Pesquisa da Deloitte indica onde empresas brasileiras podem melhorar na governança de terceiros


Levantamento aponta que ainda há caminho em avaliação de riscos ESG nos relacionamentos com fornecedores e clientes

Por Luis Filipe Santos

Uma pesquisa da consultoria Deloitte, revelada com exclusividade ao Estadão, avaliou como as empresas brasileiras se relacionam com terceiros, sejam fornecedores, clientes, prestadores de serviço ou outras partes envolvidas no negócio. A edição 2022 do Third Party Risk Management (Gerenciamento de Riscos de Terceiros, em tradução livre), ou TRPM na sigla em inglês, foi realizada a nível global e apontou diferenças entre as visões das companhias brasileiras e estrangeiras quanto ao tema, além de indicar possíveis caminhos de melhoras nessa relação.

A governança de riscos dos terceiros se torna fundamental para as companhias por elas terem se tornado uma questão de propósito, na qual as organizações procuram interagir com outras que tenham as mesmas visões que as delas. A busca se torna por conhecer e estruturar essas relações para evitar possíveis problemas não só em termos de reputação, que pode afetar a obtenção de crédito ou as imagens junto aos clientes, mas também pela governança interna e garantia de estarem alinhadas às ideias e planejamento estratégico.

No entanto, diversas questões se interpõem nessa busca pelo conhecimento das operações dos terceiros. Empresas maiores buscam informações em documentos como demonstrações financeiras e auditorias externas para avaliar os riscos de continuidade dos negócios; algumas também aplicam questionários. Dentro disso, um problema é que as informações qualitativas podem não ser harmônicas e padronizadas. “Cada empresa pede dados de um jeito, diferentes umas das outras”, comenta Alex Borges, sócio da área de advisory risk e líder de risco estratégico da Deloitte. Assim, um consolidador de informações pode ser necessário, para que a informação seja única.

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A avaliação de riscos ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) das empresas pode melhorar tanto no Brasil quanto no mundo. De acordo com o TRPM 2022, apenas 5% das empresas brasileiras e 6% das globais possuem processos considerados maduros para priorização de dimensões de risco ESG, o considerado mais adequado. 41% no Brasil e no mundo possuem abordagens sobre o tema; 37% no Brasil e 35% no mundo possuem avaliações com base em julgamentos de especialistas; e, por fim, 17% e 18% contam com métodos quantitativos que levam em conta informações internas e externas. De acordo com Borges, os riscos ligados à pauta ESG ainda não são tão levados em conta. “Em questões reputacionais, como a corrupção, já se é bastante cobrado, até por legislação. Outra, é se a matéria-prima veio de áreas não aprovadas”, diz o especialista.

Sinal de alerta

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Outros dados relativos ao ESG trazidos pela Deloitte apontam que 42% das empresas no Brasil e 49% no mundo têm mecanismos formais para monitorar mudanças internas e externas que exijam a revisão de riscos relacionados. Entre as empresas brasileiras, as principais dimensões contempladas no tema são investimento responsável (80%), riscos trabalhistas (78%), falta de alinhamento com stakeholders (73%), responsabilidade de produto (66%), poluição e tratamento de lixo (53%) e igualdade de oportunidades (50%).

Um ponto a ser avaliado é como as organizações podem gerenciar após encontrarem algum sinal de alerta. A dúvida é se o relacionamento pode ser mantido, enquanto se exige um processo de aprimoramento com recomendações de melhorias robustas, ou se deve-se cortar as relações. Algumas optam por controlar totalmente a cadeia produtiva. “É necessário ter uma visão clara do apetite alinhado a risco para a estratégia do negócio, saber de quem está comprando e para quem está vendendo”, recomenda Borges.

A periodicidade ao avaliar os terceiros e quais são as informações mínimas necessárias também são fatores a serem considerados com antecedência na hora de montar a estratégia de governança, porque os custos de supervisão são altos, principalmente para terceiros de alto risco - neste caso, é necessário manter um ambiente controlável para gerir. “As empresas estão evoluindo, numa jornada de quais são os procedimentos de monitoramento”, afirma o sócio da Deloitte.

