Líderes empresariais cobram ações práticas na COP-28, não apenas discursos


Executivos do Itaú, Vale, Schneider Electric, Ambipar e Deloitte contam as expectativas para o início do evento, que reunirá iniciativa privada e governos em Dubai, nos Emirados Árabes

Por Beatriz Capirazi
Atualização:

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), que teve início hoje e vai até 12 de dezembro, é vista por líderes empresariais como uma grande oportunidade para mostrarem as demandas e prioridades de cada setor à comunidade internacional. Mas, apesar da importância da discussão, nem todos entendem que ações efetivas sairão da reunião.

A participação das empresas do País, que terá a maior delegação no evento, tem o objetivo de desenvolver uma economia de baixo carbono, e conseguir financiamentos. A diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco, Luciana Nicola, diz que inúmeros players do setor bancário têm a intenção de trabalhar o pós-COP-28 de forma forte, levando informações para todas as empresas que são atendidas pelos bancos, e não podem ir à conferência.

A executiva destaca que os bancos são um dos poucos setores que conseguem visualizar a situação de forma ampla, considerando que eles têm clientes de praticamente todas as áreas da cadeia produtiva. Para ela, com essa visão, está mais do que claro o engajamento das empresas de se mobilizarem e fomentar uma economia de baixo carbono.

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Diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco, Luciana Nicola Foto: Flora Pimentel/Itaú

“Eu só ouço as empresas falando de prática e mais prática. O setor financeiro vem amadurecendo essa pauta, assim como grandes empresas líderes aqui e fora do Brasil. Na COP anterior o negócio era engajar governos e o setor. Daqui para frente não tem mais tempo, é uma COP de ação”, afirmou.

No setor de mineração, a expectativa também é positiva, com ações concretas sendo definidas no evento. “O abandono dos combustíveis fósseis deve ser o tema central nesta edição”, afirma o diretor de Mudanças Climáticas e Carbono da Vale, Rodrigo Lauria.

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Para o executivo, outro assunto que deve ganhar relevância no evento deve ser a adaptação dos países ricos e pobres em relação ao aquecimento global.

No setor elétrico, onde o País tem grande potencial de crescimento, sobretudo, nas energias renováveis, o objetivo é apresentar na conferência os avanços e ações que o segmento tem desenvolvido através da tecnologia para impulsionar a energia sustentável na demanda dos próprios consumidores.

“O evento vai permitir acelerar a discussão sobre a energia renovável nas empresas. É um evento para enfatizar isso mais do que o normal”, afirma o diretor para América Latina de negócios sustentáveis da Schneider Electric, Mathieu Piccin. Ele conta que que a empresa terá um hub de inovação onde vai compartilhar as tecnologias que podem ser usadas neste processo. Ele também diz que parcerias com outras empresas com foco na transição energética podem ser anunciadas durante o evento.

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Para o executivo, um dos grandes destaques do evento deve ser a cobrança dos países sobre as metas do Acordo de Paris, considerando que a grande maioria das nações está longe das metas sustentáveis definidas pelo tratado.

“Nunca houve a oportunidade de ver como estamos nos compromissos. Sabemos que estamos atrasados, mas olhando (os dados e números) espera-se que gere ações (concretas). Como estamos atrasados e não está indo rápido, a COP é importante para discutir estratégias. Trazer esses elementos numéricos vai acelerar essa conversa”

Financiamento verde será fator relevante na COP

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Mathieu Piccin alerta que além de todas as discussões relacionadas a descarbonização e transição energética, outro fator de peso deve ser o financiamento verde de algumas pautas específicas, como, por exemplo, de que onde sairá o dinheiro para a preservação das florestas tropicais.

Gerente de negócios sustentáveis da Schneider Electric, Mathieu Piccin Foto: Divulgação

Ele destaca que é esperado que acordos sejam firmados ou ao menos que conversas sejam viabilizadas para avançar nessa área. Esse é um ponto destacado também pela líder de sustentabilidade e clima da Deloitte, Maria Emília Peres.

