Apenas 29% das empresas com regras rígidas de governança na B3 divulgam dados sobre ESG auditados


Levantamento da consultoria Bells & Bayes aponta que falta maturidade sobre o assunto mesmo entre companhias que integram segmento do Novo Mercado na Bolsa

Por Luis Filipe Santos
Atualização:

O segmento do Novo Mercado da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, é formado por empresas que escolhem aderir a regras de governança corporativa mais rígidas, se tornando um exemplo para as demais. Mas, mesmo entre essas companhias, falta maturidade sobre ESG, aponta um levantamento da consultoria Bells & Bayes que analisou os relatórios não-financeiros das companhias disponibilizados aos investidores.

Das 191 companhias do Novo Mercado, 63% publicaram relatórios que congregam informações ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês). Contudo, apenas 29% delas têm algum tipo de auditoria para assegurar as informações, o que deixa os investidores vulneráveis ao greenwashing. As regras do Novo Mercado envolvem mais proteção a acionistas minoritários, por exemplo, mas não necessariamente questões ambientais e sociais.

As companhias do segmento muitas vezes são usadas como “benchmarking” das melhores práticas no Brasil. Na jornada de maturidade sobre a publicação de informações relevantes não-financeiras, a existência dos relatórios é um passo, mas não significa que a empresa esteja pronta. Além da necessidade de auditoria, as organizações também podem minimizar riscos importantes, ignorar oportunidades e relatar práticas diferentes das melhores do mercado.

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Tanto a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) como a B3 afirmaram ao Estadão que têm tentado incentivar as empresas listadas a aderir a determinadas regras, mas ainda sem obrigatoriedade.

A CVM passará a exigir que as empresas listadas em Bolsa divulguem informações não-financeiras segundo os padrões internacionais da International Sustainability Standards Board (ISSB) em 2026, enquanto é possível seguir as regras de forma voluntária já em 2024. O órgão governamental também publicou resoluções com regras para o assunto.

Novo Mercado tem regras mais rígidas para a governança, mas não necessariamente para temas ambientais e sociais Foto: WERTHER SANTANA / ESTADÃO
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Já a B3 tem guias e índices específicos para o ESG, como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), criado em 2005, e o índice Carbono Eficiente (ICO2). A principal atitude, no entanto, foi o Anexo ASG, que dá até 2025 para as companhias reportarem boas práticas ambientais, sociais e de governança e para evoluírem na questão da diversidade, integrando ao menos uma mulher e uma pessoa de outra minoria (negra, indígena, LGBTQIA+ ou com deficiência) nos conselhos administrativos. A regra é “pratique ou explique”. Ou seja, quem não realizá-la não sofrerá punições, mas terá de publicar as razões, e a avaliação sobre os motivos fica a cargo dos investidores.

O levantamento da Bells & Bayes aponta que as empresas ainda têm um longo caminho a percorrer. O baixo número de relatórios auditados deixa os investidores expostos aos riscos do greenwashing, ou seja, de que as companhias não estejam aplicando as ações corretamente. “Tem empresas que reportam e fazem isso de forma madura, algumas que não reportam, e outras que tem informações muito vagas”, comenta Janaína Grossi, analista sênior da Bells & Bayes.

Além disso, o fato de reportar não significa que a empresa esteja aplicando as melhores práticas. “Uma coisa é como a empresa entrega informação e a outra é o quanto está distante da prática de fato. O relatório acaba sendo feito de uma forma lacônica, sem aprofundamento”, cita Wesley Mendes, membro do conselho da Bells & Bayes.

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Para os pesquisadores, isso demonstra que a publicação de relatórios ESG pode ser usada apenas como estratégia de relações públicas, já que se tornou uma demanda dos investidores. A tática pode acabar dando errado: se as empresas nem sabem em que estágio de maturidade estão, é fácil para o público ver que o documento foi malfeito.

Nem sempre as publicações demonstram correção, com riscos subestimados e sem avaliação de oportunidades de novos negócios nos campos ambientais e sociais. No total, 80% das companhias detalham fatores de risco sociais; em termos de fatores ambientais, a parcela é de 83%; aspectos climáticos aparecem para 77%. No entanto, uma parcela significativa, aproximadamente 20%, ainda não menciona ou não identifica esses riscos. Para oportunidades, 70,7% as consideram em seu plano de negócio, com destaque aos setores de petróleo e gás (90%) e utilidade pública (92%).

