Como a vitória de Trump nos EUA pode afetar a agenda ESG em empresas brasileiras


Rumo ao segundo mandato, novo presidente tem histórico de maior resistência aos temas ambientais e sociais, podendo influenciar mercado a diminuir suporte financeiro à agenda, dizem analistas

Por Shagaly Ferreira

A vitória do candidato Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos pode limitar o avanço da agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) das empresas de todo o mundo, incluindo as brasileiras, segundo analistas ouvidos pelo Estadão. A justificativa para essa análise está no fato de o republicano manter um distanciamento histórico - e até mesmo negacionista, em alguns casos - em relação aos temas sociais e ambientais.

O empresário derrotou nesta quarta-feira, 6, a adversária Kamala Harris, que tinha maior afinidade com a agenda ESG. Como Trump vai comandar por quatro anos a maior economia global, há grande probabilidade de que as decisões políticas de impacto empresarial nos EUA possam afetar os temas mais urgentes para as companhias em todo o mundo, como as pautas ambientais, segundo os analistas.

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Donald Trump exercerá o segundo mandato na Casa Branca em 2025 Foto: Evan Vucci

Trump, que já foi presidente dos EUA entre 2017 e 2021, é conhecido por negar os efeitos das mudanças climáticas no meio ambiente e pelo encorajamento à produção de combustíveis fósseis, que são fortes emissores de dióxido de carbono (CO2). O país é o líder mundial de emissões por habitante, com o nível de 17,6 toneladas por pessoa, segundo dados do instituto de pesquisa WRI Brasil.

À frente do executivo nos EUA, Trump flexibilizou leis de proteção ambiental no país e também anunciou a retirada oficial dos EUA do Acordo de Paris, no qual, em 2015, quase 200 países tinham se comprometido com políticas de governança climática. O país só retomou o discurso de volta ao pacto global pelo clima no início do governo de Joe Biden.

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O governo Biden é mais alinhado às discussões climáticas. Aprovou, por exemplo, a Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês), em 2022, com um pacote de incentivos à produção de energia renovável e descarbonização da economia com valores previstos em US$ 430 bilhões. Publicamente, Kamala Harris, que é a vice-presidende Biden, defende a agenda verde e as temáticas sociais, como o direito ao aborto. E, caso fosse eleita, seria a primeira mulher negra na presidência dos EUA.

Na avaliação da coordenadora do Centro de Estudos em Ética, Transparência, Integridade e Compliance da FGV (FGVethics), Lígia Maura Costa, a vitória de Trump pode sinalizar às empresas do Brasil que há um movimento da maior economia do mundo para a não priorização de temas climáticos e das políticas de diversidade, para os quais o republicano adota uma postura mais cética. A concretização disso, porém, ficaria sob o julgamento dos investidores.

“(A vitória de Trump) pode influenciar as empresas a seguirem um caminho mais focado em questões de curto prazo e menos em práticas sustentáveis e inclusivas, desestimulando algumas empresas a investir em práticas de ESG”, diz. “Entretanto, muitos investidores e empresas têm adotado critérios ESG como padrão de investimento para além das políticas de governos. A intensidade do impacto dependerá da postura de stakeholders (partes interessadas) e da pressão de investidores globais.”

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Kamala Harris é vice-presidente dos EUA  Foto: Jacquelyn Martin/AP

Para Costa, uma vitória de Harris traria uma probabilidade maior de fortalecimento às práticas ESG, tanto por causa do seu apoio à agenda verde quanto pelo marco de poder ter sido a primeira mulher negra como presidente da maior economia mundial. No entanto, ela pondera que, por si só, esses fatores não garantiriam que o país pudesse, de fato, avançar nesses temas.

O professor de relações internacionais da ESPM, Roberto Uebel, mantém uma linha de análise parecida quanto às expectativas de que Harris tivesse mais chances de avançar na agenda, ainda que isso não fosse uma garantia. Além disso, ele reforça que a pauta anti-ESG de Trump, se mantida no próximo mandato, poderá prejudicar ainda mais os investimentos na área.