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A executiva afirma que atualmente um dos maiores entraves para o Brasil e o mundo avançarem para uma economia de baixo carbono é o financiamento. O investimento, de longo prazo, é considerado de risco para muitos fundos de investimento. Isso porque trata-se de um mercado novo e ainda sem números que ajudem a balizar os ganhos possíveis.

“A mudança precisa de financiamento”, alerta Maria Emília, destacando que outro ponto de atenção é a falta de uso de tecnologias. Ela aponta que a COP é uma oportunidade de muitas empresas demonstrarem quais ferramentas já têm, apoiando outras empresas.

A executiva afirma que, muitas vezes, discute-se a falta de tecnologia para tornar viável a descarbonização ou a transição energética, mas muitas tecnologias já estão disponíveis. “Cerca de 40% das soluções a gente não conhece, não estão prontas, mas outras 60% estão. Precisamos avançar no uso das tecnologias. Existe um risco, mas o risco de não fazer é muito maior”, explica.

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Plínio Ribeiro, presidente da Decarbon, na Ambipar Environment, especializada no atendimento a emergências envolvendo acidentes com produtos químicos e poluentes, não está muito otimista com a COP-28, sobretudo por causa do atual cenário geopolítico com a guerra da Ucrânia e Rússia e o conflito em Israel. “Não é pessimista, é realista. Acho que tem pouco espaço para conversa. Se não for uma COP que todo mundo fica se acusando, já é positivo”, afirmou.

O diretor de sustentabilidade da empresa, Rafael Tello, por outro lado, espera que as empresas se engajem e, de fato, se comprometam com metas não somente no papel, mas também com ações práticas e delimitadas. Ele afirma que houve um grande avanço no setor privado nos últimos anos, com as companhias já entendendo as pautas de sustentabilidade. Apesar disso, ainda é preciso fazer muito para o desenvolvimento dessas pautas.

Diretor de sustentabilidade da empresa, Rafael Tello Foto: Cauê Diniz/Ambipar

“Os compromissos já estão dados. Eu acho que é muito mais uma situação de entender a realidade e se adaptar à nova realidade do que botar o pé no freio e desistir do que já foi proposto até aqui”, diz.

Essa visão também é compartilhada por Patrícia Lima, CEO da marca Simple Organic, empresa da Hypera Pharma, que apresentará o conceito de clean beauty no evento internacional. Ela concorda e avalia que é inevitável que elementos como a guerra de Israel tenham impactos nas negociações, considerando que os principais atores globais envolvidos direta ou indiretamente na guerra também estarão lá. Mesmo diante disso, ela espera que haja, ao menos, algumas decisões firmadas.

“Se esse ano a gente não sair com resultados mais concretos, a credibilidade da COP começa a entrar em xeque”, afirmou ela, completando. “Questões como a descarbonização e a transição energética não são uma opção, mas uma pauta urgente que precisa de ações concretas desde já”.

Além deste destaque, outro assunto de peso nas discussões de líderes deve ser o protagonismo de empresas sustentáveis nesta transição, considerando que elas já são as provedoras de soluções de baixo carbono na atual conjuntura econômica.

Espera-se também que a justiça climática seja uma pauta de força no evento, considerando que cada vez mais potências e países têm discutido como alguns povos e etnias são mais afetados pelas mudanças climáticas do que outros.

Agronegócio

Um consenso entre os empresários é de que o agronegócio deve ser um tema de destaque para o Brasil durante a COP, considerando que o setor é o segundo maior emissor de gases do efeito estufa no País.

Para Plínio Ribeiro, o País deve ter questionamentos sobre a sua posição em relação ao agronegócio. “A gente vê uma tentativa de colocar a agricultura como vilã e desvirtuar a origem do problema: a emissão é do setor de óleo e gás e dos combustíveis fósseis. Vai haver uma tentativa de colocar a agricultura nesse papel e a gente, como exportador, tem de ter uma narrativa muito forte e muito consistente para não virar refém dessa discussão e deixar de ser líder”, disse Ribeiro em um evento pré-COP, realizado pelo Cubo Itaú.

