‘Frango de bagaço’ e cookie reciclado: Carrefour comercializará produtos que ‘regeneram a natureza’


Comercialização de itens que ainda serão selecionados acontecerá por seis meses, em 2025; varejista é parceira de projeto idealizado pela Fundação Ellen MacArthur

Por Beatriz Capirazi
Atualização:

O Grupo Carrefour Brasil decidiu comercializar em suas prateleiras produtos alimentícios que regeneram a natureza, numa iniciativa em parceria com a Fundação Ellen MacArthur para tornar produtos alimentícios circulares com pegada ESG (sigla em inglês para boas práticas de meio ambiente, social e governança) acessíveis ao público.

Com a parceria, os produtos serão incluídos no catálogo dos supermercados sem custos para os produtores, facilitando a entrada de novas marcas no varejo. A iniciativa, que propõe oferecer produtos sustentáveis mais baratos, está prevista para acontecer no primeiro semestre de 2025, por seis meses.

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O projeto é parte do desafio “O Grande Redesenho de Alimentos”, idealizado pela Fundação, em que empresas de todos os portes de 15 países criaram produtos alimentícios que “regeneram a natureza”, incluindo em suas estratégias de negócio a economia circular. O conceito associa o desenvolvimento econômico de um país ao melhor uso de recursos naturais e priorização de matérias-primas que sejam mais duráveis e renováveis.

Criado com base em um estudo da fundação, que apontava o potencial da economia circular para impulsionar a indústria alimentícia rumo à sustentabilidade, o desafio recebeu mais de 140 inscrições de empresas de alimentos e bebidas. Empresas de grande porte como Nestlé e Danone são participantes.

Varejista entrou como parceira em projeto da Fundação Ellen MacArthur que convida empresas de todos os portes a criarem produtos alimentícios que regenerem a natureza com economia circular Foto: PhotoMIX Company/ Pexels
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Para impulsionar a produção entre as companhias menores, PMEs e startups receberão um subsídio de até £ 30 mil (cerca de R$ 159 mil), cada uma, para desenvolver as suas ideias. Ao todo, £ 510 mil (mais de R$ 2 milhões) serão distribuídos pela fundação. Para a fase de produção, foram selecionadas 168 ideias de produtos.

Dentre os projetos que devem ser produzidos até outubro deste ano, estão: vinho de caju, da startup Enoteca Saint VinSaint, produzido a partir do “pseudofruto do caju” comumente descartado pela indústria de suco e mel de abelhas nativas; e “cookies com ingredientes reciclados” da Native, que fabricará biscoitos de maçã e canela cultivados com práticas regenerativas com farinha de semente de uva reciclada.

“Tem um produto que é muito interessante que é um aperitivo que imita o frango, mas é feito do bagaço do caju que é desperdiçado pela indústria de suco de fruta. O produto é feito com a fibra desse bagaço e temperado com especiarias amazônicas compradas de comunidades tradicionais”, explica a gerente de rede de empresas da América Latina na Fundação, Victoria Almeida.

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O desafio começou ainda em 2023, com as empresas inscritas aprendendo mais sobre o conceito de economia circular e a sua aplicabilidade. O ano foi dedicado para o desenvolvimento das ideias. Agora, as companhias vão colocá-las em prática, desenvolvendo os itens da escolha de seus fornecedores e ingredientes até as embalagens.

As empresas que tiverem os seus projetos “bem-sucedidos” e “comercialmente atrativos” conseguirão um espaço nas gôndolas do Carrefour. Segundo a fundação, para atender aos critérios do desafio, os produtos deverão:

  • Ter a maior parte de seus ingredientes provenientes de sistemas de produção que indicam resultados positivos para a natureza;
  • Preencher pelo menos uma das três oportunidades de design identificadas no modelo de design circular para alimentos (uso de ingredientes de menor impacto, diversificados e reciclados);
  • Ter uma embalagem que não utilize materiais problemáticos e atenda ao maior número possível de metas de economia circular.
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A seleção de quais produtos serão comercializados pelo Carrefour, de fato, ficará a critério do grupo. A diretora sênior de sustentabilidade do Grupo Carrefour Brasil, Susy Yoshimura, destaca que diversos fatores podem tornar um produto atrativo, desde a embalagem, o tamanho e o preço. Ela, no entanto, aponta que ao final o que conta é o produto ser, de fato, bom. “Às vezes a proposta é superlegal, mas o chocolate não é bom, a cerveja não é boa. Pode vender uma vez, mas não há recompra. A qualidade é o que conta.”

