Por que empresas decidiram antecipar relatórios de sustentabilidade exigidos a partir de 2027


Companhias listadas em bolsa terão de divulgar documento de acordo com normas internacionais a partir de setembro de 2027, conforme exigência da CVM

Por Luis Filipe Santos
Atualização:

A publicação de relatórios de sustentabilidade por enquanto não é obrigatória para as empresas no Brasil. Mas, a partir de setembro de 2027 (exercício 2026), essa prática terá de ser adotada pelas companhias listadas na bolsa de valores, seguindo as normas publicadas pela International Financial Reporting Standard (IRFS) em 2023, de acordo com decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Apesar do prazo ainda estar distante, há quem queira se adiantar, como forma de ser transparente com consumidores e por exigência dos investidores.

O Brasil será o primeiro país a adotar as normas IRFS1 e IRFS2 para todas as empresas da Bolsa, de acordo com a resolução 193 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de 20 de outubro de 2023. Atualmente, há outros padrões de publicações de relatórios de sustentabilidade, como o Global Report Initiative (GRI), que são utilizados por algumas empresas, sem que haja obrigatoriedade. Assim, o País pode se tornar um exemplo de como as novas normas funcionarão para os mercados de capitais.

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No País, duas companhias já anunciaram publicamente intenção de adiantar a divulgação de relatórios nas normas IRFS: a Vale e as Lojas Renner. Contudo, a consultoria Deloitte aponta no relatório O protagonismo estratégico das relações com investidores, divulgado em junho deste ano, mostra que mais da metade das empresas planeja realizar adequações nos relatórios antes de 2026, sendo 18% delas em 2024 e 33% em 2025. Outros 31% planejam para 2026 em diante, e os 18% restantes não têm intenção de adotar as normas.

Se a obrigatoriedade é importante para nivelar todas as empresas, a pressão de investidores é igualmente forte para fazer com que as empresas tenham interesse em registrar riscos e oportunidades ambientais. “Adiantar (o relatório) tem o potencial gigantesco de permitir ao investidor avaliar se a empresa é sustentável ou não. Os investidores querem conhecer mais o cliente para poderem avançar, querem mais informação para tomar decisões objetivas e preparadas”, afirma Reinaldo Oliari, sócio de auditoria da Deloitte e especialista de sustentabilidade e ESG.

Elaboração dos relatórios precisará passar por diversos setores das empresas, incluindo alguns que não estão acostumados a lidar com o tema da sustentabilidade Foto: Divulgação/Elektro
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Além disso, a publicação por parte de uma empresa pressiona os concorrentes do mesmo segmento a agir de forma parecida, ainda que não estejam submetidos às regras, no caso de organizações de capital fechado ou familiares. “Em termo de comparação, vai escancarar vários discursos verdadeiros e vários que não são. Uma vez que o concorrente divulga, fica muito chato não divulgar”, resume Otávio Dutra, CEO da greentech Zaya, que realiza o cálculo do impacto ambiental de pequenas e grandes empresas.

Das empresas que já anunciaram publicamente a intenção, a Vale não respondeu aos questionamentos do Estadão até a publicação desta reportagem. Já a Renner, que pretende publicar o primeiro relatório segundo as normas IRFS em 2025, avalia que é um caminho esperado.

“Representa um avanço natural na nossa jornada focada na construção de um ecossistema de negócios baseado nas melhores práticas ambientais, sociais e de governança”, afirma o CEO da varejista de roupas, Fabio Faccio. A Renner publica relatórios de sustentabilidade desde 2010, e esses são auditados por parte externa desde 2015.

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Segundo Faccio, a publicação antecipada é uma chancela a mais para a estratégia da empresa e deve oferecer uma percepção de valor ainda maior no mercado. “A nossa iniciativa busca contribuir com o debate sobre a aplicação das novas normas, que vão oferecer mais transparência para os investidores”, projeta.

Caminho

Para as empresas que ainda irão começar a publicar relatórios de sustentabilidade, uma série de medidas pode ser tomada antes, como calcular as emissões de gases de efeito estufa nos três escopos: o escopo 1 se refere ao que é emitido nas operações da própria empresa; o 2, na geração da energia consumida por ela; e o 3 se refere às emissões de toda a cadeia produtiva da companhia. Caso faça ações sociais, o impacto também deve ser mensurado.

