WWF-Brasil e consultoria criam ferramentas para investidores avaliarem desmatamento e biodiversidade


Parceria lança painel de controle com mapas e métricas para levar mais informações sobre temas ambientais e impacto dos recursos investidos, além de apresentação com oportunidades

Por Luis Filipe Santos

O avanço da pauta ESG, que defende a preocupação das empresas com questões ambientais, sociais e de governança corporativa, leva questões como o desmatamento e a preservação da biodiversidade diretamente para os investidores. Contudo, esses temas nem sempre são simples de serem avaliados, devido à falta de informação e métricas. A ONG World Wide Fund for Nature (WWF) Brasil e a consultoria Nint visam lidar com esse problema com dois lançamentos: um dashboard (painel de controle) e uma tese.

O dashboard traz ferramentas como métricas, metodologias e mapas para a avaliação de como os investimentos em determinadas áreas e empresas podem afetar o uso do solo e a biodiversidade locais. Os mecanismos estão categorizados por commodities, cobertura geográfica, formas de visualização, granularidade e os próprios recursos utilizados. Algumas ferramentas são gratuitas e outras pagas às empresas que as desenvolveram.

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“A ideia surgiu da constatação de que é fundamental excluir o desmatamento do portfólio de investimentos do setor financeiro, bem como, apresentar as ferramentas apropriadas para fazê-lo. A erosão da biodiversidade e a disrupção dos sistemas climáticos já levam a prejuízos em diversos setores, em especial aqueles altamente dependentes dos serviços ecossistêmicos, como a agropecuária”, afirma Fabrício Campos, especialista em Conservação do WWF-Brasil.

Segundo o Relatório Planeta Vivo 2020 da Rede Global WWF, o mundo viu uma queda de 68% no tamanho das populações de espécies entre 1970 e 2016. A América Latina tem o pior índice do planeta, com redução de 94% das espécies. E, de acordo com o Observatório do Clima (2019), o Brasil emitiu 1,939 bilhão de toneladas brutas de gases de efeito estufa em 2018, medidas em toneladas de CO2. Desse total, 44% vieram das mudanças no uso da terra, sobretudo do desmatamento na Amazônia e no Cerrado.

“A questão da biodiversidade esbarra muito na falta de métricas: como podemos mensurá-la? Nós juntamos algumas ferramentas disponíveis, mas não tinha nada categorizado, por ter muita coisa ainda sendo feita, muitas ferramentas sendo criadas ou em versões beta”, explica Júlia Ferrato, consultora em ESG da Nint, sobre porque separar em diferentes categorias foi importante. “O dashboard ajuda a mostrar o nível de granularidade de cada mecanismo, qual o tipo de resultado que essa ferramenta traz de retorno e qual o uso dela”, completa.

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Algumas empresas já são consolidadas como referência em ESG, mas outras têm maior dificuldade em boas práticas ambientais, pela própria natureza do negócio. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A prioridade foi para ferramentas que ajudassem a verificar mudanças no uso da terra. Um exemplo é a inteligência artificial Previsia, que indica áreas em risco de desmatamento na Amazônia - diferente de tecnologias de satélite que detectam a derrubada de árvores depois que ela é realizada. “Os atores financeiros têm os recursos para parar com a lógica de destruição. Mas às vezes, apesar de saberem da importância, não sabem nem por onde começar, o que acessar, a quais dados recorrer”, afirma Ferrato.

O dashboard pode servir de apoio em “due dilligences”, no mapeamento de impactos e em trabalhos de pesquisa. “Traz tudo mastigado, as ferramentas que a pessoa pode usar para chegar nesses dados, outras em valor quantitativa para calcular os hectares, a área de risco, traz esses possíveis recursos”, diz a consultora.

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A ferramenta será apresentada ao mercado principalmente por meio de workshops com os possíveis interessados em utilizá-la, quando também serão ouvidas opiniões sobre o uso. Cada ferramenta segue um cronograma próprio de atualizações, mas pode ser que novas sejam acrescentadas ao dashboard no futuro.

“O desmatamento é um tema importantíssimo para o território brasileiro. Além de ser uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa, é também um dos principais vetores de erosão da biodiversidade em nosso país, por isso dizer-se ESG sem endereçar apropriadamente o desmatamento é hipocrisia e greenwashing. Não existe ESG com desmatamento”, reforça Campos.

É importante lembrar que há outras possíveis fontes de impacto na biodiversidade além do desmatamento. “As instituições que querem diminuir ainda mais seu impacto na biodiversidade devem observar em sua avaliação de investimento a introdução de novas fontes poluidoras, introdução responsável de espécies exóticas, exploração comercial de espécies selvagens e obras de infraestrutura que alterem os ecossistemas, como, por exemplo, barragens em rios”, relembra Campos.

