Energia solar cresce como alternativa à elétrica em empresas


Empresários apontam uso de energia limpa para baratear os custos; pesquisador vê grande crescimento, mas em fase inicial e com base pequena

Por Beatriz Capirazi
Atualização:

Por muitos anos, a energia solar foi vista como um luxo para pessoas com alto poder aquisitivo que prezavam pela proteção ao meio ambiente e por uma casa sustentável, considerando o alto custo para instalação de painéis solares, por exemplo. Hoje, a energia limpa, essencial para diversas pautas de ESG atreladas ao meio ambiente, é uma alternativa viável a energia elétrica, principalmente para os empresários, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão.

“A energia solar tem crescido rapidamente no Brasil, mas o seu uso ainda é relativamente pequeno se comparado com outros países. A gente está em um momento de grande crescimento, mas ainda relativamente inicial e com uma base pequena”, afirma Roberto Brandão, pesquisador sênior do grupo de estudos do setor elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Brandão explica que o crescimento no Brasil foi vertiginoso impulsionado por subsídios governamentais para estimular o uso de energia solar. No entanto, ele destaca que esses subsídios têm prazo determinado. Por isso, para ele, embora o crescimento seja considerável, ele ainda é restrito para uma população com alto poder aquisitivo. Porém, o pesquisador enxerga que entre os empresários, de fato, houve um crescimento na procura nos últimos anos.

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“As contas de luz e de água são as que mais pesam, mas a primeira é a mais cara com o uso de chapa, fritadeira e tudo mais na eletricidade”, afirma Fabiano Barreto, empresário dono do Atlântico Beach Lounge, localizado na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, que aderiu a energia solar recentemente para baratear os custos do seu bar.

Barreto é um dos participantes do projeto ‘Solis’, parceria entre a Orla Rio, responsável pela operação e manutenção dos quiosques da orla do Rio de Janeiro (RJ), e a Nextron, que tem como propósito democratizar o acesso à energia sustentável para os operadores desses estabelecimentos em toda a orla carioca.

Atualmente, 50 dos 309 quiosques administrados pela Orla Rio já estão usando energia renovável através da geração distribuída (GD). Segundo Ivo O. Pitanguy, CEO e fundador da Nextron, a expectativa é que até julho mais de 60% dos quiosques, localizados entre as praias do Leme e Pontal, façam a adesão.

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Atlântico Beach Lounge, localizado na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro. Foto: Maurício Pereira/Orla Rio

Pitanguy destaca que a ideia da parceria com foco nos quiosques surgiu da necessidade dos próprios empreendedores, que reclamavam do valor alto das contas de luz, que gira em torno de 4 mil reais por mês, segundo a Nextron. “Antigamente a região era formada por quiosques mesmo. Hoje se desenvolveram para restaurantes. Tem alguns que são [estabelecimentos] de 300 metros quadrados com cozinha industrial no subsolo”.

Além disso, a região não tem acesso a gás. Com isso, todos os itens que compõem esses restaurantes são à base de eletricidade, desde o fogão até a geladeira, encarecendo a conta de luz. A solução poderia ser a instalação dos famosos painéis solares, mas para a região o uso seria difícil.

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“Nesses estabelecimentos não tem disponibilidade de telhado para colocar placa solar, além deles não terem o capital para investir em uma usina. Com a parceria, conseguimos entregar energia solar por assinatura, ajudando eles a economizar sem eles terem de fazer investimentos em estrutura”, afirma Pitanguy, destacando que desta forma a implementação de energia renovável se torna mais barata e consequentemente mais acessível.

Roberto Hashioka e Ivo O. Pitanguy, fundadores da Nextron. Foto: Ricardo D’Angelo/Nextron

Para viabilizar o projeto, a Nextron usa as suas fazendas solares, que estão construídas em áreas rurais do Rio de Janeiro, onde a terra é plana e há muito sol, facilitando a geração de energia limpa em grande escala. Posteriormente, a empresa entrega energia solar para os “quiosqueiros” através de um software, permitindo que eles façam a adesão ao programa através de um aplicativo de celular.