Um exemplo citado pelos pesquisadores de avaliação de riscos malfeita é o de uma empresa do setor de turismo que avalia não ter riscos ambientais. As organizações brasileiras de tecnologia são especialmente ruins na publicação de informações, com apenas 31,3% publicando uma matriz de materialidade que indique temas ESG relevantes para a companhia e as partes interessadas.

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Um marcador da maturidade é se a remuneração dos executivos está atrelada a atingir metas ambientais. Das companhias, apenas 24% das do Novo Mercado tomam essa atitude. “Considerar ESG na remuneração do executivo significa considerar a geração de valor, preservar o valor da companhia no longo prazo”, explica Mendes.

Pontos paralelos

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Há temas que sempre aparecem nas discussões ESG, como o escopo de emissões de gases de efeito estufa: o escopo 1 é aquele emitido pela empresa em suas operações; o 2 é o quanto é emitido na geração da energia utilizada; o escopo 3 é das emissões em toda a cadeia de fornecimento.

Nesse aspecto, os números também são ruins: 52,9% das companhias alegaram monitorar os escopos 1 e 2. Já o escopo 3 é monitorado por 46%. E, novamente, monitorar não necessariamente quer dizer já estar tomando ações para diminuir as emissões. “Pode ter uma crença da empresa em achar que não está exposta a esse problema das emissões e escopos. Só quando percebem uma pressão do investidor doméstico e internacional para se adequarem”, diz Mendes.

Em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), 17 metas estabelecidas pela ONU para 2030, 32% das organizações não reportam ou não os consideram. Entre os citados, o mais frequente é o de número 8 (trabalho decente e crescimento econômico), citado por 58% das companhias que falaram deles. O ODS 14 (vida na água) é o menos citado, em somente 10% das publicações. “Algumas companhias ou fundos podem ter como critério investir num determinado ODS para as empresas menores. Por isso, não é somente reportar, precisa ser mais profundo, ter ODS na estratégia ESG”, adverte Grossi.

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Diversidade

As empresas também demonstraram estar atrás das melhores práticas internacionais em relação à diversidade na alta administração — 82% das companhias analisadas informaram não ter, ou não mencionaram, objetivos específicos voltados à diversidade de participantes na alta administração. A pesquisa também detectou que, em 50% das empresas, as mulheres não estão presentes na diretoria; no conselho de administração, o índice é de 27%.

Os autores consideram difícil entender por que a evolução no assunto tem ocorrido tão devagar, mesmo com iniciativas brasileiras e internacionais, incluindo a da própria B3, e reforçam a importância do tema. “Com pessoas de diferentes histórias, idades, raças, gêneros, é possível entender melhor o mercado e ter ideias diferentes e inovadoras para chegar ao sucesso”, afirma Grossi.

O segmento do Novo Mercado da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, é formado por empresas que escolhem aderir a regras de governança corporativa mais rígidas, se tornando um exemplo para as demais. Mas, mesmo entre essas companhias, falta maturidade sobre ESG, aponta um levantamento da consultoria Bells & Bayes que analisou os relatórios não-financeiros das companhias disponibilizados aos investidores.

Das 191 companhias do Novo Mercado, 63% publicaram relatórios que congregam informações ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês). Contudo, apenas 29% delas têm algum tipo de auditoria para assegurar as informações, o que deixa os investidores vulneráveis ao greenwashing. As regras do Novo Mercado envolvem mais proteção a acionistas minoritários, por exemplo, mas não necessariamente questões ambientais e sociais.

As companhias do segmento muitas vezes são usadas como “benchmarking” das melhores práticas no Brasil. Na jornada de maturidade sobre a publicação de informações relevantes não-financeiras, a existência dos relatórios é um passo, mas não significa que a empresa esteja pronta. Além da necessidade de auditoria, as organizações também podem minimizar riscos importantes, ignorar oportunidades e relatar práticas diferentes das melhores do mercado.

Tanto a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) como a B3 afirmaram ao Estadão que têm tentado incentivar as empresas listadas a aderir a determinadas regras, mas ainda sem obrigatoriedade.

