‘Processo de transição energética está um pouco devagar em Brasília’, diz CEO da Saint-Gobain


Javier Gimeno, CEO para América Latina, destaca que houve muitos avanços, mas mudança efetiva na indústria privada só será feita com maior reforço governamental

Por Beatriz Capirazi
Foto: Jean Chiscano
Entrevista comJavier GimenoCEO da Saint-Gobain para América Latina

Embora a agenda de desenvolvimento verde seja uma das principais pautas das empresas e do governo Lula, o processo de transição energética no Brasil não está tão acelerado como deveria, na avaliação de Javier Gimeno, CEO da América Latina da fabricante de materiais de construção francesa Saint-Gobain.

“A ação do governo e as exigências dos consumidores finais deveriam ser um elemento de aceleração desse processo (de transição energética), que aqui em Brasília ainda fica um pouco devagar”, afirmou o executivo ao Estadão. Ele destacou que o governo já fez muito, mas é necessário fazer ainda mais.

Para Gimeno, a transição para uma economia de baixo carbono — que diminua as emissões de gases poluentes durante toda a produção — acontecerá inevitavelmente no Brasil e no setor de construção civil. A questão, no entanto, é se acontecerá em 20 anos, o que seria desejável, ou em 100 anos, o que “seria um problema para todos”.

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O porta-voz da empresa destaca que uma mudança efetiva em toda a cadeia da construção civil só será vista a partir do momento que o governo pressionar a indústria privada, possibilitando avanços mais rápidos através da “criação de novas legislações e regulamentações”.

Javier Gimeno, CEO para América Latina, destaca que houveram muitos avanços neste governo, mas que mudança só será feita com  Foto: Jean Chiscano

“Uma legislação nova para assegurar que os prédios antigos vão ser renovados e que os prédios novos vão ser construídos segundo padrões mais exigentes. Acho que isso seria algo que mudaria rapidamente o panorama brasileiro”, afirma.

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Abaixo, confira os principais trechos da entrevista:

Vários setores poluentes tem modificado as suas estratégias de negócio nos últimos anos, atrelando a sustentabilidade como um agregador de valor ao negócio. Essa mudança tem sido motivado por uma pressão da cadeia produtiva ou do próprio consumidor final?

Quando você analisa as emissões de CO2 no mundo, a construção civil representa quase 38% das emissões totais. Então essa responsabilidade do setor no problema é bem grande. Acho que a construção civil está mudando rapidamente e não tem um uma explicação única.

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Com certeza a pressão dos consumidores é bem importante, eles estão procurando produtos limpos, produtos respeitosos com o meio ambiente e as empresas estão sentindo essa demanda crescente de produtos verdes.

Para se adaptar, estão acelerando a produção desses produtos para ficar bem alinhados com as demandas. Mas além disso temos uma movimentação também muito importante no plano político e no plano internacional. Os governos tem adquirido um compromisso grande com a agenda ambiental e isso está ajudando.

A construção civil é por natureza conservadora e precisa de tempo para se adaptar. Mas se você olhar o crescimento das construções verdes é muito grande, e a taxa de penetração desse tipo está acelerando, o que quer dizer que a tendência para o longo prazo é muito positiva.

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Para a construção civil, a pressão da cadeia produtiva é um ponto relevante também?

Sim, claro. Mas eu acho que a tração começa pelo consumidor final e pelos governos. É muito importante que o governo avance mais rapidamente em novas legislações e regulamentações que vão favorecer a utilização de produtos verdes. Se essa tração dos consumidores finais existe e se os governos colocam movimentação no sistema, toda a cadeia produtiva e logística vai se adaptar rapidamente.

O terceiro mandato do Lula tem sido focado no desenvolvimento de uma economia verde, mas houve controvérsias com o PAC ter um grande investimento em petróleo e gás. Para o senhor, o que falta para ampliar essa agenda verde de fato nas empresas?

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O governo atual fica bem alinhado com os objetivos mundiais. Todos acreditamos que ainda tem bastante para fazer. Bastante foi feito, mas é preciso fazer mais. Eu não sou muito favorável a criação de impostos adicionais, mas essa ideia de desonerações fiscais ou tratamentos fiscais mais vantajosos para as empresas exemplares é uma boa coisa.

Para mim, o ponto mais importante é a entrada em vigor de uma nova legislação muito mais exigente em termos de transição energética, para que na construção civil os prédios novos sejam construídos de acordo com padrões internacionais, que já permitem reduzir de forma notável, quase até zero, as emissões de CO2. Isso é possível, depende da vontade do governo.

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Estou esperando também legislações novas para favorecer renovação dos prédios existentes que foram construídos com padrões completamente ultrapassados. Uma legislação nova para assegurar que os prédios antigos vão ser renovados e que os prédios novos vão ser construídos segundo padrões mais exigentes… Acho que isso seria algo que mudaria rapidamente o panorama brasileiro.

A Saint-Gobain anunciou em julho deste ano que substituiria o gás natural por biometano, um gás livre de carbono, em suas usinas no Brasil. Existe um debate entre os especialistas do setor, que enxergam o biometano como um combustível de transição. Para a Saint-Gobain, sua implementação é transitória?

Depende da evolução do biometano em termos de custo e depende também dos diversos processos de produção. Você tem processos de produção que precisam de uma potência calorífica que o biometano não pode entrar.

A resposta não pode ser uma resposta única, depende muito desses dois fatores: a potência calorífica que o biometano pode dar e também a evolução dos custos das diferentes alternativas que temos. Ainda hoje, do ponto de vista econômico, o biometano não fica tão competitivo quanto outras energias alternativas, mas o gap é relativamente pequeno.

Uma empresa como a Saint-Gobain está pronta para digerir esse gap de competitividade para poder continuar progredindo no campo da sustentabilidade.

O senhor mencionou que o biometano não dá conta de alguns processos. Quais são eles?

Por exemplo, na fabricação de vidro você pode utilizar um percentual relativamente importante de biometano, mas não pode engessar completamente o gás natural ou eletricidade com biometano. O assunto é bastante complexo, você não tem uma resposta única para todos os processos produtivos e não tem uma resposta única para todas as regiões do Brasil, porque a disponibilidade das diferentes fontes de energia é diferente tanto em termos de acessibilidade quanto em termos econômicos.

Começamos a utilizar biometano este ano. Por enquanto, temos três usinas. A ideia é continuar crescendo esse número de usinas,. Mas mesmo nas que estamos utilizando o biometano é somente uma parte do mix energético desses usinas, não é a substituição completa da energia utilizada nessas usinas, primeiro porque a quantidade de biometano fica limitada e segundo pela questão calorífica.

No anúncio em julho, vocês comentaram a meta de implementar o biometano em todas as unidades da empresa no continente sul-americano. Vocês já implementaram em algum outro país além do Brasil?

Por enquanto, só no Brasil, mas temos um plano de implementação bem ambicioso que vai depender também da capacidade das empresas especialistas na produção de biometano para se implantar nesses países.

No Brasil a implementação é uma parceria para uma expansão conjunta com o grupo Urca Energia. Eles têm planos de instalar em outros países, então essa parceria está só no começo. Nossa estratégia é de implementar biometano em todas as usinas da Saint-Gobain na América Latina, o que não quer dizer que em cada uma das usinas o biometano vá ser a sua fonte de energia, já que depende das circunstâncias específicas de cada região e também os custos.