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Em parceria com usinas solares, que atuam em um modelo de geração compartilhada, a Nextron conecta os quiosques que tem interesse em migrar para a “economia verde”. Assim, há uma portabilidade da conta de energia, com o empresário passando a pagar a fatura diretamente para a empresa. Por não ser necessária a instalação dos painéis solares em todos os quiosques, a Nextron conectou uma usina solar localizada em Vassouras (RJ) para atender a demanda projetada pela Orla Rio para os quiosques.

“Tem sido bem bacana porque a gente consegue um desconto de quase 10% na fatura. Com a operadora de energia normal, eu pagava R$4.000. Com a Nextron, eu pago em torno de R$3.722″, afirma, explicando que o desconto costuma ser de R$360 no mês, com previsão de desconto de R$4.320 no ano. Para ele, essa economia significa mais investimento no desenvolvimento do seu negócio.

Usina solar da Nextron localizada em Vassouras, no Rio de Janeiro.  Foto: Rodrigo Santos/Nextron
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Para a o presidente da Orla Rio, João Marcello Bareto, a expectativa é que até o final do ano haja uma adesão de 100% dos quiosques administrados pela empresa. “A maioria está muito animada para fazer parte do projeto. Alguns estão aguardando para entender o funcionamento do processo, outros estão analisando os descontos que os quiosques que já aderiram tiveram, mas acreditamos e queremos muito que todos façam parte do Projeto Solis”.

Energia sustentável como ferramenta de ESG

Com a parceria, haverá benefícios não só para o bolso dos empreendedores, mas principalmente para o meio ambiente. A expectativa é de que 6 milhões de CO2 deixem de ser emitidos mensalmente após a adesão dos 309 quiosques, o equivalente a 3.542.329 árvores que serão salvas e 2.772.257,18 litros de combustíveis evitados, segundo projeções da Nextron.

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Para Ronaldo Koloszuk, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) e diretor-secretário na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), a parceria entre a Nextron e a Orla Rio demonstra que a adesão das empresas à chamada economia verde já é uma tendência.

“A gente discute muito [na Fiesp] que quem não se adequar vai ter dificuldade de reter ou de atrair os melhores talentos. As pessoas não vão querer trabalhar em empresas que não tenham boas práticas de ESG. Com elas, você consegue agradar e ainda criar empatia com os consumidores”, afirma.

Para ele, no entanto, a procura por energia sustentável especificamente tem como objetivo entrar na pauta ESG de uma maneira fácil e rápida. “É possível fazer a instalação de energia solar em um ou dois dias”, diz, explicando que uma economia verde e de baixo carbono “veio para ficar” e que o Brasil tem vocação para ser líder nessa transição energética.

O presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuida (ABGD), Guilherme Chrispim, é da mesma opinião, afirmando que o grande trunfo do projeto é o uso da GD. “A geração distribuída tem uma contribuição direta com o ESG. Ela dá a possibilidade de um número grande de pequenas usinas de geração distribuir energia em quase todos os municípios do Brasil. É menos de 0,5 dos municípios do Brasil que não tem GD hoje”.

Energia solar é acessível?

“Há dois anos só colocava painéis solares quem tinha muito dinheiro. Depois, passou a ser um desejo de reduzir custos. Quem tinha informação e fazia conta, passava a colocar. O painel foi ficando mais barato e indo para a classe média”, afirma Koloszuk.

Para ele, nos próximos anos deve haver uma expansão cada vez maior, principalmente com o barateamento da energia sustentável. Somente em 2022, a energia solar, considerada por muitos especialistas como a ‘porta de entrada’ para o ESG, registrou expansão de mais de 60% na sua capacidade instalada, segundo dados divulgados pela Absolar.

Para Koloszuk, a energia solar se barateou nos últimos dois anos e é uma alternativa viável a energia elétrica, principalmente para os empresários. “O segundo maior custo de uma empresa pequena é com energia, perdendo somente para a folha de pagamento”, diz, se referindo a uma pesquisa do Sebrae que aponta a energia elétrica que chega a representar 20% das despesas de uma empresa.