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Matérias-primas vindas de áreas de proteção ambiental acendem "alerta vermelho" na gestão de fornecedores Foto: Gabriela Biló / Estadão

Nessa jornada, a maioria ainda está em fase inicial de integração, que a pesquisa indica que deve contar com processos concentrados nas áreas de gestão de riscos e endereçados por demanda. No Brasil, 47% das companhias estão neste estágio, ante 32% de média global. Outros 29% estão “em curso”, ou seja, em alinhamento de processos específicos para o acompanhamento de terceiros (no mundo, são 45%). Na categoria ‘integrado’, aparecem 19% das organizações brasileiras e 18% das mundiais, e na ‘otimizado’, em que os processos são continuamente melhorados por meio de soluções inovadoras e tecnológicas, se encontra a mesma porcentagem no Brasil e no exterior: 5%.

O processo para passar da fase inicial à otimização costuma durar de seis meses a um ano e envolve a criação de uma cultura na empresa e dos processos de gestão. É preciso conhecer e discutir claramente a estratégia, definir o apetite a riscos na relação com terceiros, estabelecer parâmetros claros e objetivos desses riscos e garantir uma supervisão adequada desse relacionamento, com monitoramento e reporte. “São relações que constroem um papel alinhado das organizações”, comenta Borges.

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A utilização de soluções tecnológicas, como o uso de plataformas e aplicativos, ajuda nesse trabalho e permite até um monitoramento em tempo real,. Essa é a atitude mais visada para melhorar a gestão de terceiros em 2023 tanto no Brasil (78% das empresas) quanto no exterior (61%). Outras melhorias previstas são revisar os objetivos de negócios para melhorar o alinhamento (62% no Brasil, 44% no exterior), melhorar a visibilidade de contratos e dados (56% no Brasil, 45% no exterior), introduzir um grau mais alto de controle (52% no Brasil, 47% no exterior) e fortalecer os processos de gestão e reconhecimento (51% no Brasil, 43% no exterior).

Outras formas de construir essa relação com os terceiros são fortalecer a convergência de culturas por meio do exemplo, em uma agenda positiva através de propósitos. Outra é compartilhar experiências de mercado, e uma terceira é estabelecer processos mínimos ou mesmo ensinar fornecedores de forma direta, por exemplo. “É um processo que avança rapidamente, se torna estratégico e tem trazido uma contribuição relevante na construção das relações comerciais. Esse caminhar junto, em busca de confiança e transparência, é o que hoje todo mundo busca”, analisa o especialista.

Empresas brasileiras enfrentaram problemas com gargalos na cadeia de suprimentos global em 2022 Foto: José Patrício / Estadão
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Cadeias de suprimentos globais

A pesquisa também apontou que as companhias brasileiras consideram ter menos capacidade de gerir contingências relacionadas a problemas nas cadeias de suprimento globais - apenas 17% disseram ter alta capacidade para tal, enquanto a média mundial ficou em 36%. A situação pode ter ficado clara após interrupções geradas pela guerra na Ucrânia e pelos lockdowns na China, que afetaram diversos setores, desde commodities como petróleo e trigo à falta de chips e componentes eletrônicos para carros e computadores.

Outro dado no qual as organizações brasileiras diferiram foi sobre quais terceiros geram riscos. A resposta mais comum no Brasil foram os franqueados com 61%, enquanto estes aparecem na média global com apenas 31%. Revendedores também estão mais presentes nas respostas do Brasil - 29%, comparado a 17% no mundial. Considerando a média em todas as nações, os relacionamentos mais arriscados foram os que permitem a geração de receita (38%, ante 21% no Brasil), prestadores de serviços no exterior (33%, contra 14% no País) e prestadores de serviço nacionais (30%, contra 23% aqui).