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“Hoje, já há vários fundos de investimento nos EUA que trabalham com a possibilidade de estagnação ou fim da agenda ESG, ou até mesmo uma interrupção dela durante o governo Trump. Se isso afeta os EUA, em certa medida, haverá impacto no Brasil, uma vez que muitas empresas no País acabam se pautando por este comportamento e a agenda já enfrenta uma marcha lenta após um boom no pós-pandemia”, avalia o especialista.

Globalmente, a agenda vem enfrentando desafios de financiamento. Nos EUA, os fundos sustentáveis, por exemplo, registraram seu pior ano em 2023, com a retirada de US$ 13 bilhões por parte dos investidores, segundo dados da consultoria Morningstar. O mercado norte-americano é importante para empresas no Brasil que emitem títulos de dívida verdes (green bonds) para captar recursos e financiar projetos de economia verde no País. Neste ano, por exemplo, companhias como Ambipar e Raízen fizeram esse tipo de captação.

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Mais otimista, o vice-presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), André Vasconcellos, acredita que a tendência ESG ainda está crescente e diz que as empresas brasileiras que mantêm relações comerciais ou buscam investimentos norte-americanos têm enfrentado cada vez mais uma pressão para integrar práticas ESG em suas operações, o que pode continuar.

No entanto, ele reconhece que a polarização política nos EUA pode levar a incertezas que impactam a confiança dos investidores e o fluxo de capital. “A interdependência econômica e política entre os países torna essencial que as empresas brasileiras estejam atentas às dinâmicas globais. O melhor para o País é que todo o momento de instabilidade passe”, diz Vasconcellos.

Políticas divergentes

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Uma terceira projeção de cenário para o futuro governo aponta que o tema de ESG pode ser utilizado de maneira conflitante no segundo mandato de Trump, como sugere o consultor internacional em Governança, Reputação e Relações Institucionais, Gui Athia. Embora acredite que haverá uma flexibilização de normas ambientais para as empresas que pode aliviar setores exportadores no Brasil, ele pondera que o futuro presidente tem uma postura protecionista e pode usar critérios relacionados ao ESG para dificultar o acesso das companhias ao mercado norte-americano.

Por outro lado, a postura controversa quanto ao ESG pode beneficiar as relações comerciais entre o mercado europeu e as empresas brasileiras. “O acordo comercial Mercosul-União Europeia (para livre-comércio entre os países), que está travado por questões de desmatamento, pode ser revisto pela Europa (se a postura protecionista de Trump for confirmada). É possível que, com maiores barreiras nos EUA, a Europa olhe com outros olhos para o Código Florestal Brasileiro e para ações que o governo vem fazendo, e isso seria positivo para empresas do agronegócio e de áreas correlatas.”

A vitória do candidato Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos pode limitar o avanço da agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) das empresas de todo o mundo, incluindo as brasileiras, segundo analistas ouvidos pelo Estadão. A justificativa para essa análise está no fato de o republicano manter um distanciamento histórico - e até mesmo negacionista, em alguns casos - em relação aos temas sociais e ambientais.

O empresário derrotou nesta quarta-feira, 6, a adversária Kamala Harris, que tinha maior afinidade com a agenda ESG. Como Trump vai comandar por quatro anos a maior economia global, há grande probabilidade de que as decisões políticas de impacto empresarial nos EUA possam afetar os temas mais urgentes para as companhias em todo o mundo, como as pautas ambientais, segundo os analistas.

Donald Trump exercerá o segundo mandato na Casa Branca em 2025 Foto: Evan Vucci

Trump, que já foi presidente dos EUA entre 2017 e 2021, é conhecido por negar os efeitos das mudanças climáticas no meio ambiente e pelo encorajamento à produção de combustíveis fósseis, que são fortes emissores de dióxido de carbono (CO2). O país é o líder mundial de emissões por habitante, com o nível de 17,6 toneladas por pessoa, segundo dados do instituto de pesquisa WRI Brasil.

