RIO - Quatro quintos das grandes empresas globais têm seus negócios “significativamente” afetados por fraudes em geral, mostra uma pesquisa da Kroll, consultoria americana especializada em investigações corporativas e gestão de risco. Conforme o estudo, 82% dos dirigentes entrevistados informaram que o impacto de “corrupção, atividades ilícitas, lavagem de dinheiro e outras ocorrências graves de conduta indevida” foi “muito significativo” ou “algo significativo”, enquanto 78% disseram que suas empresas conduziram alguma investigação interna nos últimos três anos.
Para a diretora-geral da Kroll para a América Latina, Fernanda Barroso, a pesquisa revela menos um crescimento das fraudes em geral e mais um reforço da fiscalização por parte das empresas. Os controles internos estão melhorando, na esteira global dos investimentos em tecnologia em meio à pandemia de covid-19 e da tendência de adoção de critérios ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) no mundo corporativo.
“Não é que está havendo mais fraudes. A questão é como os controles internos estão melhorando. As empresas têm, cada vez mais, áreas dedicadas a fazer investigações internas”, afirmou a executiva da Kroll.
O “Relatório Global de Fraude e Risco”, da Kroll, entrevistou, de forma anônima e on-line, 1.336 executivos de alto escalão – “CEOs, e diretores das áreas jurídica, de compliance e financeira”, diz a empresa – em 17 países de todas as partes do mundo.
Há também razões financeiras para a maior proatividade das empresas em investigar e se prevenir contra fraudes. De 2020 para 2022, o tempo médio de ocorrência dos casos típicos de fraude, antes de serem descobertos, passou de 14 para 12 meses, conforme o “Relatório para as Nações”, da Associação de Examinadores Certificados de Fraudes (ACFE, na sigla em inglês).
Investigando mais e melhor, as companhias reduzem desvios de recursos – para além dos dados à imagem pública. Isso porque quanto menos tempo um caso de fraude ocorre antes de ser descoberto, menos recursos financeiros são desviados, lembrou Barroso.
Segundo a diretora da Kroll, dois movimentos recentes marcaram o cenário das fraudes corporativas. Um foi a adoção do trabalho remoto, por causa da covid-19. Nos seis primeiros meses de pandemia, grandes empresas de todo o mundo tiveram que correr contra o tempo para investir em segurança nas suas redes de informática. Com os empregados acessando arquivos via conexões domésticas, fora das redes corporativas, foi preciso reforçar as barreiras conta ataques cibernéticos.
O segundo movimento recente é a tendência ESG. Com os mercados financeiros cobrando a adoção de critérios de boa governança, a prevenção contra fraudes se traduz também financeiramente – empresas com altos padrões de controle interno e de governança são mais bem avaliadas, valorizando tanto ações quanto título de dívida, o que é importante para reduzir custos de financiamento.
Para Barroso, o Brasil se insere nesses movimentos com algumas particularidades. Após as revelações da Operação Lava Jato, em 2014, houve aumento dos investimentos em regras de conformidade e controles internos. Em seguida, a recessão que durou até 2016 esfriou os investimentos. Mais recentemente, um movimento de empresas recorrendo ao mercado de capitais para se financiar, com operações de abertura de capital, gerou nova onda de investimentos nas práticas de governança, incluindo previsão contra fraudes.
Já os investimentos em segurança cibernética precisam ser contínuos, lembrou a diretora da Kroll, já que os tipos de fraude se renovam ano a ano. Segundo a executiva, os ataques cibernéticos ainda não são o tipo mais frequente de fraudes, mas a tendência, nos próximos anos, é que ganhem cada vez mais espaço.