‘Títulos verdes’ serão uma das principais estratégias das empresas no Brasil para ESG, mostra estudo


Levantamento do Insper e da Assetz com diretores financeiros do País aponta que emissão de ‘green bonds’ e ‘sustainability bonds’ será o segundo principal foco da área financeira nos próximos anos para agenda verde

Por Shagaly Ferreira
Atualização:

Mais do que planejar investimentos voltados para operações sustentáveis nos negócios, os diretores financeiros (CFOs, na sigla em inglês) das empresas no Brasil pretendem adotar estratégias da “agenda verde” para captação de recursos. A emissão de títulos de dívida “verdes”, como green bonds e sustainability bonds, é citada como a segunda maior prioridade desses executivos nos próximos anos. A iniciativa aparece entre os principais focos da área financeira dentro de iniciativas voltadas ao meio ambiente.

De acordo com a 4.ª edição da pesquisa “O Perfil do CFO no Brasil”, elaborada pelo Insper e pela consultoria Assetz e lançada no mês passado, a emissão desses títulos aparece à frente de prioridades de investimento em economia circular; em energia limpa e renovável; em redução de emissões de carbono; e em projetos de preservação da biodiversidade, respectivamente.

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Estudo mostra que área financeira das empresas devem priorizar captação de recursos por meio da emissão de títulos verdes Foto: Clayton de Souza/Estadão

O foco na futura captação de recursos via títulos verdes só perde para o tema da criação/implementação de políticas ambientais e acompanhamento de seus indicadores de sustentabilidade, eleita em primeiro lugar nas prioridades dos diretores financeiros. A maior parte deles faz parte de empresas de capital aberto e atua em setores como indústria, serviços, infraestrutura, energia e construção.

Para o sócio-fundador da Assetz, Felipe Brunieri, cada vez mais o apetite dos investidores está se voltando para as empresas que priorizam o meio ambiente. Esse ponto, segundo ele, é um dos fatores que explicam a inclinação dos diretores financeiros para as emissões de títulos verdes como uma das principais estratégias da agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança).

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“Com o interesse dos investidores para esses títulos, o caminho natural do CFO, que é o responsável por emitir uma dívida no mercado de capitais, é atrelar essa dívida à sustentabilidade e ao meio ambiente”, diz. “Apesar de ser relativamente nova, essa é uma vertente que é uma bola de segurança para esse profissional, para que a empresa, de fato, promova sustentabilidade, impactando o mercado financeiro como um todo.”

Além disso, o pesquisador do Insper Osvaldo Ignácio Baptista acrescenta que a emissão de green bonds colabora para preencher uma lacuna na dificuldade das empresas em receber investimentos de private equity (investimento privado em empresas mais estabelecidas) e de venture capital (investimento considerado mais de risco, em empresas mais novas). Ele ressalta que, segundo a pesquisa, 78% das companhias representadas pelos entrevistados não recebem aportes relevantes nas duas modalidades.

Emissões de papéis verdes no mercado

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Conforme o “Guia para Emissão de Títulos Verdes no Brasil”, da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), os green bonds se caracterizam por serem títulos de renda fixa voltados para captação de recursos financeiros com foco no financiamento de projetos sustentáveis. Esses títulos podem assumir variados formatos como: Cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC); Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA); Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI); Debêntures; Debêntures incentivadas de infraestrutura; Letras Financeiras e Notas Promissórias.

Ao emitir os papéis, a companhia recebe os valores necessários para financiamento de ações de impacto ambiental, como os voltados para transição energética e descarbonização, por exemplo, e se compromete a devolver a quantia acrescida de juros em um prazo determinado aos investidores.

O instrumento já tem sido utilizado por CFOs de empresas brasileiras para financiar os projetos ambientais das organizações. Há duas semanas, o diretor financeiro da Raízen, Carlos Alberto Bezerra de Moura, assinou um comunicado ao mercado informando a captação de US$ 1 bilhão pela subsidiária da companhia Raízen Fuels Finance S/A em títulos de dívida verdes nos Estados Unidos.

