Novos unicórnios? Impulso da agenda ESG cria oportunidades para startups com impacto socioambiental


Com sinais de melhora na economia, especialistas apontam que 2024 abre janela para surgimento de novos unicórnios com foco em soluções para a sociedade e o meio ambiente

Por Beatriz Capirazi

Depois de dois anos difíceis para as startups, com ondas de demissões e encerramento de atividades em meio aos juros altos, o ano de 2024 dá sinais de recuperação, e novos unicórnios sociais podem surgir com a ascensão da agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança corporativa), segundo especialistas.

Os unicórnios são empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 4,95 bilhões) antes de abrirem capital em Bolsas de Valores. Quando elas geram por meio de seus negócios impacto positivo na sociedade e no meio ambiente, são chamadas de unicórnios sociais, embora poucas se autointitulem assim.

“Estamos falando de uma startup que nasceu para resolver uma dor social e ambiental. O foco delas é esse. Considerando que o Brasil tem problemas significativos nessa área, vamos ver um aumento dessas startups nos próximos anos”, explica Raquel Teixeira, sócia da EY para a América Latina.

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Pelo menos 20 startups da América Latina, nem todas com foco social, têm o potencial de atingir o status de unicórnio em 2024, segundo dados da plataforma de inovação Distrito. Destas, 12 são brasileiras.

Unicórnios sociais, empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão antes de abrirem capital em bolsas de valores e possuem forte impacto social, podem ser tendência para reaquecer mercado de startups. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Em 2024, as 12 candidatas brasileiras são Blip, Petlove, Órigo Energia, Omie, Cerc, SolFácil, Buser, CRMBonus, QI Tech, Stark Bank, Tractian e Mottu. As outras oito latinas são 99 minutos, Karvi, Frubana, Justo, Klar, Xepelin, Tul e Pomelo.

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Embora a tecnologia e o segmento financeiro continuem a ser o grande foco das startups brasileiras, pelo menos um quarto delas se dedica a negócios de impacto positivo.

É o caso da SolFácil, que atua no setor de energia solar, viabilizando o acesso à tecnologia para pessoas físicas através do financiamento de projetos de sistemas fotovoltaicos. O CEO da empresa, Fabio Carrara, aponta que além do benefício ambiental, a empresa ainda tem como foco a popularização dessa tecnologia para a população em geral.

Outro benefício é a diminuição do custo da energia elétrica que, segundo a SolFácil, tem uma diminuição significativa. O Brasil tem a conta de luz que mais pesa no bolso em comparação com 33 países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

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“A conta de luz consome uma parte relevante do orçamento familiar brasileiro. Viabilizar que as pessoas produzam sua própria energia solar, além de ser positivo em termos ambientais, tira a pressão do orçamento familiar e ajuda a movimentar a economia”, diz.

CEO da SolFácil, Fabio Carrara. Foto: Paulo Vitale/ SolFácil

Marcelo Lombardo, CEO da plataforma de gestão Omie, uma das listadas pela Distrito, vê uma tendência crescente até mesmo de empresas que têm como foco a tecnologia se tornarem empresas de impacto socioambiental.

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“Nossa grande preocupação é destravar o crescimento da PME (Pequena e Média Empresa). Eu sou programador, não sou especialista em salvar o meio ambiente, em clima. Sou um especialista em ajudar pequenos negócios a crescer, mas sei que se eu fizer o meu trabalho bem-feito, a gente vai causar um impacto socioeconômico na parcela que mais precisa da população”, explica Lombardo.

O executivo aponta que vê como uma combinação potente a união do social com a inovação das startups, mas destaca que não se pode perder o foco do negócio. “Você está criando um negócio que pode ser unicórnio e ao mesmo tempo resolvendo um problema gigantesco. No Brasil, a oportunidade disso é grande porque ainda temos muitos dos problemas que já foram resolvidos no primeiro mundo. Mas a gente não pode perder o olho do negócio. Se for uma startup unicamente para social, vai ser difícil se sustentar. Aí é uma ONG.”

Além das listadas pela Distrito, há seis startups na lista de apostas de analistas para se tornarem unicórnios neste ano ou no próximo ano, sendo duas delas startups também de impacto socioambiental. Além de quatro fintechs, estão na lista a agtech Agrotools, que atua na área de agronegócios e monitora em tempo real se práticas de ESG estão sendo aplicadas, e a eureciclo, do segmento ambiental.

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Essa tendência crescente de startups de impacto social também é apontada pela Deloitte. Uma pesquisa realizada pela consultoria a pedido do Estadão para medir as tendências mundiais relacionadas ao termo “startup de impacto social” demonstra que essas empresas são diretamente associadas a uma “estratégia para mudança” (29%).

Unicórnios sociais são tendência para 2024, apontam especialistas. Foto: Marcos Müller/Estadão

Considerando a urgência das mudanças climáticas, empresas e governos do mundo todo têm se engajado para fomentar uma economia de baixo carbono, que se tornou uma necessidade para a sobrevivência financeira de inúmeros negócios no futuro.