O presidente da Absolar defende que o painel solar, uma das formas mais conhecidas pelo grande público de ter acesso a energia limpa, foi um dos produtos que mais se barateou nos últimos anos. Para ele, no entanto, é preciso reforçar que existem outras formas de ter acesso, como no próprio serviço por assinatura da Nextron ou outros meios que não dependem da compra inicial custosa que os painéis ainda exigem.

“O painel é apenas uma das formas. Uma outra forma é a de financiamento. Hoje em dia existem mais de 100 linhas de financiamento para implementação de energia solar. Outra forma é comprar essa energia solar de alguém que já produz. As empresas costumam dar um desconto de 10% a 15% se comparado com o valor pago nas contas tradicionais de luz”, diz Koloszuk.

Ronaldo Koloszuk, presidente do conselho de administração da Absolar. Foto: Karim Kahn/Fiesp

Ele ainda destaca que a popularização depende de um posicionamento mais efetivo das instituições públicas. “Governos precisam estar presentes para acelerar a transição energética. Eles podem implementar para reduzir as suas próprias contas de luz, deixando de gastar com energia elétrica e podendo gastar com educação, segurança e outras áreas que atendem a população”, afirma.

Na última terça-feira, 2, o assunto foi debatido por especialistas na comissão mista da Medida Provisória (MP) 1162/23, reforçando a importância da implementação do uso de painéis solares nas construções do Minha Casa, Minha Vida. Koloszuk destaca que a energia pode, inclusive, ser uma forma de levar energia limpa para regiões isoladas, como Roraima e Amazonas, que, segundo ele, costumam queimar óleo diesel para conseguir eletricidade.

“Quando você vai implementar uma nova política, normalmente isso acarreta em custos. No caso da energia solar, você está implementando uma política de redução de custos. É a porta de entrada para uma economia verde”, diz Koloszuk.

Para o pesquisador da UFRJ, Roberto Brandão, no entanto, embora tenha havido uma ampliação, o uso da energia solar não pode ser considerado democrático ainda . “Esse tipo de sistema tende a ser adotado por quem tem dinheiro para fazer o investimento. Embora ele se pague e seja um bom negócio para o empresário, é para um consumidor que tenha capacidade financeira para instalar ou para participar de uma geração remota em que você é investidor de uma planta que gera créditos para a sua empresa ou para a sua residência”.

O pesquisador ainda destaca que outros países usam da geração comunitária para ampliar o uso de energia solar para a população em geral, especialmente para os que tem baixo poder aquisitivo. “No Brasil, temos experiências nessa área, mas é uma coisa que não massificou ainda. Falando em residências, as pessoas que adotaram são as que tem capacidade de investir e se beneficiar do subsídio implícito”.

Para ele, se o Brasil continuar nesse ritmo e o governo implementar medidas que beneficiem a população mais carente, daqui alguns anos a energia solar deve ser acessível para todos, mas, para ele, a energia solar no Brasil ainda é um projeto em estágio inicial.

Por muitos anos, a energia solar foi vista como um luxo para pessoas com alto poder aquisitivo que prezavam pela proteção ao meio ambiente e por uma casa sustentável, considerando o alto custo para instalação de painéis solares, por exemplo. Hoje, a energia limpa, essencial para diversas pautas de ESG atreladas ao meio ambiente, é uma alternativa viável a energia elétrica, principalmente para os empresários, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão.

“A energia solar tem crescido rapidamente no Brasil, mas o seu uso ainda é relativamente pequeno se comparado com outros países. A gente está em um momento de grande crescimento, mas ainda relativamente inicial e com uma base pequena”, afirma Roberto Brandão, pesquisador sênior do grupo de estudos do setor elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Brandão explica que o crescimento no Brasil foi vertiginoso impulsionado por subsídios governamentais para estimular o uso de energia solar. No entanto, ele destaca que esses subsídios têm prazo determinado. Por isso, para ele, embora o crescimento seja considerável, ele ainda é restrito para uma população com alto poder aquisitivo. Porém, o pesquisador enxerga que entre os empresários, de fato, houve um crescimento na procura nos últimos anos.