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A razão para seria a preocupação de que franqueados e revendedores sejam utilizados para casos de corrupção e lavagem de dinheiro - embora não afetem a entrega final e a qualidade dos produtos, geram um risco reputacional, e nenhuma empresa gosta de estar envolvida em páginas policiais. Por isso, o monitoramento por parte das matrizes se faz necessário.

Uma pesquisa da consultoria Deloitte, revelada com exclusividade ao Estadão, avaliou como as empresas brasileiras se relacionam com terceiros, sejam fornecedores, clientes, prestadores de serviço ou outras partes envolvidas no negócio. A edição 2022 do Third Party Risk Management (Gerenciamento de Riscos de Terceiros, em tradução livre), ou TRPM na sigla em inglês, foi realizada a nível global e apontou diferenças entre as visões das companhias brasileiras e estrangeiras quanto ao tema, além de indicar possíveis caminhos de melhoras nessa relação.

A governança de riscos dos terceiros se torna fundamental para as companhias por elas terem se tornado uma questão de propósito, na qual as organizações procuram interagir com outras que tenham as mesmas visões que as delas. A busca se torna por conhecer e estruturar essas relações para evitar possíveis problemas não só em termos de reputação, que pode afetar a obtenção de crédito ou as imagens junto aos clientes, mas também pela governança interna e garantia de estarem alinhadas às ideias e planejamento estratégico.

No entanto, diversas questões se interpõem nessa busca pelo conhecimento das operações dos terceiros. Empresas maiores buscam informações em documentos como demonstrações financeiras e auditorias externas para avaliar os riscos de continuidade dos negócios; algumas também aplicam questionários. Dentro disso, um problema é que as informações qualitativas podem não ser harmônicas e padronizadas. “Cada empresa pede dados de um jeito, diferentes umas das outras”, comenta Alex Borges, sócio da área de advisory risk e líder de risco estratégico da Deloitte. Assim, um consolidador de informações pode ser necessário, para que a informação seja única.

A avaliação de riscos ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) das empresas pode melhorar tanto no Brasil quanto no mundo. De acordo com o TRPM 2022, apenas 5% das empresas brasileiras e 6% das globais possuem processos considerados maduros para priorização de dimensões de risco ESG, o considerado mais adequado. 41% no Brasil e no mundo possuem abordagens sobre o tema; 37% no Brasil e 35% no mundo possuem avaliações com base em julgamentos de especialistas; e, por fim, 17% e 18% contam com métodos quantitativos que levam em conta informações internas e externas. De acordo com Borges, os riscos ligados à pauta ESG ainda não são tão levados em conta. “Em questões reputacionais, como a corrupção, já se é bastante cobrado, até por legislação. Outra, é se a matéria-prima veio de áreas não aprovadas”, diz o especialista.

Sinal de alerta

Outros dados relativos ao ESG trazidos pela Deloitte apontam que 42% das empresas no Brasil e 49% no mundo têm mecanismos formais para monitorar mudanças internas e externas que exijam a revisão de riscos relacionados. Entre as empresas brasileiras, as principais dimensões contempladas no tema são investimento responsável (80%), riscos trabalhistas (78%), falta de alinhamento com stakeholders (73%), responsabilidade de produto (66%), poluição e tratamento de lixo (53%) e igualdade de oportunidades (50%).

Um ponto a ser avaliado é como as organizações podem gerenciar após encontrarem algum sinal de alerta. A dúvida é se o relacionamento pode ser mantido, enquanto se exige um processo de aprimoramento com recomendações de melhorias robustas, ou se deve-se cortar as relações. Algumas optam por controlar totalmente a cadeia produtiva. “É necessário ter uma visão clara do apetite alinhado a risco para a estratégia do negócio, saber de quem está comprando e para quem está vendendo”, recomenda Borges.

A periodicidade ao avaliar os terceiros e quais são as informações mínimas necessárias também são fatores a serem considerados com antecedência na hora de montar a estratégia de governança, porque os custos de supervisão são altos, principalmente para terceiros de alto risco - neste caso, é necessário manter um ambiente controlável para gerir. “As empresas estão evoluindo, numa jornada de quais são os procedimentos de monitoramento”, afirma o sócio da Deloitte.