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Segundo a Deloitte, que levantou tendências mundiais de pesquisas realizadas entre fevereiro de 2023 e fevereiro de 2024, o termo ainda é associado a investimentos (29%) e programas de aceleração (29%), que estão diretamente atrelados aos recursos necessários para impulsionar o surgimento de novos empreendimentos do modelo com foco em impacto social.

Unicórnios sociais

Um dos exemplos de startup com impacto social que atingiu a casa dos bilhões antes de abrir capital foi a chilena Betterfly, que chegou ao Brasil em 2021. A companhia, que atua como uma plataforma de bem-estar e benefícios, conquistou o status de “primeiro unicórnio social” da América Latina em fevereiro de 2022, atendendo ao mercado B2B2C (empresas que vendem seus produtos para outras empresas, que então revendem aos consumidores). Atualmente, ela tem operações no Chile, México, Peru, Brasil, Equador, Colômbia, Argentina e Espanha.

A startup nasceu como uma Public Benefit Corporation, uma companhia que deve dar lucro, mas sem esquecer de seu impacto social. Seu maior diferencial é justamente equiparar o lucro adquirido com o valor de impacto que gera.

Na prática, as empresas que assinam os serviços da Betterfly oferecem aos seus funcionários diversos benefícios de bem-estar presentes na plataforma, estimulando-os a adotar hábitos mais saudáveis no dia a dia, como a prática de exercícios físicos e meditação.

Como parte da experiência no aplicativo, a plataforma recompensa o usuário com pontos, além de aumentar sua cobertura de seguro de vida. Esses pontos, espécie de moedas na plataforma, podem ser doadas para Organizações Sem Fins Lucrativos (ONGs) parceiras, como o Hospital Pequeno Príncipe e o Gerando Falcões. Até o momento, foram feitas R$ 7 milhões em doações sociais.

“A gente já nasce com a responsabilidade legal e jurídica de entregar retorno financeiro na mesma proporção que a gente devolve para a sociedade”, explica Ana Paula Mattar, líder de marketing para o Brasil da Betterfly.

Ana Paula Mattar, líder de marketing para o Brasil da Betterfly Foto: Divulgação/ Betterfly

Grandes empresas como as subsidiárias colombianas da AB InBev, dona de marcas como Budweiser, Stella Artois e Skol, e da Nestlé já aderiram à plataforma.

Brasil

Considerando que o Brasil sempre foi um berço de unicórnios na América Latina e tem sido o líder empreendedor da região, a líder da Deloitte Brasil para clima e sustentabilidade, Maria Emília Peres, prevê que 2024 impulsionará o surgimento de novas startups com foco em impacto social, impulsionado pela ascensão do ESG aliada à agenda verde promovida pelo governo federal.

“Essa tendência reflete o movimento em direção à sustentabilidade e responsabilidade social”, explica Peres. Para ela, essa mudança contradiz a abordagem tradicional de primeiro observar um avanço global para, posteriormente, chegar ao Brasil. “No momento, estamos indo na direção oposta. Ainda não vemos o surgimento de ‘unicórnios sociais’ com esse nome propriamente dito, mas as startups com foco no impacto social estão em ascensão.”

Segundo Peres, esse movimento emergiu para atender à necessidade das grandes empresas, fornecendo subsídios, produtos e até mesmo novas tecnologias para impulsionar o desenvolvimento da sustentabilidade nas gigantes do mercado.

A líder do hub de startups da consultoria EY, Luciana Detoni, explica que muitas startups que não tinham necessariamente esse foco passaram a aderir a essa tendência por conta do crescimento do ESG. “Elas têm o potencial de reaquecer o mercado de startups no Brasil, mas isso depende do fortalecimento do ecossistema de apoio às startups. Elas estão se movendo, uma vez que temos diversos problemas sociais complexos na região”, explica.

Líder do hub de startups da consultoria EY, Luciana Detoni Foto: Divulgação/ EY

Matheus Vitor, CEO da Recicla-se, startup que transforma a coleta de resíduos em moeda digital, diz ver um número crescente de empresas apostando nas boas práticas ESG como o centro de seus negócios, indo desde startups que usam resíduos como foco da sua empresa até o uso da economia circular e redução de desperdício.

O executivo aponta que a busca por produtos sustentáveis tem crescido não só entre o público consumidor, mas também entre as empresas. “As companhias que se posicionam como sustentáveis querem mostrar ações efetivas para serem, de fato, levadas a sério.”

“A inovação é o motor da agenda ESG. Clima é um aspecto social, por exemplo. Temos visto as maiores entidades financeiras se movimentando [nessa pauta]”, explica o professor e diretor do núcleo de inovação e empreendedorismo da FDC, Hugo Tadeu, apontando que diante de todas as potencialidades e problemas que o Brasil enfrenta nessa pauta, é natural que a pauta social ganhe relevância até mesmo entre as startups.

Para Raquel Teixeira, um crescimento significativo de startups sociais deve se tornar uma realidade nos próximos anos. No entanto, ela aponta que essa aceleração depende de outras medidas que impulsionem essas startups, como uma rede de mentores, políticas mais favoráveis e o acesso a financiamento.