Yoshimura ressalta que não há uma quantidade limite de produtos a serem selecionados para a comercialização. “O produto que a gente acredita que vai vender, a gente vai colocar”, explica, apontando que muitas vezes o preço de um produto sustentável é tão elevado justamente pelas empresas, especialmente as menores, não saberem otimizar os seus custos logísticos, tributários e com matéria-prima.

Susy Yoshimura, diretora sênior de Sustentabilidade do Grupo Carrefour Brasil. Foto: Daniela Toviansky / Grupo Carrefour Brasil
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Ela confirmou ao Estadão que poderá haver uma continuidade nas prateleiras para os produtos com adesão após os seis meses definidos previamente. “Se o consumidor compra, esse é o melhor dos mundos. Quem decide não é o Carrefour, é o consumidor. Existe interesse do grupo, desde que com viabilidade econômica e recepção do nosso consumidor, que esses produtos não sejam uma raridade, mas uma grande parte do que estamos oferecendo.”

Ela aponta que, caso não haja uma aceitação, será necessário aprender com o cenário e entender o que deve ser alterado, considerando que mudanças sustentáveis em todos os setores serão cada vez mais cobradas nos próximos anos.

Acesso a produtos sustentáveis

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Cerca de 89% dos brasileiros consideram urgente a adoção de uma alimentação sustentável, de acordo com uma pesquisa divulgada pela Sodexo neste mês. A crença de que um estilo de vida mais sustentável pesa do bolso é considerada uma das principais barreiras para colocar em prática o desejo, aponta um levantamento do Instituto Akatu em parceria com a GlobeScan.

No setor da alimentação, a disparidade acaba tendo um peso ainda maior em algumas categorias de produtos. Startups têm apostado no desenvolvimento de itens sustentáveis, mas eles nem sempre chegam ao público-alvo devido aos custos maiores com matérias-primas menos poluentes, além do preço elevado com o desenvolvimento de novas tecnologias, transporte e a dificuldade de ultrapassar a barreira de ser um produto de nicho.

Neste sentido, o envolvimento dos grandes varejos na pauta é essencial, aponta Yoshimura. A executiva ressalta que, caso esse engajamento não aconteça, os produtos ficarão nichados e haverá uma “gourmetização da cadeia sustentável”.

Além do acesso, a executiva reforça que o desafio é uma oportunidade de envolver o consumidor também no processo produtivo. Ela explica que hoje existem produtos saudáveis que são tão disruptivos que o consumidor sequer sabe sua serventia.

“Queremos que o consumidor saiba o que é um produto sustentável. Às vezes o consumidor nem entende como comer aquilo. A farinha de não sei o que... o que ele faz com aquilo? Não está claro, o consumidor não sabe”, aponta.

Para a diretora executiva para a América Latina da Fundação, Luisa Santiago, o desafio entra como um projeto importante não só pela futura comercialização dos produtos para um amplo público-consumidor, mas também por demonstrar que a mudança começa desde já. “As empresas que aceitaram o desafio estão abrindo os caminhos para mostrar o que já é possível de se fazer.”

Victoria Almeida destaca que a inclusão de varejistas é essencial para o acesso, mas também para tornar estes produtos “comercialmente desejáveis”, considerando a expertise de mercado que as grandes marcas possuem.

Gerente de rede de empresas da América Latina na Fundação Ellen MacArthur, Victoria Almeida Foto: Divulgação/ Fundação Ellen McArthur

“Os grandes varejistas e as grandes marcas tem um grande poder de influenciar os hábitos de consumo. Criando demanda, elas decidem o que vai ser produzido, então eles são atores essenciais nessa transformação”, explica Almeida.

O processo permitirá que as empresas pensem não só nos aspectos sustentáveis, como também na aplicação comercial das ideias. Ela destaca que a ideia do projeto sempre foi enfrentar a barreira de preço que muitas vezes se estabelece para produtos sustentáveis.

Almeida ainda destaca que o maior trunfo do projeto é trazer conceitos de economia circular que vão além da teoria e se aproximem, de fato, do público-consumidor. “O tema de economia circular é visto como sinônimo de reciclagem, quando, na verdade, falamos de repensar os produtos para que eles não virem resíduos. É repensar os materiais que vão ser usados para alongar a vida útil dos produtos.”

