Uma pesquisa global realizada pela consultoria KPMG junto aos CEOs de empresas apontou que, embora a maior parte deles reconheça a importância da pauta ESG (ambiental, social e de governança, na sigla em inglês), eles preveem que a implementação de projetos ligados ao tema será afetada por uma provável recessão econômica em 2023. Os dados indicam que 50% irão pausar ou reavaliar seus esforços ESG existentes ou planejados nos próximos seis meses, enquanto 34% já realizaram essa revisão.
Isso acontece apesar de a importância da área ser cada vez mais notada. De acordo com o estudo da KPMG, 45% dos CEOS dizem que a pauta pode melhorar os resultados financeiros, um crescimento em relação aos 37% do levantamento anterior, publicado em agosto de 2021. Por outro lado, 69% veem os stakeholders (as partes interessadas) com uma demanda maior por reportes e transparência; antes, eram 58%. Setenta e dois por cento dos entrevistados acreditam que a observação e análise das partes interessadas pelo ESG vai aumentar (ante 62% na versão anterior) e 14% dizem que o ceticismo relacionado ao greenwashing está aumentando - em 2021, eram 8%. O greenwashing é praticado quando uma organização afirma tomar ações supostamente corretas ambientalmente, mas as atitudes são inócuas ou mesmo prejudiciais.
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Entre os principais riscos para a adoção da pauta nos próximos três anos, foram citados outras pressões econômicas que façam o foco sair do ESG (17%); mudanças regulatórias frequentes (16%) e falta de orçamento para investir na transformação ESG (15%). Por outro lado, acreditam que, se não corresponderem às expectativas relacionadas às questões socioambientais e de governança, há riscos embutidos, como ter um acesso mais caro ao crédito (25% das respostas), dificuldades no recrutamento de talentos (22%) e ver os competidores ganhando espaço (21%).
“Enquanto os CEOs tentam proteger suas empresas da recessão que se aproxima, os esforços ESG estão sob uma pressão crescente. O levantamento confirma que o ESG se tornou um imperativo intrínseco aos negócios, impactando a resiliência financeira, o crescimento e as expectativas dos stakeholders”, afirmou Jane Lawrie, líder para assuntos corporativos da KPMG no relatório.
A publicação ainda destaca declarações de executivos que reforçam a importância de um bom recrutamento que garanta não só a diversidade, mas também o alinhamento dos colaboradores com a visão da companhia, e a necessidade de investigar a cadeia de fornecedores para garantir que também estejam de acordo com o ESG.
Segundo Charles Krieck, presidente da KPMG no Brasil e na América do Sul, o resultado do estudo não significa que a pauta ESG irá retroceder, e sim que as empresas irão escolher com maior cuidado no que investir em sua jornada. Assim, em sua avaliação, é fundamental entender o contexto no qual a companhia opera e decidir quais são os aspectos sociais, ambientais e éticos que têm relação direta com o sucesso do negócio.
“Esse raciocínio vale independentemente de haver uma crise ou não. A única diferença é que, na crise, alguns aspectos se tornam mais presentes”, afirma Krieck. “Os problemas sociais, ambientais e éticos que temos pela frente não vão desaparecer por causa de uma possível crise econômica. Eles vão se intensificar”, destaca, citando como exemplo a pandemia de covid-19 e seus efeitos.
A pauta seguirá presente por ser importante também na avaliação de riscos e oportunidades – e os riscos trazidos pelas mudanças climáticas se tornam mais presentes em diversos setores. Empresas do setor alimentício, por exemplo, precisam estar atentas a mudanças no ciclo das chuvas, e as da tecnologia precisam apostar na diversidade para serem mais criativas nas soluções que desenham. “Os projetos ESG a serem priorizados serão aqueles com esta clara conexão”, diz Nelmara Arbex, sócia líder em ESG da KPMG Brasil.
O levantamento ouviu 1.325 executivos de empresas com receita acima de US$ 500 milhões entre 12 de julho e 24 de agosto, em 11 países (Austrália, Canadá, China, França, Índia, Alemanha, Estados Unidos, Japão, Reino Unido, Espanha e Itália).
Desafios
Além da recessão, o levantamento aponta para o surgimento de outras questões críticas, como a comunicação com os stakeholders. Mais atentos às questões socioambientais que os afetam e às atitudes e discursos das empresas com os meios digitais, eles exigirão que as organizações tenham uma comunicação clara com os interessados.
“Isso significa que a empresa tem que se adaptar. Os diversos grupos podem publicar suas opiniões e evidências sobre algo que ocorreu no relacionamento com a empresa, o que também é novo. A qualidade dessas relações impacta diretamente no valor que o mercado vê nessas empresas. Assim, empresas precisam se preparar para esse contexto interativo”, avalia Krieck, que sugere como possível solução a criação do cargo de vice-presidente para relações com stakeholders (Chief of Stakeholders´ Relations Officer), que responderia diretamente ao CEO.
Outro ponto afetado pelo cenário é a cadeia de suprimentos global, que teve diversos problemas com a guerra na Ucrânia e os lockdowns na China por conta da pandemia. Os aspectos ESG também se relacionam com esses problemas, já que os fornecedores também são parte do negócio e as empresas devem garantir que eles sigam os padrões morais adotados. “A crise pode fazer com que o foco dos esforços na cadeia de fornecedores mude, mas eles seguirão presentes, até para que as cadeias sigam funcionando. A necessidade de cuidar da resiliência das cadeias se intensifica”, avalia Arbex.