Em questão de linhas de financiamento verde, a presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Sílvia Scorsato, aponta que já vê um movimento de financiamento verde atualmente por parte dos grandes bancos que fazem projetos para grandes empresas migrarem para uma economia de baixo carbono. Nos pequenos bancos, ela afirma não ter visto nenhum movimento específico ainda. “Para as fintechs, continuo vendo o crédito não vinculado como o mais comum”.

Segundo Teixeira, existem complicações ao falar sobre esse assunto pois as startups sociais são a “inovação da inovação”. “Ao falar de startups, já estamos falando de inovação. Nesse caso, estamos falando da inovação da inovação para meio ambiente e social”, explica.

A executiva ainda aponta que as startups sociais precisam encontrar um equilíbrio entre o impacto e a criação de um modelo de negócio que seja escalável e que possa crescer rapidamente, o que é um ponto de atenção para os investidores. “Muitos investidores ainda não estão acostumados a colocar dinheiro em impacto social como negócio”.

Raquel Teixeira, sócia de EY Private para América Latina Foto: Divulgação/ EY

A especialista aponta que o termo “unicórnios sociais” ainda é muito novo e, por isso, talvez poucas se denominem dessa forma. “Muitas startups têm o core delas como social, mas não se entitulam dessa forma. O Brasil tem chances reais de se tornar um líder de unicórnios sociais, especialmente pela nossa demanda”.

Para Luciana Detoni, o fato de o assunto voltar à pauta de negócios demonstra o reaquecimento do setor, mas ainda com um “otimismo cauteloso”. Os valores aportados em startups atualmente ainda se mantêm muito distantes de 2021, quando havia abundância de recursos financeiros e as captações mais que triplicaram em relação a 2020 e atingiram a casa dos US$ 11 bilhões (cerca de R$ 54 bilhões).

Segundo um relatório do Itaú BBA & Sling Hub, os níveis atuais estão próximos aos de 2019 e 2020, indicando uma recuperação potencial no futuro e a volta da confiança do setor no modelo de negócio. A única startup que atingiu o status de unicórnio em 2023 foi a Pismo, adquirida pela Visa posteriormente. No ano anterior, Neon e Dock foram as únicas a atingir esse patamar.

Atualmente, a América Latina conta com 45 unicórnios, sendo 23 no Brasil. O grupo das fintechs é o que possui mais representantes na região, com 19 empresas. Ao todo, há cerca de 14 mil startups no país, segundo a Associação Brasileira de Startups (ABStartups).

Embora essa recuperação seja apontada pelos especialistas, para as candidatas a unicórnios, o “inverno das startups” ainda é sentido. O CEO da Omie aponta que a possibilidade de se tornar um unicórnio provavelmente ficará para 2025.

O executivo explica que a “coroa” de unicórnio só chega quando houver uma nova rodada para a captação de investimentos. Como o mercado ainda enfrenta uma baixa de investimentos, Lombardo explica que as startups que estão bem estruturadas e conseguem esperar por um momento melhor para captar investimentos mais atrativos estão fazendo isso.

Marcelo Lombardo, CEO da plataforma de gestão Omie. Foto: Divulgação/Omie

“Estamos em fluxo de caixa positivo desde o ano passado. Crescemos 57% em 2023 sem injeção de capital e ainda tem dinheiro da última rodada [de investimentos], então estamos esperando o melhor momento”, explica Lombardo. O executivo defende que empresas que estão em um patamar financeiro confortável estão seguindo uma linha de raciocínio similar.

Ele explica que a empresa ainda tem a particularidade de que o perfil de investidor que aporta na Omie ser estrangeiro. Considerando os altos juros e a inflação alta nos Estados Unidos, a melhor opção para a companhia é aguardar para realizar novas rodadas de investimento.

Depois de dois anos difíceis para as startups, com ondas de demissões e encerramento de atividades em meio aos juros altos, o ano de 2024 dá sinais de recuperação, e novos unicórnios sociais podem surgir com a ascensão da agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança corporativa), segundo especialistas.

Os unicórnios são empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 4,95 bilhões) antes de abrirem capital em Bolsas de Valores. Quando elas geram por meio de seus negócios impacto positivo na sociedade e no meio ambiente, são chamadas de unicórnios sociais, embora poucas se autointitulem assim.

“Estamos falando de uma startup que nasceu para resolver uma dor social e ambiental. O foco delas é esse. Considerando que o Brasil tem problemas significativos nessa área, vamos ver um aumento dessas startups nos próximos anos”, explica Raquel Teixeira, sócia da EY para a América Latina.

Pelo menos 20 startups da América Latina, nem todas com foco social, têm o potencial de atingir o status de unicórnio em 2024, segundo dados da plataforma de inovação Distrito. Destas, 12 são brasileiras.

Unicórnios sociais, empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão antes de abrirem capital em bolsas de valores e possuem forte impacto social, podem ser tendência para reaquecer mercado de startups. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Em 2024, as 12 candidatas brasileiras são Blip, Petlove, Órigo Energia, Omie, Cerc, SolFácil, Buser, CRMBonus, QI Tech, Stark Bank, Tractian e Mottu. As outras oito latinas são 99 minutos, Karvi, Frubana, Justo, Klar, Xepelin, Tul e Pomelo.

