A maneira como empresários entendem gestão de riscos e a cultura das companhias são fatores que dificultam avanços quando o assunto é prevenir situações que podem comprometer os negócios. “As empresas no Brasil acreditam que o desastre não vai acontecer. Assim, elas não se preparam”, diz o diretor da Marsh Risk Consulting na América Latina, Roberto Zegarra, que afirma que o conceito é relativamente novo no meio empresarial.
Segundo Zegarra, a definição do empresariado brasileiro para crise está mais atrelada a questões recorrentes e inerentes ao negócio (problemas no fluxo de caixa, por exemplo) do que a eventos que podem matar a companhia (ele cita o caso da mineradora Samarco como exemplo). Segundo o executivo, é nesse último aspecto que a prevenção falha: “A verdadeira crise deixa mortos e feridos e coloca a reputação das empresas em xeque”.
A falta de profissionais qualificados para lidar com esses riscos também trava a evolução desses processos, diz o sócio da consultoria PwC, Jorge Manoel. Ele também considera o bom uso da tecnologia uma questão fundamental para melhorias em gestão de riscos: “A qualidade começa nos recursos humanos. A partir da boa formação, certamente haverá outros bons recursos”, avalia.
Uma pesquisa da Marsh coloca o Brasil atrás de outros países da América Latina nesse aspecto. Enquanto menos da metade das empresas brasileiras consultadas (45%) diz ter uma política de gestão de riscos definida, esse porcentual é de 94% no Equador, 70% na Colômbia e 67% no Peru - os três países considerados mais adiantados. A média ficou em 66%. Participaram do levantamento 369 empresas de 15 países da região.
Entretanto, não há um consenso sobre essa avaliação. Coordenador do MBA em gestão de riscos e compliance da Fecap, Fábio Coimbra defende: “É preciso levar em conta o quanto os conceitos de gestão de riscos estão claros. Apetite a risco, por exemplo, é uma ideia controversa mesmo entre diretores e conselheiros de empresas”, pondera.
O Brasil tem exportado conhecimento e mão de obra em gestão de riscos, diz o sócio da consultoria Deloitte, Ronaldo Fragoso, que também discorda da conclusão da pesquisa. “Nós enviamos profissionais daqui para outros países para ajudar as empresas a implementar esses sistemas”. Ele reconhece, porém, que as companhias no País ainda precisam evoluir nesse aspecto: “Muitas vezes, as empresas não conseguem analisar o cenário como um todo.”
Diferenças. Como risco é um conceito que muda de acordo com cada tipo de negócio, não é possível fazer uma avaliação homogênea sobre o quanto as companhias avançaram. “A maior dificuldade é dimensionar esses riscos”, diz Fragoso.
Também há discrepâncias entre empresas que têm ações em bolsa de valores ou não. Sobre as primeiras, as exigências e a fiscalização são mais pesadas.
Um exemplo é a Instrução nº 552 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que determina que, a partir deste mês, empresas de capital aberto utilizem um novo padrão para divulgar informações ao mercado, com detalhes mais específicos sobre gestão de riscos. “Esse é um passo importante para mais transparência”, diz Coimbra.