“As contas de luz e de água são as que mais pesam, mas a primeira é a mais cara com o uso de chapa, fritadeira e tudo mais na eletricidade”, afirma Fabiano Barreto, empresário dono do Atlântico Beach Lounge, localizado na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, que aderiu a energia solar recentemente para baratear os custos do seu bar.

Barreto é um dos participantes do projeto ‘Solis’, parceria entre a Orla Rio, responsável pela operação e manutenção dos quiosques da orla do Rio de Janeiro (RJ), e a Nextron, que tem como propósito democratizar o acesso à energia sustentável para os operadores desses estabelecimentos em toda a orla carioca.

Atualmente, 50 dos 309 quiosques administrados pela Orla Rio já estão usando energia renovável através da geração distribuída (GD). Segundo Ivo O. Pitanguy, CEO e fundador da Nextron, a expectativa é que até julho mais de 60% dos quiosques, localizados entre as praias do Leme e Pontal, façam a adesão.

Atlântico Beach Lounge, localizado na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro. Foto: Maurício Pereira/Orla Rio

Pitanguy destaca que a ideia da parceria com foco nos quiosques surgiu da necessidade dos próprios empreendedores, que reclamavam do valor alto das contas de luz, que gira em torno de 4 mil reais por mês, segundo a Nextron. “Antigamente a região era formada por quiosques mesmo. Hoje se desenvolveram para restaurantes. Tem alguns que são [estabelecimentos] de 300 metros quadrados com cozinha industrial no subsolo”.

Além disso, a região não tem acesso a gás. Com isso, todos os itens que compõem esses restaurantes são à base de eletricidade, desde o fogão até a geladeira, encarecendo a conta de luz. A solução poderia ser a instalação dos famosos painéis solares, mas para a região o uso seria difícil.

“Nesses estabelecimentos não tem disponibilidade de telhado para colocar placa solar, além deles não terem o capital para investir em uma usina. Com a parceria, conseguimos entregar energia solar por assinatura, ajudando eles a economizar sem eles terem de fazer investimentos em estrutura”, afirma Pitanguy, destacando que desta forma a implementação de energia renovável se torna mais barata e consequentemente mais acessível.

Roberto Hashioka e Ivo O. Pitanguy, fundadores da Nextron. Foto: Ricardo D’Angelo/Nextron

Para viabilizar o projeto, a Nextron usa as suas fazendas solares, que estão construídas em áreas rurais do Rio de Janeiro, onde a terra é plana e há muito sol, facilitando a geração de energia limpa em grande escala. Posteriormente, a empresa entrega energia solar para os “quiosqueiros” através de um software, permitindo que eles façam a adesão ao programa através de um aplicativo de celular.

Em parceria com usinas solares, que atuam em um modelo de geração compartilhada, a Nextron conecta os quiosques que tem interesse em migrar para a “economia verde”. Assim, há uma portabilidade da conta de energia, com o empresário passando a pagar a fatura diretamente para a empresa. Por não ser necessária a instalação dos painéis solares em todos os quiosques, a Nextron conectou uma usina solar localizada em Vassouras (RJ) para atender a demanda projetada pela Orla Rio para os quiosques.

“Tem sido bem bacana porque a gente consegue um desconto de quase 10% na fatura. Com a operadora de energia normal, eu pagava R$4.000. Com a Nextron, eu pago em torno de R$3.722″, afirma, explicando que o desconto costuma ser de R$360 no mês, com previsão de desconto de R$4.320 no ano. Para ele, essa economia significa mais investimento no desenvolvimento do seu negócio.

Usina solar da Nextron localizada em Vassouras, no Rio de Janeiro.  Foto: Rodrigo Santos/Nextron

Para a o presidente da Orla Rio, João Marcello Bareto, a expectativa é que até o final do ano haja uma adesão de 100% dos quiosques administrados pela empresa. “A maioria está muito animada para fazer parte do projeto. Alguns estão aguardando para entender o funcionamento do processo, outros estão analisando os descontos que os quiosques que já aderiram tiveram, mas acreditamos e queremos muito que todos façam parte do Projeto Solis”.