Temos o objetivo de produzir de forma completamente sustentável, mas esse objetivo tem que ser compatível com uma produção competitiva em termos de custos.

Javier Gimeno, CEO para América Latina, destaca que houveram muitos avanços neste governo, mas que mudança efetiva só será feita com reforço governamental Foto: Divulgação

Essas metas para implementação do biometano em todas as usinas da América Latina são para 2030. Vocês já tem uma perspectiva de qual seria o próximo país que vai ter essa implementação ou uma estimativa do ano em que acontecerá?

Esses planos ainda estão sendo discutidos internamente e eu não gostaria de falar publicamente de uma discussão que está ainda andamento. Mas tenha certeza que essa expansão vai ficar bem alinhada com o dispositivo industrial da Saint-Gobain, que fica muito presente em países como Argentina, México, Brasil e Colombia, que são os países principais e onde deveríamos começar primeiro. Mas ainda é muito cedo, o processo apenas começou com três usinas em 2023. Teremos algumas mais ano que vem e vamos completar no Brasil. Atualmente, temos 60 usinas. Se completarmos o Brasil nos próximos dez, oito meses, já dá para celebrar.

No anúncio da substituição do gás pelo biometano, o senhor comentou que o foco da empresa era modificar estruturalmente sua a produção do que fazer isso via compra de créditos de carbono ou programas de reflorestamento, que é o que a maioria das empresas tem feito. Queria que o senhor comentasse esse posicionamento.

A filosofia da Saint-Gobain é que acreditamos que o melhor carbono é o carbono não produzido. Nosso esforço está na redução das nossas emissões mudando nossos processos produtivos para que eles necessitem menos energia.

Eu tenho uma visão positiva do crédito de carbono, é um elemento que vai fazer progredir o Brasil e o o planeta nessa meta comum, mas nós ficamos além disso. Não se trata de compensar, se trata de eliminar completamente nossas emissões. Quando isso não for possível, podemos falar de compensar. Mas ainda pensamos que nosso foco tem que ficar na redução sensível dessa necessidade de energia e o uso de energia limpa.

Ainda em julho, a Saint-Gobain havia anunciado que 72% das vendas do grupo são de produtos verdes. Esse número continua o mesmo?

Sim, mas a ideia é que nos próximos dois anos 100% dos nossos produtos sejam verdes. Um dos elementos mais importantes na redução de água é mudar a formulação dos nossos produtos. Essa reformulação permanente para eles ficarem completamente verdes é um trabalho feito em todos os nossos centros de pesquisa.

Para oferecer hoje um produto 100% sustentável para o consumidor, existe um custo a mais muito maior do que os pares no mercado a ser pago pelo consumidor?

Teoricamente existe, mas se você faz seus esforços, que que você tem que fazer em termos de desenvolvimento e tecnologia, você consegue levar para o consumidor um produto que não é mais caro. Não é fácil e nem todas as empresas fazem isso, mas temos o compromisso duplo de ter produtos limpos e competitividade de custos.

Descarbonizar levando para o mercado produtos muito mais caros é fácil, o que é difícil é descarbonizar desenvolvendo produtos limpos, com alto nível de desempenho e levar isso para o mercado a um preço competitivo.

O senhor citou o comprometimento do setor com a descarbonização e a transição energética. O senhor já enxerga o setor mais sustentável nos próximos anos, com grandes avanços?

A expectativa é muito positiva para o futuro. Mas as situações são bem diferentes de país para país. Você tem uma movimentação muito forte que tem feito grandes progressos na Europa, também nos Estados Unidos e em alguns países da Ásia.

Na América Latina e no Brasil, estamos apenas começando. Por isso a ação do governo e as exigências dos consumidores finais deveriam ser um elemento de aceleração desse processo (de transição energética), que aqui em Brasília ainda fica um pouco devagar.

Essa transição está acontecendo. O assunto é saber se a transição vai acontecer em 20 anos, que seria desejável, ou em 100 anos, o que seria um problema para todos. O que eu observo é uma aceleração progressiva da utilização das soluções sustentáveis na construção civil.

No Brasil ainda muitos esforços para fazer, mas acho que vai ser acelerada por causa da pressão dos consumidores, que querem morar em prédios verdes e sustentáveis, onde eles tem garantido um bem-estar e um conforto e também pela pressão que o governo vai colocar no setor para acelerar essa transição absolutamente indispensável.

Você não pode atender o objetivo de descarbonização se 40% do problema não é tratado e grande parte das emissões de CO2 tem origem na construção civil. Então se você não ataca esse problema, você não resolve o problema global.

Embora a agenda de desenvolvimento verde seja uma das principais pautas das empresas e do governo Lula, o processo de transição energética no Brasil não está tão acelerado como deveria, na avaliação de Javier Gimeno, CEO da América Latina da fabricante de materiais de construção francesa Saint-Gobain.

“A ação do governo e as exigências dos consumidores finais deveriam ser um elemento de aceleração desse processo (de transição energética), que aqui em Brasília ainda fica um pouco devagar”, afirmou o executivo ao Estadão. Ele destacou que o governo já fez muito, mas é necessário fazer ainda mais.

Para Gimeno, a transição para uma economia de baixo carbono — que diminua as emissões de gases poluentes durante toda a produção — acontecerá inevitavelmente no Brasil e no setor de construção civil. A questão, no entanto, é se acontecerá em 20 anos, o que seria desejável, ou em 100 anos, o que “seria um problema para todos”.

O porta-voz da empresa destaca que uma mudança efetiva em toda a cadeia da construção civil só será vista a partir do momento que o governo pressionar a indústria privada, possibilitando avanços mais rápidos através da “criação de novas legislações e regulamentações”.

Javier Gimeno, CEO para América Latina, destaca que houveram muitos avanços neste governo, mas que mudança só será feita com  Foto: Jean Chiscano

“Uma legislação nova para assegurar que os prédios antigos vão ser renovados e que os prédios novos vão ser construídos segundo padrões mais exigentes. Acho que isso seria algo que mudaria rapidamente o panorama brasileiro”, afirma.

Abaixo, confira os principais trechos da entrevista:

Vários setores poluentes tem modificado as suas estratégias de negócio nos últimos anos, atrelando a sustentabilidade como um agregador de valor ao negócio. Essa mudança tem sido motivado por uma pressão da cadeia produtiva ou do próprio consumidor final?

Quando você analisa as emissões de CO2 no mundo, a construção civil representa quase 38% das emissões totais. Então essa responsabilidade do setor no problema é bem grande. Acho que a construção civil está mudando rapidamente e não tem um uma explicação única.

Com certeza a pressão dos consumidores é bem importante, eles estão procurando produtos limpos, produtos respeitosos com o meio ambiente e as empresas estão sentindo essa demanda crescente de produtos verdes.

Para se adaptar, estão acelerando a produção desses produtos para ficar bem alinhados com as demandas. Mas além disso temos uma movimentação também muito importante no plano político e no plano internacional. Os governos tem adquirido um compromisso grande com a agenda ambiental e isso está ajudando.

A construção civil é por natureza conservadora e precisa de tempo para se adaptar. Mas se você olhar o crescimento das construções verdes é muito grande, e a taxa de penetração desse tipo está acelerando, o que quer dizer que a tendência para o longo prazo é muito positiva.

