A inteligência artificial (IA) ganhou mídia nos últimos anos com a promessa de revolucionar diversos setores econômicos e garantir avanços tecnológicos consideráveis para a humanidade. Mesmo com os diversos ganhos, as empresas ainda têm uma baixa adoção destas ferramentas em suas métricas de gestão de riscos, segundo um estudo da Deloitte divulgado nesta quinta-feira, 4, ao Estadão.
O levantamento, que contou com 154 grandes empresas das áreas de prestação de serviços, infraestrutura, mineração, petróleo e gás, bens de consumo e serviços financeiros, a área de inteligência artificial juntamente com as soluções de analytics são vistas como um dos principais desafios relacionados à evolução do processo de gestão de riscos, para que se tornem mais maduras.
O líder da área de riscos regulatórios da Deloitte Brasil, Alex Borges, explica que estas ferramentas ainda são usadas de forma inicial, visando otimizar a automação de relatórios, a coleta ou monitoramento de dados e eventuais ganhos de escalabilidade. No entanto, ele aponta que este cenário impede o avanço das companhias em práticas preditivas, que permitam a antecipação de eventos de risco.
“É um meio para as empresas buscarem eficiência nos seus modelos de negócio e uma forma de potencializar a materialização de alguns riscos se não houver pontos muito claros de governança”, avalia Borges.
Embora este seja um ponto relevante nesta equação e apresente um risco para muitas companhias - tanto para a sobrevivência de algumas, quanto para o uso de dados e informações confidenciais de outras -, o especialista aponta que a temática vem sendo pouco explorada nas empresas.
O sócio-líder de serviços cibernéticos da empresa no país, André Gargaro, aponta que a grande questão da inteligência artificial ainda não ser mapeada nos riscos da empresa como deveria é o fato desta ser uma solução que não se tem a dimensão do seu poder, principalmente considerando que as mudanças da tecnologia são cada vez mais rápidas. Para ele, no entanto, esta não é mais uma escolha dada a evolução da área e a dependência cada vez maior de tecnologia a que a sociedade está sujeita.
Para Gargaro, as companhias mais ligadas a tecnologia, mesmo que este não seja o foco do seu negócio, vêm se adiantando e já começam a se movimentar internamente, criando, inclusive, posições de lideranças para gerir o uso destas tecnologias dentro da empresa e a criação de instrumentos de controle e risco.
Ele aponta que é preciso que as companhias apostem no uso intensivo de ferramentas de governança corporativa e no letramento de seus funcionários. “Esse cenário [de letramento dos funcionários comuns] ainda não é uma realidade, mas existe uma grande exposição do mercado em relação a todo esse poder que as soluções oferecem”.
Gargaro destaca ainda a necessidade de investir na criação de uma cultura que discuta e integre a gestão de riscos à empresa como um todo. “Criar cultura é difícil, manter cultura é ainda mais. Mas as empresas precisam desmistificar o tema risco. Alguns falam que não tem risco, entendem como algo ruim. Todas têm naturalmente e discutir isso de forma integrada é a chave para mapear os riscos de forma factível”.