Matérias-primas vindas de áreas de proteção ambiental acendem "alerta vermelho" na gestão de fornecedores Foto: Gabriela Biló / Estadão

Nessa jornada, a maioria ainda está em fase inicial de integração, que a pesquisa indica que deve contar com processos concentrados nas áreas de gestão de riscos e endereçados por demanda. No Brasil, 47% das companhias estão neste estágio, ante 32% de média global. Outros 29% estão “em curso”, ou seja, em alinhamento de processos específicos para o acompanhamento de terceiros (no mundo, são 45%). Na categoria ‘integrado’, aparecem 19% das organizações brasileiras e 18% das mundiais, e na ‘otimizado’, em que os processos são continuamente melhorados por meio de soluções inovadoras e tecnológicas, se encontra a mesma porcentagem no Brasil e no exterior: 5%.

O processo para passar da fase inicial à otimização costuma durar de seis meses a um ano e envolve a criação de uma cultura na empresa e dos processos de gestão. É preciso conhecer e discutir claramente a estratégia, definir o apetite a riscos na relação com terceiros, estabelecer parâmetros claros e objetivos desses riscos e garantir uma supervisão adequada desse relacionamento, com monitoramento e reporte. “São relações que constroem um papel alinhado das organizações”, comenta Borges.

A utilização de soluções tecnológicas, como o uso de plataformas e aplicativos, ajuda nesse trabalho e permite até um monitoramento em tempo real,. Essa é a atitude mais visada para melhorar a gestão de terceiros em 2023 tanto no Brasil (78% das empresas) quanto no exterior (61%). Outras melhorias previstas são revisar os objetivos de negócios para melhorar o alinhamento (62% no Brasil, 44% no exterior), melhorar a visibilidade de contratos e dados (56% no Brasil, 45% no exterior), introduzir um grau mais alto de controle (52% no Brasil, 47% no exterior) e fortalecer os processos de gestão e reconhecimento (51% no Brasil, 43% no exterior).

Outras formas de construir essa relação com os terceiros são fortalecer a convergência de culturas por meio do exemplo, em uma agenda positiva através de propósitos. Outra é compartilhar experiências de mercado, e uma terceira é estabelecer processos mínimos ou mesmo ensinar fornecedores de forma direta, por exemplo. “É um processo que avança rapidamente, se torna estratégico e tem trazido uma contribuição relevante na construção das relações comerciais. Esse caminhar junto, em busca de confiança e transparência, é o que hoje todo mundo busca”, analisa o especialista.

Empresas brasileiras enfrentaram problemas com gargalos na cadeia de suprimentos global em 2022 Foto: José Patrício / Estadão

Cadeias de suprimentos globais

A pesquisa também apontou que as companhias brasileiras consideram ter menos capacidade de gerir contingências relacionadas a problemas nas cadeias de suprimento globais - apenas 17% disseram ter alta capacidade para tal, enquanto a média mundial ficou em 36%. A situação pode ter ficado clara após interrupções geradas pela guerra na Ucrânia e pelos lockdowns na China, que afetaram diversos setores, desde commodities como petróleo e trigo à falta de chips e componentes eletrônicos para carros e computadores.

Outro dado no qual as organizações brasileiras diferiram foi sobre quais terceiros geram riscos. A resposta mais comum no Brasil foram os franqueados com 61%, enquanto estes aparecem na média global com apenas 31%. Revendedores também estão mais presentes nas respostas do Brasil - 29%, comparado a 17% no mundial. Considerando a média em todas as nações, os relacionamentos mais arriscados foram os que permitem a geração de receita (38%, ante 21% no Brasil), prestadores de serviços no exterior (33%, contra 14% no País) e prestadores de serviço nacionais (30%, contra 23% aqui).

A razão para seria a preocupação de que franqueados e revendedores sejam utilizados para casos de corrupção e lavagem de dinheiro - embora não afetem a entrega final e a qualidade dos produtos, geram um risco reputacional, e nenhuma empresa gosta de estar envolvida em páginas policiais. Por isso, o monitoramento por parte das matrizes se faz necessário.