A CVM passará a exigir que as empresas listadas em Bolsa divulguem informações não-financeiras segundo os padrões internacionais da International Sustainability Standards Board (ISSB) em 2026, enquanto é possível seguir as regras de forma voluntária já em 2024. O órgão governamental também publicou resoluções com regras para o assunto.

Novo Mercado tem regras mais rígidas para a governança, mas não necessariamente para temas ambientais e sociais Foto: WERTHER SANTANA / ESTADÃO

Já a B3 tem guias e índices específicos para o ESG, como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), criado em 2005, e o índice Carbono Eficiente (ICO2). A principal atitude, no entanto, foi o Anexo ASG, que dá até 2025 para as companhias reportarem boas práticas ambientais, sociais e de governança e para evoluírem na questão da diversidade, integrando ao menos uma mulher e uma pessoa de outra minoria (negra, indígena, LGBTQIA+ ou com deficiência) nos conselhos administrativos. A regra é “pratique ou explique”. Ou seja, quem não realizá-la não sofrerá punições, mas terá de publicar as razões, e a avaliação sobre os motivos fica a cargo dos investidores.

O levantamento da Bells & Bayes aponta que as empresas ainda têm um longo caminho a percorrer. O baixo número de relatórios auditados deixa os investidores expostos aos riscos do greenwashing, ou seja, de que as companhias não estejam aplicando as ações corretamente. “Tem empresas que reportam e fazem isso de forma madura, algumas que não reportam, e outras que tem informações muito vagas”, comenta Janaína Grossi, analista sênior da Bells & Bayes.

Além disso, o fato de reportar não significa que a empresa esteja aplicando as melhores práticas. “Uma coisa é como a empresa entrega informação e a outra é o quanto está distante da prática de fato. O relatório acaba sendo feito de uma forma lacônica, sem aprofundamento”, cita Wesley Mendes, membro do conselho da Bells & Bayes.

Para os pesquisadores, isso demonstra que a publicação de relatórios ESG pode ser usada apenas como estratégia de relações públicas, já que se tornou uma demanda dos investidores. A tática pode acabar dando errado: se as empresas nem sabem em que estágio de maturidade estão, é fácil para o público ver que o documento foi malfeito.

Nem sempre as publicações demonstram correção, com riscos subestimados e sem avaliação de oportunidades de novos negócios nos campos ambientais e sociais. No total, 80% das companhias detalham fatores de risco sociais; em termos de fatores ambientais, a parcela é de 83%; aspectos climáticos aparecem para 77%. No entanto, uma parcela significativa, aproximadamente 20%, ainda não menciona ou não identifica esses riscos. Para oportunidades, 70,7% as consideram em seu plano de negócio, com destaque aos setores de petróleo e gás (90%) e utilidade pública (92%).

Um exemplo citado pelos pesquisadores de avaliação de riscos malfeita é o de uma empresa do setor de turismo que avalia não ter riscos ambientais. As organizações brasileiras de tecnologia são especialmente ruins na publicação de informações, com apenas 31,3% publicando uma matriz de materialidade que indique temas ESG relevantes para a companhia e as partes interessadas.

Um marcador da maturidade é se a remuneração dos executivos está atrelada a atingir metas ambientais. Das companhias, apenas 24% das do Novo Mercado tomam essa atitude. “Considerar ESG na remuneração do executivo significa considerar a geração de valor, preservar o valor da companhia no longo prazo”, explica Mendes.

Pontos paralelos

Há temas que sempre aparecem nas discussões ESG, como o escopo de emissões de gases de efeito estufa: o escopo 1 é aquele emitido pela empresa em suas operações; o 2 é o quanto é emitido na geração da energia utilizada; o escopo 3 é das emissões em toda a cadeia de fornecimento.

Nesse aspecto, os números também são ruins: 52,9% das companhias alegaram monitorar os escopos 1 e 2. Já o escopo 3 é monitorado por 46%. E, novamente, monitorar não necessariamente quer dizer já estar tomando ações para diminuir as emissões. “Pode ter uma crença da empresa em achar que não está exposta a esse problema das emissões e escopos. Só quando percebem uma pressão do investidor doméstico e internacional para se adequarem”, diz Mendes.