Embora a tecnologia e o segmento financeiro continuem a ser o grande foco das startups brasileiras, pelo menos um quarto delas se dedica a negócios de impacto positivo.

É o caso da SolFácil, que atua no setor de energia solar, viabilizando o acesso à tecnologia para pessoas físicas através do financiamento de projetos de sistemas fotovoltaicos. O CEO da empresa, Fabio Carrara, aponta que além do benefício ambiental, a empresa ainda tem como foco a popularização dessa tecnologia para a população em geral.

Outro benefício é a diminuição do custo da energia elétrica que, segundo a SolFácil, tem uma diminuição significativa. O Brasil tem a conta de luz que mais pesa no bolso em comparação com 33 países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

“A conta de luz consome uma parte relevante do orçamento familiar brasileiro. Viabilizar que as pessoas produzam sua própria energia solar, além de ser positivo em termos ambientais, tira a pressão do orçamento familiar e ajuda a movimentar a economia”, diz.

CEO da SolFácil, Fabio Carrara. Foto: Paulo Vitale/ SolFácil

Marcelo Lombardo, CEO da plataforma de gestão Omie, uma das listadas pela Distrito, vê uma tendência crescente até mesmo de empresas que têm como foco a tecnologia se tornarem empresas de impacto socioambiental.

“Nossa grande preocupação é destravar o crescimento da PME (Pequena e Média Empresa). Eu sou programador, não sou especialista em salvar o meio ambiente, em clima. Sou um especialista em ajudar pequenos negócios a crescer, mas sei que se eu fizer o meu trabalho bem-feito, a gente vai causar um impacto socioeconômico na parcela que mais precisa da população”, explica Lombardo.

O executivo aponta que vê como uma combinação potente a união do social com a inovação das startups, mas destaca que não se pode perder o foco do negócio. “Você está criando um negócio que pode ser unicórnio e ao mesmo tempo resolvendo um problema gigantesco. No Brasil, a oportunidade disso é grande porque ainda temos muitos dos problemas que já foram resolvidos no primeiro mundo. Mas a gente não pode perder o olho do negócio. Se for uma startup unicamente para social, vai ser difícil se sustentar. Aí é uma ONG.”

Além das listadas pela Distrito, há seis startups na lista de apostas de analistas para se tornarem unicórnios neste ano ou no próximo ano, sendo duas delas startups também de impacto socioambiental. Além de quatro fintechs, estão na lista a agtech Agrotools, que atua na área de agronegócios e monitora em tempo real se práticas de ESG estão sendo aplicadas, e a eureciclo, do segmento ambiental.

Essa tendência crescente de startups de impacto social também é apontada pela Deloitte. Uma pesquisa realizada pela consultoria a pedido do Estadão para medir as tendências mundiais relacionadas ao termo “startup de impacto social” demonstra que essas empresas são diretamente associadas a uma “estratégia para mudança” (29%).

Unicórnios sociais são tendência para 2024, apontam especialistas. Foto: Marcos Müller/Estadão

Considerando a urgência das mudanças climáticas, empresas e governos do mundo todo têm se engajado para fomentar uma economia de baixo carbono, que se tornou uma necessidade para a sobrevivência financeira de inúmeros negócios no futuro.

Segundo a Deloitte, que levantou tendências mundiais de pesquisas realizadas entre fevereiro de 2023 e fevereiro de 2024, o termo ainda é associado a investimentos (29%) e programas de aceleração (29%), que estão diretamente atrelados aos recursos necessários para impulsionar o surgimento de novos empreendimentos do modelo com foco em impacto social.

Unicórnios sociais

Um dos exemplos de startup com impacto social que atingiu a casa dos bilhões antes de abrir capital foi a chilena Betterfly, que chegou ao Brasil em 2021. A companhia, que atua como uma plataforma de bem-estar e benefícios, conquistou o status de “primeiro unicórnio social” da América Latina em fevereiro de 2022, atendendo ao mercado B2B2C (empresas que vendem seus produtos para outras empresas, que então revendem aos consumidores). Atualmente, ela tem operações no Chile, México, Peru, Brasil, Equador, Colômbia, Argentina e Espanha.

A startup nasceu como uma Public Benefit Corporation, uma companhia que deve dar lucro, mas sem esquecer de seu impacto social. Seu maior diferencial é justamente equiparar o lucro adquirido com o valor de impacto que gera.

Na prática, as empresas que assinam os serviços da Betterfly oferecem aos seus funcionários diversos benefícios de bem-estar presentes na plataforma, estimulando-os a adotar hábitos mais saudáveis no dia a dia, como a prática de exercícios físicos e meditação.

Como parte da experiência no aplicativo, a plataforma recompensa o usuário com pontos, além de aumentar sua cobertura de seguro de vida. Esses pontos, espécie de moedas na plataforma, podem ser doadas para Organizações Sem Fins Lucrativos (ONGs) parceiras, como o Hospital Pequeno Príncipe e o Gerando Falcões. Até o momento, foram feitas R$ 7 milhões em doações sociais.