Uma pesquisa da consultoria Deloitte, revelada com exclusividade ao Estadão, avaliou como as empresas brasileiras se relacionam com terceiros, sejam fornecedores, clientes, prestadores de serviço ou outras partes envolvidas no negócio. A edição 2022 do Third Party Risk Management (Gerenciamento de Riscos de Terceiros, em tradução livre), ou TRPM na sigla em inglês, foi realizada a nível global e apontou diferenças entre as visões das companhias brasileiras e estrangeiras quanto ao tema, além de indicar possíveis caminhos de melhoras nessa relação.

A governança de riscos dos terceiros se torna fundamental para as companhias por elas terem se tornado uma questão de propósito, na qual as organizações procuram interagir com outras que tenham as mesmas visões que as delas. A busca se torna por conhecer e estruturar essas relações para evitar possíveis problemas não só em termos de reputação, que pode afetar a obtenção de crédito ou as imagens junto aos clientes, mas também pela governança interna e garantia de estarem alinhadas às ideias e planejamento estratégico.

No entanto, diversas questões se interpõem nessa busca pelo conhecimento das operações dos terceiros. Empresas maiores buscam informações em documentos como demonstrações financeiras e auditorias externas para avaliar os riscos de continuidade dos negócios; algumas também aplicam questionários. Dentro disso, um problema é que as informações qualitativas podem não ser harmônicas e padronizadas. “Cada empresa pede dados de um jeito, diferentes umas das outras”, comenta Alex Borges, sócio da área de advisory risk e líder de risco estratégico da Deloitte. Assim, um consolidador de informações pode ser necessário, para que a informação seja única.

A avaliação de riscos ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) das empresas pode melhorar tanto no Brasil quanto no mundo. De acordo com o TRPM 2022, apenas 5% das empresas brasileiras e 6% das globais possuem processos considerados maduros para priorização de dimensões de risco ESG, o considerado mais adequado. 41% no Brasil e no mundo possuem abordagens sobre o tema; 37% no Brasil e 35% no mundo possuem avaliações com base em julgamentos de especialistas; e, por fim, 17% e 18% contam com métodos quantitativos que levam em conta informações internas e externas. De acordo com Borges, os riscos ligados à pauta ESG ainda não são tão levados em conta. “Em questões reputacionais, como a corrupção, já se é bastante cobrado, até por legislação. Outra, é se a matéria-prima veio de áreas não aprovadas”, diz o especialista.

Sinal de alerta

Outros dados relativos ao ESG trazidos pela Deloitte apontam que 42% das empresas no Brasil e 49% no mundo têm mecanismos formais para monitorar mudanças internas e externas que exijam a revisão de riscos relacionados. Entre as empresas brasileiras, as principais dimensões contempladas no tema são investimento responsável (80%), riscos trabalhistas (78%), falta de alinhamento com stakeholders (73%), responsabilidade de produto (66%), poluição e tratamento de lixo (53%) e igualdade de oportunidades (50%).

Um ponto a ser avaliado é como as organizações podem gerenciar após encontrarem algum sinal de alerta. A dúvida é se o relacionamento pode ser mantido, enquanto se exige um processo de aprimoramento com recomendações de melhorias robustas, ou se deve-se cortar as relações. Algumas optam por controlar totalmente a cadeia produtiva. “É necessário ter uma visão clara do apetite alinhado a risco para a estratégia do negócio, saber de quem está comprando e para quem está vendendo”, recomenda Borges.

A periodicidade ao avaliar os terceiros e quais são as informações mínimas necessárias também são fatores a serem considerados com antecedência na hora de montar a estratégia de governança, porque os custos de supervisão são altos, principalmente para terceiros de alto risco - neste caso, é necessário manter um ambiente controlável para gerir. “As empresas estão evoluindo, numa jornada de quais são os procedimentos de monitoramento”, afirma o sócio da Deloitte.