A executiva reforça que o projeto demonstra que o setor alimentício pode ser parte da solução para o desenvolvimento de uma bioeconomia ao invés de um empecilho para o seu desenvolvimento.

O Grupo Carrefour Brasil decidiu comercializar em suas prateleiras produtos alimentícios que regeneram a natureza, numa iniciativa em parceria com a Fundação Ellen MacArthur para tornar produtos alimentícios circulares com pegada ESG (sigla em inglês para boas práticas de meio ambiente, social e governança) acessíveis ao público.

Com a parceria, os produtos serão incluídos no catálogo dos supermercados sem custos para os produtores, facilitando a entrada de novas marcas no varejo. A iniciativa, que propõe oferecer produtos sustentáveis mais baratos, está prevista para acontecer no primeiro semestre de 2025, por seis meses.

O projeto é parte do desafio “O Grande Redesenho de Alimentos”, idealizado pela Fundação, em que empresas de todos os portes de 15 países criaram produtos alimentícios que “regeneram a natureza”, incluindo em suas estratégias de negócio a economia circular. O conceito associa o desenvolvimento econômico de um país ao melhor uso de recursos naturais e priorização de matérias-primas que sejam mais duráveis e renováveis.

Criado com base em um estudo da fundação, que apontava o potencial da economia circular para impulsionar a indústria alimentícia rumo à sustentabilidade, o desafio recebeu mais de 140 inscrições de empresas de alimentos e bebidas. Empresas de grande porte como Nestlé e Danone são participantes.

Varejista entrou como parceira em projeto da Fundação Ellen MacArthur que convida empresas de todos os portes a criarem produtos alimentícios que regenerem a natureza com economia circular Foto: PhotoMIX Company/ Pexels

Para impulsionar a produção entre as companhias menores, PMEs e startups receberão um subsídio de até £ 30 mil (cerca de R$ 159 mil), cada uma, para desenvolver as suas ideias. Ao todo, £ 510 mil (mais de R$ 2 milhões) serão distribuídos pela fundação. Para a fase de produção, foram selecionadas 168 ideias de produtos.

Dentre os projetos que devem ser produzidos até outubro deste ano, estão: vinho de caju, da startup Enoteca Saint VinSaint, produzido a partir do “pseudofruto do caju” comumente descartado pela indústria de suco e mel de abelhas nativas; e “cookies com ingredientes reciclados” da Native, que fabricará biscoitos de maçã e canela cultivados com práticas regenerativas com farinha de semente de uva reciclada.

“Tem um produto que é muito interessante que é um aperitivo que imita o frango, mas é feito do bagaço do caju que é desperdiçado pela indústria de suco de fruta. O produto é feito com a fibra desse bagaço e temperado com especiarias amazônicas compradas de comunidades tradicionais”, explica a gerente de rede de empresas da América Latina na Fundação, Victoria Almeida.

O desafio começou ainda em 2023, com as empresas inscritas aprendendo mais sobre o conceito de economia circular e a sua aplicabilidade. O ano foi dedicado para o desenvolvimento das ideias. Agora, as companhias vão colocá-las em prática, desenvolvendo os itens da escolha de seus fornecedores e ingredientes até as embalagens.

As empresas que tiverem os seus projetos “bem-sucedidos” e “comercialmente atrativos” conseguirão um espaço nas gôndolas do Carrefour. Segundo a fundação, para atender aos critérios do desafio, os produtos deverão:

  • Ter a maior parte de seus ingredientes provenientes de sistemas de produção que indicam resultados positivos para a natureza;
  • Preencher pelo menos uma das três oportunidades de design identificadas no modelo de design circular para alimentos (uso de ingredientes de menor impacto, diversificados e reciclados);
  • Ter uma embalagem que não utilize materiais problemáticos e atenda ao maior número possível de metas de economia circular.

A seleção de quais produtos serão comercializados pelo Carrefour, de fato, ficará a critério do grupo. A diretora sênior de sustentabilidade do Grupo Carrefour Brasil, Susy Yoshimura, destaca que diversos fatores podem tornar um produto atrativo, desde a embalagem, o tamanho e o preço. Ela, no entanto, aponta que ao final o que conta é o produto ser, de fato, bom. “Às vezes a proposta é superlegal, mas o chocolate não é bom, a cerveja não é boa. Pode vender uma vez, mas não há recompra. A qualidade é o que conta.”