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A Raízen anunciou neste mês a captação de US$ 1 bilhão com títulos verdes Foto: Tulio Vidal/Raízen

Conforme o documento, as green notes (notas verdes) foram emitidas pela companhia de energia com vencimento em janeiro de 2035 e taxa de juros de 5,70% ao ano. “Os recursos líquidos captados por meio da emissão serão destinados para a liquidação de determinadas dívidas da companhia, gestão ordinária de seus negócios e realização de investimentos em projetos e ativos selecionados de acordo com o Green Financing Framework da companhia”, informou o executivo no comunicado.

Já a Natura fez sua mais recente emissão de títulos verdes em julho deste ano. A companhia emitiu debêntures no formato de sustainability-linked bonds (SLBs), no valor de R$ 1,32 bilhão, e informou ter recebido investimentos da International Finance Corporation (IFC) e do BID Invest, braço do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que contribuíram, respectivamente, com R$ 300 milhões e R$ 200 milhões na operação.

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Natura realizou emissão de debêntures verdes em julho de 2024 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Segundo a companhia, um dos principais compromissos de utilização do recurso será o desenvolvimento de bioingredientes amazônicos, expandindo o número dos 44 já desenvolvidos até agora para 49 até 2027. “O Brasil tem um potencial imenso para liderar globalmente este modelo de negócios que harmoniza geração de renda com conservação ambiental. A emissão é uma ferramenta poderosa para nos ajudar a alcançar esse objetivo de ampliar a bioeconomia”, afirmou a vice-presidente de Finanças e Estratégia da Natura, Silvia Vilas Boas, na ocasião das emissões.

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Para Brunieri, há ainda uma maturidade a ser alcançada pelo mercado brasileiro em relação à captação via títulos verdes, mas a preocupação crescente dos CFOs mostra que há uma preparação em curso. Além disso, outro aspecto otimista é que 92% dos diretores financeiros entrevistados relataram que suas empresas já estão implementando políticas robustas de ESG, mostrando que há um cenário favorável para o avanço da estratégia, que tende a ganhar mais solidez com apoio de instrumentos reguladores.

“No mercado brasileiro, as empresas de capital aberto, que respondem à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), estão se preparando cada vez mais para isso, em virtude das normas IFRS S1 e IFRS S2 (normas de sustentabilidade internacionais), que serão obrigatórias para reportar o que é feito por elas em relação à sustentabilidade. Então, as empresas estão percebendo que precisam se mexer em relação a esse tema, e com isso o mercado ficará mais maduro”, prevê o especialista.

Mais do que planejar investimentos voltados para operações sustentáveis nos negócios, os diretores financeiros (CFOs, na sigla em inglês) das empresas no Brasil pretendem adotar estratégias da “agenda verde” para captação de recursos. A emissão de títulos de dívida “verdes”, como green bonds e sustainability bonds, é citada como a segunda maior prioridade desses executivos nos próximos anos. A iniciativa aparece entre os principais focos da área financeira dentro de iniciativas voltadas ao meio ambiente.

De acordo com a 4.ª edição da pesquisa “O Perfil do CFO no Brasil”, elaborada pelo Insper e pela consultoria Assetz e lançada no mês passado, a emissão desses títulos aparece à frente de prioridades de investimento em economia circular; em energia limpa e renovável; em redução de emissões de carbono; e em projetos de preservação da biodiversidade, respectivamente.

Estudo mostra que área financeira das empresas devem priorizar captação de recursos por meio da emissão de títulos verdes Foto: Clayton de Souza/Estadão

O foco na futura captação de recursos via títulos verdes só perde para o tema da criação/implementação de políticas ambientais e acompanhamento de seus indicadores de sustentabilidade, eleita em primeiro lugar nas prioridades dos diretores financeiros. A maior parte deles faz parte de empresas de capital aberto e atua em setores como indústria, serviços, infraestrutura, energia e construção.

Para o sócio-fundador da Assetz, Felipe Brunieri, cada vez mais o apetite dos investidores está se voltando para as empresas que priorizam o meio ambiente. Esse ponto, segundo ele, é um dos fatores que explicam a inclinação dos diretores financeiros para as emissões de títulos verdes como uma das principais estratégias da agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança).