Matérias-primas vindas de áreas de proteção ambiental acendem "alerta vermelho" na gestão de fornecedores Foto: Gabriela Biló / Estadão

Nessa jornada, a maioria ainda está em fase inicial de integração, que a pesquisa indica que deve contar com processos concentrados nas áreas de gestão de riscos e endereçados por demanda. No Brasil, 47% das companhias estão neste estágio, ante 32% de média global. Outros 29% estão “em curso”, ou seja, em alinhamento de processos específicos para o acompanhamento de terceiros (no mundo, são 45%). Na categoria ‘integrado’, aparecem 19% das organizações brasileiras e 18% das mundiais, e na ‘otimizado’, em que os processos são continuamente melhorados por meio de soluções inovadoras e tecnológicas, se encontra a mesma porcentagem no Brasil e no exterior: 5%.

O processo para passar da fase inicial à otimização costuma durar de seis meses a um ano e envolve a criação de uma cultura na empresa e dos processos de gestão. É preciso conhecer e discutir claramente a estratégia, definir o apetite a riscos na relação com terceiros, estabelecer parâmetros claros e objetivos desses riscos e garantir uma supervisão adequada desse relacionamento, com monitoramento e reporte. “São relações que constroem um papel alinhado das organizações”, comenta Borges.

A utilização de soluções tecnológicas, como o uso de plataformas e aplicativos, ajuda nesse trabalho e permite até um monitoramento em tempo real,. Essa é a atitude mais visada para melhorar a gestão de terceiros em 2023 tanto no Brasil (78% das empresas) quanto no exterior (61%). Outras melhorias previstas são revisar os objetivos de negócios para melhorar o alinhamento (62% no Brasil, 44% no exterior), melhorar a visibilidade de contratos e dados (56% no Brasil, 45% no exterior), introduzir um grau mais alto de controle (52% no Brasil, 47% no exterior) e fortalecer os processos de gestão e reconhecimento (51% no Brasil, 43% no exterior).

Outras formas de construir essa relação com os terceiros são fortalecer a convergência de culturas por meio do exemplo, em uma agenda positiva através de propósitos. Outra é compartilhar experiências de mercado, e uma terceira é estabelecer processos mínimos ou mesmo ensinar fornecedores de forma direta, por exemplo. “É um processo que avança rapidamente, se torna estratégico e tem trazido uma contribuição relevante na construção das relações comerciais. Esse caminhar junto, em busca de confiança e transparência, é o que hoje todo mundo busca”, analisa o especialista.

Empresas brasileiras enfrentaram problemas com gargalos na cadeia de suprimentos global em 2022 Foto: José Patrício / Estadão

Cadeias de suprimentos globais

A pesquisa também apontou que as companhias brasileiras consideram ter menos capacidade de gerir contingências relacionadas a problemas nas cadeias de suprimento globais - apenas 17% disseram ter alta capacidade para tal, enquanto a média mundial ficou em 36%. A situação pode ter ficado clara após interrupções geradas pela guerra na Ucrânia e pelos lockdowns na China, que afetaram diversos setores, desde commodities como petróleo e trigo à falta de chips e componentes eletrônicos para carros e computadores.

Outro dado no qual as organizações brasileiras diferiram foi sobre quais terceiros geram riscos. A resposta mais comum no Brasil foram os franqueados com 61%, enquanto estes aparecem na média global com apenas 31%. Revendedores também estão mais presentes nas respostas do Brasil - 29%, comparado a 17% no mundial. Considerando a média em todas as nações, os relacionamentos mais arriscados foram os que permitem a geração de receita (38%, ante 21% no Brasil), prestadores de serviços no exterior (33%, contra 14% no País) e prestadores de serviço nacionais (30%, contra 23% aqui).

A razão para seria a preocupação de que franqueados e revendedores sejam utilizados para casos de corrupção e lavagem de dinheiro - embora não afetem a entrega final e a qualidade dos produtos, geram um risco reputacional, e nenhuma empresa gosta de estar envolvida em páginas policiais. Por isso, o monitoramento por parte das matrizes se faz necessário.