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No entanto, o principal tema é mostrar a matriz de materialidade, ou seja, como questões ambientais e sociais podem ser ameaças ou oportunidades, ligando-as com os objetivos financeiros da companhia. “É preciso saber o risco climático dos itens importantes no processo. Medir o que já tem de governança e nos lados social e ambiental é o passo nº1”, alerta Dutra, da Zaya.

Para tal, o processo não pode ficar concentrado apenas em uma área específica da organização e deve passar por diversos setores que não estão necessariamente acostumados a lidar com temas de sustentabilidade. “Tem de envolver outras áreas, como o jurídico e a de relações com investidores, para poder coletar as informações e comunicar adequadamente”, adverte Oliari. “Precisa trazer as normas e conceitos contábeis que para dentro da sustentabilidade, tem de seguir o mesmo racional e a mesma seriedade dos relatórios financeiros.”

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Para as pequenas empresas, embora não seja obrigatório, publicar relatórios do tipo pode ser interessante caso tenham relações com grandes empresas ou bancos. “Cada vez menos o preço é barreira; a redução de custos para fazer os relatórios ajuda. Os documentos das grandes empresas podem apontar o caminho”, relata Dutra, que menciona o tempo de dois anos de adaptação dado pela CVM às companhias brasileiras como um período adequado.

Assim, seria gradualmente mais fácil para todas as empresas publicarem os relatórios, conforme as normas se consolidem, e as publicações serão cada vez mais necessárias para atrair investimentos e entrar em cadeias maiores de fornecimento.

A publicação de relatórios de sustentabilidade por enquanto não é obrigatória para as empresas no Brasil. Mas, a partir de setembro de 2027 (exercício 2026), essa prática terá de ser adotada pelas companhias listadas na bolsa de valores, seguindo as normas publicadas pela International Financial Reporting Standard (IRFS) em 2023, de acordo com decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Apesar do prazo ainda estar distante, há quem queira se adiantar, como forma de ser transparente com consumidores e por exigência dos investidores.

O Brasil será o primeiro país a adotar as normas IRFS1 e IRFS2 para todas as empresas da Bolsa, de acordo com a resolução 193 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de 20 de outubro de 2023. Atualmente, há outros padrões de publicações de relatórios de sustentabilidade, como o Global Report Initiative (GRI), que são utilizados por algumas empresas, sem que haja obrigatoriedade. Assim, o País pode se tornar um exemplo de como as novas normas funcionarão para os mercados de capitais.

No País, duas companhias já anunciaram publicamente intenção de adiantar a divulgação de relatórios nas normas IRFS: a Vale e as Lojas Renner. Contudo, a consultoria Deloitte aponta no relatório O protagonismo estratégico das relações com investidores, divulgado em junho deste ano, mostra que mais da metade das empresas planeja realizar adequações nos relatórios antes de 2026, sendo 18% delas em 2024 e 33% em 2025. Outros 31% planejam para 2026 em diante, e os 18% restantes não têm intenção de adotar as normas.

Se a obrigatoriedade é importante para nivelar todas as empresas, a pressão de investidores é igualmente forte para fazer com que as empresas tenham interesse em registrar riscos e oportunidades ambientais. “Adiantar (o relatório) tem o potencial gigantesco de permitir ao investidor avaliar se a empresa é sustentável ou não. Os investidores querem conhecer mais o cliente para poderem avançar, querem mais informação para tomar decisões objetivas e preparadas”, afirma Reinaldo Oliari, sócio de auditoria da Deloitte e especialista de sustentabilidade e ESG.

Elaboração dos relatórios precisará passar por diversos setores das empresas, incluindo alguns que não estão acostumados a lidar com o tema da sustentabilidade Foto: Divulgação/Elektro

Além disso, a publicação por parte de uma empresa pressiona os concorrentes do mesmo segmento a agir de forma parecida, ainda que não estejam submetidos às regras, no caso de organizações de capital fechado ou familiares. “Em termo de comparação, vai escancarar vários discursos verdadeiros e vários que não são. Uma vez que o concorrente divulga, fica muito chato não divulgar”, resume Otávio Dutra, CEO da greentech Zaya, que realiza o cálculo do impacto ambiental de pequenas e grandes empresas.