Energia sustentável como ferramenta de ESG

Com a parceria, haverá benefícios não só para o bolso dos empreendedores, mas principalmente para o meio ambiente. A expectativa é de que 6 milhões de CO2 deixem de ser emitidos mensalmente após a adesão dos 309 quiosques, o equivalente a 3.542.329 árvores que serão salvas e 2.772.257,18 litros de combustíveis evitados, segundo projeções da Nextron.

Para Ronaldo Koloszuk, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) e diretor-secretário na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), a parceria entre a Nextron e a Orla Rio demonstra que a adesão das empresas à chamada economia verde já é uma tendência.

“A gente discute muito [na Fiesp] que quem não se adequar vai ter dificuldade de reter ou de atrair os melhores talentos. As pessoas não vão querer trabalhar em empresas que não tenham boas práticas de ESG. Com elas, você consegue agradar e ainda criar empatia com os consumidores”, afirma.

Para ele, no entanto, a procura por energia sustentável especificamente tem como objetivo entrar na pauta ESG de uma maneira fácil e rápida. “É possível fazer a instalação de energia solar em um ou dois dias”, diz, explicando que uma economia verde e de baixo carbono “veio para ficar” e que o Brasil tem vocação para ser líder nessa transição energética.

O presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuida (ABGD), Guilherme Chrispim, é da mesma opinião, afirmando que o grande trunfo do projeto é o uso da GD. “A geração distribuída tem uma contribuição direta com o ESG. Ela dá a possibilidade de um número grande de pequenas usinas de geração distribuir energia em quase todos os municípios do Brasil. É menos de 0,5 dos municípios do Brasil que não tem GD hoje”.

Energia solar é acessível?

“Há dois anos só colocava painéis solares quem tinha muito dinheiro. Depois, passou a ser um desejo de reduzir custos. Quem tinha informação e fazia conta, passava a colocar. O painel foi ficando mais barato e indo para a classe média”, afirma Koloszuk.

Para ele, nos próximos anos deve haver uma expansão cada vez maior, principalmente com o barateamento da energia sustentável. Somente em 2022, a energia solar, considerada por muitos especialistas como a ‘porta de entrada’ para o ESG, registrou expansão de mais de 60% na sua capacidade instalada, segundo dados divulgados pela Absolar.

Para Koloszuk, a energia solar se barateou nos últimos dois anos e é uma alternativa viável a energia elétrica, principalmente para os empresários. “O segundo maior custo de uma empresa pequena é com energia, perdendo somente para a folha de pagamento”, diz, se referindo a uma pesquisa do Sebrae que aponta a energia elétrica que chega a representar 20% das despesas de uma empresa.

O presidente da Absolar defende que o painel solar, uma das formas mais conhecidas pelo grande público de ter acesso a energia limpa, foi um dos produtos que mais se barateou nos últimos anos. Para ele, no entanto, é preciso reforçar que existem outras formas de ter acesso, como no próprio serviço por assinatura da Nextron ou outros meios que não dependem da compra inicial custosa que os painéis ainda exigem.

“O painel é apenas uma das formas. Uma outra forma é a de financiamento. Hoje em dia existem mais de 100 linhas de financiamento para implementação de energia solar. Outra forma é comprar essa energia solar de alguém que já produz. As empresas costumam dar um desconto de 10% a 15% se comparado com o valor pago nas contas tradicionais de luz”, diz Koloszuk.

Ronaldo Koloszuk, presidente do conselho de administração da Absolar. Foto: Karim Kahn/Fiesp

Ele ainda destaca que a popularização depende de um posicionamento mais efetivo das instituições públicas. “Governos precisam estar presentes para acelerar a transição energética. Eles podem implementar para reduzir as suas próprias contas de luz, deixando de gastar com energia elétrica e podendo gastar com educação, segurança e outras áreas que atendem a população”, afirma.

Na última terça-feira, 2, o assunto foi debatido por especialistas na comissão mista da Medida Provisória (MP) 1162/23, reforçando a importância da implementação do uso de painéis solares nas construções do Minha Casa, Minha Vida. Koloszuk destaca que a energia pode, inclusive, ser uma forma de levar energia limpa para regiões isoladas, como Roraima e Amazonas, que, segundo ele, costumam queimar óleo diesel para conseguir eletricidade.

