa.
Uma das iniciativas da empresa é combater o alto consumo de energia elétrica e emissões de gases de efeito estufa na atmosfera gerado pelos refrigerantes dos bares. Para sanar esta questão, a empresa criou uma fábrica que visa transformar geladeiras tradicionais em equipamentos mais ecológicos de seus parceiros.
Inaugurada em fevereiro de 2022, a fábrica já reformou mais de 23 mil geladeiras, o que representa uma redução de mais de 3.752 toneladas de emissões de CO2 pelo reaproveitamento de materiais.
A Gerdau, que anunciou na semana passada uma parceria com o festival The Town, que acontece em setembro, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, ocupa a terceira posição do ranking, demonstrando que a iniciativa de dissociar sua marca do estereótipo de uma siderurgia tradicional tem sido efetiva. “A sustentabilidade é um pilar estratégico do nosso negócio e faz parte, cada vez mais, do planejamento e tomadas de decisão da empresa”, afirma o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck.
Para ranquear as 100 empresas, a Insight Comunicação usou como base o iESG (Índice Imagem ESG), medindo a reputação corporativa a partir da visibilidade das citações positivas ou negativas das empresas, relacionadas à agenda ESG em mais de 2.000 veículos de mídia com maior relevância no país
Abaixo, o ranking das empresas com maior reputação ESG.
- 1º - Ambev;
- 2º - Suzano;
- 3º - Gerdau;
- 4º - Bradesco;
- 5º - Itaú;
- 6º - Santander;
- 7º - Banco do Brasil;
- 8º - Ambipar;
- 9º - B3;
- 10º - Natura.
O Anuário ainda aponta que além dos bancos, os setores mais representativos quanto a temática de ESG, somando 75% da audiência relacionada à temática no Brasil são: alimentos e Bebidas; petróleo, gás e derivados; varejo; energia; mineração e siderurgia; cosméticos; e papel e celulose.
ESG como negócio
Para os analistas ouvidos pelo Estadão, o estudo demonstra o peso que as práticas ESG tomaram nas grandes empresas e como hoje elas são parte da visão estratégica de negócio.
Se antes estas práticas eram restritas somente ao RH e áreas de planejamento das companhias, agora as empresas têm apostado não só em ações com foco em sustentabilidade, mas também no lançamento de produtos e serviços voltados para esta área.
Um setor que tem se destacado neste sentido são as marcas de beleza, que tem não só apostado em produtos sustentáveis, mas também em ações, como por exemplo a Natura e o Grupo Boticário.
Além de desenvolver produtos sustentáveis, a Natura tem como meta contribuir com o enfrentamento à crise climática, tornando-se carbono zero até 2030. Além disso, a marca estabelece como uma de suas principais metas conservar e regenerar a Amazônia.
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Em termos práticos, o objetivo da empresa é tornar 100% de todas as suas embalagens reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis até 2030. Hoje, 82,3% do material é reciclado. Além disso, a empresa ainda aposta em várias ações pró-Amazônia, como o relacionamento e compartilhamento de recursos com 10.636 famílias da região.
Já o Boticário, por exemplo, aposta não só em produtos sustentáveis que reduzam a quantidade de plástico e resíduos usados, mas também a criação de 37 “lojas sustentáveis”, que têm como diferencial o reaproveitamento de 1 tonelada de plástico reciclável, serem 50% mais leves e contarem com baixo consumo de água no processo fabril.
A tendência de as empresas apostarem na sustentabilidade surge, inclusive, em empresas de commodities. Em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTI) e a empresa Krilltech Nanotecnologia Agro, a Shell realizou um projeto que visa recuperar áreas degradadas da Amazônia através de nanobiotecnologia.
O projeto usa a nanomolécula arbolina para acelerar o crescimento de castanheiros, além de avaliar diferentes sistemas de cultivo envolvendo a árvore nativa e documentar a dinâmica da restauração florestal através de sensores.
Setores essenciais também apostam em ESG
Empresas de setores essenciais, como o saneamento, também têm apostado em iniciativas com foco no meio ambiente. A Iguá Saneamento, por exemplo, realiza ações para reutilizar os resíduos das estações de tratamento de água e esgoto. Dentre as ações estão a transformação do lodo em adubo orgânico, tijolo ecológico, argila para a produção de cerâmica e até o uso da manta biodegradável para a forragem do solo.
Segundo a empresa, as ações têm contribuído não só para diminuir o impacto ambiental, mas também aumentar a produtividade dos negócios locais. Em Cuiabá, a utilização desse fertilizante já aumentou em até 150% a produção leiteira na região, segundo dados da empresa.
Outra empresa que atua em serviços essenciais, a Vivo, também tem apostado em iniciativas ambientais. Além de ter metas relacionadas às mudanças climáticas com a redução de emissões, a empresa opta pelo uso de energia renovável em todas as suas operações.
ESG nas empresas é moda?
Para o sócio da PwC Brasil, Mauricio Colombari, todos estes projetos demonstram o quanto a pauta ESG avançou nas grandes empresas. Embora isso seja positivo para que a agenda de sustentabilidade seja ampliada, é preciso entender até que ponto as ações são, de fato, efetivas e a longo prazo.
“Sempre é preciso questionar o quanto esse avanço em termos de compromisso e colocar o ESG em pauta tem se traduzido em ações que resolvam os problemas de mudanças climáticas e de melhor tratamento de resíduos”, afirma, destacando que embora muitas empresas tenham comprovado as suas ações, outras ainda ficam no campo da promessa.
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O especialista em ESG destaca que muitas empresas se comprometem a ser net zero ou carbono neutro, por exemplo, mas não especificam publicamente quais ações serão feitas para alcançar essa meta. “Que bom que a empresa se comprometeu, mas se não for feito nada a gente não chega lá.”
“A dificuldade é que essas iniciativas tenham um impacto relevante comparado ao que você polui. Se eu emitir um milhão de toneladas de gás de efeito estufa e compensar 10 mil, o que representa no todo? Qual o impacto mitigatório dessa iniciativa? Se for relevante, que bacana. Se for um projeto piloto e pequeno, é legal, mas realmente não está resolvendo o problema”, afirma Colombari.