“A gente já nasce com a responsabilidade legal e jurídica de entregar retorno financeiro na mesma proporção que a gente devolve para a sociedade”, explica Ana Paula Mattar, líder de marketing para o Brasil da Betterfly.

Ana Paula Mattar, líder de marketing para o Brasil da Betterfly Foto: Divulgação/ Betterfly

Grandes empresas como as subsidiárias colombianas da AB InBev, dona de marcas como Budweiser, Stella Artois e Skol, e da Nestlé já aderiram à plataforma.

Brasil

Considerando que o Brasil sempre foi um berço de unicórnios na América Latina e tem sido o líder empreendedor da região, a líder da Deloitte Brasil para clima e sustentabilidade, Maria Emília Peres, prevê que 2024 impulsionará o surgimento de novas startups com foco em impacto social, impulsionado pela ascensão do ESG aliada à agenda verde promovida pelo governo federal.

“Essa tendência reflete o movimento em direção à sustentabilidade e responsabilidade social”, explica Peres. Para ela, essa mudança contradiz a abordagem tradicional de primeiro observar um avanço global para, posteriormente, chegar ao Brasil. “No momento, estamos indo na direção oposta. Ainda não vemos o surgimento de ‘unicórnios sociais’ com esse nome propriamente dito, mas as startups com foco no impacto social estão em ascensão.”

Segundo Peres, esse movimento emergiu para atender à necessidade das grandes empresas, fornecendo subsídios, produtos e até mesmo novas tecnologias para impulsionar o desenvolvimento da sustentabilidade nas gigantes do mercado.

A líder do hub de startups da consultoria EY, Luciana Detoni, explica que muitas startups que não tinham necessariamente esse foco passaram a aderir a essa tendência por conta do crescimento do ESG. “Elas têm o potencial de reaquecer o mercado de startups no Brasil, mas isso depende do fortalecimento do ecossistema de apoio às startups. Elas estão se movendo, uma vez que temos diversos problemas sociais complexos na região”, explica.

Líder do hub de startups da consultoria EY, Luciana Detoni Foto: Divulgação/ EY

Matheus Vitor, CEO da Recicla-se, startup que transforma a coleta de resíduos em moeda digital, diz ver um número crescente de empresas apostando nas boas práticas ESG como o centro de seus negócios, indo desde startups que usam resíduos como foco da sua empresa até o uso da economia circular e redução de desperdício.

O executivo aponta que a busca por produtos sustentáveis tem crescido não só entre o público consumidor, mas também entre as empresas. “As companhias que se posicionam como sustentáveis querem mostrar ações efetivas para serem, de fato, levadas a sério.”

“A inovação é o motor da agenda ESG. Clima é um aspecto social, por exemplo. Temos visto as maiores entidades financeiras se movimentando [nessa pauta]”, explica o professor e diretor do núcleo de inovação e empreendedorismo da FDC, Hugo Tadeu, apontando que diante de todas as potencialidades e problemas que o Brasil enfrenta nessa pauta, é natural que a pauta social ganhe relevância até mesmo entre as startups.

Para Raquel Teixeira, um crescimento significativo de startups sociais deve se tornar uma realidade nos próximos anos. No entanto, ela aponta que essa aceleração depende de outras medidas que impulsionem essas startups, como uma rede de mentores, políticas mais favoráveis e o acesso a financiamento.

Em questão de linhas de financiamento verde, a presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Sílvia Scorsato, aponta que já vê um movimento de financiamento verde atualmente por parte dos grandes bancos que fazem projetos para grandes empresas migrarem para uma economia de baixo carbono. Nos pequenos bancos, ela afirma não ter visto nenhum movimento específico ainda. “Para as fintechs, continuo vendo o crédito não vinculado como o mais comum”.

Segundo Teixeira, existem complicações ao falar sobre esse assunto pois as startups sociais são a “inovação da inovação”. “Ao falar de startups, já estamos falando de inovação. Nesse caso, estamos falando da inovação da inovação para meio ambiente e social”, explica.

A executiva ainda aponta que as startups sociais precisam encontrar um equilíbrio entre o impacto e a criação de um modelo de negócio que seja escalável e que possa crescer rapidamente, o que é um ponto de atenção para os investidores. “Muitos investidores ainda não estão acostumados a colocar dinheiro em impacto social como negócio”.

Raquel Teixeira, sócia de EY Private para América Latina Foto: Divulgação/ EY

A especialista aponta que o termo “unicórnios sociais” ainda é muito novo e, por isso, talvez poucas se denominem dessa forma. “Muitas startups têm o core delas como social, mas não se entitulam dessa forma. O Brasil tem chances reais de se tornar um líder de unicórnios sociais, especialmente pela nossa demanda”.

Para Luciana Detoni, o fato de o assunto voltar à pauta de negócios demonstra o reaquecimento do setor, mas ainda com um “otimismo cauteloso”. Os valores aportados em startups atualmente ainda se mantêm muito distantes de 2021, quando havia abundância de recursos financeiros e as captações mais que triplicaram em relação a 2020 e atingiram a casa dos US$ 11 bilhões (cerca de R$ 54 bilhões).