À frente do executivo nos EUA, Trump flexibilizou leis de proteção ambiental no país e também anunciou a retirada oficial dos EUA do Acordo de Paris, no qual, em 2015, quase 200 países tinham se comprometido com políticas de governança climática. O país só retomou o discurso de volta ao pacto global pelo clima no início do governo de Joe Biden.

O governo Biden é mais alinhado às discussões climáticas. Aprovou, por exemplo, a Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês), em 2022, com um pacote de incentivos à produção de energia renovável e descarbonização da economia com valores previstos em US$ 430 bilhões. Publicamente, Kamala Harris, que é a vice-presidende Biden, defende a agenda verde e as temáticas sociais, como o direito ao aborto. E, caso fosse eleita, seria a primeira mulher negra na presidência dos EUA.

Na avaliação da coordenadora do Centro de Estudos em Ética, Transparência, Integridade e Compliance da FGV (FGVethics), Lígia Maura Costa, a vitória de Trump pode sinalizar às empresas do Brasil que há um movimento da maior economia do mundo para a não priorização de temas climáticos e das políticas de diversidade, para os quais o republicano adota uma postura mais cética. A concretização disso, porém, ficaria sob o julgamento dos investidores.

“(A vitória de Trump) pode influenciar as empresas a seguirem um caminho mais focado em questões de curto prazo e menos em práticas sustentáveis e inclusivas, desestimulando algumas empresas a investir em práticas de ESG”, diz. “Entretanto, muitos investidores e empresas têm adotado critérios ESG como padrão de investimento para além das políticas de governos. A intensidade do impacto dependerá da postura de stakeholders (partes interessadas) e da pressão de investidores globais.”

Kamala Harris é vice-presidente dos EUA  Foto: Jacquelyn Martin/AP

Para Costa, uma vitória de Harris traria uma probabilidade maior de fortalecimento às práticas ESG, tanto por causa do seu apoio à agenda verde quanto pelo marco de poder ter sido a primeira mulher negra como presidente da maior economia mundial. No entanto, ela pondera que, por si só, esses fatores não garantiriam que o país pudesse, de fato, avançar nesses temas.

O professor de relações internacionais da ESPM, Roberto Uebel, mantém uma linha de análise parecida quanto às expectativas de que Harris tivesse mais chances de avançar na agenda, ainda que isso não fosse uma garantia. Além disso, ele reforça que a pauta anti-ESG de Trump, se mantida no próximo mandato, poderá prejudicar ainda mais os investimentos na área.

“Hoje, já há vários fundos de investimento nos EUA que trabalham com a possibilidade de estagnação ou fim da agenda ESG, ou até mesmo uma interrupção dela durante o governo Trump. Se isso afeta os EUA, em certa medida, haverá impacto no Brasil, uma vez que muitas empresas no País acabam se pautando por este comportamento e a agenda já enfrenta uma marcha lenta após um boom no pós-pandemia”, avalia o especialista.

Globalmente, a agenda vem enfrentando desafios de financiamento. Nos EUA, os fundos sustentáveis, por exemplo, registraram seu pior ano em 2023, com a retirada de US$ 13 bilhões por parte dos investidores, segundo dados da consultoria Morningstar. O mercado norte-americano é importante para empresas no Brasil que emitem títulos de dívida verdes (green bonds) para captar recursos e financiar projetos de economia verde no País. Neste ano, por exemplo, companhias como Ambipar e Raízen fizeram esse tipo de captação.

Mais otimista, o vice-presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), André Vasconcellos, acredita que a tendência ESG ainda está crescente e diz que as empresas brasileiras que mantêm relações comerciais ou buscam investimentos norte-americanos têm enfrentado cada vez mais uma pressão para integrar práticas ESG em suas operações, o que pode continuar.

No entanto, ele reconhece que a polarização política nos EUA pode levar a incertezas que impactam a confiança dos investidores e o fluxo de capital. “A interdependência econômica e política entre os países torna essencial que as empresas brasileiras estejam atentas às dinâmicas globais. O melhor para o País é que todo o momento de instabilidade passe”, diz Vasconcellos.