Das empresas que já anunciaram publicamente a intenção, a Vale não respondeu aos questionamentos do Estadão até a publicação desta reportagem. Já a Renner, que pretende publicar o primeiro relatório segundo as normas IRFS em 2025, avalia que é um caminho esperado.

“Representa um avanço natural na nossa jornada focada na construção de um ecossistema de negócios baseado nas melhores práticas ambientais, sociais e de governança”, afirma o CEO da varejista de roupas, Fabio Faccio. A Renner publica relatórios de sustentabilidade desde 2010, e esses são auditados por parte externa desde 2015.

Segundo Faccio, a publicação antecipada é uma chancela a mais para a estratégia da empresa e deve oferecer uma percepção de valor ainda maior no mercado. “A nossa iniciativa busca contribuir com o debate sobre a aplicação das novas normas, que vão oferecer mais transparência para os investidores”, projeta.

Caminho

Para as empresas que ainda irão começar a publicar relatórios de sustentabilidade, uma série de medidas pode ser tomada antes, como calcular as emissões de gases de efeito estufa nos três escopos: o escopo 1 se refere ao que é emitido nas operações da própria empresa; o 2, na geração da energia consumida por ela; e o 3 se refere às emissões de toda a cadeia produtiva da companhia. Caso faça ações sociais, o impacto também deve ser mensurado.

No entanto, o principal tema é mostrar a matriz de materialidade, ou seja, como questões ambientais e sociais podem ser ameaças ou oportunidades, ligando-as com os objetivos financeiros da companhia. “É preciso saber o risco climático dos itens importantes no processo. Medir o que já tem de governança e nos lados social e ambiental é o passo nº1”, alerta Dutra, da Zaya.

Para tal, o processo não pode ficar concentrado apenas em uma área específica da organização e deve passar por diversos setores que não estão necessariamente acostumados a lidar com temas de sustentabilidade. “Tem de envolver outras áreas, como o jurídico e a de relações com investidores, para poder coletar as informações e comunicar adequadamente”, adverte Oliari. “Precisa trazer as normas e conceitos contábeis que para dentro da sustentabilidade, tem de seguir o mesmo racional e a mesma seriedade dos relatórios financeiros.”

Para as pequenas empresas, embora não seja obrigatório, publicar relatórios do tipo pode ser interessante caso tenham relações com grandes empresas ou bancos. “Cada vez menos o preço é barreira; a redução de custos para fazer os relatórios ajuda. Os documentos das grandes empresas podem apontar o caminho”, relata Dutra, que menciona o tempo de dois anos de adaptação dado pela CVM às companhias brasileiras como um período adequado.

Assim, seria gradualmente mais fácil para todas as empresas publicarem os relatórios, conforme as normas se consolidem, e as publicações serão cada vez mais necessárias para atrair investimentos e entrar em cadeias maiores de fornecimento.

A publicação de relatórios de sustentabilidade por enquanto não é obrigatória para as empresas no Brasil. Mas, a partir de setembro de 2027 (exercício 2026), essa prática terá de ser adotada pelas companhias listadas na bolsa de valores, seguindo as normas publicadas pela International Financial Reporting Standard (IRFS) em 2023, de acordo com decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Apesar do prazo ainda estar distante, há quem queira se adiantar, como forma de ser transparente com consumidores e por exigência dos investidores.

O Brasil será o primeiro país a adotar as normas IRFS1 e IRFS2 para todas as empresas da Bolsa, de acordo com a resolução 193 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de 20 de outubro de 2023. Atualmente, há outros padrões de publicações de relatórios de sustentabilidade, como o Global Report Initiative (GRI), que são utilizados por algumas empresas, sem que haja obrigatoriedade. Assim, o País pode se tornar um exemplo de como as novas normas funcionarão para os mercados de capitais.

No País, duas companhias já anunciaram publicamente intenção de adiantar a divulgação de relatórios nas normas IRFS: a Vale e as Lojas Renner. Contudo, a consultoria Deloitte aponta no relatório O protagonismo estratégico das relações com investidores, divulgado em junho deste ano, mostra que mais da metade das empresas planeja realizar adequações nos relatórios antes de 2026, sendo 18% delas em 2024 e 33% em 2025. Outros 31% planejam para 2026 em diante, e os 18% restantes não têm intenção de adotar as normas.