Em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), 17 metas estabelecidas pela ONU para 2030, 32% das organizações não reportam ou não os consideram. Entre os citados, o mais frequente é o de número 8 (trabalho decente e crescimento econômico), citado por 58% das companhias que falaram deles. O ODS 14 (vida na água) é o menos citado, em somente 10% das publicações. “Algumas companhias ou fundos podem ter como critério investir num determinado ODS para as empresas menores. Por isso, não é somente reportar, precisa ser mais profundo, ter ODS na estratégia ESG”, adverte Grossi.

Diversidade

As empresas também demonstraram estar atrás das melhores práticas internacionais em relação à diversidade na alta administração — 82% das companhias analisadas informaram não ter, ou não mencionaram, objetivos específicos voltados à diversidade de participantes na alta administração. A pesquisa também detectou que, em 50% das empresas, as mulheres não estão presentes na diretoria; no conselho de administração, o índice é de 27%.

Os autores consideram difícil entender por que a evolução no assunto tem ocorrido tão devagar, mesmo com iniciativas brasileiras e internacionais, incluindo a da própria B3, e reforçam a importância do tema. “Com pessoas de diferentes histórias, idades, raças, gêneros, é possível entender melhor o mercado e ter ideias diferentes e inovadoras para chegar ao sucesso”, afirma Grossi.

O segmento do Novo Mercado da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, é formado por empresas que escolhem aderir a regras de governança corporativa mais rígidas, se tornando um exemplo para as demais. Mas, mesmo entre essas companhias, falta maturidade sobre ESG, aponta um levantamento da consultoria Bells & Bayes que analisou os relatórios não-financeiros das companhias disponibilizados aos investidores.

Das 191 companhias do Novo Mercado, 63% publicaram relatórios que congregam informações ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês). Contudo, apenas 29% delas têm algum tipo de auditoria para assegurar as informações, o que deixa os investidores vulneráveis ao greenwashing. As regras do Novo Mercado envolvem mais proteção a acionistas minoritários, por exemplo, mas não necessariamente questões ambientais e sociais.

As companhias do segmento muitas vezes são usadas como “benchmarking” das melhores práticas no Brasil. Na jornada de maturidade sobre a publicação de informações relevantes não-financeiras, a existência dos relatórios é um passo, mas não significa que a empresa esteja pronta. Além da necessidade de auditoria, as organizações também podem minimizar riscos importantes, ignorar oportunidades e relatar práticas diferentes das melhores do mercado.

Tanto a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) como a B3 afirmaram ao Estadão que têm tentado incentivar as empresas listadas a aderir a determinadas regras, mas ainda sem obrigatoriedade.

A CVM passará a exigir que as empresas listadas em Bolsa divulguem informações não-financeiras segundo os padrões internacionais da International Sustainability Standards Board (ISSB) em 2026, enquanto é possível seguir as regras de forma voluntária já em 2024. O órgão governamental também publicou resoluções com regras para o assunto.

Novo Mercado tem regras mais rígidas para a governança, mas não necessariamente para temas ambientais e sociais Foto: WERTHER SANTANA / ESTADÃO

Já a B3 tem guias e índices específicos para o ESG, como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), criado em 2005, e o índice Carbono Eficiente (ICO2). A principal atitude, no entanto, foi o Anexo ASG, que dá até 2025 para as companhias reportarem boas práticas ambientais, sociais e de governança e para evoluírem na questão da diversidade, integrando ao menos uma mulher e uma pessoa de outra minoria (negra, indígena, LGBTQIA+ ou com deficiência) nos conselhos administrativos. A regra é “pratique ou explique”. Ou seja, quem não realizá-la não sofrerá punições, mas terá de publicar as razões, e a avaliação sobre os motivos fica a cargo dos investidores.

O levantamento da Bells & Bayes aponta que as empresas ainda têm um longo caminho a percorrer. O baixo número de relatórios auditados deixa os investidores expostos aos riscos do greenwashing, ou seja, de que as companhias não estejam aplicando as ações corretamente. “Tem empresas que reportam e fazem isso de forma madura, algumas que não reportam, e outras que tem informações muito vagas”, comenta Janaína Grossi, analista sênior da Bells & Bayes.

Além disso, o fato de reportar não significa que a empresa esteja aplicando as melhores práticas. “Uma coisa é como a empresa entrega informação e a outra é o quanto está distante da prática de fato. O relatório acaba sendo feito de uma forma lacônica, sem aprofundamento”, cita Wesley Mendes, membro do conselho da Bells & Bayes.

