A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) planeja deixar sua rede de distribuição mais bem preparada para as transformações previstas nos próximos anos, diante do impulso global da transição energética. Segundo o presidente da companhia, Reynaldo Passanezi, para alcançar a neutralidade das emissões em 2050, meta de muitos países e corporações, são estimados trilhões de dólares em investimentos em geração e redes, e a empresa está fazendo sua parte, com plano de aplicar R$ 23 bilhões na distribuição até 2028.
“O Brasil já tem uma matriz limpa, então, acho que devíamos ir atrás de uma matriz 100% limpa. Para isso, não há dúvida de que precisa de rede, porque a energia renovável mais barata hoje é intermitente, solar e eólica, vai demandar rede e armazenamento de energia”, afirma o executivo, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
A empresa também está ativa na busca de novas demandas, em especial de data centers, que consomem muita energia. Para Passanezi, o País deveria criar uma política pública que favoreça a inserção do Brasil na cadeia global desse setor. “Do ponto de vista macro, ter uma matriz 100% limpa e fazer parte da cadeia global que trabalha inteligência artificial são duas megamissões que poderíamos almejar como País”, diz.
O presidente da Cemig também comenta sobre os próximos passos do plano de desinvestimentos, após ter concluído a venda da participação da Aliança Energia para a Vale, na semana passada. À espera de uma janela de oportunidade para a abertura de capital da Gasmig, a empresa tenta progredir na intrincada negociação da companhia de energia elétrica Taesa.
Confira os principais pontos da entrevista:
A Cemig tem um significativo plano de investimentos para modernizar a robustecer a rede de distribuição, que, segundo comentou, deixará a companhia mais preparada para a transição energética. Por quê?
O tema transição energética é uma macro tendência global. Em 2024, o mundo investiu US$ 1,7 trilhão em transição energética, quase o PIB do Brasil. Para alcançar o Net Zero, a conta feita é que são necessários US$ 4,5 trilhões por ano. O Brasil já tem uma matriz limpa, então acho que devíamos ir atrás de uma matriz 100% limpa. Para isso, não há dúvida de que precisa de rede, porque a energia renovável mais barata hoje é intermitente, solar e eólica, vai demandar rede e armazenamento de energia. Enquanto a bateria estiver muito cara, temos de investir em rede. Queremos nos colocar como provedor de rede para conectar quem produz energia renovável com quem deseja essa energia.
O sr. esteve recentemente em Nova York, onde apresentou o Brasil, e Minas Gerais em particular, como localização privilegiada para grandes consumidores que queiram assegurar fornecimento de energia, numa estratégia para atrair novas cargas, como data centers. Existe avanço nessa iniciativa?
Temos que buscar crescimento de carga, para o País e para a Cemig. Um crescimento de carga pode vir (da substituição) do óleo diesel na irrigação (em consumidores na área rural da companhia). Colocando a rede no trifásico, conseguimos substituir e vamos gerar carga. Outra grande macro tendência no mundo é a inteligência artificial, que é muito intensiva em energia. Se você comparar a mesma pesquisa que faz no Google com uma feita no ChatGPT, o consumo de energia é de 1 para 15. Data center já responde por 2% do consumo de energia do mundo e a tendência é triplicar.
Aqui temos dois caminhos: atrair data center locais e ser centro de data center global. O Brasil tem data centers locais, e temos trabalhado para trazer alguns para Minas Gerais. Outra ambição é inserir, de fato, o Brasil na cadeia global. E o Brasil é um país geopoliticamente bem-visto. Do ponto de vista macro, ter uma matriz 100% limpa e fazer parte da cadeia global que trabalha inteligência artificial são duas megamissões que poderíamos almejar como país.
Há um movimento setorial, corporativo ou governamental, neste sentido?
Efetivamente podíamos discutir isso (do lado corporativo), mas é um tema de política pública. Eu diria que temos todas as condições de fazer parte, setor privado e setor público, de um grande esforço para fazer essas inserções do Brasil.
O sr. defende o uso de baterias de armazenamento. Como acredita que deveria ser feita essa inserção?
Bateria pode ser muito útil para uma matriz 100% limpa. É um tema que têm que ser trabalhado do ponto de vista de orientação política, pelo Executivo, pelo Legislativo. Mas acredito que (o uso de baterias) vai ser muito mais descentralizado, na rede de distribuição. Se você observar a Califórnia, tem muita bateria, então temos um espaço imenso. Depois, acho que temos que recuperar também o tema das hidrelétricas, das usinas reversíveis e associadas, tem muitas oportunidades.
A expectativa da Cemig é que todo investimento atualmente em andamento nas redes de distribuição seja remunerado pelas tarifas a partir do próximo ciclo tarifário, de 2028. Isso não pressionará ainda mais a tarifa da distribuidora, que já é alta?
Sim, isso vai pressionar, junto de outros temas que pressionam a tarifa, como encargos, subsídios. Claro que tem um efeito na tarifa, mas também tem o efeito de melhorar a qualidade da prestação de serviço. Depois, tem muita energia que contratamos que permitira, no mix, que o custo da energia caia, e isso acaba compensando um pouco.
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Além do investimento em redes, a companhia tem em seu plano estratégico a previsão de fazer uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) de Gasmig. Quando isso será colocado em prática?
O mercado está fechado e não seremos o primeiro, não vamos desbravar o mercado. Se o mercado abrir e, eventualmente, a tivermos visibilidade, podemos fazer o IPO da Gasmig. O banco está contratado. Falta janela de oportunidade. Não tem nada faz tempo e não vamos ser nós a inventar, porque o desconto é muito grande.
E Taesa e outros ativos que estão na fila de desinvestimento, o que está travando essas operações?
Se tivermos oportunidade de buscar uma solução, vamos buscar. Na Taesa, (o que está travando) é acordo de preço. E Taesa não é simples, porque tem muito tag along (proteção a acionistas minoritários), direito de preferência, da ISA, da ISA Cteep e da Alupar, então, é uma transação sanfona, em que você põe X, mas ao final pode acontecer de ter que pôr 3X, e pode acontecer o contrário, de perder o ativo (por causa do direito de preferência). Então, é muito difícil fazer o valuation. Temos também as PCHs, em que o segundo leilão não teve interessado, mas devemos refazer os lotes, vamos continuar.