“Com o interesse dos investidores para esses títulos, o caminho natural do CFO, que é o responsável por emitir uma dívida no mercado de capitais, é atrelar essa dívida à sustentabilidade e ao meio ambiente”, diz. “Apesar de ser relativamente nova, essa é uma vertente que é uma bola de segurança para esse profissional, para que a empresa, de fato, promova sustentabilidade, impactando o mercado financeiro como um todo.”

Além disso, o pesquisador do Insper Osvaldo Ignácio Baptista acrescenta que a emissão de green bonds colabora para preencher uma lacuna na dificuldade das empresas em receber investimentos de private equity (investimento privado em empresas mais estabelecidas) e de venture capital (investimento considerado mais de risco, em empresas mais novas). Ele ressalta que, segundo a pesquisa, 78% das companhias representadas pelos entrevistados não recebem aportes relevantes nas duas modalidades.

Emissões de papéis verdes no mercado

Conforme o “Guia para Emissão de Títulos Verdes no Brasil”, da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), os green bonds se caracterizam por serem títulos de renda fixa voltados para captação de recursos financeiros com foco no financiamento de projetos sustentáveis. Esses títulos podem assumir variados formatos como: Cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC); Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA); Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI); Debêntures; Debêntures incentivadas de infraestrutura; Letras Financeiras e Notas Promissórias.

Ao emitir os papéis, a companhia recebe os valores necessários para financiamento de ações de impacto ambiental, como os voltados para transição energética e descarbonização, por exemplo, e se compromete a devolver a quantia acrescida de juros em um prazo determinado aos investidores.

O instrumento já tem sido utilizado por CFOs de empresas brasileiras para financiar os projetos ambientais das organizações. Há duas semanas, o diretor financeiro da Raízen, Carlos Alberto Bezerra de Moura, assinou um comunicado ao mercado informando a captação de US$ 1 bilhão pela subsidiária da companhia Raízen Fuels Finance S/A em títulos de dívida verdes nos Estados Unidos.

A Raízen anunciou neste mês a captação de US$ 1 bilhão com títulos verdes Foto: Tulio Vidal/Raízen

Conforme o documento, as green notes (notas verdes) foram emitidas pela companhia de energia com vencimento em janeiro de 2035 e taxa de juros de 5,70% ao ano. “Os recursos líquidos captados por meio da emissão serão destinados para a liquidação de determinadas dívidas da companhia, gestão ordinária de seus negócios e realização de investimentos em projetos e ativos selecionados de acordo com o Green Financing Framework da companhia”, informou o executivo no comunicado.

Já a Natura fez sua mais recente emissão de títulos verdes em julho deste ano. A companhia emitiu debêntures no formato de sustainability-linked bonds (SLBs), no valor de R$ 1,32 bilhão, e informou ter recebido investimentos da International Finance Corporation (IFC) e do BID Invest, braço do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que contribuíram, respectivamente, com R$ 300 milhões e R$ 200 milhões na operação.

Natura realizou emissão de debêntures verdes em julho de 2024 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Segundo a companhia, um dos principais compromissos de utilização do recurso será o desenvolvimento de bioingredientes amazônicos, expandindo o número dos 44 já desenvolvidos até agora para 49 até 2027. “O Brasil tem um potencial imenso para liderar globalmente este modelo de negócios que harmoniza geração de renda com conservação ambiental. A emissão é uma ferramenta poderosa para nos ajudar a alcançar esse objetivo de ampliar a bioeconomia”, afirmou a vice-presidente de Finanças e Estratégia da Natura, Silvia Vilas Boas, na ocasião das emissões.

Para Brunieri, há ainda uma maturidade a ser alcançada pelo mercado brasileiro em relação à captação via títulos verdes, mas a preocupação crescente dos CFOs mostra que há uma preparação em curso. Além disso, outro aspecto otimista é que 92% dos diretores financeiros entrevistados relataram que suas empresas já estão implementando políticas robustas de ESG, mostrando que há um cenário favorável para o avanço da estratégia, que tende a ganhar mais solidez com apoio de instrumentos reguladores.

“No mercado brasileiro, as empresas de capital aberto, que respondem à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), estão se preparando cada vez mais para isso, em virtude das normas IFRS S1 e IFRS S2 (normas de sustentabilidade internacionais), que serão obrigatórias para reportar o que é feito por elas em relação à sustentabilidade. Então, as empresas estão percebendo que precisam se mexer em relação a esse tema, e com isso o mercado ficará mais maduro”, prevê o especialista.