Para os pesquisadores, isso demonstra que a publicação de relatórios ESG pode ser usada apenas como estratégia de relações públicas, já que se tornou uma demanda dos investidores. A tática pode acabar dando errado: se as empresas nem sabem em que estágio de maturidade estão, é fácil para o público ver que o documento foi malfeito.

Nem sempre as publicações demonstram correção, com riscos subestimados e sem avaliação de oportunidades de novos negócios nos campos ambientais e sociais. No total, 80% das companhias detalham fatores de risco sociais; em termos de fatores ambientais, a parcela é de 83%; aspectos climáticos aparecem para 77%. No entanto, uma parcela significativa, aproximadamente 20%, ainda não menciona ou não identifica esses riscos. Para oportunidades, 70,7% as consideram em seu plano de negócio, com destaque aos setores de petróleo e gás (90%) e utilidade pública (92%).

Um exemplo citado pelos pesquisadores de avaliação de riscos malfeita é o de uma empresa do setor de turismo que avalia não ter riscos ambientais. As organizações brasileiras de tecnologia são especialmente ruins na publicação de informações, com apenas 31,3% publicando uma matriz de materialidade que indique temas ESG relevantes para a companhia e as partes interessadas.

Um marcador da maturidade é se a remuneração dos executivos está atrelada a atingir metas ambientais. Das companhias, apenas 24% das do Novo Mercado tomam essa atitude. “Considerar ESG na remuneração do executivo significa considerar a geração de valor, preservar o valor da companhia no longo prazo”, explica Mendes.

Pontos paralelos

Há temas que sempre aparecem nas discussões ESG, como o escopo de emissões de gases de efeito estufa: o escopo 1 é aquele emitido pela empresa em suas operações; o 2 é o quanto é emitido na geração da energia utilizada; o escopo 3 é das emissões em toda a cadeia de fornecimento.

Nesse aspecto, os números também são ruins: 52,9% das companhias alegaram monitorar os escopos 1 e 2. Já o escopo 3 é monitorado por 46%. E, novamente, monitorar não necessariamente quer dizer já estar tomando ações para diminuir as emissões. “Pode ter uma crença da empresa em achar que não está exposta a esse problema das emissões e escopos. Só quando percebem uma pressão do investidor doméstico e internacional para se adequarem”, diz Mendes.

Em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), 17 metas estabelecidas pela ONU para 2030, 32% das organizações não reportam ou não os consideram. Entre os citados, o mais frequente é o de número 8 (trabalho decente e crescimento econômico), citado por 58% das companhias que falaram deles. O ODS 14 (vida na água) é o menos citado, em somente 10% das publicações. “Algumas companhias ou fundos podem ter como critério investir num determinado ODS para as empresas menores. Por isso, não é somente reportar, precisa ser mais profundo, ter ODS na estratégia ESG”, adverte Grossi.

Diversidade

As empresas também demonstraram estar atrás das melhores práticas internacionais em relação à diversidade na alta administração — 82% das companhias analisadas informaram não ter, ou não mencionaram, objetivos específicos voltados à diversidade de participantes na alta administração. A pesquisa também detectou que, em 50% das empresas, as mulheres não estão presentes na diretoria; no conselho de administração, o índice é de 27%.

Os autores consideram difícil entender por que a evolução no assunto tem ocorrido tão devagar, mesmo com iniciativas brasileiras e internacionais, incluindo a da própria B3, e reforçam a importância do tema. “Com pessoas de diferentes histórias, idades, raças, gêneros, é possível entender melhor o mercado e ter ideias diferentes e inovadoras para chegar ao sucesso”, afirma Grossi.

O segmento do Novo Mercado da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, é formado por empresas que escolhem aderir a regras de governança corporativa mais rígidas, se tornando um exemplo para as demais. Mas, mesmo entre essas companhias, falta maturidade sobre ESG, aponta um levantamento da consultoria Bells & Bayes que analisou os relatórios não-financeiros das companhias disponibilizados aos investidores.

Das 191 companhias do Novo Mercado, 63% publicaram relatórios que congregam informações ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês). Contudo, apenas 29% delas têm algum tipo de auditoria para assegurar as informações, o que deixa os investidores vulneráveis ao greenwashing. As regras do Novo Mercado envolvem mais proteção a acionistas minoritários, por exemplo, mas não necessariamente questões ambientais e sociais.