Para Artur Faria, CEO da Oxygea, veículo de aceleração de startups criado pela Braskem para investir em sustentabilidade, determinados países desenvolvidos usam essa agenda para defender sua agricultura local que não tem a mesma competitividade da agricultura de países em desenvolvimento. “A tecnologia mostra que o agro está cada vez mais sustentável.”

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), que teve início hoje e vai até 12 de dezembro, é vista por líderes empresariais como uma grande oportunidade para mostrarem as demandas e prioridades de cada setor à comunidade internacional. Mas, apesar da importância da discussão, nem todos entendem que ações efetivas sairão da reunião.

A participação das empresas do País, que terá a maior delegação no evento, tem o objetivo de desenvolver uma economia de baixo carbono, e conseguir financiamentos. A diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco, Luciana Nicola, diz que inúmeros players do setor bancário têm a intenção de trabalhar o pós-COP-28 de forma forte, levando informações para todas as empresas que são atendidas pelos bancos, e não podem ir à conferência.

A executiva destaca que os bancos são um dos poucos setores que conseguem visualizar a situação de forma ampla, considerando que eles têm clientes de praticamente todas as áreas da cadeia produtiva. Para ela, com essa visão, está mais do que claro o engajamento das empresas de se mobilizarem e fomentar uma economia de baixo carbono.

Diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco, Luciana Nicola Foto: Flora Pimentel/Itaú

“Eu só ouço as empresas falando de prática e mais prática. O setor financeiro vem amadurecendo essa pauta, assim como grandes empresas líderes aqui e fora do Brasil. Na COP anterior o negócio era engajar governos e o setor. Daqui para frente não tem mais tempo, é uma COP de ação”, afirmou.

No setor de mineração, a expectativa também é positiva, com ações concretas sendo definidas no evento. “O abandono dos combustíveis fósseis deve ser o tema central nesta edição”, afirma o diretor de Mudanças Climáticas e Carbono da Vale, Rodrigo Lauria.

Para o executivo, outro assunto que deve ganhar relevância no evento deve ser a adaptação dos países ricos e pobres em relação ao aquecimento global.

No setor elétrico, onde o País tem grande potencial de crescimento, sobretudo, nas energias renováveis, o objetivo é apresentar na conferência os avanços e ações que o segmento tem desenvolvido através da tecnologia para impulsionar a energia sustentável na demanda dos próprios consumidores.

“O evento vai permitir acelerar a discussão sobre a energia renovável nas empresas. É um evento para enfatizar isso mais do que o normal”, afirma o diretor para América Latina de negócios sustentáveis da Schneider Electric, Mathieu Piccin. Ele conta que que a empresa terá um hub de inovação onde vai compartilhar as tecnologias que podem ser usadas neste processo. Ele também diz que parcerias com outras empresas com foco na transição energética podem ser anunciadas durante o evento.

Para o executivo, um dos grandes destaques do evento deve ser a cobrança dos países sobre as metas do Acordo de Paris, considerando que a grande maioria das nações está longe das metas sustentáveis definidas pelo tratado.

“Nunca houve a oportunidade de ver como estamos nos compromissos. Sabemos que estamos atrasados, mas olhando (os dados e números) espera-se que gere ações (concretas). Como estamos atrasados e não está indo rápido, a COP é importante para discutir estratégias. Trazer esses elementos numéricos vai acelerar essa conversa”

Financiamento verde será fator relevante na COP

Mathieu Piccin alerta que além de todas as discussões relacionadas a descarbonização e transição energética, outro fator de peso deve ser o financiamento verde de algumas pautas específicas, como, por exemplo, de que onde sairá o dinheiro para a preservação das florestas tropicais.

Gerente de negócios sustentáveis da Schneider Electric, Mathieu Piccin Foto: Divulgação

Ele destaca que é esperado que acordos sejam firmados ou ao menos que conversas sejam viabilizadas para avançar nessa área. Esse é um ponto destacado também pela líder de sustentabilidade e clima da Deloitte, Maria Emília Peres.

A executiva afirma que atualmente um dos maiores entraves para o Brasil e o mundo avançarem para uma economia de baixo carbono é o financiamento. O investimento, de longo prazo, é considerado de risco para muitos fundos de investimento. Isso porque trata-se de um mercado novo e ainda sem números que ajudem a balizar os ganhos possíveis.