Mais do que planejar investimentos voltados para operações sustentáveis nos negócios, os diretores financeiros (CFOs, na sigla em inglês) das empresas no Brasil pretendem adotar estratégias da “agenda verde” para captação de recursos. A emissão de títulos de dívida “verdes”, como green bonds e sustainability bonds, é citada como a segunda maior prioridade desses executivos nos próximos anos. A iniciativa aparece entre os principais focos da área financeira dentro de iniciativas voltadas ao meio ambiente.

De acordo com a 4.ª edição da pesquisa “O Perfil do CFO no Brasil”, elaborada pelo Insper e pela consultoria Assetz e lançada no mês passado, a emissão desses títulos aparece à frente de prioridades de investimento em economia circular; em energia limpa e renovável; em redução de emissões de carbono; e em projetos de preservação da biodiversidade, respectivamente.

Estudo mostra que área financeira das empresas devem priorizar captação de recursos por meio da emissão de títulos verdes Foto: Clayton de Souza/Estadão

O foco na futura captação de recursos via títulos verdes só perde para o tema da criação/implementação de políticas ambientais e acompanhamento de seus indicadores de sustentabilidade, eleita em primeiro lugar nas prioridades dos diretores financeiros. A maior parte deles faz parte de empresas de capital aberto e atua em setores como indústria, serviços, infraestrutura, energia e construção.

Para o sócio-fundador da Assetz, Felipe Brunieri, cada vez mais o apetite dos investidores está se voltando para as empresas que priorizam o meio ambiente. Esse ponto, segundo ele, é um dos fatores que explicam a inclinação dos diretores financeiros para as emissões de títulos verdes como uma das principais estratégias da agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança).

“Com o interesse dos investidores para esses títulos, o caminho natural do CFO, que é o responsável por emitir uma dívida no mercado de capitais, é atrelar essa dívida à sustentabilidade e ao meio ambiente”, diz. “Apesar de ser relativamente nova, essa é uma vertente que é uma bola de segurança para esse profissional, para que a empresa, de fato, promova sustentabilidade, impactando o mercado financeiro como um todo.”

Além disso, o pesquisador do Insper Osvaldo Ignácio Baptista acrescenta que a emissão de green bonds colabora para preencher uma lacuna na dificuldade das empresas em receber investimentos de private equity (investimento privado em empresas mais estabelecidas) e de venture capital (investimento considerado mais de risco, em empresas mais novas). Ele ressalta que, segundo a pesquisa, 78% das companhias representadas pelos entrevistados não recebem aportes relevantes nas duas modalidades.

Emissões de papéis verdes no mercado

Conforme o “Guia para Emissão de Títulos Verdes no Brasil”, da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), os green bonds se caracterizam por serem títulos de renda fixa voltados para captação de recursos financeiros com foco no financiamento de projetos sustentáveis. Esses títulos podem assumir variados formatos como: Cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC); Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA); Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI); Debêntures; Debêntures incentivadas de infraestrutura; Letras Financeiras e Notas Promissórias.

Ao emitir os papéis, a companhia recebe os valores necessários para financiamento de ações de impacto ambiental, como os voltados para transição energética e descarbonização, por exemplo, e se compromete a devolver a quantia acrescida de juros em um prazo determinado aos investidores.

O instrumento já tem sido utilizado por CFOs de empresas brasileiras para financiar os projetos ambientais das organizações. Há duas semanas, o diretor financeiro da Raízen, Carlos Alberto Bezerra de Moura, assinou um comunicado ao mercado informando a captação de US$ 1 bilhão pela subsidiária da companhia Raízen Fuels Finance S/A em títulos de dívida verdes nos Estados Unidos.

A Raízen anunciou neste mês a captação de US$ 1 bilhão com títulos verdes Foto: Tulio Vidal/Raízen

Conforme o documento, as green notes (notas verdes) foram emitidas pela companhia de energia com vencimento em janeiro de 2035 e taxa de juros de 5,70% ao ano. “Os recursos líquidos captados por meio da emissão serão destinados para a liquidação de determinadas dívidas da companhia, gestão ordinária de seus negócios e realização de investimentos em projetos e ativos selecionados de acordo com o Green Financing Framework da companhia”, informou o executivo no comunicado.