As companhias do segmento muitas vezes são usadas como “benchmarking” das melhores práticas no Brasil. Na jornada de maturidade sobre a publicação de informações relevantes não-financeiras, a existência dos relatórios é um passo, mas não significa que a empresa esteja pronta. Além da necessidade de auditoria, as organizações também podem minimizar riscos importantes, ignorar oportunidades e relatar práticas diferentes das melhores do mercado.

Tanto a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) como a B3 afirmaram ao Estadão que têm tentado incentivar as empresas listadas a aderir a determinadas regras, mas ainda sem obrigatoriedade.

A CVM passará a exigir que as empresas listadas em Bolsa divulguem informações não-financeiras segundo os padrões internacionais da International Sustainability Standards Board (ISSB) em 2026, enquanto é possível seguir as regras de forma voluntária já em 2024. O órgão governamental também publicou resoluções com regras para o assunto.

Novo Mercado tem regras mais rígidas para a governança, mas não necessariamente para temas ambientais e sociais Foto: WERTHER SANTANA / ESTADÃO

Já a B3 tem guias e índices específicos para o ESG, como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), criado em 2005, e o índice Carbono Eficiente (ICO2). A principal atitude, no entanto, foi o Anexo ASG, que dá até 2025 para as companhias reportarem boas práticas ambientais, sociais e de governança e para evoluírem na questão da diversidade, integrando ao menos uma mulher e uma pessoa de outra minoria (negra, indígena, LGBTQIA+ ou com deficiência) nos conselhos administrativos. A regra é “pratique ou explique”. Ou seja, quem não realizá-la não sofrerá punições, mas terá de publicar as razões, e a avaliação sobre os motivos fica a cargo dos investidores.

O levantamento da Bells & Bayes aponta que as empresas ainda têm um longo caminho a percorrer. O baixo número de relatórios auditados deixa os investidores expostos aos riscos do greenwashing, ou seja, de que as companhias não estejam aplicando as ações corretamente. “Tem empresas que reportam e fazem isso de forma madura, algumas que não reportam, e outras que tem informações muito vagas”, comenta Janaína Grossi, analista sênior da Bells & Bayes.

Além disso, o fato de reportar não significa que a empresa esteja aplicando as melhores práticas. “Uma coisa é como a empresa entrega informação e a outra é o quanto está distante da prática de fato. O relatório acaba sendo feito de uma forma lacônica, sem aprofundamento”, cita Wesley Mendes, membro do conselho da Bells & Bayes.

Para os pesquisadores, isso demonstra que a publicação de relatórios ESG pode ser usada apenas como estratégia de relações públicas, já que se tornou uma demanda dos investidores. A tática pode acabar dando errado: se as empresas nem sabem em que estágio de maturidade estão, é fácil para o público ver que o documento foi malfeito.

Nem sempre as publicações demonstram correção, com riscos subestimados e sem avaliação de oportunidades de novos negócios nos campos ambientais e sociais. No total, 80% das companhias detalham fatores de risco sociais; em termos de fatores ambientais, a parcela é de 83%; aspectos climáticos aparecem para 77%. No entanto, uma parcela significativa, aproximadamente 20%, ainda não menciona ou não identifica esses riscos. Para oportunidades, 70,7% as consideram em seu plano de negócio, com destaque aos setores de petróleo e gás (90%) e utilidade pública (92%).

Um exemplo citado pelos pesquisadores de avaliação de riscos malfeita é o de uma empresa do setor de turismo que avalia não ter riscos ambientais. As organizações brasileiras de tecnologia são especialmente ruins na publicação de informações, com apenas 31,3% publicando uma matriz de materialidade que indique temas ESG relevantes para a companhia e as partes interessadas.

Um marcador da maturidade é se a remuneração dos executivos está atrelada a atingir metas ambientais. Das companhias, apenas 24% das do Novo Mercado tomam essa atitude. “Considerar ESG na remuneração do executivo significa considerar a geração de valor, preservar o valor da companhia no longo prazo”, explica Mendes.

Pontos paralelos

Há temas que sempre aparecem nas discussões ESG, como o escopo de emissões de gases de efeito estufa: o escopo 1 é aquele emitido pela empresa em suas operações; o 2 é o quanto é emitido na geração da energia utilizada; o escopo 3 é das emissões em toda a cadeia de fornecimento.