“A mudança precisa de financiamento”, alerta Maria Emília, destacando que outro ponto de atenção é a falta de uso de tecnologias. Ela aponta que a COP é uma oportunidade de muitas empresas demonstrarem quais ferramentas já têm, apoiando outras empresas.

A executiva afirma que, muitas vezes, discute-se a falta de tecnologia para tornar viável a descarbonização ou a transição energética, mas muitas tecnologias já estão disponíveis. “Cerca de 40% das soluções a gente não conhece, não estão prontas, mas outras 60% estão. Precisamos avançar no uso das tecnologias. Existe um risco, mas o risco de não fazer é muito maior”, explica.

Plínio Ribeiro, presidente da Decarbon, na Ambipar Environment, especializada no atendimento a emergências envolvendo acidentes com produtos químicos e poluentes, não está muito otimista com a COP-28, sobretudo por causa do atual cenário geopolítico com a guerra da Ucrânia e Rússia e o conflito em Israel. “Não é pessimista, é realista. Acho que tem pouco espaço para conversa. Se não for uma COP que todo mundo fica se acusando, já é positivo”, afirmou.

O diretor de sustentabilidade da empresa, Rafael Tello, por outro lado, espera que as empresas se engajem e, de fato, se comprometam com metas não somente no papel, mas também com ações práticas e delimitadas. Ele afirma que houve um grande avanço no setor privado nos últimos anos, com as companhias já entendendo as pautas de sustentabilidade. Apesar disso, ainda é preciso fazer muito para o desenvolvimento dessas pautas.

Diretor de sustentabilidade da empresa, Rafael Tello Foto: Cauê Diniz/Ambipar

“Os compromissos já estão dados. Eu acho que é muito mais uma situação de entender a realidade e se adaptar à nova realidade do que botar o pé no freio e desistir do que já foi proposto até aqui”, diz.

Essa visão também é compartilhada por Patrícia Lima, CEO da marca Simple Organic, empresa da Hypera Pharma, que apresentará o conceito de clean beauty no evento internacional. Ela concorda e avalia que é inevitável que elementos como a guerra de Israel tenham impactos nas negociações, considerando que os principais atores globais envolvidos direta ou indiretamente na guerra também estarão lá. Mesmo diante disso, ela espera que haja, ao menos, algumas decisões firmadas.

“Se esse ano a gente não sair com resultados mais concretos, a credibilidade da COP começa a entrar em xeque”, afirmou ela, completando. “Questões como a descarbonização e a transição energética não são uma opção, mas uma pauta urgente que precisa de ações concretas desde já”.

Além deste destaque, outro assunto de peso nas discussões de líderes deve ser o protagonismo de empresas sustentáveis nesta transição, considerando que elas já são as provedoras de soluções de baixo carbono na atual conjuntura econômica.

Espera-se também que a justiça climática seja uma pauta de força no evento, considerando que cada vez mais potências e países têm discutido como alguns povos e etnias são mais afetados pelas mudanças climáticas do que outros.

Agronegócio

Um consenso entre os empresários é de que o agronegócio deve ser um tema de destaque para o Brasil durante a COP, considerando que o setor é o segundo maior emissor de gases do efeito estufa no País.

Para Plínio Ribeiro, o País deve ter questionamentos sobre a sua posição em relação ao agronegócio. “A gente vê uma tentativa de colocar a agricultura como vilã e desvirtuar a origem do problema: a emissão é do setor de óleo e gás e dos combustíveis fósseis. Vai haver uma tentativa de colocar a agricultura nesse papel e a gente, como exportador, tem de ter uma narrativa muito forte e muito consistente para não virar refém dessa discussão e deixar de ser líder”, disse Ribeiro em um evento pré-COP, realizado pelo Cubo Itaú.

Para Artur Faria, CEO da Oxygea, veículo de aceleração de startups criado pela Braskem para investir em sustentabilidade, determinados países desenvolvidos usam essa agenda para defender sua agricultura local que não tem a mesma competitividade da agricultura de países em desenvolvimento. “A tecnologia mostra que o agro está cada vez mais sustentável.”