Já a Natura fez sua mais recente emissão de títulos verdes em julho deste ano. A companhia emitiu debêntures no formato de sustainability-linked bonds (SLBs), no valor de R$ 1,32 bilhão, e informou ter recebido investimentos da International Finance Corporation (IFC) e do BID Invest, braço do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que contribuíram, respectivamente, com R$ 300 milhões e R$ 200 milhões na operação.

Natura realizou emissão de debêntures verdes em julho de 2024 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Segundo a companhia, um dos principais compromissos de utilização do recurso será o desenvolvimento de bioingredientes amazônicos, expandindo o número dos 44 já desenvolvidos até agora para 49 até 2027. “O Brasil tem um potencial imenso para liderar globalmente este modelo de negócios que harmoniza geração de renda com conservação ambiental. A emissão é uma ferramenta poderosa para nos ajudar a alcançar esse objetivo de ampliar a bioeconomia”, afirmou a vice-presidente de Finanças e Estratégia da Natura, Silvia Vilas Boas, na ocasião das emissões.

Para Brunieri, há ainda uma maturidade a ser alcançada pelo mercado brasileiro em relação à captação via títulos verdes, mas a preocupação crescente dos CFOs mostra que há uma preparação em curso. Além disso, outro aspecto otimista é que 92% dos diretores financeiros entrevistados relataram que suas empresas já estão implementando políticas robustas de ESG, mostrando que há um cenário favorável para o avanço da estratégia, que tende a ganhar mais solidez com apoio de instrumentos reguladores.

“No mercado brasileiro, as empresas de capital aberto, que respondem à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), estão se preparando cada vez mais para isso, em virtude das normas IFRS S1 e IFRS S2 (normas de sustentabilidade internacionais), que serão obrigatórias para reportar o que é feito por elas em relação à sustentabilidade. Então, as empresas estão percebendo que precisam se mexer em relação a esse tema, e com isso o mercado ficará mais maduro”, prevê o especialista.

Mais do que planejar investimentos voltados para operações sustentáveis nos negócios, os diretores financeiros (CFOs, na sigla em inglês) das empresas no Brasil pretendem adotar estratégias da “agenda verde” para captação de recursos. A emissão de títulos de dívida “verdes”, como green bonds e sustainability bonds, é citada como a segunda maior prioridade desses executivos nos próximos anos. A iniciativa aparece entre os principais focos da área financeira dentro de iniciativas voltadas ao meio ambiente.

De acordo com a 4.ª edição da pesquisa “O Perfil do CFO no Brasil”, elaborada pelo Insper e pela consultoria Assetz e lançada no mês passado, a emissão desses títulos aparece à frente de prioridades de investimento em economia circular; em energia limpa e renovável; em redução de emissões de carbono; e em projetos de preservação da biodiversidade, respectivamente.

Estudo mostra que área financeira das empresas devem priorizar captação de recursos por meio da emissão de títulos verdes Foto: Clayton de Souza/Estadão

O foco na futura captação de recursos via títulos verdes só perde para o tema da criação/implementação de políticas ambientais e acompanhamento de seus indicadores de sustentabilidade, eleita em primeiro lugar nas prioridades dos diretores financeiros. A maior parte deles faz parte de empresas de capital aberto e atua em setores como indústria, serviços, infraestrutura, energia e construção.

Para o sócio-fundador da Assetz, Felipe Brunieri, cada vez mais o apetite dos investidores está se voltando para as empresas que priorizam o meio ambiente. Esse ponto, segundo ele, é um dos fatores que explicam a inclinação dos diretores financeiros para as emissões de títulos verdes como uma das principais estratégias da agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança).

“Com o interesse dos investidores para esses títulos, o caminho natural do CFO, que é o responsável por emitir uma dívida no mercado de capitais, é atrelar essa dívida à sustentabilidade e ao meio ambiente”, diz. “Apesar de ser relativamente nova, essa é uma vertente que é uma bola de segurança para esse profissional, para que a empresa, de fato, promova sustentabilidade, impactando o mercado financeiro como um todo.”