Segundo um relatório do Itaú BBA & Sling Hub, os níveis atuais estão próximos aos de 2019 e 2020, indicando uma recuperação potencial no futuro e a volta da confiança do setor no modelo de negócio. A única startup que atingiu o status de unicórnio em 2023 foi a Pismo, adquirida pela Visa posteriormente. No ano anterior, Neon e Dock foram as únicas a atingir esse patamar.

Atualmente, a América Latina conta com 45 unicórnios, sendo 23 no Brasil. O grupo das fintechs é o que possui mais representantes na região, com 19 empresas. Ao todo, há cerca de 14 mil startups no país, segundo a Associação Brasileira de Startups (ABStartups).

Embora essa recuperação seja apontada pelos especialistas, para as candidatas a unicórnios, o “inverno das startups” ainda é sentido. O CEO da Omie aponta que a possibilidade de se tornar um unicórnio provavelmente ficará para 2025.

O executivo explica que a “coroa” de unicórnio só chega quando houver uma nova rodada para a captação de investimentos. Como o mercado ainda enfrenta uma baixa de investimentos, Lombardo explica que as startups que estão bem estruturadas e conseguem esperar por um momento melhor para captar investimentos mais atrativos estão fazendo isso.

Marcelo Lombardo, CEO da plataforma de gestão Omie. Foto: Divulgação/Omie

“Estamos em fluxo de caixa positivo desde o ano passado. Crescemos 57% em 2023 sem injeção de capital e ainda tem dinheiro da última rodada [de investimentos], então estamos esperando o melhor momento”, explica Lombardo. O executivo defende que empresas que estão em um patamar financeiro confortável estão seguindo uma linha de raciocínio similar.

Ele explica que a empresa ainda tem a particularidade de que o perfil de investidor que aporta na Omie ser estrangeiro. Considerando os altos juros e a inflação alta nos Estados Unidos, a melhor opção para a companhia é aguardar para realizar novas rodadas de investimento.

Depois de dois anos difíceis para as startups, com ondas de demissões e encerramento de atividades em meio aos juros altos, o ano de 2024 dá sinais de recuperação, e novos unicórnios sociais podem surgir com a ascensão da agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança corporativa), segundo especialistas.

Os unicórnios são empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 4,95 bilhões) antes de abrirem capital em Bolsas de Valores. Quando elas geram por meio de seus negócios impacto positivo na sociedade e no meio ambiente, são chamadas de unicórnios sociais, embora poucas se autointitulem assim.

“Estamos falando de uma startup que nasceu para resolver uma dor social e ambiental. O foco delas é esse. Considerando que o Brasil tem problemas significativos nessa área, vamos ver um aumento dessas startups nos próximos anos”, explica Raquel Teixeira, sócia da EY para a América Latina.

Pelo menos 20 startups da América Latina, nem todas com foco social, têm o potencial de atingir o status de unicórnio em 2024, segundo dados da plataforma de inovação Distrito. Destas, 12 são brasileiras.

Unicórnios sociais, empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão antes de abrirem capital em bolsas de valores e possuem forte impacto social, podem ser tendência para reaquecer mercado de startups. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Em 2024, as 12 candidatas brasileiras são Blip, Petlove, Órigo Energia, Omie, Cerc, SolFácil, Buser, CRMBonus, QI Tech, Stark Bank, Tractian e Mottu. As outras oito latinas são 99 minutos, Karvi, Frubana, Justo, Klar, Xepelin, Tul e Pomelo.

Embora a tecnologia e o segmento financeiro continuem a ser o grande foco das startups brasileiras, pelo menos um quarto delas se dedica a negócios de impacto positivo.

É o caso da SolFácil, que atua no setor de energia solar, viabilizando o acesso à tecnologia para pessoas físicas através do financiamento de projetos de sistemas fotovoltaicos. O CEO da empresa, Fabio Carrara, aponta que além do benefício ambiental, a empresa ainda tem como foco a popularização dessa tecnologia para a população em geral.

Outro benefício é a diminuição do custo da energia elétrica que, segundo a SolFácil, tem uma diminuição significativa. O Brasil tem a conta de luz que mais pesa no bolso em comparação com 33 países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

“A conta de luz consome uma parte relevante do orçamento familiar brasileiro. Viabilizar que as pessoas produzam sua própria energia solar, além de ser positivo em termos ambientais, tira a pressão do orçamento familiar e ajuda a movimentar a economia”, diz.

CEO da SolFácil, Fabio Carrara. Foto: Paulo Vitale/ SolFácil

Marcelo Lombardo, CEO da plataforma de gestão Omie, uma das listadas pela Distrito, vê uma tendência crescente até mesmo de empresas que têm como foco a tecnologia se tornarem empresas de impacto socioambiental.

“Nossa grande preocupação é destravar o crescimento da PME (Pequena e Média Empresa). Eu sou programador, não sou especialista em salvar o meio ambiente, em clima. Sou um especialista em ajudar pequenos negócios a crescer, mas sei que se eu fizer o meu trabalho bem-feito, a gente vai causar um impacto socioeconômico na parcela que mais precisa da população”, explica Lombardo.