“Quando você vai implementar uma nova política, normalmente isso acarreta em custos. No caso da energia solar, você está implementando uma política de redução de custos. É a porta de entrada para uma economia verde”, diz Koloszuk.

Para o pesquisador da UFRJ, Roberto Brandão, no entanto, embora tenha havido uma ampliação, o uso da energia solar não pode ser considerado democrático ainda . “Esse tipo de sistema tende a ser adotado por quem tem dinheiro para fazer o investimento. Embora ele se pague e seja um bom negócio para o empresário, é para um consumidor que tenha capacidade financeira para instalar ou para participar de uma geração remota em que você é investidor de uma planta que gera créditos para a sua empresa ou para a sua residência”.

O pesquisador ainda destaca que outros países usam da geração comunitária para ampliar o uso de energia solar para a população em geral, especialmente para os que tem baixo poder aquisitivo. “No Brasil, temos experiências nessa área, mas é uma coisa que não massificou ainda. Falando em residências, as pessoas que adotaram são as que tem capacidade de investir e se beneficiar do subsídio implícito”.

Para ele, se o Brasil continuar nesse ritmo e o governo implementar medidas que beneficiem a população mais carente, daqui alguns anos a energia solar deve ser acessível para todos, mas, para ele, a energia solar no Brasil ainda é um projeto em estágio inicial.

Por muitos anos, a energia solar foi vista como um luxo para pessoas com alto poder aquisitivo que prezavam pela proteção ao meio ambiente e por uma casa sustentável, considerando o alto custo para instalação de painéis solares, por exemplo. Hoje, a energia limpa, essencial para diversas pautas de ESG atreladas ao meio ambiente, é uma alternativa viável a energia elétrica, principalmente para os empresários, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão.

“A energia solar tem crescido rapidamente no Brasil, mas o seu uso ainda é relativamente pequeno se comparado com outros países. A gente está em um momento de grande crescimento, mas ainda relativamente inicial e com uma base pequena”, afirma Roberto Brandão, pesquisador sênior do grupo de estudos do setor elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Brandão explica que o crescimento no Brasil foi vertiginoso impulsionado por subsídios governamentais para estimular o uso de energia solar. No entanto, ele destaca que esses subsídios têm prazo determinado. Por isso, para ele, embora o crescimento seja considerável, ele ainda é restrito para uma população com alto poder aquisitivo. Porém, o pesquisador enxerga que entre os empresários, de fato, houve um crescimento na procura nos últimos anos.

“As contas de luz e de água são as que mais pesam, mas a primeira é a mais cara com o uso de chapa, fritadeira e tudo mais na eletricidade”, afirma Fabiano Barreto, empresário dono do Atlântico Beach Lounge, localizado na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, que aderiu a energia solar recentemente para baratear os custos do seu bar.

Barreto é um dos participantes do projeto ‘Solis’, parceria entre a Orla Rio, responsável pela operação e manutenção dos quiosques da orla do Rio de Janeiro (RJ), e a Nextron, que tem como propósito democratizar o acesso à energia sustentável para os operadores desses estabelecimentos em toda a orla carioca.

Atualmente, 50 dos 309 quiosques administrados pela Orla Rio já estão usando energia renovável através da geração distribuída (GD). Segundo Ivo O. Pitanguy, CEO e fundador da Nextron, a expectativa é que até julho mais de 60% dos quiosques, localizados entre as praias do Leme e Pontal, façam a adesão.

Atlântico Beach Lounge, localizado na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro. Foto: Maurício Pereira/Orla Rio

Pitanguy destaca que a ideia da parceria com foco nos quiosques surgiu da necessidade dos próprios empreendedores, que reclamavam do valor alto das contas de luz, que gira em torno de 4 mil reais por mês, segundo a Nextron. “Antigamente a região era formada por quiosques mesmo. Hoje se desenvolveram para restaurantes. Tem alguns que são [estabelecimentos] de 300 metros quadrados com cozinha industrial no subsolo”.