Nesse aspecto, os números também são ruins: 52,9% das companhias alegaram monitorar os escopos 1 e 2. Já o escopo 3 é monitorado por 46%. E, novamente, monitorar não necessariamente quer dizer já estar tomando ações para diminuir as emissões. “Pode ter uma crença da empresa em achar que não está exposta a esse problema das emissões e escopos. Só quando percebem uma pressão do investidor doméstico e internacional para se adequarem”, diz Mendes.

Em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), 17 metas estabelecidas pela ONU para 2030, 32% das organizações não reportam ou não os consideram. Entre os citados, o mais frequente é o de número 8 (trabalho decente e crescimento econômico), citado por 58% das companhias que falaram deles. O ODS 14 (vida na água) é o menos citado, em somente 10% das publicações. “Algumas companhias ou fundos podem ter como critério investir num determinado ODS para as empresas menores. Por isso, não é somente reportar, precisa ser mais profundo, ter ODS na estratégia ESG”, adverte Grossi.

Diversidade

As empresas também demonstraram estar atrás das melhores práticas internacionais em relação à diversidade na alta administração — 82% das companhias analisadas informaram não ter, ou não mencionaram, objetivos específicos voltados à diversidade de participantes na alta administração. A pesquisa também detectou que, em 50% das empresas, as mulheres não estão presentes na diretoria; no conselho de administração, o índice é de 27%.

Os autores consideram difícil entender por que a evolução no assunto tem ocorrido tão devagar, mesmo com iniciativas brasileiras e internacionais, incluindo a da própria B3, e reforçam a importância do tema. “Com pessoas de diferentes histórias, idades, raças, gêneros, é possível entender melhor o mercado e ter ideias diferentes e inovadoras para chegar ao sucesso”, afirma Grossi.

O segmento do Novo Mercado da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, é formado por empresas que escolhem aderir a regras de governança corporativa mais rígidas, se tornando um exemplo para as demais. Mas, mesmo entre essas companhias, falta maturidade sobre ESG, aponta um levantamento da consultoria Bells & Bayes que analisou os relatórios não-financeiros das companhias disponibilizados aos investidores.

Das 191 companhias do Novo Mercado, 63% publicaram relatórios que congregam informações ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês). Contudo, apenas 29% delas têm algum tipo de auditoria para assegurar as informações, o que deixa os investidores vulneráveis ao greenwashing. As regras do Novo Mercado envolvem mais proteção a acionistas minoritários, por exemplo, mas não necessariamente questões ambientais e sociais.

As companhias do segmento muitas vezes são usadas como “benchmarking” das melhores práticas no Brasil. Na jornada de maturidade sobre a publicação de informações relevantes não-financeiras, a existência dos relatórios é um passo, mas não significa que a empresa esteja pronta. Além da necessidade de auditoria, as organizações também podem minimizar riscos importantes, ignorar oportunidades e relatar práticas diferentes das melhores do mercado.

Tanto a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) como a B3 afirmaram ao Estadão que têm tentado incentivar as empresas listadas a aderir a determinadas regras, mas ainda sem obrigatoriedade.

A CVM passará a exigir que as empresas listadas em Bolsa divulguem informações não-financeiras segundo os padrões internacionais da International Sustainability Standards Board (ISSB) em 2026, enquanto é possível seguir as regras de forma voluntária já em 2024. O órgão governamental também publicou resoluções com regras para o assunto.

Novo Mercado tem regras mais rígidas para a governança, mas não necessariamente para temas ambientais e sociais Foto: WERTHER SANTANA / ESTADÃO

Já a B3 tem guias e índices específicos para o ESG, como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), criado em 2005, e o índice Carbono Eficiente (ICO2). A principal atitude, no entanto, foi o Anexo ASG, que dá até 2025 para as companhias reportarem boas práticas ambientais, sociais e de governança e para evoluírem na questão da diversidade, integrando ao menos uma mulher e uma pessoa de outra minoria (negra, indígena, LGBTQIA+ ou com deficiência) nos conselhos administrativos. A regra é “pratique ou explique”. Ou seja, quem não realizá-la não sofrerá punições, mas terá de publicar as razões, e a avaliação sobre os motivos fica a cargo dos investidores.