Políticas divergentes

Uma terceira projeção de cenário para o futuro governo aponta que o tema de ESG pode ser utilizado de maneira conflitante no segundo mandato de Trump, como sugere o consultor internacional em Governança, Reputação e Relações Institucionais, Gui Athia. Embora acredite que haverá uma flexibilização de normas ambientais para as empresas que pode aliviar setores exportadores no Brasil, ele pondera que o futuro presidente tem uma postura protecionista e pode usar critérios relacionados ao ESG para dificultar o acesso das companhias ao mercado norte-americano.

Por outro lado, a postura controversa quanto ao ESG pode beneficiar as relações comerciais entre o mercado europeu e as empresas brasileiras. “O acordo comercial Mercosul-União Europeia (para livre-comércio entre os países), que está travado por questões de desmatamento, pode ser revisto pela Europa (se a postura protecionista de Trump for confirmada). É possível que, com maiores barreiras nos EUA, a Europa olhe com outros olhos para o Código Florestal Brasileiro e para ações que o governo vem fazendo, e isso seria positivo para empresas do agronegócio e de áreas correlatas.”

A vitória do candidato Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos pode limitar o avanço da agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) das empresas de todo o mundo, incluindo as brasileiras, segundo analistas ouvidos pelo Estadão. A justificativa para essa análise está no fato de o republicano manter um distanciamento histórico - e até mesmo negacionista, em alguns casos - em relação aos temas sociais e ambientais.

O empresário derrotou nesta quarta-feira, 6, a adversária Kamala Harris, que tinha maior afinidade com a agenda ESG. Como Trump vai comandar por quatro anos a maior economia global, há grande probabilidade de que as decisões políticas de impacto empresarial nos EUA possam afetar os temas mais urgentes para as companhias em todo o mundo, como as pautas ambientais, segundo os analistas.

Donald Trump exercerá o segundo mandato na Casa Branca em 2025 Foto: Evan Vucci

Trump, que já foi presidente dos EUA entre 2017 e 2021, é conhecido por negar os efeitos das mudanças climáticas no meio ambiente e pelo encorajamento à produção de combustíveis fósseis, que são fortes emissores de dióxido de carbono (CO2). O país é o líder mundial de emissões por habitante, com o nível de 17,6 toneladas por pessoa, segundo dados do instituto de pesquisa WRI Brasil.

À frente do executivo nos EUA, Trump flexibilizou leis de proteção ambiental no país e também anunciou a retirada oficial dos EUA do Acordo de Paris, no qual, em 2015, quase 200 países tinham se comprometido com políticas de governança climática. O país só retomou o discurso de volta ao pacto global pelo clima no início do governo de Joe Biden.

O governo Biden é mais alinhado às discussões climáticas. Aprovou, por exemplo, a Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês), em 2022, com um pacote de incentivos à produção de energia renovável e descarbonização da economia com valores previstos em US$ 430 bilhões. Publicamente, Kamala Harris, que é a vice-presidende Biden, defende a agenda verde e as temáticas sociais, como o direito ao aborto. E, caso fosse eleita, seria a primeira mulher negra na presidência dos EUA.

Na avaliação da coordenadora do Centro de Estudos em Ética, Transparência, Integridade e Compliance da FGV (FGVethics), Lígia Maura Costa, a vitória de Trump pode sinalizar às empresas do Brasil que há um movimento da maior economia do mundo para a não priorização de temas climáticos e das políticas de diversidade, para os quais o republicano adota uma postura mais cética. A concretização disso, porém, ficaria sob o julgamento dos investidores.

“(A vitória de Trump) pode influenciar as empresas a seguirem um caminho mais focado em questões de curto prazo e menos em práticas sustentáveis e inclusivas, desestimulando algumas empresas a investir em práticas de ESG”, diz. “Entretanto, muitos investidores e empresas têm adotado critérios ESG como padrão de investimento para além das políticas de governos. A intensidade do impacto dependerá da postura de stakeholders (partes interessadas) e da pressão de investidores globais.”