O executivo aponta que vê como uma combinação potente a união do social com a inovação das startups, mas destaca que não se pode perder o foco do negócio. “Você está criando um negócio que pode ser unicórnio e ao mesmo tempo resolvendo um problema gigantesco. No Brasil, a oportunidade disso é grande porque ainda temos muitos dos problemas que já foram resolvidos no primeiro mundo. Mas a gente não pode perder o olho do negócio. Se for uma startup unicamente para social, vai ser difícil se sustentar. Aí é uma ONG.”

Além das listadas pela Distrito, há seis startups na lista de apostas de analistas para se tornarem unicórnios neste ano ou no próximo ano, sendo duas delas startups também de impacto socioambiental. Além de quatro fintechs, estão na lista a agtech Agrotools, que atua na área de agronegócios e monitora em tempo real se práticas de ESG estão sendo aplicadas, e a eureciclo, do segmento ambiental.

Essa tendência crescente de startups de impacto social também é apontada pela Deloitte. Uma pesquisa realizada pela consultoria a pedido do Estadão para medir as tendências mundiais relacionadas ao termo “startup de impacto social” demonstra que essas empresas são diretamente associadas a uma “estratégia para mudança” (29%).

Unicórnios sociais são tendência para 2024, apontam especialistas. Foto: Marcos Müller/Estadão

Considerando a urgência das mudanças climáticas, empresas e governos do mundo todo têm se engajado para fomentar uma economia de baixo carbono, que se tornou uma necessidade para a sobrevivência financeira de inúmeros negócios no futuro.

Segundo a Deloitte, que levantou tendências mundiais de pesquisas realizadas entre fevereiro de 2023 e fevereiro de 2024, o termo ainda é associado a investimentos (29%) e programas de aceleração (29%), que estão diretamente atrelados aos recursos necessários para impulsionar o surgimento de novos empreendimentos do modelo com foco em impacto social.

Unicórnios sociais

Um dos exemplos de startup com impacto social que atingiu a casa dos bilhões antes de abrir capital foi a chilena Betterfly, que chegou ao Brasil em 2021. A companhia, que atua como uma plataforma de bem-estar e benefícios, conquistou o status de “primeiro unicórnio social” da América Latina em fevereiro de 2022, atendendo ao mercado B2B2C (empresas que vendem seus produtos para outras empresas, que então revendem aos consumidores). Atualmente, ela tem operações no Chile, México, Peru, Brasil, Equador, Colômbia, Argentina e Espanha.

A startup nasceu como uma Public Benefit Corporation, uma companhia que deve dar lucro, mas sem esquecer de seu impacto social. Seu maior diferencial é justamente equiparar o lucro adquirido com o valor de impacto que gera.

Na prática, as empresas que assinam os serviços da Betterfly oferecem aos seus funcionários diversos benefícios de bem-estar presentes na plataforma, estimulando-os a adotar hábitos mais saudáveis no dia a dia, como a prática de exercícios físicos e meditação.

Como parte da experiência no aplicativo, a plataforma recompensa o usuário com pontos, além de aumentar sua cobertura de seguro de vida. Esses pontos, espécie de moedas na plataforma, podem ser doadas para Organizações Sem Fins Lucrativos (ONGs) parceiras, como o Hospital Pequeno Príncipe e o Gerando Falcões. Até o momento, foram feitas R$ 7 milhões em doações sociais.

“A gente já nasce com a responsabilidade legal e jurídica de entregar retorno financeiro na mesma proporção que a gente devolve para a sociedade”, explica Ana Paula Mattar, líder de marketing para o Brasil da Betterfly.

Ana Paula Mattar, líder de marketing para o Brasil da Betterfly Foto: Divulgação/ Betterfly

Grandes empresas como as subsidiárias colombianas da AB InBev, dona de marcas como Budweiser, Stella Artois e Skol, e da Nestlé já aderiram à plataforma.

Brasil

Considerando que o Brasil sempre foi um berço de unicórnios na América Latina e tem sido o líder empreendedor da região, a líder da Deloitte Brasil para clima e sustentabilidade, Maria Emília Peres, prevê que 2024 impulsionará o surgimento de novas startups com foco em impacto social, impulsionado pela ascensão do ESG aliada à agenda verde promovida pelo governo federal.

“Essa tendência reflete o movimento em direção à sustentabilidade e responsabilidade social”, explica Peres. Para ela, essa mudança contradiz a abordagem tradicional de primeiro observar um avanço global para, posteriormente, chegar ao Brasil. “No momento, estamos indo na direção oposta. Ainda não vemos o surgimento de ‘unicórnios sociais’ com esse nome propriamente dito, mas as startups com foco no impacto social estão em ascensão.”

Segundo Peres, esse movimento emergiu para atender à necessidade das grandes empresas, fornecendo subsídios, produtos e até mesmo novas tecnologias para impulsionar o desenvolvimento da sustentabilidade nas gigantes do mercado.

A líder do hub de startups da consultoria EY, Luciana Detoni, explica que muitas startups que não tinham necessariamente esse foco passaram a aderir a essa tendência por conta do crescimento do ESG. “Elas têm o potencial de reaquecer o mercado de startups no Brasil, mas isso depende do fortalecimento do ecossistema de apoio às startups. Elas estão se movendo, uma vez que temos diversos problemas sociais complexos na região”, explica.