Além disso, a região não tem acesso a gás. Com isso, todos os itens que compõem esses restaurantes são à base de eletricidade, desde o fogão até a geladeira, encarecendo a conta de luz. A solução poderia ser a instalação dos famosos painéis solares, mas para a região o uso seria difícil.

“Nesses estabelecimentos não tem disponibilidade de telhado para colocar placa solar, além deles não terem o capital para investir em uma usina. Com a parceria, conseguimos entregar energia solar por assinatura, ajudando eles a economizar sem eles terem de fazer investimentos em estrutura”, afirma Pitanguy, destacando que desta forma a implementação de energia renovável se torna mais barata e consequentemente mais acessível.

Roberto Hashioka e Ivo O. Pitanguy, fundadores da Nextron. Foto: Ricardo D’Angelo/Nextron

Para viabilizar o projeto, a Nextron usa as suas fazendas solares, que estão construídas em áreas rurais do Rio de Janeiro, onde a terra é plana e há muito sol, facilitando a geração de energia limpa em grande escala. Posteriormente, a empresa entrega energia solar para os “quiosqueiros” através de um software, permitindo que eles façam a adesão ao programa através de um aplicativo de celular.

Em parceria com usinas solares, que atuam em um modelo de geração compartilhada, a Nextron conecta os quiosques que tem interesse em migrar para a “economia verde”. Assim, há uma portabilidade da conta de energia, com o empresário passando a pagar a fatura diretamente para a empresa. Por não ser necessária a instalação dos painéis solares em todos os quiosques, a Nextron conectou uma usina solar localizada em Vassouras (RJ) para atender a demanda projetada pela Orla Rio para os quiosques.

“Tem sido bem bacana porque a gente consegue um desconto de quase 10% na fatura. Com a operadora de energia normal, eu pagava R$4.000. Com a Nextron, eu pago em torno de R$3.722″, afirma, explicando que o desconto costuma ser de R$360 no mês, com previsão de desconto de R$4.320 no ano. Para ele, essa economia significa mais investimento no desenvolvimento do seu negócio.

Usina solar da Nextron localizada em Vassouras, no Rio de Janeiro.  Foto: Rodrigo Santos/Nextron

Para a o presidente da Orla Rio, João Marcello Bareto, a expectativa é que até o final do ano haja uma adesão de 100% dos quiosques administrados pela empresa. “A maioria está muito animada para fazer parte do projeto. Alguns estão aguardando para entender o funcionamento do processo, outros estão analisando os descontos que os quiosques que já aderiram tiveram, mas acreditamos e queremos muito que todos façam parte do Projeto Solis”.

Energia sustentável como ferramenta de ESG

Com a parceria, haverá benefícios não só para o bolso dos empreendedores, mas principalmente para o meio ambiente. A expectativa é de que 6 milhões de CO2 deixem de ser emitidos mensalmente após a adesão dos 309 quiosques, o equivalente a 3.542.329 árvores que serão salvas e 2.772.257,18 litros de combustíveis evitados, segundo projeções da Nextron.

Para Ronaldo Koloszuk, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) e diretor-secretário na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), a parceria entre a Nextron e a Orla Rio demonstra que a adesão das empresas à chamada economia verde já é uma tendência.

“A gente discute muito [na Fiesp] que quem não se adequar vai ter dificuldade de reter ou de atrair os melhores talentos. As pessoas não vão querer trabalhar em empresas que não tenham boas práticas de ESG. Com elas, você consegue agradar e ainda criar empatia com os consumidores”, afirma.

Para ele, no entanto, a procura por energia sustentável especificamente tem como objetivo entrar na pauta ESG de uma maneira fácil e rápida. “É possível fazer a instalação de energia solar em um ou dois dias”, diz, explicando que uma economia verde e de baixo carbono “veio para ficar” e que o Brasil tem vocação para ser líder nessa transição energética.

O presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuida (ABGD), Guilherme Chrispim, é da mesma opinião, afirmando que o grande trunfo do projeto é o uso da GD. “A geração distribuída tem uma contribuição direta com o ESG. Ela dá a possibilidade de um número grande de pequenas usinas de geração distribuir energia em quase todos os municípios do Brasil. É menos de 0,5 dos municípios do Brasil que não tem GD hoje”.