Uma pesquisa da consultoria Deloitte, revelada com exclusividade ao Estadão, avaliou como as empresas brasileiras se relacionam com terceiros, sejam fornecedores, clientes, prestadores de serviço ou outras partes envolvidas no negócio. A edição 2022 do Third Party Risk Management (Gerenciamento de Riscos de Terceiros, em tradução livre), ou TRPM na sigla em inglês, foi realizada a nível global e apontou diferenças entre as visões das companhias brasileiras e estrangeiras quanto ao tema, além de indicar possíveis caminhos de melhoras nessa relação.

A governança de riscos dos terceiros se torna fundamental para as companhias por elas terem se tornado uma questão de propósito, na qual as organizações procuram interagir com outras que tenham as mesmas visões que as delas. A busca se torna por conhecer e estruturar essas relações para evitar possíveis problemas não só em termos de reputação, que pode afetar a obtenção de crédito ou as imagens junto aos clientes, mas também pela governança interna e garantia de estarem alinhadas às ideias e planejamento estratégico.

No entanto, diversas questões se interpõem nessa busca pelo conhecimento das operações dos terceiros. Empresas maiores buscam informações em documentos como demonstrações financeiras e auditorias externas para avaliar os riscos de continuidade dos negócios; algumas também aplicam questionários. Dentro disso, um problema é que as informações qualitativas podem não ser harmônicas e padronizadas. “Cada empresa pede dados de um jeito, diferentes umas das outras”, comenta Alex Borges, sócio da área de advisory risk e líder de risco estratégico da Deloitte. Assim, um consolidador de informações pode ser necessário, para que a informação seja única.

A avaliação de riscos ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) das empresas pode melhorar tanto no Brasil quanto no mundo. De acordo com o TRPM 2022, apenas 5% das empresas brasileiras e 6% das globais possuem processos considerados maduros para priorização de dimensões de risco ESG, o considerado mais adequado. 41% no Brasil e no mundo possuem abordagens sobre o tema; 37% no Brasil e 35% no mundo possuem avaliações com base em julgamentos de especialistas; e, por fim, 17% e 18% contam com métodos quantitativos que levam em conta informações internas e externas. De acordo com Borges, os riscos ligados à pauta ESG ainda não são tão levados em conta. “Em questões reputacionais, como a corrupção, já se é bastante cobrado, até por legislação. Outra, é se a matéria-prima veio de áreas não aprovadas”, diz o especialista.

Sinal de alerta

Outros dados relativos ao ESG trazidos pela Deloitte apontam que 42% das empresas no Brasil e 49% no mundo têm mecanismos formais para monitorar mudanças internas e externas que exijam a revisão de riscos relacionados. Entre as empresas brasileiras, as principais dimensões contempladas no tema são investimento responsável (80%), riscos trabalhistas (78%), falta de alinhamento com stakeholders (73%), responsabilidade de produto (66%), poluição e tratamento de lixo (53%) e igualdade de oportunidades (50%).

Um ponto a ser avaliado é como as organizações podem gerenciar após encontrarem algum sinal de alerta. A dúvida é se o relacionamento pode ser mantido, enquanto se exige um processo de aprimoramento com recomendações de melhorias robustas, ou se deve-se cortar as relações. Algumas optam por controlar totalmente a cadeia produtiva. “É necessário ter uma visão clara do apetite alinhado a risco para a estratégia do negócio, saber de quem está comprando e para quem está vendendo”, recomenda Borges.

A periodicidade ao avaliar os terceiros e quais são as informações mínimas necessárias também são fatores a serem considerados com antecedência na hora de montar a estratégia de governança, porque os custos de supervisão são altos, principalmente para terceiros de alto risco - neste caso, é necessário manter um ambiente controlável para gerir. “As empresas estão evoluindo, numa jornada de quais são os procedimentos de monitoramento”, afirma o sócio da Deloitte.