Para a construção civil, a pressão da cadeia produtiva é um ponto relevante também?

Sim, claro. Mas eu acho que a tração começa pelo consumidor final e pelos governos. É muito importante que o governo avance mais rapidamente em novas legislações e regulamentações que vão favorecer a utilização de produtos verdes. Se essa tração dos consumidores finais existe e se os governos colocam movimentação no sistema, toda a cadeia produtiva e logística vai se adaptar rapidamente.

O terceiro mandato do Lula tem sido focado no desenvolvimento de uma economia verde, mas houve controvérsias com o PAC ter um grande investimento em petróleo e gás. Para o senhor, o que falta para ampliar essa agenda verde de fato nas empresas?

O governo atual fica bem alinhado com os objetivos mundiais. Todos acreditamos que ainda tem bastante para fazer. Bastante foi feito, mas é preciso fazer mais. Eu não sou muito favorável a criação de impostos adicionais, mas essa ideia de desonerações fiscais ou tratamentos fiscais mais vantajosos para as empresas exemplares é uma boa coisa.

Para mim, o ponto mais importante é a entrada em vigor de uma nova legislação muito mais exigente em termos de transição energética, para que na construção civil os prédios novos sejam construídos de acordo com padrões internacionais, que já permitem reduzir de forma notável, quase até zero, as emissões de CO2. Isso é possível, depende da vontade do governo.

Estou esperando também legislações novas para favorecer renovação dos prédios existentes que foram construídos com padrões completamente ultrapassados. Uma legislação nova para assegurar que os prédios antigos vão ser renovados e que os prédios novos vão ser construídos segundo padrões mais exigentes… Acho que isso seria algo que mudaria rapidamente o panorama brasileiro.

A Saint-Gobain anunciou em julho deste ano que substituiria o gás natural por biometano, um gás livre de carbono, em suas usinas no Brasil. Existe um debate entre os especialistas do setor, que enxergam o biometano como um combustível de transição. Para a Saint-Gobain, sua implementação é transitória?

Depende da evolução do biometano em termos de custo e depende também dos diversos processos de produção. Você tem processos de produção que precisam de uma potência calorífica que o biometano não pode entrar.

A resposta não pode ser uma resposta única, depende muito desses dois fatores: a potência calorífica que o biometano pode dar e também a evolução dos custos das diferentes alternativas que temos. Ainda hoje, do ponto de vista econômico, o biometano não fica tão competitivo quanto outras energias alternativas, mas o gap é relativamente pequeno.

Uma empresa como a Saint-Gobain está pronta para digerir esse gap de competitividade para poder continuar progredindo no campo da sustentabilidade.

O senhor mencionou que o biometano não dá conta de alguns processos. Quais são eles?

Por exemplo, na fabricação de vidro você pode utilizar um percentual relativamente importante de biometano, mas não pode engessar completamente o gás natural ou eletricidade com biometano. O assunto é bastante complexo, você não tem uma resposta única para todos os processos produtivos e não tem uma resposta única para todas as regiões do Brasil, porque a disponibilidade das diferentes fontes de energia é diferente tanto em termos de acessibilidade quanto em termos econômicos.

Começamos a utilizar biometano este ano. Por enquanto, temos três usinas. A ideia é continuar crescendo esse número de usinas,. Mas mesmo nas que estamos utilizando o biometano é somente uma parte do mix energético desses usinas, não é a substituição completa da energia utilizada nessas usinas, primeiro porque a quantidade de biometano fica limitada e segundo pela questão calorífica.

No anúncio em julho, vocês comentaram a meta de implementar o biometano em todas as unidades da empresa no continente sul-americano. Vocês já implementaram em algum outro país além do Brasil?

Por enquanto, só no Brasil, mas temos um plano de implementação bem ambicioso que vai depender também da capacidade das empresas especialistas na produção de biometano para se implantar nesses países.

No Brasil a implementação é uma parceria para uma expansão conjunta com o grupo Urca Energia. Eles têm planos de instalar em outros países, então essa parceria está só no começo. Nossa estratégia é de implementar biometano em todas as usinas da Saint-Gobain na América Latina, o que não quer dizer que em cada uma das usinas o biometano vá ser a sua fonte de energia, já que depende das circunstâncias específicas de cada região e também os custos.

Temos o objetivo de produzir de forma completamente sustentável, mas esse objetivo tem que ser compatível com uma produção competitiva em termos de custos.

Javier Gimeno, CEO para América Latina, destaca que houveram muitos avanços neste governo, mas que mudança efetiva só será feita com reforço governamental Foto: Divulgação

Essas metas para implementação do biometano em todas as usinas da América Latina são para 2030. Vocês já tem uma perspectiva de qual seria o próximo país que vai ter essa implementação ou uma estimativa do ano em que acontecerá?

Esses planos ainda estão sendo discutidos internamente e eu não gostaria de falar publicamente de uma discussão que está ainda andamento. Mas tenha certeza que essa expansão vai ficar bem alinhada com o dispositivo industrial da Saint-Gobain, que fica muito presente em países como Argentina, México, Brasil e Colombia, que são os países principais e onde deveríamos começar primeiro. Mas ainda é muito cedo, o processo apenas começou com três usinas em 2023. Teremos algumas mais ano que vem e vamos completar no Brasil. Atualmente, temos 60 usinas. Se completarmos o Brasil nos próximos dez, oito meses, já dá para celebrar.

No anúncio da substituição do gás pelo biometano, o senhor comentou que o foco da empresa era modificar estruturalmente sua a produção do que fazer isso via compra de créditos de carbono ou programas de reflorestamento, que é o que a maioria das empresas tem feito. Queria que o senhor comentasse esse posicionamento.

A filosofia da Saint-Gobain é que acreditamos que o melhor carbono é o carbono não produzido. Nosso esforço está na redução das nossas emissões mudando nossos processos produtivos para que eles necessitem menos energia.

Eu tenho uma visão positiva do crédito de carbono, é um elemento que vai fazer progredir o Brasil e o o planeta nessa meta comum, mas nós ficamos além disso. Não se trata de compensar, se trata de eliminar completamente nossas emissões. Quando isso não for possível, podemos falar de compensar. Mas ainda pensamos que nosso foco tem que ficar na redução sensível dessa necessidade de energia e o uso de energia limpa.

Ainda em julho, a Saint-Gobain havia anunciado que 72% das vendas do grupo são de produtos verdes. Esse número continua o mesmo?

Sim, mas a ideia é que nos próximos dois anos 100% dos nossos produtos sejam verdes. Um dos elementos mais importantes na redução de água é mudar a formulação dos nossos produtos. Essa reformulação permanente para eles ficarem completamente verdes é um trabalho feito em todos os nossos centros de pesquisa.

Para oferecer hoje um produto 100% sustentável para o consumidor, existe um custo a mais muito maior do que os pares no mercado a ser pago pelo consumidor?

Teoricamente existe, mas se você faz seus esforços, que que você tem que fazer em termos de desenvolvimento e tecnologia, você consegue levar para o consumidor um produto que não é mais caro. Não é fácil e nem todas as empresas fazem isso, mas temos o compromisso duplo de ter produtos limpos e competitividade de custos.