Energia solar é acessível?

“Há dois anos só colocava painéis solares quem tinha muito dinheiro. Depois, passou a ser um desejo de reduzir custos. Quem tinha informação e fazia conta, passava a colocar. O painel foi ficando mais barato e indo para a classe média”, afirma Koloszuk.

Para ele, nos próximos anos deve haver uma expansão cada vez maior, principalmente com o barateamento da energia sustentável. Somente em 2022, a energia solar, considerada por muitos especialistas como a ‘porta de entrada’ para o ESG, registrou expansão de mais de 60% na sua capacidade instalada, segundo dados divulgados pela Absolar.

Para Koloszuk, a energia solar se barateou nos últimos dois anos e é uma alternativa viável a energia elétrica, principalmente para os empresários. “O segundo maior custo de uma empresa pequena é com energia, perdendo somente para a folha de pagamento”, diz, se referindo a uma pesquisa do Sebrae que aponta a energia elétrica que chega a representar 20% das despesas de uma empresa.

O presidente da Absolar defende que o painel solar, uma das formas mais conhecidas pelo grande público de ter acesso a energia limpa, foi um dos produtos que mais se barateou nos últimos anos. Para ele, no entanto, é preciso reforçar que existem outras formas de ter acesso, como no próprio serviço por assinatura da Nextron ou outros meios que não dependem da compra inicial custosa que os painéis ainda exigem.

“O painel é apenas uma das formas. Uma outra forma é a de financiamento. Hoje em dia existem mais de 100 linhas de financiamento para implementação de energia solar. Outra forma é comprar essa energia solar de alguém que já produz. As empresas costumam dar um desconto de 10% a 15% se comparado com o valor pago nas contas tradicionais de luz”, diz Koloszuk.

Ronaldo Koloszuk, presidente do conselho de administração da Absolar. Foto: Karim Kahn/Fiesp

Ele ainda destaca que a popularização depende de um posicionamento mais efetivo das instituições públicas. “Governos precisam estar presentes para acelerar a transição energética. Eles podem implementar para reduzir as suas próprias contas de luz, deixando de gastar com energia elétrica e podendo gastar com educação, segurança e outras áreas que atendem a população”, afirma.

Na última terça-feira, 2, o assunto foi debatido por especialistas na comissão mista da Medida Provisória (MP) 1162/23, reforçando a importância da implementação do uso de painéis solares nas construções do Minha Casa, Minha Vida. Koloszuk destaca que a energia pode, inclusive, ser uma forma de levar energia limpa para regiões isoladas, como Roraima e Amazonas, que, segundo ele, costumam queimar óleo diesel para conseguir eletricidade.

“Quando você vai implementar uma nova política, normalmente isso acarreta em custos. No caso da energia solar, você está implementando uma política de redução de custos. É a porta de entrada para uma economia verde”, diz Koloszuk.

Para o pesquisador da UFRJ, Roberto Brandão, no entanto, embora tenha havido uma ampliação, o uso da energia solar não pode ser considerado democrático ainda . “Esse tipo de sistema tende a ser adotado por quem tem dinheiro para fazer o investimento. Embora ele se pague e seja um bom negócio para o empresário, é para um consumidor que tenha capacidade financeira para instalar ou para participar de uma geração remota em que você é investidor de uma planta que gera créditos para a sua empresa ou para a sua residência”.

O pesquisador ainda destaca que outros países usam da geração comunitária para ampliar o uso de energia solar para a população em geral, especialmente para os que tem baixo poder aquisitivo. “No Brasil, temos experiências nessa área, mas é uma coisa que não massificou ainda. Falando em residências, as pessoas que adotaram são as que tem capacidade de investir e se beneficiar do subsídio implícito”.

Para ele, se o Brasil continuar nesse ritmo e o governo implementar medidas que beneficiem a população mais carente, daqui alguns anos a energia solar deve ser acessível para todos, mas, para ele, a energia solar no Brasil ainda é um projeto em estágio inicial.

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