Kamala Harris é vice-presidente dos EUA  Foto: Jacquelyn Martin/AP

Para Costa, uma vitória de Harris traria uma probabilidade maior de fortalecimento às práticas ESG, tanto por causa do seu apoio à agenda verde quanto pelo marco de poder ter sido a primeira mulher negra como presidente da maior economia mundial. No entanto, ela pondera que, por si só, esses fatores não garantiriam que o país pudesse, de fato, avançar nesses temas.

O professor de relações internacionais da ESPM, Roberto Uebel, mantém uma linha de análise parecida quanto às expectativas de que Harris tivesse mais chances de avançar na agenda, ainda que isso não fosse uma garantia. Além disso, ele reforça que a pauta anti-ESG de Trump, se mantida no próximo mandato, poderá prejudicar ainda mais os investimentos na área.

“Hoje, já há vários fundos de investimento nos EUA que trabalham com a possibilidade de estagnação ou fim da agenda ESG, ou até mesmo uma interrupção dela durante o governo Trump. Se isso afeta os EUA, em certa medida, haverá impacto no Brasil, uma vez que muitas empresas no País acabam se pautando por este comportamento e a agenda já enfrenta uma marcha lenta após um boom no pós-pandemia”, avalia o especialista.

Globalmente, a agenda vem enfrentando desafios de financiamento. Nos EUA, os fundos sustentáveis, por exemplo, registraram seu pior ano em 2023, com a retirada de US$ 13 bilhões por parte dos investidores, segundo dados da consultoria Morningstar. O mercado norte-americano é importante para empresas no Brasil que emitem títulos de dívida verdes (green bonds) para captar recursos e financiar projetos de economia verde no País. Neste ano, por exemplo, companhias como Ambipar e Raízen fizeram esse tipo de captação.

Mais otimista, o vice-presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), André Vasconcellos, acredita que a tendência ESG ainda está crescente e diz que as empresas brasileiras que mantêm relações comerciais ou buscam investimentos norte-americanos têm enfrentado cada vez mais uma pressão para integrar práticas ESG em suas operações, o que pode continuar.

No entanto, ele reconhece que a polarização política nos EUA pode levar a incertezas que impactam a confiança dos investidores e o fluxo de capital. “A interdependência econômica e política entre os países torna essencial que as empresas brasileiras estejam atentas às dinâmicas globais. O melhor para o País é que todo o momento de instabilidade passe”, diz Vasconcellos.

Políticas divergentes

Uma terceira projeção de cenário para o futuro governo aponta que o tema de ESG pode ser utilizado de maneira conflitante no segundo mandato de Trump, como sugere o consultor internacional em Governança, Reputação e Relações Institucionais, Gui Athia. Embora acredite que haverá uma flexibilização de normas ambientais para as empresas que pode aliviar setores exportadores no Brasil, ele pondera que o futuro presidente tem uma postura protecionista e pode usar critérios relacionados ao ESG para dificultar o acesso das companhias ao mercado norte-americano.

Por outro lado, a postura controversa quanto ao ESG pode beneficiar as relações comerciais entre o mercado europeu e as empresas brasileiras. “O acordo comercial Mercosul-União Europeia (para livre-comércio entre os países), que está travado por questões de desmatamento, pode ser revisto pela Europa (se a postura protecionista de Trump for confirmada). É possível que, com maiores barreiras nos EUA, a Europa olhe com outros olhos para o Código Florestal Brasileiro e para ações que o governo vem fazendo, e isso seria positivo para empresas do agronegócio e de áreas correlatas.”

A vitória do candidato Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos pode limitar o avanço da agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) das empresas de todo o mundo, incluindo as brasileiras, segundo analistas ouvidos pelo Estadão. A justificativa para essa análise está no fato de o republicano manter um distanciamento histórico - e até mesmo negacionista, em alguns casos - em relação aos temas sociais e ambientais.

O empresário derrotou nesta quarta-feira, 6, a adversária Kamala Harris, que tinha maior afinidade com a agenda ESG. Como Trump vai comandar por quatro anos a maior economia global, há grande probabilidade de que as decisões políticas de impacto empresarial nos EUA possam afetar os temas mais urgentes para as companhias em todo o mundo, como as pautas ambientais, segundo os analistas.