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), que teve início hoje e vai até 12 de dezembro, é vista por líderes empresariais como uma grande oportunidade para mostrarem as demandas e prioridades de cada setor à comunidade internacional. Mas, apesar da importância da discussão, nem todos entendem que ações efetivas sairão da reunião.

A participação das empresas do País, que terá a maior delegação no evento, tem o objetivo de desenvolver uma economia de baixo carbono, e conseguir financiamentos. A diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco, Luciana Nicola, diz que inúmeros players do setor bancário têm a intenção de trabalhar o pós-COP-28 de forma forte, levando informações para todas as empresas que são atendidas pelos bancos, e não podem ir à conferência.

A executiva destaca que os bancos são um dos poucos setores que conseguem visualizar a situação de forma ampla, considerando que eles têm clientes de praticamente todas as áreas da cadeia produtiva. Para ela, com essa visão, está mais do que claro o engajamento das empresas de se mobilizarem e fomentar uma economia de baixo carbono.

Diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco, Luciana Nicola Foto: Flora Pimentel/Itaú

“Eu só ouço as empresas falando de prática e mais prática. O setor financeiro vem amadurecendo essa pauta, assim como grandes empresas líderes aqui e fora do Brasil. Na COP anterior o negócio era engajar governos e o setor. Daqui para frente não tem mais tempo, é uma COP de ação”, afirmou.

No setor de mineração, a expectativa também é positiva, com ações concretas sendo definidas no evento. “O abandono dos combustíveis fósseis deve ser o tema central nesta edição”, afirma o diretor de Mudanças Climáticas e Carbono da Vale, Rodrigo Lauria.

Para o executivo, outro assunto que deve ganhar relevância no evento deve ser a adaptação dos países ricos e pobres em relação ao aquecimento global.

No setor elétrico, onde o País tem grande potencial de crescimento, sobretudo, nas energias renováveis, o objetivo é apresentar na conferência os avanços e ações que o segmento tem desenvolvido através da tecnologia para impulsionar a energia sustentável na demanda dos próprios consumidores.

“O evento vai permitir acelerar a discussão sobre a energia renovável nas empresas. É um evento para enfatizar isso mais do que o normal”, afirma o diretor para América Latina de negócios sustentáveis da Schneider Electric, Mathieu Piccin. Ele conta que que a empresa terá um hub de inovação onde vai compartilhar as tecnologias que podem ser usadas neste processo. Ele também diz que parcerias com outras empresas com foco na transição energética podem ser anunciadas durante o evento.

Para o executivo, um dos grandes destaques do evento deve ser a cobrança dos países sobre as metas do Acordo de Paris, considerando que a grande maioria das nações está longe das metas sustentáveis definidas pelo tratado.

“Nunca houve a oportunidade de ver como estamos nos compromissos. Sabemos que estamos atrasados, mas olhando (os dados e números) espera-se que gere ações (concretas). Como estamos atrasados e não está indo rápido, a COP é importante para discutir estratégias. Trazer esses elementos numéricos vai acelerar essa conversa”

Financiamento verde será fator relevante na COP

Mathieu Piccin alerta que além de todas as discussões relacionadas a descarbonização e transição energética, outro fator de peso deve ser o financiamento verde de algumas pautas específicas, como, por exemplo, de que onde sairá o dinheiro para a preservação das florestas tropicais.

Gerente de negócios sustentáveis da Schneider Electric, Mathieu Piccin Foto: Divulgação

Ele destaca que é esperado que acordos sejam firmados ou ao menos que conversas sejam viabilizadas para avançar nessa área. Esse é um ponto destacado também pela líder de sustentabilidade e clima da Deloitte, Maria Emília Peres.

A executiva afirma que atualmente um dos maiores entraves para o Brasil e o mundo avançarem para uma economia de baixo carbono é o financiamento. O investimento, de longo prazo, é considerado de risco para muitos fundos de investimento. Isso porque trata-se de um mercado novo e ainda sem números que ajudem a balizar os ganhos possíveis.