Descarbonizar levando para o mercado produtos muito mais caros é fácil, o que é difícil é descarbonizar desenvolvendo produtos limpos, com alto nível de desempenho e levar isso para o mercado a um preço competitivo.

O senhor citou o comprometimento do setor com a descarbonização e a transição energética. O senhor já enxerga o setor mais sustentável nos próximos anos, com grandes avanços?

A expectativa é muito positiva para o futuro. Mas as situações são bem diferentes de país para país. Você tem uma movimentação muito forte que tem feito grandes progressos na Europa, também nos Estados Unidos e em alguns países da Ásia.

Na América Latina e no Brasil, estamos apenas começando. Por isso a ação do governo e as exigências dos consumidores finais deveriam ser um elemento de aceleração desse processo (de transição energética), que aqui em Brasília ainda fica um pouco devagar.

Essa transição está acontecendo. O assunto é saber se a transição vai acontecer em 20 anos, que seria desejável, ou em 100 anos, o que seria um problema para todos. O que eu observo é uma aceleração progressiva da utilização das soluções sustentáveis na construção civil.

No Brasil ainda muitos esforços para fazer, mas acho que vai ser acelerada por causa da pressão dos consumidores, que querem morar em prédios verdes e sustentáveis, onde eles tem garantido um bem-estar e um conforto e também pela pressão que o governo vai colocar no setor para acelerar essa transição absolutamente indispensável.

Você não pode atender o objetivo de descarbonização se 40% do problema não é tratado e grande parte das emissões de CO2 tem origem na construção civil. Então se você não ataca esse problema, você não resolve o problema global.

Embora a agenda de desenvolvimento verde seja uma das principais pautas das empresas e do governo Lula, o processo de transição energética no Brasil não está tão acelerado como deveria, na avaliação de Javier Gimeno, CEO da América Latina da fabricante de materiais de construção francesa Saint-Gobain.

“A ação do governo e as exigências dos consumidores finais deveriam ser um elemento de aceleração desse processo (de transição energética), que aqui em Brasília ainda fica um pouco devagar”, afirmou o executivo ao Estadão. Ele destacou que o governo já fez muito, mas é necessário fazer ainda mais.

Para Gimeno, a transição para uma economia de baixo carbono — que diminua as emissões de gases poluentes durante toda a produção — acontecerá inevitavelmente no Brasil e no setor de construção civil. A questão, no entanto, é se acontecerá em 20 anos, o que seria desejável, ou em 100 anos, o que “seria um problema para todos”.

O porta-voz da empresa destaca que uma mudança efetiva em toda a cadeia da construção civil só será vista a partir do momento que o governo pressionar a indústria privada, possibilitando avanços mais rápidos através da “criação de novas legislações e regulamentações”.

Javier Gimeno, CEO para América Latina, destaca que houveram muitos avanços neste governo, mas que mudança só será feita com  Foto: Jean Chiscano

“Uma legislação nova para assegurar que os prédios antigos vão ser renovados e que os prédios novos vão ser construídos segundo padrões mais exigentes. Acho que isso seria algo que mudaria rapidamente o panorama brasileiro”, afirma.

Abaixo, confira os principais trechos da entrevista:

Vários setores poluentes tem modificado as suas estratégias de negócio nos últimos anos, atrelando a sustentabilidade como um agregador de valor ao negócio. Essa mudança tem sido motivado por uma pressão da cadeia produtiva ou do próprio consumidor final?

Quando você analisa as emissões de CO2 no mundo, a construção civil representa quase 38% das emissões totais. Então essa responsabilidade do setor no problema é bem grande. Acho que a construção civil está mudando rapidamente e não tem um uma explicação única.

Com certeza a pressão dos consumidores é bem importante, eles estão procurando produtos limpos, produtos respeitosos com o meio ambiente e as empresas estão sentindo essa demanda crescente de produtos verdes.

Para se adaptar, estão acelerando a produção desses produtos para ficar bem alinhados com as demandas. Mas além disso temos uma movimentação também muito importante no plano político e no plano internacional. Os governos tem adquirido um compromisso grande com a agenda ambiental e isso está ajudando.

A construção civil é por natureza conservadora e precisa de tempo para se adaptar. Mas se você olhar o crescimento das construções verdes é muito grande, e a taxa de penetração desse tipo está acelerando, o que quer dizer que a tendência para o longo prazo é muito positiva.

Para a construção civil, a pressão da cadeia produtiva é um ponto relevante também?

Sim, claro. Mas eu acho que a tração começa pelo consumidor final e pelos governos. É muito importante que o governo avance mais rapidamente em novas legislações e regulamentações que vão favorecer a utilização de produtos verdes. Se essa tração dos consumidores finais existe e se os governos colocam movimentação no sistema, toda a cadeia produtiva e logística vai se adaptar rapidamente.

O terceiro mandato do Lula tem sido focado no desenvolvimento de uma economia verde, mas houve controvérsias com o PAC ter um grande investimento em petróleo e gás. Para o senhor, o que falta para ampliar essa agenda verde de fato nas empresas?

O governo atual fica bem alinhado com os objetivos mundiais. Todos acreditamos que ainda tem bastante para fazer. Bastante foi feito, mas é preciso fazer mais. Eu não sou muito favorável a criação de impostos adicionais, mas essa ideia de desonerações fiscais ou tratamentos fiscais mais vantajosos para as empresas exemplares é uma boa coisa.

Para mim, o ponto mais importante é a entrada em vigor de uma nova legislação muito mais exigente em termos de transição energética, para que na construção civil os prédios novos sejam construídos de acordo com padrões internacionais, que já permitem reduzir de forma notável, quase até zero, as emissões de CO2. Isso é possível, depende da vontade do governo.

Estou esperando também legislações novas para favorecer renovação dos prédios existentes que foram construídos com padrões completamente ultrapassados. Uma legislação nova para assegurar que os prédios antigos vão ser renovados e que os prédios novos vão ser construídos segundo padrões mais exigentes… Acho que isso seria algo que mudaria rapidamente o panorama brasileiro.

A Saint-Gobain anunciou em julho deste ano que substituiria o gás natural por biometano, um gás livre de carbono, em suas usinas no Brasil. Existe um debate entre os especialistas do setor, que enxergam o biometano como um combustível de transição. Para a Saint-Gobain, sua implementação é transitória?

Depende da evolução do biometano em termos de custo e depende também dos diversos processos de produção. Você tem processos de produção que precisam de uma potência calorífica que o biometano não pode entrar.

A resposta não pode ser uma resposta única, depende muito desses dois fatores: a potência calorífica que o biometano pode dar e também a evolução dos custos das diferentes alternativas que temos. Ainda hoje, do ponto de vista econômico, o biometano não fica tão competitivo quanto outras energias alternativas, mas o gap é relativamente pequeno.

Uma empresa como a Saint-Gobain está pronta para digerir esse gap de competitividade para poder continuar progredindo no campo da sustentabilidade.

O senhor mencionou que o biometano não dá conta de alguns processos. Quais são eles?

Por exemplo, na fabricação de vidro você pode utilizar um percentual relativamente importante de biometano, mas não pode engessar completamente o gás natural ou eletricidade com biometano. O assunto é bastante complexo, você não tem uma resposta única para todos os processos produtivos e não tem uma resposta única para todas as regiões do Brasil, porque a disponibilidade das diferentes fontes de energia é diferente tanto em termos de acessibilidade quanto em termos econômicos.