Yoshimura ressalta que não há uma quantidade limite de produtos a serem selecionados para a comercialização. “O produto que a gente acredita que vai vender, a gente vai colocar”, explica, apontando que muitas vezes o preço de um produto sustentável é tão elevado justamente pelas empresas, especialmente as menores, não saberem otimizar os seus custos logísticos, tributários e com matéria-prima.

Susy Yoshimura, diretora sênior de Sustentabilidade do Grupo Carrefour Brasil. Foto: Daniela Toviansky / Grupo Carrefour Brasil

Ela confirmou ao Estadão que poderá haver uma continuidade nas prateleiras para os produtos com adesão após os seis meses definidos previamente. “Se o consumidor compra, esse é o melhor dos mundos. Quem decide não é o Carrefour, é o consumidor. Existe interesse do grupo, desde que com viabilidade econômica e recepção do nosso consumidor, que esses produtos não sejam uma raridade, mas uma grande parte do que estamos oferecendo.”

Ela aponta que, caso não haja uma aceitação, será necessário aprender com o cenário e entender o que deve ser alterado, considerando que mudanças sustentáveis em todos os setores serão cada vez mais cobradas nos próximos anos.

Acesso a produtos sustentáveis

Cerca de 89% dos brasileiros consideram urgente a adoção de uma alimentação sustentável, de acordo com uma pesquisa divulgada pela Sodexo neste mês. A crença de que um estilo de vida mais sustentável pesa do bolso é considerada uma das principais barreiras para colocar em prática o desejo, aponta um levantamento do Instituto Akatu em parceria com a GlobeScan.

No setor da alimentação, a disparidade acaba tendo um peso ainda maior em algumas categorias de produtos. Startups têm apostado no desenvolvimento de itens sustentáveis, mas eles nem sempre chegam ao público-alvo devido aos custos maiores com matérias-primas menos poluentes, além do preço elevado com o desenvolvimento de novas tecnologias, transporte e a dificuldade de ultrapassar a barreira de ser um produto de nicho.

Neste sentido, o envolvimento dos grandes varejos na pauta é essencial, aponta Yoshimura. A executiva ressalta que, caso esse engajamento não aconteça, os produtos ficarão nichados e haverá uma “gourmetização da cadeia sustentável”.

Além do acesso, a executiva reforça que o desafio é uma oportunidade de envolver o consumidor também no processo produtivo. Ela explica que hoje existem produtos saudáveis que são tão disruptivos que o consumidor sequer sabe sua serventia.

“Queremos que o consumidor saiba o que é um produto sustentável. Às vezes o consumidor nem entende como comer aquilo. A farinha de não sei o que... o que ele faz com aquilo? Não está claro, o consumidor não sabe”, aponta.

Para a diretora executiva para a América Latina da Fundação, Luisa Santiago, o desafio entra como um projeto importante não só pela futura comercialização dos produtos para um amplo público-consumidor, mas também por demonstrar que a mudança começa desde já. “As empresas que aceitaram o desafio estão abrindo os caminhos para mostrar o que já é possível de se fazer.”

Victoria Almeida destaca que a inclusão de varejistas é essencial para o acesso, mas também para tornar estes produtos “comercialmente desejáveis”, considerando a expertise de mercado que as grandes marcas possuem.

Gerente de rede de empresas da América Latina na Fundação Ellen MacArthur, Victoria Almeida Foto: Divulgação/ Fundação Ellen McArthur

“Os grandes varejistas e as grandes marcas tem um grande poder de influenciar os hábitos de consumo. Criando demanda, elas decidem o que vai ser produzido, então eles são atores essenciais nessa transformação”, explica Almeida.

O processo permitirá que as empresas pensem não só nos aspectos sustentáveis, como também na aplicação comercial das ideias. Ela destaca que a ideia do projeto sempre foi enfrentar a barreira de preço que muitas vezes se estabelece para produtos sustentáveis.

Almeida ainda destaca que o maior trunfo do projeto é trazer conceitos de economia circular que vão além da teoria e se aproximem, de fato, do público-consumidor. “O tema de economia circular é visto como sinônimo de reciclagem, quando, na verdade, falamos de repensar os produtos para que eles não virem resíduos. É repensar os materiais que vão ser usados para alongar a vida útil dos produtos.”