O levantamento da Bells & Bayes aponta que as empresas ainda têm um longo caminho a percorrer. O baixo número de relatórios auditados deixa os investidores expostos aos riscos do greenwashing, ou seja, de que as companhias não estejam aplicando as ações corretamente. “Tem empresas que reportam e fazem isso de forma madura, algumas que não reportam, e outras que tem informações muito vagas”, comenta Janaína Grossi, analista sênior da Bells & Bayes.

Além disso, o fato de reportar não significa que a empresa esteja aplicando as melhores práticas. “Uma coisa é como a empresa entrega informação e a outra é o quanto está distante da prática de fato. O relatório acaba sendo feito de uma forma lacônica, sem aprofundamento”, cita Wesley Mendes, membro do conselho da Bells & Bayes.

Para os pesquisadores, isso demonstra que a publicação de relatórios ESG pode ser usada apenas como estratégia de relações públicas, já que se tornou uma demanda dos investidores. A tática pode acabar dando errado: se as empresas nem sabem em que estágio de maturidade estão, é fácil para o público ver que o documento foi malfeito.

Nem sempre as publicações demonstram correção, com riscos subestimados e sem avaliação de oportunidades de novos negócios nos campos ambientais e sociais. No total, 80% das companhias detalham fatores de risco sociais; em termos de fatores ambientais, a parcela é de 83%; aspectos climáticos aparecem para 77%. No entanto, uma parcela significativa, aproximadamente 20%, ainda não menciona ou não identifica esses riscos. Para oportunidades, 70,7% as consideram em seu plano de negócio, com destaque aos setores de petróleo e gás (90%) e utilidade pública (92%).

Um exemplo citado pelos pesquisadores de avaliação de riscos malfeita é o de uma empresa do setor de turismo que avalia não ter riscos ambientais. As organizações brasileiras de tecnologia são especialmente ruins na publicação de informações, com apenas 31,3% publicando uma matriz de materialidade que indique temas ESG relevantes para a companhia e as partes interessadas.

Um marcador da maturidade é se a remuneração dos executivos está atrelada a atingir metas ambientais. Das companhias, apenas 24% das do Novo Mercado tomam essa atitude. “Considerar ESG na remuneração do executivo significa considerar a geração de valor, preservar o valor da companhia no longo prazo”, explica Mendes.

Pontos paralelos

Há temas que sempre aparecem nas discussões ESG, como o escopo de emissões de gases de efeito estufa: o escopo 1 é aquele emitido pela empresa em suas operações; o 2 é o quanto é emitido na geração da energia utilizada; o escopo 3 é das emissões em toda a cadeia de fornecimento.

Nesse aspecto, os números também são ruins: 52,9% das companhias alegaram monitorar os escopos 1 e 2. Já o escopo 3 é monitorado por 46%. E, novamente, monitorar não necessariamente quer dizer já estar tomando ações para diminuir as emissões. “Pode ter uma crença da empresa em achar que não está exposta a esse problema das emissões e escopos. Só quando percebem uma pressão do investidor doméstico e internacional para se adequarem”, diz Mendes.

Em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), 17 metas estabelecidas pela ONU para 2030, 32% das organizações não reportam ou não os consideram. Entre os citados, o mais frequente é o de número 8 (trabalho decente e crescimento econômico), citado por 58% das companhias que falaram deles. O ODS 14 (vida na água) é o menos citado, em somente 10% das publicações. “Algumas companhias ou fundos podem ter como critério investir num determinado ODS para as empresas menores. Por isso, não é somente reportar, precisa ser mais profundo, ter ODS na estratégia ESG”, adverte Grossi.

Diversidade

As empresas também demonstraram estar atrás das melhores práticas internacionais em relação à diversidade na alta administração — 82% das companhias analisadas informaram não ter, ou não mencionaram, objetivos específicos voltados à diversidade de participantes na alta administração. A pesquisa também detectou que, em 50% das empresas, as mulheres não estão presentes na diretoria; no conselho de administração, o índice é de 27%.

Os autores consideram difícil entender por que a evolução no assunto tem ocorrido tão devagar, mesmo com iniciativas brasileiras e internacionais, incluindo a da própria B3, e reforçam a importância do tema. “Com pessoas de diferentes histórias, idades, raças, gêneros, é possível entender melhor o mercado e ter ideias diferentes e inovadoras para chegar ao sucesso”, afirma Grossi.

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