Começamos a utilizar biometano este ano. Por enquanto, temos três usinas. A ideia é continuar crescendo esse número de usinas,. Mas mesmo nas que estamos utilizando o biometano é somente uma parte do mix energético desses usinas, não é a substituição completa da energia utilizada nessas usinas, primeiro porque a quantidade de biometano fica limitada e segundo pela questão calorífica.

No anúncio em julho, vocês comentaram a meta de implementar o biometano em todas as unidades da empresa no continente sul-americano. Vocês já implementaram em algum outro país além do Brasil?

Por enquanto, só no Brasil, mas temos um plano de implementação bem ambicioso que vai depender também da capacidade das empresas especialistas na produção de biometano para se implantar nesses países.

No Brasil a implementação é uma parceria para uma expansão conjunta com o grupo Urca Energia. Eles têm planos de instalar em outros países, então essa parceria está só no começo. Nossa estratégia é de implementar biometano em todas as usinas da Saint-Gobain na América Latina, o que não quer dizer que em cada uma das usinas o biometano vá ser a sua fonte de energia, já que depende das circunstâncias específicas de cada região e também os custos.

Temos o objetivo de produzir de forma completamente sustentável, mas esse objetivo tem que ser compatível com uma produção competitiva em termos de custos.

Javier Gimeno, CEO para América Latina, destaca que houveram muitos avanços neste governo, mas que mudança efetiva só será feita com reforço governamental Foto: Divulgação

Essas metas para implementação do biometano em todas as usinas da América Latina são para 2030. Vocês já tem uma perspectiva de qual seria o próximo país que vai ter essa implementação ou uma estimativa do ano em que acontecerá?

Esses planos ainda estão sendo discutidos internamente e eu não gostaria de falar publicamente de uma discussão que está ainda andamento. Mas tenha certeza que essa expansão vai ficar bem alinhada com o dispositivo industrial da Saint-Gobain, que fica muito presente em países como Argentina, México, Brasil e Colombia, que são os países principais e onde deveríamos começar primeiro. Mas ainda é muito cedo, o processo apenas começou com três usinas em 2023. Teremos algumas mais ano que vem e vamos completar no Brasil. Atualmente, temos 60 usinas. Se completarmos o Brasil nos próximos dez, oito meses, já dá para celebrar.

No anúncio da substituição do gás pelo biometano, o senhor comentou que o foco da empresa era modificar estruturalmente sua a produção do que fazer isso via compra de créditos de carbono ou programas de reflorestamento, que é o que a maioria das empresas tem feito. Queria que o senhor comentasse esse posicionamento.

A filosofia da Saint-Gobain é que acreditamos que o melhor carbono é o carbono não produzido. Nosso esforço está na redução das nossas emissões mudando nossos processos produtivos para que eles necessitem menos energia.

Eu tenho uma visão positiva do crédito de carbono, é um elemento que vai fazer progredir o Brasil e o o planeta nessa meta comum, mas nós ficamos além disso. Não se trata de compensar, se trata de eliminar completamente nossas emissões. Quando isso não for possível, podemos falar de compensar. Mas ainda pensamos que nosso foco tem que ficar na redução sensível dessa necessidade de energia e o uso de energia limpa.

Ainda em julho, a Saint-Gobain havia anunciado que 72% das vendas do grupo são de produtos verdes. Esse número continua o mesmo?

Sim, mas a ideia é que nos próximos dois anos 100% dos nossos produtos sejam verdes. Um dos elementos mais importantes na redução de água é mudar a formulação dos nossos produtos. Essa reformulação permanente para eles ficarem completamente verdes é um trabalho feito em todos os nossos centros de pesquisa.

Para oferecer hoje um produto 100% sustentável para o consumidor, existe um custo a mais muito maior do que os pares no mercado a ser pago pelo consumidor?

Teoricamente existe, mas se você faz seus esforços, que que você tem que fazer em termos de desenvolvimento e tecnologia, você consegue levar para o consumidor um produto que não é mais caro. Não é fácil e nem todas as empresas fazem isso, mas temos o compromisso duplo de ter produtos limpos e competitividade de custos.

Descarbonizar levando para o mercado produtos muito mais caros é fácil, o que é difícil é descarbonizar desenvolvendo produtos limpos, com alto nível de desempenho e levar isso para o mercado a um preço competitivo.

O senhor citou o comprometimento do setor com a descarbonização e a transição energética. O senhor já enxerga o setor mais sustentável nos próximos anos, com grandes avanços?

A expectativa é muito positiva para o futuro. Mas as situações são bem diferentes de país para país. Você tem uma movimentação muito forte que tem feito grandes progressos na Europa, também nos Estados Unidos e em alguns países da Ásia.

Na América Latina e no Brasil, estamos apenas começando. Por isso a ação do governo e as exigências dos consumidores finais deveriam ser um elemento de aceleração desse processo (de transição energética), que aqui em Brasília ainda fica um pouco devagar.

Essa transição está acontecendo. O assunto é saber se a transição vai acontecer em 20 anos, que seria desejável, ou em 100 anos, o que seria um problema para todos. O que eu observo é uma aceleração progressiva da utilização das soluções sustentáveis na construção civil.

No Brasil ainda muitos esforços para fazer, mas acho que vai ser acelerada por causa da pressão dos consumidores, que querem morar em prédios verdes e sustentáveis, onde eles tem garantido um bem-estar e um conforto e também pela pressão que o governo vai colocar no setor para acelerar essa transição absolutamente indispensável.

Você não pode atender o objetivo de descarbonização se 40% do problema não é tratado e grande parte das emissões de CO2 tem origem na construção civil. Então se você não ataca esse problema, você não resolve o problema global.

Embora a agenda de desenvolvimento verde seja uma das principais pautas das empresas e do governo Lula, o processo de transição energética no Brasil não está tão acelerado como deveria, na avaliação de Javier Gimeno, CEO da América Latina da fabricante de materiais de construção francesa Saint-Gobain.

“A ação do governo e as exigências dos consumidores finais deveriam ser um elemento de aceleração desse processo (de transição energética), que aqui em Brasília ainda fica um pouco devagar”, afirmou o executivo ao Estadão. Ele destacou que o governo já fez muito, mas é necessário fazer ainda mais.

Para Gimeno, a transição para uma economia de baixo carbono — que diminua as emissões de gases poluentes durante toda a produção — acontecerá inevitavelmente no Brasil e no setor de construção civil. A questão, no entanto, é se acontecerá em 20 anos, o que seria desejável, ou em 100 anos, o que “seria um problema para todos”.

O porta-voz da empresa destaca que uma mudança efetiva em toda a cadeia da construção civil só será vista a partir do momento que o governo pressionar a indústria privada, possibilitando avanços mais rápidos através da “criação de novas legislações e regulamentações”.

Javier Gimeno, CEO para América Latina, destaca que houveram muitos avanços neste governo, mas que mudança só será feita com  Foto: Jean Chiscano

“Uma legislação nova para assegurar que os prédios antigos vão ser renovados e que os prédios novos vão ser construídos segundo padrões mais exigentes. Acho que isso seria algo que mudaria rapidamente o panorama brasileiro”, afirma.