A executiva reforça que o projeto demonstra que o setor alimentício pode ser parte da solução para o desenvolvimento de uma bioeconomia ao invés de um empecilho para o seu desenvolvimento.

O Grupo Carrefour Brasil decidiu comercializar em suas prateleiras produtos alimentícios que regeneram a natureza, numa iniciativa em parceria com a Fundação Ellen MacArthur para tornar produtos alimentícios circulares com pegada ESG (sigla em inglês para boas práticas de meio ambiente, social e governança) acessíveis ao público.

Com a parceria, os produtos serão incluídos no catálogo dos supermercados sem custos para os produtores, facilitando a entrada de novas marcas no varejo. A iniciativa, que propõe oferecer produtos sustentáveis mais baratos, está prevista para acontecer no primeiro semestre de 2025, por seis meses.

O projeto é parte do desafio “O Grande Redesenho de Alimentos”, idealizado pela Fundação, em que empresas de todos os portes de 15 países criaram produtos alimentícios que “regeneram a natureza”, incluindo em suas estratégias de negócio a economia circular. O conceito associa o desenvolvimento econômico de um país ao melhor uso de recursos naturais e priorização de matérias-primas que sejam mais duráveis e renováveis.

Criado com base em um estudo da fundação, que apontava o potencial da economia circular para impulsionar a indústria alimentícia rumo à sustentabilidade, o desafio recebeu mais de 140 inscrições de empresas de alimentos e bebidas. Empresas de grande porte como Nestlé e Danone são participantes.

Varejista entrou como parceira em projeto da Fundação Ellen MacArthur que convida empresas de todos os portes a criarem produtos alimentícios que regenerem a natureza com economia circular Foto: PhotoMIX Company/ Pexels

Para impulsionar a produção entre as companhias menores, PMEs e startups receberão um subsídio de até £ 30 mil (cerca de R$ 159 mil), cada uma, para desenvolver as suas ideias. Ao todo, £ 510 mil (mais de R$ 2 milhões) serão distribuídos pela fundação. Para a fase de produção, foram selecionadas 168 ideias de produtos.

Dentre os projetos que devem ser produzidos até outubro deste ano, estão: vinho de caju, da startup Enoteca Saint VinSaint, produzido a partir do “pseudofruto do caju” comumente descartado pela indústria de suco e mel de abelhas nativas; e “cookies com ingredientes reciclados” da Native, que fabricará biscoitos de maçã e canela cultivados com práticas regenerativas com farinha de semente de uva reciclada.

“Tem um produto que é muito interessante que é um aperitivo que imita o frango, mas é feito do bagaço do caju que é desperdiçado pela indústria de suco de fruta. O produto é feito com a fibra desse bagaço e temperado com especiarias amazônicas compradas de comunidades tradicionais”, explica a gerente de rede de empresas da América Latina na Fundação, Victoria Almeida.

O desafio começou ainda em 2023, com as empresas inscritas aprendendo mais sobre o conceito de economia circular e a sua aplicabilidade. O ano foi dedicado para o desenvolvimento das ideias. Agora, as companhias vão colocá-las em prática, desenvolvendo os itens da escolha de seus fornecedores e ingredientes até as embalagens.

As empresas que tiverem os seus projetos “bem-sucedidos” e “comercialmente atrativos” conseguirão um espaço nas gôndolas do Carrefour. Segundo a fundação, para atender aos critérios do desafio, os produtos deverão:

  • Ter a maior parte de seus ingredientes provenientes de sistemas de produção que indicam resultados positivos para a natureza;
  • Preencher pelo menos uma das três oportunidades de design identificadas no modelo de design circular para alimentos (uso de ingredientes de menor impacto, diversificados e reciclados);
  • Ter uma embalagem que não utilize materiais problemáticos e atenda ao maior número possível de metas de economia circular.

A seleção de quais produtos serão comercializados pelo Carrefour, de fato, ficará a critério do grupo. A diretora sênior de sustentabilidade do Grupo Carrefour Brasil, Susy Yoshimura, destaca que diversos fatores podem tornar um produto atrativo, desde a embalagem, o tamanho e o preço. Ela, no entanto, aponta que ao final o que conta é o produto ser, de fato, bom. “Às vezes a proposta é superlegal, mas o chocolate não é bom, a cerveja não é boa. Pode vender uma vez, mas não há recompra. A qualidade é o que conta.”