Donald Trump exercerá o segundo mandato na Casa Branca em 2025 Foto: Evan Vucci

Trump, que já foi presidente dos EUA entre 2017 e 2021, é conhecido por negar os efeitos das mudanças climáticas no meio ambiente e pelo encorajamento à produção de combustíveis fósseis, que são fortes emissores de dióxido de carbono (CO2). O país é o líder mundial de emissões por habitante, com o nível de 17,6 toneladas por pessoa, segundo dados do instituto de pesquisa WRI Brasil.

À frente do executivo nos EUA, Trump flexibilizou leis de proteção ambiental no país e também anunciou a retirada oficial dos EUA do Acordo de Paris, no qual, em 2015, quase 200 países tinham se comprometido com políticas de governança climática. O país só retomou o discurso de volta ao pacto global pelo clima no início do governo de Joe Biden.

O governo Biden é mais alinhado às discussões climáticas. Aprovou, por exemplo, a Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês), em 2022, com um pacote de incentivos à produção de energia renovável e descarbonização da economia com valores previstos em US$ 430 bilhões. Publicamente, Kamala Harris, que é a vice-presidende Biden, defende a agenda verde e as temáticas sociais, como o direito ao aborto. E, caso fosse eleita, seria a primeira mulher negra na presidência dos EUA.

Na avaliação da coordenadora do Centro de Estudos em Ética, Transparência, Integridade e Compliance da FGV (FGVethics), Lígia Maura Costa, a vitória de Trump pode sinalizar às empresas do Brasil que há um movimento da maior economia do mundo para a não priorização de temas climáticos e das políticas de diversidade, para os quais o republicano adota uma postura mais cética. A concretização disso, porém, ficaria sob o julgamento dos investidores.

“(A vitória de Trump) pode influenciar as empresas a seguirem um caminho mais focado em questões de curto prazo e menos em práticas sustentáveis e inclusivas, desestimulando algumas empresas a investir em práticas de ESG”, diz. “Entretanto, muitos investidores e empresas têm adotado critérios ESG como padrão de investimento para além das políticas de governos. A intensidade do impacto dependerá da postura de stakeholders (partes interessadas) e da pressão de investidores globais.”

Kamala Harris é vice-presidente dos EUA  Foto: Jacquelyn Martin/AP

Para Costa, uma vitória de Harris traria uma probabilidade maior de fortalecimento às práticas ESG, tanto por causa do seu apoio à agenda verde quanto pelo marco de poder ter sido a primeira mulher negra como presidente da maior economia mundial. No entanto, ela pondera que, por si só, esses fatores não garantiriam que o país pudesse, de fato, avançar nesses temas.

O professor de relações internacionais da ESPM, Roberto Uebel, mantém uma linha de análise parecida quanto às expectativas de que Harris tivesse mais chances de avançar na agenda, ainda que isso não fosse uma garantia. Além disso, ele reforça que a pauta anti-ESG de Trump, se mantida no próximo mandato, poderá prejudicar ainda mais os investimentos na área.

“Hoje, já há vários fundos de investimento nos EUA que trabalham com a possibilidade de estagnação ou fim da agenda ESG, ou até mesmo uma interrupção dela durante o governo Trump. Se isso afeta os EUA, em certa medida, haverá impacto no Brasil, uma vez que muitas empresas no País acabam se pautando por este comportamento e a agenda já enfrenta uma marcha lenta após um boom no pós-pandemia”, avalia o especialista.

Globalmente, a agenda vem enfrentando desafios de financiamento. Nos EUA, os fundos sustentáveis, por exemplo, registraram seu pior ano em 2023, com a retirada de US$ 13 bilhões por parte dos investidores, segundo dados da consultoria Morningstar. O mercado norte-americano é importante para empresas no Brasil que emitem títulos de dívida verdes (green bonds) para captar recursos e financiar projetos de economia verde no País. Neste ano, por exemplo, companhias como Ambipar e Raízen fizeram esse tipo de captação.