Se a obrigatoriedade é importante para nivelar todas as empresas, a pressão de investidores é igualmente forte para fazer com que as empresas tenham interesse em registrar riscos e oportunidades ambientais. “Adiantar (o relatório) tem o potencial gigantesco de permitir ao investidor avaliar se a empresa é sustentável ou não. Os investidores querem conhecer mais o cliente para poderem avançar, querem mais informação para tomar decisões objetivas e preparadas”, afirma Reinaldo Oliari, sócio de auditoria da Deloitte e especialista de sustentabilidade e ESG.

Elaboração dos relatórios precisará passar por diversos setores das empresas, incluindo alguns que não estão acostumados a lidar com o tema da sustentabilidade Foto: Divulgação/Elektro

Além disso, a publicação por parte de uma empresa pressiona os concorrentes do mesmo segmento a agir de forma parecida, ainda que não estejam submetidos às regras, no caso de organizações de capital fechado ou familiares. “Em termo de comparação, vai escancarar vários discursos verdadeiros e vários que não são. Uma vez que o concorrente divulga, fica muito chato não divulgar”, resume Otávio Dutra, CEO da greentech Zaya, que realiza o cálculo do impacto ambiental de pequenas e grandes empresas.

Das empresas que já anunciaram publicamente a intenção, a Vale não respondeu aos questionamentos do Estadão até a publicação desta reportagem. Já a Renner, que pretende publicar o primeiro relatório segundo as normas IRFS em 2025, avalia que é um caminho esperado.

“Representa um avanço natural na nossa jornada focada na construção de um ecossistema de negócios baseado nas melhores práticas ambientais, sociais e de governança”, afirma o CEO da varejista de roupas, Fabio Faccio. A Renner publica relatórios de sustentabilidade desde 2010, e esses são auditados por parte externa desde 2015.

Segundo Faccio, a publicação antecipada é uma chancela a mais para a estratégia da empresa e deve oferecer uma percepção de valor ainda maior no mercado. “A nossa iniciativa busca contribuir com o debate sobre a aplicação das novas normas, que vão oferecer mais transparência para os investidores”, projeta.

Caminho

Para as empresas que ainda irão começar a publicar relatórios de sustentabilidade, uma série de medidas pode ser tomada antes, como calcular as emissões de gases de efeito estufa nos três escopos: o escopo 1 se refere ao que é emitido nas operações da própria empresa; o 2, na geração da energia consumida por ela; e o 3 se refere às emissões de toda a cadeia produtiva da companhia. Caso faça ações sociais, o impacto também deve ser mensurado.

No entanto, o principal tema é mostrar a matriz de materialidade, ou seja, como questões ambientais e sociais podem ser ameaças ou oportunidades, ligando-as com os objetivos financeiros da companhia. “É preciso saber o risco climático dos itens importantes no processo. Medir o que já tem de governança e nos lados social e ambiental é o passo nº1”, alerta Dutra, da Zaya.

Para tal, o processo não pode ficar concentrado apenas em uma área específica da organização e deve passar por diversos setores que não estão necessariamente acostumados a lidar com temas de sustentabilidade. “Tem de envolver outras áreas, como o jurídico e a de relações com investidores, para poder coletar as informações e comunicar adequadamente”, adverte Oliari. “Precisa trazer as normas e conceitos contábeis que para dentro da sustentabilidade, tem de seguir o mesmo racional e a mesma seriedade dos relatórios financeiros.”

Para as pequenas empresas, embora não seja obrigatório, publicar relatórios do tipo pode ser interessante caso tenham relações com grandes empresas ou bancos. “Cada vez menos o preço é barreira; a redução de custos para fazer os relatórios ajuda. Os documentos das grandes empresas podem apontar o caminho”, relata Dutra, que menciona o tempo de dois anos de adaptação dado pela CVM às companhias brasileiras como um período adequado.

Assim, seria gradualmente mais fácil para todas as empresas publicarem os relatórios, conforme as normas se consolidem, e as publicações serão cada vez mais necessárias para atrair investimentos e entrar em cadeias maiores de fornecimento.

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