Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram o principal tema de debate do Fórum Ambição 2030, evento realizado pelo Pacto Global da ONU e a AYA Earth Partners, hub de soluções que levem a uma economia de baixo carbono. Os ODS são 17 propostas feitas pela ONU em 2015 que se ligam à pauta ESG (ambiental, social e de governança) e pretendem ser indicações de temas a serem resolvidos até 2030. Temas socioambientais e de governança corporativa, e como o Brasil pode se beneficiar deles, foram o principal destaque.
Assim, os palestrantes e participantes de painéis debateram sobre bioeconomia, preservação florestal, agricultura de baixo carbono, direitos humanos, saúde mental nas empresas, economia circular, transparência e estado de direito. Integrantes de governos, como o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), o controlador-geral do Estado de Minas Gerais, Rodrigo Fontenelle, a ex-ministra do meio ambiente Izabella Teixeira e o secretário nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho, falaram no Fórum.
Leia mais sobre governança corporativa e ESG
Entre participações internacionais, estiveram no palco Paul Polman, ex-CEO da Unilever, Ned Harvey, cofundador da Digital Gaia, empresa focada em economia regenerativa, e Jeremy Oppenheim, sócio fundador da SYSTEMIQ, investidora de causas sociais e ambientais. Curiosamente, a cantora Simaria também esteve presente, como uma convidada extra do painel sobre saúde mental.
Oportunidades
A noção de que o Brasil é fundamental para ajudar o mundo na transição climática foi uma constante entre os palestrantes, assim como a de que a economia do País pode se beneficiar muito se souber aproveitar as vantagens que possui, como a Amazônia, a matriz energética em grande parte hidrelétrica e a disponibilidade de hectares de terra que podem ser regenerados e passarem a servir para produção agrícola sem que um metro quadrado de floresta seja desmatado.
Como esperado em um evento voltado ao setor privado, a responsabilidade das empresas em ajudar a alcançar os ODS foi outra constante. O ponto principal era a avaliação de oportunidades para tornar rentável a preocupação socioambiental e como as empresas podem melhorar o mundo. “Como os negócios podem lucrar resolvendo problemas e não criando? O mundo é melhor com o seu negócio do que sem ele?”, questionou Polman aos presentes.
Assim, os pedidos foram para que empresários e governantes adotem os ODS como princípios para repensar a atuação. “Precisamos de esforços direcionados: ter um modo de fazer, saber o que quer fazer, e metas para gerir”, afirmou Rodolfo Sirol, presidente do Conselho de Administração da Rede Brasil do Pacto Global. “Sabemos que temos problemas, então precisamos avançar. Agora, como? Quanto? É para responder essas perguntas que as metas são importantes”, destacou Carlo Pereira, CEO do Pacto Global.
A bioeconomia foi um tema levado por Helder Barbalho, principalmente ao citar o plano do Pará que foi apresentado na COP 27, com metas atreladas também à preocupação social. “A agenda climática coloca e tira o Brasil de qualquer debate internacional, e isso vale também no setor privado. Fizemos um chamamento a todos para ajudar a construir o que querem no uso do solo e no combate às ilegalidades”, afirmou o governador paraense, que ainda reforçou a vontade do seu estado de sediar a COP 30, marcada para ocorrer em 2025.
O caminho para uma economia de baixo carbono, que leve em conta mais questões sociais e de governança não será fácil, mas deve ser trilhado - o custo de não fazê-lo se tornou maior do que de fazê-lo, segundo Polman. “Vai requerer sacrifício e trabalho duro, nenhuma mudança dessa magnitude foi fácil. Mas um modelo econômico que beneficia poucos às custas de muitos não é sustentável, e se as pessoas sentirem que não funciona vão se rebelar”, citou o empresário.
Contudo, oportunidades não faltam: a economia circular, que utiliza um recurso ao máximo antes de descartá-lo, é um exemplo, assim como a agricultura de baixo carbono, que deve levar em conta outros serviços ambientais como o uso da água e a biodiversidade. “A melhor maneira é ativar a comunidade e o ecossistema de produtores e indígenas que conhecem a terra, tem expertise para criar maneiras sustentáveis. Outro ponto é o uso das tecnologias”, citou Ned Harvey.
Social e Governança
Em relação à manutenção da floresta em pé, o tema teve palestra do presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, que destacou a luta contra o crime organizado que desmata a floresta com o uso da tecnologia, e a necessidade de tornar a bioeconomia viável. Já a cooperação entre governos foi o ponto principal de Izabella Teixeira. “Não adianta irmos para os debates internacionais sem ter regras bem definidas, sem ter conversado com a sociedade e diferentes níveis de governo, sem saber o que se quer com a agenda”, afirmou.
Nos temas sociais que impactam as empresas, o foco ficou na saúde mental e nos direitos humanos. No primeiro, o ponto foi que as empresas precisam se responsabilizar para evitar que seus funcionários sofram de burnout, e que nem só ter uma carga de trabalho e uma rotina adequadas podem servir para tal - o propósito deve ser claro.
Sobre os direitos humanos, a palestrante Luana Genot, diretora-executiva do Instituto Identidades do Brasil, avaliou que as empresas devem colocar o tema na estratégia, não como algo anexo, para evitar problemas como o uso de trabalho análogo à escravidão em fornecedores. Ainda citou que os direitos humanos não estão apenas no “S”, na pauta social - o racismo ambiental, que coloca populações formadas majoritariamente por pessoas pretas em locais piores para se viver e mais propensos a tragédias, é o maior exemplo.
Sobre a governança, o tema principal foi o combate a atividades ilegais, com compliance e reforço das regras de controle. A necessidade de ter sistemas transparentes, que levem os próprios cidadãos a fiscalizar os entes públicos, ou os consumidores e investidores ao fiscalizar os privados, foi um dos pontos principais. O secretário nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho, ainda reforçou que a pauta ambiental deve ser política de Estado, e não de governo, e que as garantias de direitos constitucionais devem ser mantidas em todos os casos.
O último painel do evento foi sobre o net zero como oportunidade de negócio - net zero se refere à meta de reduzir as emissões de gases de efeito estufa o máximo possível e compensar o restante de outras formas, retirando-os da atmosfera. Uma empresa que utilize menos carbono pode gerar os chamados créditos de carbono e vendê-los a outras, mas como foi ressaltado, esse mercado é um meio, e não um fim. Também foi relembrado que os créditos de carbono são os primeiros ativos ambientais que se tornaram financeiros, e que outros os seguirão, conforme a economia verde se desenvolva.