Abaixo, confira os principais trechos da entrevista:

Vários setores poluentes tem modificado as suas estratégias de negócio nos últimos anos, atrelando a sustentabilidade como um agregador de valor ao negócio. Essa mudança tem sido motivado por uma pressão da cadeia produtiva ou do próprio consumidor final?

Quando você analisa as emissões de CO2 no mundo, a construção civil representa quase 38% das emissões totais. Então essa responsabilidade do setor no problema é bem grande. Acho que a construção civil está mudando rapidamente e não tem um uma explicação única.

Com certeza a pressão dos consumidores é bem importante, eles estão procurando produtos limpos, produtos respeitosos com o meio ambiente e as empresas estão sentindo essa demanda crescente de produtos verdes.

Para se adaptar, estão acelerando a produção desses produtos para ficar bem alinhados com as demandas. Mas além disso temos uma movimentação também muito importante no plano político e no plano internacional. Os governos tem adquirido um compromisso grande com a agenda ambiental e isso está ajudando.

A construção civil é por natureza conservadora e precisa de tempo para se adaptar. Mas se você olhar o crescimento das construções verdes é muito grande, e a taxa de penetração desse tipo está acelerando, o que quer dizer que a tendência para o longo prazo é muito positiva.

Para a construção civil, a pressão da cadeia produtiva é um ponto relevante também?

Sim, claro. Mas eu acho que a tração começa pelo consumidor final e pelos governos. É muito importante que o governo avance mais rapidamente em novas legislações e regulamentações que vão favorecer a utilização de produtos verdes. Se essa tração dos consumidores finais existe e se os governos colocam movimentação no sistema, toda a cadeia produtiva e logística vai se adaptar rapidamente.

O terceiro mandato do Lula tem sido focado no desenvolvimento de uma economia verde, mas houve controvérsias com o PAC ter um grande investimento em petróleo e gás. Para o senhor, o que falta para ampliar essa agenda verde de fato nas empresas?

O governo atual fica bem alinhado com os objetivos mundiais. Todos acreditamos que ainda tem bastante para fazer. Bastante foi feito, mas é preciso fazer mais. Eu não sou muito favorável a criação de impostos adicionais, mas essa ideia de desonerações fiscais ou tratamentos fiscais mais vantajosos para as empresas exemplares é uma boa coisa.

Para mim, o ponto mais importante é a entrada em vigor de uma nova legislação muito mais exigente em termos de transição energética, para que na construção civil os prédios novos sejam construídos de acordo com padrões internacionais, que já permitem reduzir de forma notável, quase até zero, as emissões de CO2. Isso é possível, depende da vontade do governo.

Estou esperando também legislações novas para favorecer renovação dos prédios existentes que foram construídos com padrões completamente ultrapassados. Uma legislação nova para assegurar que os prédios antigos vão ser renovados e que os prédios novos vão ser construídos segundo padrões mais exigentes… Acho que isso seria algo que mudaria rapidamente o panorama brasileiro.

A Saint-Gobain anunciou em julho deste ano que substituiria o gás natural por biometano, um gás livre de carbono, em suas usinas no Brasil. Existe um debate entre os especialistas do setor, que enxergam o biometano como um combustível de transição. Para a Saint-Gobain, sua implementação é transitória?

Depende da evolução do biometano em termos de custo e depende também dos diversos processos de produção. Você tem processos de produção que precisam de uma potência calorífica que o biometano não pode entrar.

A resposta não pode ser uma resposta única, depende muito desses dois fatores: a potência calorífica que o biometano pode dar e também a evolução dos custos das diferentes alternativas que temos. Ainda hoje, do ponto de vista econômico, o biometano não fica tão competitivo quanto outras energias alternativas, mas o gap é relativamente pequeno.

Uma empresa como a Saint-Gobain está pronta para digerir esse gap de competitividade para poder continuar progredindo no campo da sustentabilidade.

O senhor mencionou que o biometano não dá conta de alguns processos. Quais são eles?

Por exemplo, na fabricação de vidro você pode utilizar um percentual relativamente importante de biometano, mas não pode engessar completamente o gás natural ou eletricidade com biometano. O assunto é bastante complexo, você não tem uma resposta única para todos os processos produtivos e não tem uma resposta única para todas as regiões do Brasil, porque a disponibilidade das diferentes fontes de energia é diferente tanto em termos de acessibilidade quanto em termos econômicos.

Começamos a utilizar biometano este ano. Por enquanto, temos três usinas. A ideia é continuar crescendo esse número de usinas,. Mas mesmo nas que estamos utilizando o biometano é somente uma parte do mix energético desses usinas, não é a substituição completa da energia utilizada nessas usinas, primeiro porque a quantidade de biometano fica limitada e segundo pela questão calorífica.

No anúncio em julho, vocês comentaram a meta de implementar o biometano em todas as unidades da empresa no continente sul-americano. Vocês já implementaram em algum outro país além do Brasil?

Por enquanto, só no Brasil, mas temos um plano de implementação bem ambicioso que vai depender também da capacidade das empresas especialistas na produção de biometano para se implantar nesses países.

No Brasil a implementação é uma parceria para uma expansão conjunta com o grupo Urca Energia. Eles têm planos de instalar em outros países, então essa parceria está só no começo. Nossa estratégia é de implementar biometano em todas as usinas da Saint-Gobain na América Latina, o que não quer dizer que em cada uma das usinas o biometano vá ser a sua fonte de energia, já que depende das circunstâncias específicas de cada região e também os custos.

Temos o objetivo de produzir de forma completamente sustentável, mas esse objetivo tem que ser compatível com uma produção competitiva em termos de custos.

Javier Gimeno, CEO para América Latina, destaca que houveram muitos avanços neste governo, mas que mudança efetiva só será feita com reforço governamental Foto: Divulgação

Essas metas para implementação do biometano em todas as usinas da América Latina são para 2030. Vocês já tem uma perspectiva de qual seria o próximo país que vai ter essa implementação ou uma estimativa do ano em que acontecerá?

Esses planos ainda estão sendo discutidos internamente e eu não gostaria de falar publicamente de uma discussão que está ainda andamento. Mas tenha certeza que essa expansão vai ficar bem alinhada com o dispositivo industrial da Saint-Gobain, que fica muito presente em países como Argentina, México, Brasil e Colombia, que são os países principais e onde deveríamos começar primeiro. Mas ainda é muito cedo, o processo apenas começou com três usinas em 2023. Teremos algumas mais ano que vem e vamos completar no Brasil. Atualmente, temos 60 usinas. Se completarmos o Brasil nos próximos dez, oito meses, já dá para celebrar.

No anúncio da substituição do gás pelo biometano, o senhor comentou que o foco da empresa era modificar estruturalmente sua a produção do que fazer isso via compra de créditos de carbono ou programas de reflorestamento, que é o que a maioria das empresas tem feito. Queria que o senhor comentasse esse posicionamento.

A filosofia da Saint-Gobain é que acreditamos que o melhor carbono é o carbono não produzido. Nosso esforço está na redução das nossas emissões mudando nossos processos produtivos para que eles necessitem menos energia.