Mais otimista, o vice-presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), André Vasconcellos, acredita que a tendência ESG ainda está crescente e diz que as empresas brasileiras que mantêm relações comerciais ou buscam investimentos norte-americanos têm enfrentado cada vez mais uma pressão para integrar práticas ESG em suas operações, o que pode continuar.

No entanto, ele reconhece que a polarização política nos EUA pode levar a incertezas que impactam a confiança dos investidores e o fluxo de capital. “A interdependência econômica e política entre os países torna essencial que as empresas brasileiras estejam atentas às dinâmicas globais. O melhor para o País é que todo o momento de instabilidade passe”, diz Vasconcellos.

Políticas divergentes

Uma terceira projeção de cenário para o futuro governo aponta que o tema de ESG pode ser utilizado de maneira conflitante no segundo mandato de Trump, como sugere o consultor internacional em Governança, Reputação e Relações Institucionais, Gui Athia. Embora acredite que haverá uma flexibilização de normas ambientais para as empresas que pode aliviar setores exportadores no Brasil, ele pondera que o futuro presidente tem uma postura protecionista e pode usar critérios relacionados ao ESG para dificultar o acesso das companhias ao mercado norte-americano.

Por outro lado, a postura controversa quanto ao ESG pode beneficiar as relações comerciais entre o mercado europeu e as empresas brasileiras. “O acordo comercial Mercosul-União Europeia (para livre-comércio entre os países), que está travado por questões de desmatamento, pode ser revisto pela Europa (se a postura protecionista de Trump for confirmada). É possível que, com maiores barreiras nos EUA, a Europa olhe com outros olhos para o Código Florestal Brasileiro e para ações que o governo vem fazendo, e isso seria positivo para empresas do agronegócio e de áreas correlatas.”

A vitória do candidato Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos pode limitar o avanço da agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) das empresas de todo o mundo, incluindo as brasileiras, segundo analistas ouvidos pelo Estadão. A justificativa para essa análise está no fato de o republicano manter um distanciamento histórico - e até mesmo negacionista, em alguns casos - em relação aos temas sociais e ambientais.

O empresário derrotou nesta quarta-feira, 6, a adversária Kamala Harris, que tinha maior afinidade com a agenda ESG. Como Trump vai comandar por quatro anos a maior economia global, há grande probabilidade de que as decisões políticas de impacto empresarial nos EUA possam afetar os temas mais urgentes para as companhias em todo o mundo, como as pautas ambientais, segundo os analistas.

Donald Trump exercerá o segundo mandato na Casa Branca em 2025 Foto: Evan Vucci

Trump, que já foi presidente dos EUA entre 2017 e 2021, é conhecido por negar os efeitos das mudanças climáticas no meio ambiente e pelo encorajamento à produção de combustíveis fósseis, que são fortes emissores de dióxido de carbono (CO2). O país é o líder mundial de emissões por habitante, com o nível de 17,6 toneladas por pessoa, segundo dados do instituto de pesquisa WRI Brasil.

À frente do executivo nos EUA, Trump flexibilizou leis de proteção ambiental no país e também anunciou a retirada oficial dos EUA do Acordo de Paris, no qual, em 2015, quase 200 países tinham se comprometido com políticas de governança climática. O país só retomou o discurso de volta ao pacto global pelo clima no início do governo de Joe Biden.

O governo Biden é mais alinhado às discussões climáticas. Aprovou, por exemplo, a Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês), em 2022, com um pacote de incentivos à produção de energia renovável e descarbonização da economia com valores previstos em US$ 430 bilhões. Publicamente, Kamala Harris, que é a vice-presidende Biden, defende a agenda verde e as temáticas sociais, como o direito ao aborto. E, caso fosse eleita, seria a primeira mulher negra na presidência dos EUA.

Na avaliação da coordenadora do Centro de Estudos em Ética, Transparência, Integridade e Compliance da FGV (FGVethics), Lígia Maura Costa, a vitória de Trump pode sinalizar às empresas do Brasil que há um movimento da maior economia do mundo para a não priorização de temas climáticos e das políticas de diversidade, para os quais o republicano adota uma postura mais cética. A concretização disso, porém, ficaria sob o julgamento dos investidores.

