Com a difusão da agenda ESG entre as grandes empresas brasileiras e na Faria Lima, principal centro financeiro do País, a pauta passou a ganhar também a adesão de micro e pequenos empresários. Segundo a pesquisa O engajamento dos pequenos negócios brasileiros às práticas ESG, idealizada pelo Sebrae Mato Grosso e obtida antecipadamente pelo Estadão, 91% das pequenas empresas consideram “importante” ou “muito importante” incluir aspectos do tema em sua gestão.
O levantamento aponta, porém, que as empresas ainda não enxergam impactos positivos após a adoção das práticas ao seu dia a dia.
Segundo o Sebrae, aproximadamente um terço das empresas já se sentiram pressionadas ou cobradas para incorporar medidas ligadas ao ESG à sua gestão. Para a entidade, o porcentual é baixo, considerando a grande exposição do tema nos meios de comunicação e o aumento da relevância da pauta nas grandes corporações e no próprio poder público.
“Percebemos que as empresas, em sua maioria, reconhecem a importância dessas práticas. Entretanto, a preocupação que elas têm é se existe uma demanda, já que a pressão para que elas adotem o ESG é muito pequena”, explica o professor Aron Belinky, consultor da ABC Associados e doutor pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
O professor, que ajudou no desenvolvimento da pesquisa, destaca que as empresas não se sentem pressionadas por fornecedores, ONGs e a própria sociedade para aderirem à agenda e acabam adotando estes parâmetros impulsionados por opiniões pessoais.
A pesquisa aponta que o governo é percebido como a maior fonte de pressão pelos empresários do Sul (32%), seguido pelo Centro-Oeste (28%) e Norte (22%). Em seguida, vem os consumidores e a comunidade próxima em terceiro lugar.
“A nossa hipótese é que a percepção social é o grande impulsionador. A pauta está sensibilizando os microempresários, mas ainda não com a perspectiva de negócios, mas de cidadão. Ainda tem uma perspectiva importante a ser trabalhada por essas empresas que é associar esses dois fatores, que acreditamos que será crucial para o sucesso futuro do negócio.”
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O diretor técnico do Sebrae-MT, André Schelini, no entanto, destaca que são diversos os benefícios que as pequenas empresas podem ganhar ao adotarem o ESG. “Contribui para a melhoria da gestão, redução de riscos, competitividade de mercado e para a sua perenidade”, afirma, destacando que obviamente a forma como a pequena empresa adota é diferente da grande, mas a adoção é possível e benéfica para os negócios.
Diferença para os grandes players
Para o pesquisador, o movimento contrário acontece com as grandes empresas: elas tendem a perceber a agenda ESG como uma oportunidade de negócio quando já existe uma demanda social, movidas essencialmente pela pressão dos consumidores ou do governo.
Em contrapartida, Belinky destaca que as pequenas empresas são formadas por um grupo pequeno de pessoas e, por isso, a percepção do cidadão acaba tendo um peso maior nas decisões adotadas, que não passam por um número tão grande de avaliações.
“Elas têm um peso muito maior do indivíduo nas suas políticas. As grandes empresas são mais impessoais e dependem de uma análise do cenário, pressão de investidores”, explica destacando que até mesmo as práticas ESG são similares às práticas domésticas adotadas pelos cidadãos, que, segundo a pesquisa, em sua maioria pendem para as práticas sustentáveis.
Como exemplo de práticas, o professor destaca a redução de uso de papel, de energia e reciclagem — ações que podem ser adotadas por qualquer pessoa, independente das práticas empresariais.
Nelson Hervey Costa, diretor-superintendente do Sebrae-SP, responsável pela divulgação do estudo, destaca que embora não seja uma agenda exigida pelos consumidores para as pequenas empresas, é essencial se preparar para as mudanças de mercado, que incluem o ESG.
“É uma agenda crescente e vem nessa pegada mais forte nos últimos anos”, afirma. Ele diz que já se adiantar é se posicionar de forma estratégica, se adequando a uma temática que já é uma tendência na sociedade. “É um diferencial da concorrência adotar práticas de economia circular e logística reversa. Junto de IA e inteligência de dados, ESG está entre as temáticas mais urgentes.”
Desconhecimento do ESG
O levantamento ainda apontou os baixos percentuais de conhecimento sobre referenciais e termos-chave da pauta ESG. Segundo o estudo, apenas 14% das empresas conhecem o termo.
“Na Faria Lima só falam sobre ESG, mas 4 mil empresas de diferentes partes do País não conhecem (o tema). Isso demonstra que a pauta não chegou a todos os lugares como é dito”, explica o professor da FGV. Em contrapartida, afirma, 72% dos empresários conhecem bem as práticas de sustentabilidade consolidadas.