“A mudança precisa de financiamento”, alerta Maria Emília, destacando que outro ponto de atenção é a falta de uso de tecnologias. Ela aponta que a COP é uma oportunidade de muitas empresas demonstrarem quais ferramentas já têm, apoiando outras empresas.

A executiva afirma que, muitas vezes, discute-se a falta de tecnologia para tornar viável a descarbonização ou a transição energética, mas muitas tecnologias já estão disponíveis. “Cerca de 40% das soluções a gente não conhece, não estão prontas, mas outras 60% estão. Precisamos avançar no uso das tecnologias. Existe um risco, mas o risco de não fazer é muito maior”, explica.

Plínio Ribeiro, presidente da Decarbon, na Ambipar Environment, especializada no atendimento a emergências envolvendo acidentes com produtos químicos e poluentes, não está muito otimista com a COP-28, sobretudo por causa do atual cenário geopolítico com a guerra da Ucrânia e Rússia e o conflito em Israel. “Não é pessimista, é realista. Acho que tem pouco espaço para conversa. Se não for uma COP que todo mundo fica se acusando, já é positivo”, afirmou.

O diretor de sustentabilidade da empresa, Rafael Tello, por outro lado, espera que as empresas se engajem e, de fato, se comprometam com metas não somente no papel, mas também com ações práticas e delimitadas. Ele afirma que houve um grande avanço no setor privado nos últimos anos, com as companhias já entendendo as pautas de sustentabilidade. Apesar disso, ainda é preciso fazer muito para o desenvolvimento dessas pautas.

Diretor de sustentabilidade da empresa, Rafael Tello Foto: Cauê Diniz/Ambipar

“Os compromissos já estão dados. Eu acho que é muito mais uma situação de entender a realidade e se adaptar à nova realidade do que botar o pé no freio e desistir do que já foi proposto até aqui”, diz.

Essa visão também é compartilhada por Patrícia Lima, CEO da marca Simple Organic, empresa da Hypera Pharma, que apresentará o conceito de clean beauty no evento internacional. Ela concorda e avalia que é inevitável que elementos como a guerra de Israel tenham impactos nas negociações, considerando que os principais atores globais envolvidos direta ou indiretamente na guerra também estarão lá. Mesmo diante disso, ela espera que haja, ao menos, algumas decisões firmadas.

“Se esse ano a gente não sair com resultados mais concretos, a credibilidade da COP começa a entrar em xeque”, afirmou ela, completando. “Questões como a descarbonização e a transição energética não são uma opção, mas uma pauta urgente que precisa de ações concretas desde já”.

Além deste destaque, outro assunto de peso nas discussões de líderes deve ser o protagonismo de empresas sustentáveis nesta transição, considerando que elas já são as provedoras de soluções de baixo carbono na atual conjuntura econômica.

Espera-se também que a justiça climática seja uma pauta de força no evento, considerando que cada vez mais potências e países têm discutido como alguns povos e etnias são mais afetados pelas mudanças climáticas do que outros.

Agronegócio

Um consenso entre os empresários é de que o agronegócio deve ser um tema de destaque para o Brasil durante a COP, considerando que o setor é o segundo maior emissor de gases do efeito estufa no País.

Para Plínio Ribeiro, o País deve ter questionamentos sobre a sua posição em relação ao agronegócio. “A gente vê uma tentativa de colocar a agricultura como vilã e desvirtuar a origem do problema: a emissão é do setor de óleo e gás e dos combustíveis fósseis. Vai haver uma tentativa de colocar a agricultura nesse papel e a gente, como exportador, tem de ter uma narrativa muito forte e muito consistente para não virar refém dessa discussão e deixar de ser líder”, disse Ribeiro em um evento pré-COP, realizado pelo Cubo Itaú.

Para Artur Faria, CEO da Oxygea, veículo de aceleração de startups criado pela Braskem para investir em sustentabilidade, determinados países desenvolvidos usam essa agenda para defender sua agricultura local que não tem a mesma competitividade da agricultura de países em desenvolvimento. “A tecnologia mostra que o agro está cada vez mais sustentável.”

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