Evitar o desmatamento, responsável pela maior parte das emissões de dióxido de carbono no País, pode reduzir o lançamento na atmosfera de 857,94 milhões de toneladas do gás poluente por ano, segundo estudo da empresa global WayCarbon sobre o potencial de Soluções Baseadas na Natureza (SBN) no Brasil.
O levantamento, obtido com exclusividade pelo Estadão, aponta que esta é a ação com maior potencial de redução de emissões de carbono, considerando a quantidade de emissões que o desmatamento gera atualmente.
Segundo dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), o dióxido de carbono (CO₂), proveniente da queima de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo, gás natural, turfa), queimadas e desmatamentos, é responsável por cerca de 60% dos gases do efeito-estufa.
Para a entidade, os dados demonstram a urgência de combate ao desmatamento, especialmente em regiões da Amazônia e do Cerrado, mas também demonstram como as soluções baseadas na natureza podem ser aliadas das empresas nas suas jornadas de descarbonização e auxiliá-las quanto ao atingimento de suas metas de redução de gases de efeito estufa (GEE).
Cerca de 5 mil empresas em todo o mundo têm compromissos assumidos em se descarbonizar. Segundo a WayCarbon, cerca de um terço dessas metas pode ser alcançada através de projetos de soluções de descarbonização baseadas na natureza, seja com a redução das emissões ou impulsionando a remoção desses gases da atmosfera.
Já a adoção da agricultura regenerativa pode gerar receitas adicionais por meio de créditos de carbono, aumentando ainda a resiliência de sistemas agrícolas.
As medidas de mitigação das emissões de gases de efeito estufa podem contribuir com uma estimativa de redução de 131,6 até 270,6 milhões de toneladas de CO₂/ano.
Outros projetos de impacto
O levantamento aponta que, além da diminuição do desmatamento, a restauração de ecossistemas ambientais, as práticas de agricultura regenerativa e o chamado blue carbon (carbono azul, em livre tradução) são os quatro pilares principais com maior potencial de impacto.
O blue carbon (carbono azul, em livre tradução), que se refere ao carbono capturado da atmosfera e oceanos e armazenado nas plantas e no solo de ecossistemas marinhos e costeiros, também é uma opção de soluções baseadas na natureza que pode impulsionar os projetos de descarbonização das empresas, além de ajudar a proteger e restaurar ecossistemas costeiros
Este tipo de projeto, segundo o levantamento, pode fornecer uma abordagem econômica para mitigar emissões de gases de efeito estufa e construir resiliência frente aos impactos da mudança climática. O maior potencial está em ações de conservação do mangue.
Segundo a empresa, somente a restauração, que visa restabelecer a estabilidade e o equilíbrio de processos ambientais interrompidos em decorrência da ação humana, pode resultar em até 287,56 milhões de toneladas de CO₂ por ano, gerando créditos de carbono de remoção.
Os custos de restauração variaram significativamente em diferentes biomas brasileiros, com uma ampla faixa de valores que vai de U$10,1 a U$108,3 por tonelada de CO₂ removido. A expectativa é que a busca pela restauração entre as SBN no Brasil deverá crescer exponencialmente até 2050, assim como os custos da mitigação do carbono por meio dessa atividade.
Mudança na indústria de carbono
Para o diretor de operações da WayCarbon, Henrique Pereira, os dados demonstram o potencial que as soluções baseadas em natureza podem ter em mobilizar o mercado de carbono mundial. No entanto, ele destaca que, para que elas tenham impacto de fato é preciso que não sejam feitas pontualmente pelas companhias.
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Ele destaca que as metas de carbono de muitas empresas ainda são guiadas majoritariamente pelo uso de créditos de carbono — que são uma forma de compensar os gases emitidos pelas empresas. Para ele, uma mudança de fato virá com a mudança de mentalidade, com o foco em reduzir as emissões de carbono e depender menos de projetos de geração de crédito.
“Com nosso relatório em mãos, o mercado terá acesso a esse tipo de ideia e poderá avaliar como investir em soluções com papéis sinérgicos dentro de uma estratégia de descarbonização mais ampla”, afirma Pereira.