Yoshimura ressalta que não há uma quantidade limite de produtos a serem selecionados para a comercialização. “O produto que a gente acredita que vai vender, a gente vai colocar”, explica, apontando que muitas vezes o preço de um produto sustentável é tão elevado justamente pelas empresas, especialmente as menores, não saberem otimizar os seus custos logísticos, tributários e com matéria-prima.

Susy Yoshimura, diretora sênior de Sustentabilidade do Grupo Carrefour Brasil. Foto: Daniela Toviansky / Grupo Carrefour Brasil

Ela confirmou ao Estadão que poderá haver uma continuidade nas prateleiras para os produtos com adesão após os seis meses definidos previamente. “Se o consumidor compra, esse é o melhor dos mundos. Quem decide não é o Carrefour, é o consumidor. Existe interesse do grupo, desde que com viabilidade econômica e recepção do nosso consumidor, que esses produtos não sejam uma raridade, mas uma grande parte do que estamos oferecendo.”

Ela aponta que, caso não haja uma aceitação, será necessário aprender com o cenário e entender o que deve ser alterado, considerando que mudanças sustentáveis em todos os setores serão cada vez mais cobradas nos próximos anos.

Acesso a produtos sustentáveis

Cerca de 89% dos brasileiros consideram urgente a adoção de uma alimentação sustentável, de acordo com uma pesquisa divulgada pela Sodexo neste mês. A crença de que um estilo de vida mais sustentável pesa do bolso é considerada uma das principais barreiras para colocar em prática o desejo, aponta um levantamento do Instituto Akatu em parceria com a GlobeScan.

No setor da alimentação, a disparidade acaba tendo um peso ainda maior em algumas categorias de produtos. Startups têm apostado no desenvolvimento de itens sustentáveis, mas eles nem sempre chegam ao público-alvo devido aos custos maiores com matérias-primas menos poluentes, além do preço elevado com o desenvolvimento de novas tecnologias, transporte e a dificuldade de ultrapassar a barreira de ser um produto de nicho.

Neste sentido, o envolvimento dos grandes varejos na pauta é essencial, aponta Yoshimura. A executiva ressalta que, caso esse engajamento não aconteça, os produtos ficarão nichados e haverá uma “gourmetização da cadeia sustentável”.

Além do acesso, a executiva reforça que o desafio é uma oportunidade de envolver o consumidor também no processo produtivo. Ela explica que hoje existem produtos saudáveis que são tão disruptivos que o consumidor sequer sabe sua serventia.

“Queremos que o consumidor saiba o que é um produto sustentável. Às vezes o consumidor nem entende como comer aquilo. A farinha de não sei o que... o que ele faz com aquilo? Não está claro, o consumidor não sabe”, aponta.

Para a diretora executiva para a América Latina da Fundação, Luisa Santiago, o desafio entra como um projeto importante não só pela futura comercialização dos produtos para um amplo público-consumidor, mas também por demonstrar que a mudança começa desde já. “As empresas que aceitaram o desafio estão abrindo os caminhos para mostrar o que já é possível de se fazer.”

Victoria Almeida destaca que a inclusão de varejistas é essencial para o acesso, mas também para tornar estes produtos “comercialmente desejáveis”, considerando a expertise de mercado que as grandes marcas possuem.

Gerente de rede de empresas da América Latina na Fundação Ellen MacArthur, Victoria Almeida Foto: Divulgação/ Fundação Ellen McArthur

“Os grandes varejistas e as grandes marcas tem um grande poder de influenciar os hábitos de consumo. Criando demanda, elas decidem o que vai ser produzido, então eles são atores essenciais nessa transformação”, explica Almeida.

O processo permitirá que as empresas pensem não só nos aspectos sustentáveis, como também na aplicação comercial das ideias. Ela destaca que a ideia do projeto sempre foi enfrentar a barreira de preço que muitas vezes se estabelece para produtos sustentáveis.

Almeida ainda destaca que o maior trunfo do projeto é trazer conceitos de economia circular que vão além da teoria e se aproximem, de fato, do público-consumidor. “O tema de economia circular é visto como sinônimo de reciclagem, quando, na verdade, falamos de repensar os produtos para que eles não virem resíduos. É repensar os materiais que vão ser usados para alongar a vida útil dos produtos.”

A executiva reforça que o projeto demonstra que o setor alimentício pode ser parte da solução para o desenvolvimento de uma bioeconomia ao invés de um empecilho para o seu desenvolvimento.