Matérias-primas vindas de áreas de proteção ambiental acendem "alerta vermelho" na gestão de fornecedores Foto: Gabriela Biló / Estadão

Nessa jornada, a maioria ainda está em fase inicial de integração, que a pesquisa indica que deve contar com processos concentrados nas áreas de gestão de riscos e endereçados por demanda. No Brasil, 47% das companhias estão neste estágio, ante 32% de média global. Outros 29% estão “em curso”, ou seja, em alinhamento de processos específicos para o acompanhamento de terceiros (no mundo, são 45%). Na categoria ‘integrado’, aparecem 19% das organizações brasileiras e 18% das mundiais, e na ‘otimizado’, em que os processos são continuamente melhorados por meio de soluções inovadoras e tecnológicas, se encontra a mesma porcentagem no Brasil e no exterior: 5%.

O processo para passar da fase inicial à otimização costuma durar de seis meses a um ano e envolve a criação de uma cultura na empresa e dos processos de gestão. É preciso conhecer e discutir claramente a estratégia, definir o apetite a riscos na relação com terceiros, estabelecer parâmetros claros e objetivos desses riscos e garantir uma supervisão adequada desse relacionamento, com monitoramento e reporte. “São relações que constroem um papel alinhado das organizações”, comenta Borges.

A utilização de soluções tecnológicas, como o uso de plataformas e aplicativos, ajuda nesse trabalho e permite até um monitoramento em tempo real,. Essa é a atitude mais visada para melhorar a gestão de terceiros em 2023 tanto no Brasil (78% das empresas) quanto no exterior (61%). Outras melhorias previstas são revisar os objetivos de negócios para melhorar o alinhamento (62% no Brasil, 44% no exterior), melhorar a visibilidade de contratos e dados (56% no Brasil, 45% no exterior), introduzir um grau mais alto de controle (52% no Brasil, 47% no exterior) e fortalecer os processos de gestão e reconhecimento (51% no Brasil, 43% no exterior).

Outras formas de construir essa relação com os terceiros são fortalecer a convergência de culturas por meio do exemplo, em uma agenda positiva através de propósitos. Outra é compartilhar experiências de mercado, e uma terceira é estabelecer processos mínimos ou mesmo ensinar fornecedores de forma direta, por exemplo. “É um processo que avança rapidamente, se torna estratégico e tem trazido uma contribuição relevante na construção das relações comerciais. Esse caminhar junto, em busca de confiança e transparência, é o que hoje todo mundo busca”, analisa o especialista.

Empresas brasileiras enfrentaram problemas com gargalos na cadeia de suprimentos global em 2022 Foto: José Patrício / Estadão

Cadeias de suprimentos globais

A pesquisa também apontou que as companhias brasileiras consideram ter menos capacidade de gerir contingências relacionadas a problemas nas cadeias de suprimento globais - apenas 17% disseram ter alta capacidade para tal, enquanto a média mundial ficou em 36%. A situação pode ter ficado clara após interrupções geradas pela guerra na Ucrânia e pelos lockdowns na China, que afetaram diversos setores, desde commodities como petróleo e trigo à falta de chips e componentes eletrônicos para carros e computadores.

Outro dado no qual as organizações brasileiras diferiram foi sobre quais terceiros geram riscos. A resposta mais comum no Brasil foram os franqueados com 61%, enquanto estes aparecem na média global com apenas 31%. Revendedores também estão mais presentes nas respostas do Brasil - 29%, comparado a 17% no mundial. Considerando a média em todas as nações, os relacionamentos mais arriscados foram os que permitem a geração de receita (38%, ante 21% no Brasil), prestadores de serviços no exterior (33%, contra 14% no País) e prestadores de serviço nacionais (30%, contra 23% aqui).

A razão para seria a preocupação de que franqueados e revendedores sejam utilizados para casos de corrupção e lavagem de dinheiro - embora não afetem a entrega final e a qualidade dos produtos, geram um risco reputacional, e nenhuma empresa gosta de estar envolvida em páginas policiais. Por isso, o monitoramento por parte das matrizes se faz necessário.

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