Eu tenho uma visão positiva do crédito de carbono, é um elemento que vai fazer progredir o Brasil e o o planeta nessa meta comum, mas nós ficamos além disso. Não se trata de compensar, se trata de eliminar completamente nossas emissões. Quando isso não for possível, podemos falar de compensar. Mas ainda pensamos que nosso foco tem que ficar na redução sensível dessa necessidade de energia e o uso de energia limpa.

Ainda em julho, a Saint-Gobain havia anunciado que 72% das vendas do grupo são de produtos verdes. Esse número continua o mesmo?

Sim, mas a ideia é que nos próximos dois anos 100% dos nossos produtos sejam verdes. Um dos elementos mais importantes na redução de água é mudar a formulação dos nossos produtos. Essa reformulação permanente para eles ficarem completamente verdes é um trabalho feito em todos os nossos centros de pesquisa.

Para oferecer hoje um produto 100% sustentável para o consumidor, existe um custo a mais muito maior do que os pares no mercado a ser pago pelo consumidor?

Teoricamente existe, mas se você faz seus esforços, que que você tem que fazer em termos de desenvolvimento e tecnologia, você consegue levar para o consumidor um produto que não é mais caro. Não é fácil e nem todas as empresas fazem isso, mas temos o compromisso duplo de ter produtos limpos e competitividade de custos.

Descarbonizar levando para o mercado produtos muito mais caros é fácil, o que é difícil é descarbonizar desenvolvendo produtos limpos, com alto nível de desempenho e levar isso para o mercado a um preço competitivo.

O senhor citou o comprometimento do setor com a descarbonização e a transição energética. O senhor já enxerga o setor mais sustentável nos próximos anos, com grandes avanços?

A expectativa é muito positiva para o futuro. Mas as situações são bem diferentes de país para país. Você tem uma movimentação muito forte que tem feito grandes progressos na Europa, também nos Estados Unidos e em alguns países da Ásia.

Na América Latina e no Brasil, estamos apenas começando. Por isso a ação do governo e as exigências dos consumidores finais deveriam ser um elemento de aceleração desse processo (de transição energética), que aqui em Brasília ainda fica um pouco devagar.

Essa transição está acontecendo. O assunto é saber se a transição vai acontecer em 20 anos, que seria desejável, ou em 100 anos, o que seria um problema para todos. O que eu observo é uma aceleração progressiva da utilização das soluções sustentáveis na construção civil.

No Brasil ainda muitos esforços para fazer, mas acho que vai ser acelerada por causa da pressão dos consumidores, que querem morar em prédios verdes e sustentáveis, onde eles tem garantido um bem-estar e um conforto e também pela pressão que o governo vai colocar no setor para acelerar essa transição absolutamente indispensável.

Você não pode atender o objetivo de descarbonização se 40% do problema não é tratado e grande parte das emissões de CO2 tem origem na construção civil. Então se você não ataca esse problema, você não resolve o problema global.

Embora a agenda de desenvolvimento verde seja uma das principais pautas das empresas e do governo Lula, o processo de transição energética no Brasil não está tão acelerado como deveria, na avaliação de Javier Gimeno, CEO da América Latina da fabricante de materiais de construção francesa Saint-Gobain.

“A ação do governo e as exigências dos consumidores finais deveriam ser um elemento de aceleração desse processo (de transição energética), que aqui em Brasília ainda fica um pouco devagar”, afirmou o executivo ao Estadão. Ele destacou que o governo já fez muito, mas é necessário fazer ainda mais.

Para Gimeno, a transição para uma economia de baixo carbono — que diminua as emissões de gases poluentes durante toda a produção — acontecerá inevitavelmente no Brasil e no setor de construção civil. A questão, no entanto, é se acontecerá em 20 anos, o que seria desejável, ou em 100 anos, o que “seria um problema para todos”.

O porta-voz da empresa destaca que uma mudança efetiva em toda a cadeia da construção civil só será vista a partir do momento que o governo pressionar a indústria privada, possibilitando avanços mais rápidos através da “criação de novas legislações e regulamentações”.

Javier Gimeno, CEO para América Latina, destaca que houveram muitos avanços neste governo, mas que mudança só será feita com  Foto: Jean Chiscano

“Uma legislação nova para assegurar que os prédios antigos vão ser renovados e que os prédios novos vão ser construídos segundo padrões mais exigentes. Acho que isso seria algo que mudaria rapidamente o panorama brasileiro”, afirma.

Abaixo, confira os principais trechos da entrevista:

Vários setores poluentes tem modificado as suas estratégias de negócio nos últimos anos, atrelando a sustentabilidade como um agregador de valor ao negócio. Essa mudança tem sido motivado por uma pressão da cadeia produtiva ou do próprio consumidor final?

Quando você analisa as emissões de CO2 no mundo, a construção civil representa quase 38% das emissões totais. Então essa responsabilidade do setor no problema é bem grande. Acho que a construção civil está mudando rapidamente e não tem um uma explicação única.

Com certeza a pressão dos consumidores é bem importante, eles estão procurando produtos limpos, produtos respeitosos com o meio ambiente e as empresas estão sentindo essa demanda crescente de produtos verdes.

Para se adaptar, estão acelerando a produção desses produtos para ficar bem alinhados com as demandas. Mas além disso temos uma movimentação também muito importante no plano político e no plano internacional. Os governos tem adquirido um compromisso grande com a agenda ambiental e isso está ajudando.

A construção civil é por natureza conservadora e precisa de tempo para se adaptar. Mas se você olhar o crescimento das construções verdes é muito grande, e a taxa de penetração desse tipo está acelerando, o que quer dizer que a tendência para o longo prazo é muito positiva.

Para a construção civil, a pressão da cadeia produtiva é um ponto relevante também?

Sim, claro. Mas eu acho que a tração começa pelo consumidor final e pelos governos. É muito importante que o governo avance mais rapidamente em novas legislações e regulamentações que vão favorecer a utilização de produtos verdes. Se essa tração dos consumidores finais existe e se os governos colocam movimentação no sistema, toda a cadeia produtiva e logística vai se adaptar rapidamente.

O terceiro mandato do Lula tem sido focado no desenvolvimento de uma economia verde, mas houve controvérsias com o PAC ter um grande investimento em petróleo e gás. Para o senhor, o que falta para ampliar essa agenda verde de fato nas empresas?

O governo atual fica bem alinhado com os objetivos mundiais. Todos acreditamos que ainda tem bastante para fazer. Bastante foi feito, mas é preciso fazer mais. Eu não sou muito favorável a criação de impostos adicionais, mas essa ideia de desonerações fiscais ou tratamentos fiscais mais vantajosos para as empresas exemplares é uma boa coisa.

Para mim, o ponto mais importante é a entrada em vigor de uma nova legislação muito mais exigente em termos de transição energética, para que na construção civil os prédios novos sejam construídos de acordo com padrões internacionais, que já permitem reduzir de forma notável, quase até zero, as emissões de CO2. Isso é possível, depende da vontade do governo.

Estou esperando também legislações novas para favorecer renovação dos prédios existentes que foram construídos com padrões completamente ultrapassados. Uma legislação nova para assegurar que os prédios antigos vão ser renovados e que os prédios novos vão ser construídos segundo padrões mais exigentes… Acho que isso seria algo que mudaria rapidamente o panorama brasileiro.