O Grupo Carrefour Brasil decidiu comercializar em suas prateleiras produtos alimentícios que regeneram a natureza, numa iniciativa em parceria com a Fundação Ellen MacArthur para tornar produtos alimentícios circulares com pegada ESG (sigla em inglês para boas práticas de meio ambiente, social e governança) acessíveis ao público.

Com a parceria, os produtos serão incluídos no catálogo dos supermercados sem custos para os produtores, facilitando a entrada de novas marcas no varejo. A iniciativa, que propõe oferecer produtos sustentáveis mais baratos, está prevista para acontecer no primeiro semestre de 2025, por seis meses.

O projeto é parte do desafio “O Grande Redesenho de Alimentos”, idealizado pela Fundação, em que empresas de todos os portes de 15 países criaram produtos alimentícios que “regeneram a natureza”, incluindo em suas estratégias de negócio a economia circular. O conceito associa o desenvolvimento econômico de um país ao melhor uso de recursos naturais e priorização de matérias-primas que sejam mais duráveis e renováveis.

Criado com base em um estudo da fundação, que apontava o potencial da economia circular para impulsionar a indústria alimentícia rumo à sustentabilidade, o desafio recebeu mais de 140 inscrições de empresas de alimentos e bebidas. Empresas de grande porte como Nestlé e Danone são participantes.

Varejista entrou como parceira em projeto da Fundação Ellen MacArthur que convida empresas de todos os portes a criarem produtos alimentícios que regenerem a natureza com economia circular Foto: PhotoMIX Company/ Pexels

Para impulsionar a produção entre as companhias menores, PMEs e startups receberão um subsídio de até £ 30 mil (cerca de R$ 159 mil), cada uma, para desenvolver as suas ideias. Ao todo, £ 510 mil (mais de R$ 2 milhões) serão distribuídos pela fundação. Para a fase de produção, foram selecionadas 168 ideias de produtos.

Dentre os projetos que devem ser produzidos até outubro deste ano, estão: vinho de caju, da startup Enoteca Saint VinSaint, produzido a partir do “pseudofruto do caju” comumente descartado pela indústria de suco e mel de abelhas nativas; e “cookies com ingredientes reciclados” da Native, que fabricará biscoitos de maçã e canela cultivados com práticas regenerativas com farinha de semente de uva reciclada.

“Tem um produto que é muito interessante que é um aperitivo que imita o frango, mas é feito do bagaço do caju que é desperdiçado pela indústria de suco de fruta. O produto é feito com a fibra desse bagaço e temperado com especiarias amazônicas compradas de comunidades tradicionais”, explica a gerente de rede de empresas da América Latina na Fundação, Victoria Almeida.

O desafio começou ainda em 2023, com as empresas inscritas aprendendo mais sobre o conceito de economia circular e a sua aplicabilidade. O ano foi dedicado para o desenvolvimento das ideias. Agora, as companhias vão colocá-las em prática, desenvolvendo os itens da escolha de seus fornecedores e ingredientes até as embalagens.

As empresas que tiverem os seus projetos “bem-sucedidos” e “comercialmente atrativos” conseguirão um espaço nas gôndolas do Carrefour. Segundo a fundação, para atender aos critérios do desafio, os produtos deverão:

  • Ter a maior parte de seus ingredientes provenientes de sistemas de produção que indicam resultados positivos para a natureza;
  • Preencher pelo menos uma das três oportunidades de design identificadas no modelo de design circular para alimentos (uso de ingredientes de menor impacto, diversificados e reciclados);
  • Ter uma embalagem que não utilize materiais problemáticos e atenda ao maior número possível de metas de economia circular.

A seleção de quais produtos serão comercializados pelo Carrefour, de fato, ficará a critério do grupo. A diretora sênior de sustentabilidade do Grupo Carrefour Brasil, Susy Yoshimura, destaca que diversos fatores podem tornar um produto atrativo, desde a embalagem, o tamanho e o preço. Ela, no entanto, aponta que ao final o que conta é o produto ser, de fato, bom. “Às vezes a proposta é superlegal, mas o chocolate não é bom, a cerveja não é boa. Pode vender uma vez, mas não há recompra. A qualidade é o que conta.”