Líder do hub de startups da consultoria EY, Luciana Detoni Foto: Divulgação/ EY

Matheus Vitor, CEO da Recicla-se, startup que transforma a coleta de resíduos em moeda digital, diz ver um número crescente de empresas apostando nas boas práticas ESG como o centro de seus negócios, indo desde startups que usam resíduos como foco da sua empresa até o uso da economia circular e redução de desperdício.

O executivo aponta que a busca por produtos sustentáveis tem crescido não só entre o público consumidor, mas também entre as empresas. “As companhias que se posicionam como sustentáveis querem mostrar ações efetivas para serem, de fato, levadas a sério.”

“A inovação é o motor da agenda ESG. Clima é um aspecto social, por exemplo. Temos visto as maiores entidades financeiras se movimentando [nessa pauta]”, explica o professor e diretor do núcleo de inovação e empreendedorismo da FDC, Hugo Tadeu, apontando que diante de todas as potencialidades e problemas que o Brasil enfrenta nessa pauta, é natural que a pauta social ganhe relevância até mesmo entre as startups.

Para Raquel Teixeira, um crescimento significativo de startups sociais deve se tornar uma realidade nos próximos anos. No entanto, ela aponta que essa aceleração depende de outras medidas que impulsionem essas startups, como uma rede de mentores, políticas mais favoráveis e o acesso a financiamento.

Em questão de linhas de financiamento verde, a presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Sílvia Scorsato, aponta que já vê um movimento de financiamento verde atualmente por parte dos grandes bancos que fazem projetos para grandes empresas migrarem para uma economia de baixo carbono. Nos pequenos bancos, ela afirma não ter visto nenhum movimento específico ainda. “Para as fintechs, continuo vendo o crédito não vinculado como o mais comum”.

Segundo Teixeira, existem complicações ao falar sobre esse assunto pois as startups sociais são a “inovação da inovação”. “Ao falar de startups, já estamos falando de inovação. Nesse caso, estamos falando da inovação da inovação para meio ambiente e social”, explica.

A executiva ainda aponta que as startups sociais precisam encontrar um equilíbrio entre o impacto e a criação de um modelo de negócio que seja escalável e que possa crescer rapidamente, o que é um ponto de atenção para os investidores. “Muitos investidores ainda não estão acostumados a colocar dinheiro em impacto social como negócio”.

Raquel Teixeira, sócia de EY Private para América Latina Foto: Divulgação/ EY

A especialista aponta que o termo “unicórnios sociais” ainda é muito novo e, por isso, talvez poucas se denominem dessa forma. “Muitas startups têm o core delas como social, mas não se entitulam dessa forma. O Brasil tem chances reais de se tornar um líder de unicórnios sociais, especialmente pela nossa demanda”.

Para Luciana Detoni, o fato de o assunto voltar à pauta de negócios demonstra o reaquecimento do setor, mas ainda com um “otimismo cauteloso”. Os valores aportados em startups atualmente ainda se mantêm muito distantes de 2021, quando havia abundância de recursos financeiros e as captações mais que triplicaram em relação a 2020 e atingiram a casa dos US$ 11 bilhões (cerca de R$ 54 bilhões).

Segundo um relatório do Itaú BBA & Sling Hub, os níveis atuais estão próximos aos de 2019 e 2020, indicando uma recuperação potencial no futuro e a volta da confiança do setor no modelo de negócio. A única startup que atingiu o status de unicórnio em 2023 foi a Pismo, adquirida pela Visa posteriormente. No ano anterior, Neon e Dock foram as únicas a atingir esse patamar.

Atualmente, a América Latina conta com 45 unicórnios, sendo 23 no Brasil. O grupo das fintechs é o que possui mais representantes na região, com 19 empresas. Ao todo, há cerca de 14 mil startups no país, segundo a Associação Brasileira de Startups (ABStartups).

Embora essa recuperação seja apontada pelos especialistas, para as candidatas a unicórnios, o “inverno das startups” ainda é sentido. O CEO da Omie aponta que a possibilidade de se tornar um unicórnio provavelmente ficará para 2025.

O executivo explica que a “coroa” de unicórnio só chega quando houver uma nova rodada para a captação de investimentos. Como o mercado ainda enfrenta uma baixa de investimentos, Lombardo explica que as startups que estão bem estruturadas e conseguem esperar por um momento melhor para captar investimentos mais atrativos estão fazendo isso.

Marcelo Lombardo, CEO da plataforma de gestão Omie. Foto: Divulgação/Omie

“Estamos em fluxo de caixa positivo desde o ano passado. Crescemos 57% em 2023 sem injeção de capital e ainda tem dinheiro da última rodada [de investimentos], então estamos esperando o melhor momento”, explica Lombardo. O executivo defende que empresas que estão em um patamar financeiro confortável estão seguindo uma linha de raciocínio similar.

Ele explica que a empresa ainda tem a particularidade de que o perfil de investidor que aporta na Omie ser estrangeiro. Considerando os altos juros e a inflação alta nos Estados Unidos, a melhor opção para a companhia é aguardar para realizar novas rodadas de investimento.

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