“(A vitória de Trump) pode influenciar as empresas a seguirem um caminho mais focado em questões de curto prazo e menos em práticas sustentáveis e inclusivas, desestimulando algumas empresas a investir em práticas de ESG”, diz. “Entretanto, muitos investidores e empresas têm adotado critérios ESG como padrão de investimento para além das políticas de governos. A intensidade do impacto dependerá da postura de stakeholders (partes interessadas) e da pressão de investidores globais.”

Kamala Harris é vice-presidente dos EUA  Foto: Jacquelyn Martin/AP

Para Costa, uma vitória de Harris traria uma probabilidade maior de fortalecimento às práticas ESG, tanto por causa do seu apoio à agenda verde quanto pelo marco de poder ter sido a primeira mulher negra como presidente da maior economia mundial. No entanto, ela pondera que, por si só, esses fatores não garantiriam que o país pudesse, de fato, avançar nesses temas.

O professor de relações internacionais da ESPM, Roberto Uebel, mantém uma linha de análise parecida quanto às expectativas de que Harris tivesse mais chances de avançar na agenda, ainda que isso não fosse uma garantia. Além disso, ele reforça que a pauta anti-ESG de Trump, se mantida no próximo mandato, poderá prejudicar ainda mais os investimentos na área.

“Hoje, já há vários fundos de investimento nos EUA que trabalham com a possibilidade de estagnação ou fim da agenda ESG, ou até mesmo uma interrupção dela durante o governo Trump. Se isso afeta os EUA, em certa medida, haverá impacto no Brasil, uma vez que muitas empresas no País acabam se pautando por este comportamento e a agenda já enfrenta uma marcha lenta após um boom no pós-pandemia”, avalia o especialista.

Globalmente, a agenda vem enfrentando desafios de financiamento. Nos EUA, os fundos sustentáveis, por exemplo, registraram seu pior ano em 2023, com a retirada de US$ 13 bilhões por parte dos investidores, segundo dados da consultoria Morningstar. O mercado norte-americano é importante para empresas no Brasil que emitem títulos de dívida verdes (green bonds) para captar recursos e financiar projetos de economia verde no País. Neste ano, por exemplo, companhias como Ambipar e Raízen fizeram esse tipo de captação.

Mais otimista, o vice-presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), André Vasconcellos, acredita que a tendência ESG ainda está crescente e diz que as empresas brasileiras que mantêm relações comerciais ou buscam investimentos norte-americanos têm enfrentado cada vez mais uma pressão para integrar práticas ESG em suas operações, o que pode continuar.

No entanto, ele reconhece que a polarização política nos EUA pode levar a incertezas que impactam a confiança dos investidores e o fluxo de capital. “A interdependência econômica e política entre os países torna essencial que as empresas brasileiras estejam atentas às dinâmicas globais. O melhor para o País é que todo o momento de instabilidade passe”, diz Vasconcellos.

Políticas divergentes

Uma terceira projeção de cenário para o futuro governo aponta que o tema de ESG pode ser utilizado de maneira conflitante no segundo mandato de Trump, como sugere o consultor internacional em Governança, Reputação e Relações Institucionais, Gui Athia. Embora acredite que haverá uma flexibilização de normas ambientais para as empresas que pode aliviar setores exportadores no Brasil, ele pondera que o futuro presidente tem uma postura protecionista e pode usar critérios relacionados ao ESG para dificultar o acesso das companhias ao mercado norte-americano.

Por outro lado, a postura controversa quanto ao ESG pode beneficiar as relações comerciais entre o mercado europeu e as empresas brasileiras. “O acordo comercial Mercosul-União Europeia (para livre-comércio entre os países), que está travado por questões de desmatamento, pode ser revisto pela Europa (se a postura protecionista de Trump for confirmada). É possível que, com maiores barreiras nos EUA, a Europa olhe com outros olhos para o Código Florestal Brasileiro e para ações que o governo vem fazendo, e isso seria positivo para empresas do agronegócio e de áreas correlatas.”

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