Yoshimura ressalta que não há uma quantidade limite de produtos a serem selecionados para a comercialização. “O produto que a gente acredita que vai vender, a gente vai colocar”, explica, apontando que muitas vezes o preço de um produto sustentável é tão elevado justamente pelas empresas, especialmente as menores, não saberem otimizar os seus custos logísticos, tributários e com matéria-prima.

Susy Yoshimura, diretora sênior de Sustentabilidade do Grupo Carrefour Brasil. Foto: Daniela Toviansky / Grupo Carrefour Brasil

Ela confirmou ao Estadão que poderá haver uma continuidade nas prateleiras para os produtos com adesão após os seis meses definidos previamente. “Se o consumidor compra, esse é o melhor dos mundos. Quem decide não é o Carrefour, é o consumidor. Existe interesse do grupo, desde que com viabilidade econômica e recepção do nosso consumidor, que esses produtos não sejam uma raridade, mas uma grande parte do que estamos oferecendo.”

Ela aponta que, caso não haja uma aceitação, será necessário aprender com o cenário e entender o que deve ser alterado, considerando que mudanças sustentáveis em todos os setores serão cada vez mais cobradas nos próximos anos.

Acesso a produtos sustentáveis

Cerca de 89% dos brasileiros consideram urgente a adoção de uma alimentação sustentável, de acordo com uma pesquisa divulgada pela Sodexo neste mês. A crença de que um estilo de vida mais sustentável pesa do bolso é considerada uma das principais barreiras para colocar em prática o desejo, aponta um levantamento do Instituto Akatu em parceria com a GlobeScan.

No setor da alimentação, a disparidade acaba tendo um peso ainda maior em algumas categorias de produtos. Startups têm apostado no desenvolvimento de itens sustentáveis, mas eles nem sempre chegam ao público-alvo devido aos custos maiores com matérias-primas menos poluentes, além do preço elevado com o desenvolvimento de novas tecnologias, transporte e a dificuldade de ultrapassar a barreira de ser um produto de nicho.

Neste sentido, o envolvimento dos grandes varejos na pauta é essencial, aponta Yoshimura. A executiva ressalta que, caso esse engajamento não aconteça, os produtos ficarão nichados e haverá uma “gourmetização da cadeia sustentável”.

Além do acesso, a executiva reforça que o desafio é uma oportunidade de envolver o consumidor também no processo produtivo. Ela explica que hoje existem produtos saudáveis que são tão disruptivos que o consumidor sequer sabe sua serventia.

“Queremos que o consumidor saiba o que é um produto sustentável. Às vezes o consumidor nem entende como comer aquilo. A farinha de não sei o que... o que ele faz com aquilo? Não está claro, o consumidor não sabe”, aponta.

Para a diretora executiva para a América Latina da Fundação, Luisa Santiago, o desafio entra como um projeto importante não só pela futura comercialização dos produtos para um amplo público-consumidor, mas também por demonstrar que a mudança começa desde já. “As empresas que aceitaram o desafio estão abrindo os caminhos para mostrar o que já é possível de se fazer.”

Victoria Almeida destaca que a inclusão de varejistas é essencial para o acesso, mas também para tornar estes produtos “comercialmente desejáveis”, considerando a expertise de mercado que as grandes marcas possuem.

Gerente de rede de empresas da América Latina na Fundação Ellen MacArthur, Victoria Almeida Foto: Divulgação/ Fundação Ellen McArthur

“Os grandes varejistas e as grandes marcas tem um grande poder de influenciar os hábitos de consumo. Criando demanda, elas decidem o que vai ser produzido, então eles são atores essenciais nessa transformação”, explica Almeida.

O processo permitirá que as empresas pensem não só nos aspectos sustentáveis, como também na aplicação comercial das ideias. Ela destaca que a ideia do projeto sempre foi enfrentar a barreira de preço que muitas vezes se estabelece para produtos sustentáveis.

Almeida ainda destaca que o maior trunfo do projeto é trazer conceitos de economia circular que vão além da teoria e se aproximem, de fato, do público-consumidor. “O tema de economia circular é visto como sinônimo de reciclagem, quando, na verdade, falamos de repensar os produtos para que eles não virem resíduos. É repensar os materiais que vão ser usados para alongar a vida útil dos produtos.”

A executiva reforça que o projeto demonstra que o setor alimentício pode ser parte da solução para o desenvolvimento de uma bioeconomia ao invés de um empecilho para o seu desenvolvimento.

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