Além disso, o pesquisador do Insper Osvaldo Ignácio Baptista acrescenta que a emissão de green bonds colabora para preencher uma lacuna na dificuldade das empresas em receber investimentos de private equity (investimento privado em empresas mais estabelecidas) e de venture capital (investimento considerado mais de risco, em empresas mais novas). Ele ressalta que, segundo a pesquisa, 78% das companhias representadas pelos entrevistados não recebem aportes relevantes nas duas modalidades.

Emissões de papéis verdes no mercado

Conforme o “Guia para Emissão de Títulos Verdes no Brasil”, da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), os green bonds se caracterizam por serem títulos de renda fixa voltados para captação de recursos financeiros com foco no financiamento de projetos sustentáveis. Esses títulos podem assumir variados formatos como: Cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC); Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA); Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI); Debêntures; Debêntures incentivadas de infraestrutura; Letras Financeiras e Notas Promissórias.

Ao emitir os papéis, a companhia recebe os valores necessários para financiamento de ações de impacto ambiental, como os voltados para transição energética e descarbonização, por exemplo, e se compromete a devolver a quantia acrescida de juros em um prazo determinado aos investidores.

O instrumento já tem sido utilizado por CFOs de empresas brasileiras para financiar os projetos ambientais das organizações. Há duas semanas, o diretor financeiro da Raízen, Carlos Alberto Bezerra de Moura, assinou um comunicado ao mercado informando a captação de US$ 1 bilhão pela subsidiária da companhia Raízen Fuels Finance S/A em títulos de dívida verdes nos Estados Unidos.

A Raízen anunciou neste mês a captação de US$ 1 bilhão com títulos verdes Foto: Tulio Vidal/Raízen

Conforme o documento, as green notes (notas verdes) foram emitidas pela companhia de energia com vencimento em janeiro de 2035 e taxa de juros de 5,70% ao ano. “Os recursos líquidos captados por meio da emissão serão destinados para a liquidação de determinadas dívidas da companhia, gestão ordinária de seus negócios e realização de investimentos em projetos e ativos selecionados de acordo com o Green Financing Framework da companhia”, informou o executivo no comunicado.

Já a Natura fez sua mais recente emissão de títulos verdes em julho deste ano. A companhia emitiu debêntures no formato de sustainability-linked bonds (SLBs), no valor de R$ 1,32 bilhão, e informou ter recebido investimentos da International Finance Corporation (IFC) e do BID Invest, braço do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que contribuíram, respectivamente, com R$ 300 milhões e R$ 200 milhões na operação.

Natura realizou emissão de debêntures verdes em julho de 2024 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Segundo a companhia, um dos principais compromissos de utilização do recurso será o desenvolvimento de bioingredientes amazônicos, expandindo o número dos 44 já desenvolvidos até agora para 49 até 2027. “O Brasil tem um potencial imenso para liderar globalmente este modelo de negócios que harmoniza geração de renda com conservação ambiental. A emissão é uma ferramenta poderosa para nos ajudar a alcançar esse objetivo de ampliar a bioeconomia”, afirmou a vice-presidente de Finanças e Estratégia da Natura, Silvia Vilas Boas, na ocasião das emissões.

Para Brunieri, há ainda uma maturidade a ser alcançada pelo mercado brasileiro em relação à captação via títulos verdes, mas a preocupação crescente dos CFOs mostra que há uma preparação em curso. Além disso, outro aspecto otimista é que 92% dos diretores financeiros entrevistados relataram que suas empresas já estão implementando políticas robustas de ESG, mostrando que há um cenário favorável para o avanço da estratégia, que tende a ganhar mais solidez com apoio de instrumentos reguladores.

“No mercado brasileiro, as empresas de capital aberto, que respondem à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), estão se preparando cada vez mais para isso, em virtude das normas IFRS S1 e IFRS S2 (normas de sustentabilidade internacionais), que serão obrigatórias para reportar o que é feito por elas em relação à sustentabilidade. Então, as empresas estão percebendo que precisam se mexer em relação a esse tema, e com isso o mercado ficará mais maduro”, prevê o especialista.

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