A Saint-Gobain anunciou em julho deste ano que substituiria o gás natural por biometano, um gás livre de carbono, em suas usinas no Brasil. Existe um debate entre os especialistas do setor, que enxergam o biometano como um combustível de transição. Para a Saint-Gobain, sua implementação é transitória?

Depende da evolução do biometano em termos de custo e depende também dos diversos processos de produção. Você tem processos de produção que precisam de uma potência calorífica que o biometano não pode entrar.

A resposta não pode ser uma resposta única, depende muito desses dois fatores: a potência calorífica que o biometano pode dar e também a evolução dos custos das diferentes alternativas que temos. Ainda hoje, do ponto de vista econômico, o biometano não fica tão competitivo quanto outras energias alternativas, mas o gap é relativamente pequeno.

Uma empresa como a Saint-Gobain está pronta para digerir esse gap de competitividade para poder continuar progredindo no campo da sustentabilidade.

O senhor mencionou que o biometano não dá conta de alguns processos. Quais são eles?

Por exemplo, na fabricação de vidro você pode utilizar um percentual relativamente importante de biometano, mas não pode engessar completamente o gás natural ou eletricidade com biometano. O assunto é bastante complexo, você não tem uma resposta única para todos os processos produtivos e não tem uma resposta única para todas as regiões do Brasil, porque a disponibilidade das diferentes fontes de energia é diferente tanto em termos de acessibilidade quanto em termos econômicos.

Começamos a utilizar biometano este ano. Por enquanto, temos três usinas. A ideia é continuar crescendo esse número de usinas,. Mas mesmo nas que estamos utilizando o biometano é somente uma parte do mix energético desses usinas, não é a substituição completa da energia utilizada nessas usinas, primeiro porque a quantidade de biometano fica limitada e segundo pela questão calorífica.

No anúncio em julho, vocês comentaram a meta de implementar o biometano em todas as unidades da empresa no continente sul-americano. Vocês já implementaram em algum outro país além do Brasil?

Por enquanto, só no Brasil, mas temos um plano de implementação bem ambicioso que vai depender também da capacidade das empresas especialistas na produção de biometano para se implantar nesses países.

No Brasil a implementação é uma parceria para uma expansão conjunta com o grupo Urca Energia. Eles têm planos de instalar em outros países, então essa parceria está só no começo. Nossa estratégia é de implementar biometano em todas as usinas da Saint-Gobain na América Latina, o que não quer dizer que em cada uma das usinas o biometano vá ser a sua fonte de energia, já que depende das circunstâncias específicas de cada região e também os custos.

Temos o objetivo de produzir de forma completamente sustentável, mas esse objetivo tem que ser compatível com uma produção competitiva em termos de custos.

Javier Gimeno, CEO para América Latina, destaca que houveram muitos avanços neste governo, mas que mudança efetiva só será feita com reforço governamental Foto: Divulgação

Essas metas para implementação do biometano em todas as usinas da América Latina são para 2030. Vocês já tem uma perspectiva de qual seria o próximo país que vai ter essa implementação ou uma estimativa do ano em que acontecerá?

Esses planos ainda estão sendo discutidos internamente e eu não gostaria de falar publicamente de uma discussão que está ainda andamento. Mas tenha certeza que essa expansão vai ficar bem alinhada com o dispositivo industrial da Saint-Gobain, que fica muito presente em países como Argentina, México, Brasil e Colombia, que são os países principais e onde deveríamos começar primeiro. Mas ainda é muito cedo, o processo apenas começou com três usinas em 2023. Teremos algumas mais ano que vem e vamos completar no Brasil. Atualmente, temos 60 usinas. Se completarmos o Brasil nos próximos dez, oito meses, já dá para celebrar.

No anúncio da substituição do gás pelo biometano, o senhor comentou que o foco da empresa era modificar estruturalmente sua a produção do que fazer isso via compra de créditos de carbono ou programas de reflorestamento, que é o que a maioria das empresas tem feito. Queria que o senhor comentasse esse posicionamento.

A filosofia da Saint-Gobain é que acreditamos que o melhor carbono é o carbono não produzido. Nosso esforço está na redução das nossas emissões mudando nossos processos produtivos para que eles necessitem menos energia.

Eu tenho uma visão positiva do crédito de carbono, é um elemento que vai fazer progredir o Brasil e o o planeta nessa meta comum, mas nós ficamos além disso. Não se trata de compensar, se trata de eliminar completamente nossas emissões. Quando isso não for possível, podemos falar de compensar. Mas ainda pensamos que nosso foco tem que ficar na redução sensível dessa necessidade de energia e o uso de energia limpa.

Ainda em julho, a Saint-Gobain havia anunciado que 72% das vendas do grupo são de produtos verdes. Esse número continua o mesmo?

Sim, mas a ideia é que nos próximos dois anos 100% dos nossos produtos sejam verdes. Um dos elementos mais importantes na redução de água é mudar a formulação dos nossos produtos. Essa reformulação permanente para eles ficarem completamente verdes é um trabalho feito em todos os nossos centros de pesquisa.

Para oferecer hoje um produto 100% sustentável para o consumidor, existe um custo a mais muito maior do que os pares no mercado a ser pago pelo consumidor?

Teoricamente existe, mas se você faz seus esforços, que que você tem que fazer em termos de desenvolvimento e tecnologia, você consegue levar para o consumidor um produto que não é mais caro. Não é fácil e nem todas as empresas fazem isso, mas temos o compromisso duplo de ter produtos limpos e competitividade de custos.

Descarbonizar levando para o mercado produtos muito mais caros é fácil, o que é difícil é descarbonizar desenvolvendo produtos limpos, com alto nível de desempenho e levar isso para o mercado a um preço competitivo.

O senhor citou o comprometimento do setor com a descarbonização e a transição energética. O senhor já enxerga o setor mais sustentável nos próximos anos, com grandes avanços?

A expectativa é muito positiva para o futuro. Mas as situações são bem diferentes de país para país. Você tem uma movimentação muito forte que tem feito grandes progressos na Europa, também nos Estados Unidos e em alguns países da Ásia.

Na América Latina e no Brasil, estamos apenas começando. Por isso a ação do governo e as exigências dos consumidores finais deveriam ser um elemento de aceleração desse processo (de transição energética), que aqui em Brasília ainda fica um pouco devagar.

Essa transição está acontecendo. O assunto é saber se a transição vai acontecer em 20 anos, que seria desejável, ou em 100 anos, o que seria um problema para todos. O que eu observo é uma aceleração progressiva da utilização das soluções sustentáveis na construção civil.

No Brasil ainda muitos esforços para fazer, mas acho que vai ser acelerada por causa da pressão dos consumidores, que querem morar em prédios verdes e sustentáveis, onde eles tem garantido um bem-estar e um conforto e também pela pressão que o governo vai colocar no setor para acelerar essa transição absolutamente indispensável.

Você não pode atender o objetivo de descarbonização se 40% do problema não é tratado e grande parte das emissões de CO2 tem origem na construção civil. Então se você não ataca esse problema, você não resolve o problema global.

Entrevista por Beatriz Capirazi

Repórter de economia com foco em empresas de saúde no Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. Formada em Jornalismo pela Universidade Paulista, é especializada em jornalismo econômico pela FGV e Jornalismo de Dados pelo Insper. Tem passagens por Estadão, UOL, Suno Research e Eu Quero Investir.

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