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Tese

Já a tese se trata de uma lista de oportunidades a ser apresentada aos investidores, para que eles possam conhecer possíveis caminhos para auxiliar a descarbonização e conversão zero no uso do solo. O objetivo é contribuir para que os investidores possam entender e elaborar teses próprias baseadas em desmatamento zero, além de acessar mais informações a respeito.

“A pretensão é fomentar o setor, trazer a semente da discussão”, afirma Ferrato. “Já tem ali os inputs e as atividades, para ajudar a traduzir isso num impacto financeiro positivo. Para gerar esse impacto, o investidor precisa entender o que está tentando solucionar e atacar esse problema”, comenta. Segundo ela, é necessário lembrar que existe uma dupla materialidade: os ativos financeiros dependem da biodiversidade para serem rentáveis e, ao mesmo tempo, tem o dever de ajudá-la a ser preservada.

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Dessa forma, o protagonismo fica com os próprios agentes do mercado financeiro, que devem decidir como agir para ajudar na transição para uma economia mais verde e que leve a biodiversidade em consideração. “Uma vez que os investidores possuem partes das empresas, como ativos, ações e shares, eles têm um papel central de incentivar e monitorar as transformações corporativas, não só no tema de desmatamento, como também em questões climáticas e de direitos humanos, atuando para alinhar discurso e prática, impedindo o greenwashing”, conclui Campos.

O avanço da pauta ESG, que defende a preocupação das empresas com questões ambientais, sociais e de governança corporativa, leva questões como o desmatamento e a preservação da biodiversidade diretamente para os investidores. Contudo, esses temas nem sempre são simples de serem avaliados, devido à falta de informação e métricas. A ONG World Wide Fund for Nature (WWF) Brasil e a consultoria Nint visam lidar com esse problema com dois lançamentos: um dashboard (painel de controle) e uma tese.

O dashboard traz ferramentas como métricas, metodologias e mapas para a avaliação de como os investimentos em determinadas áreas e empresas podem afetar o uso do solo e a biodiversidade locais. Os mecanismos estão categorizados por commodities, cobertura geográfica, formas de visualização, granularidade e os próprios recursos utilizados. Algumas ferramentas são gratuitas e outras pagas às empresas que as desenvolveram.

“A ideia surgiu da constatação de que é fundamental excluir o desmatamento do portfólio de investimentos do setor financeiro, bem como, apresentar as ferramentas apropriadas para fazê-lo. A erosão da biodiversidade e a disrupção dos sistemas climáticos já levam a prejuízos em diversos setores, em especial aqueles altamente dependentes dos serviços ecossistêmicos, como a agropecuária”, afirma Fabrício Campos, especialista em Conservação do WWF-Brasil.

Segundo o Relatório Planeta Vivo 2020 da Rede Global WWF, o mundo viu uma queda de 68% no tamanho das populações de espécies entre 1970 e 2016. A América Latina tem o pior índice do planeta, com redução de 94% das espécies. E, de acordo com o Observatório do Clima (2019), o Brasil emitiu 1,939 bilhão de toneladas brutas de gases de efeito estufa em 2018, medidas em toneladas de CO2. Desse total, 44% vieram das mudanças no uso da terra, sobretudo do desmatamento na Amazônia e no Cerrado.

“A questão da biodiversidade esbarra muito na falta de métricas: como podemos mensurá-la? Nós juntamos algumas ferramentas disponíveis, mas não tinha nada categorizado, por ter muita coisa ainda sendo feita, muitas ferramentas sendo criadas ou em versões beta”, explica Júlia Ferrato, consultora em ESG da Nint, sobre porque separar em diferentes categorias foi importante. “O dashboard ajuda a mostrar o nível de granularidade de cada mecanismo, qual o tipo de resultado que essa ferramenta traz de retorno e qual o uso dela”, completa.

Algumas empresas já são consolidadas como referência em ESG, mas outras têm maior dificuldade em boas práticas ambientais, pela própria natureza do negócio. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A prioridade foi para ferramentas que ajudassem a verificar mudanças no uso da terra. Um exemplo é a inteligência artificial Previsia, que indica áreas em risco de desmatamento na Amazônia - diferente de tecnologias de satélite que detectam a derrubada de árvores depois que ela é realizada. “Os atores financeiros têm os recursos para parar com a lógica de destruição. Mas às vezes, apesar de saberem da importância, não sabem nem por onde começar, o que acessar, a quais dados recorrer”, afirma Ferrato.

O dashboard pode servir de apoio em “due dilligences”, no mapeamento de impactos e em trabalhos de pesquisa. “Traz tudo mastigado, as ferramentas que a pessoa pode usar para chegar nesses dados, outras em valor quantitativa para calcular os hectares, a área de risco, traz esses possíveis recursos”, diz a consultora.

A ferramenta será apresentada ao mercado principalmente por meio de workshops com os possíveis interessados em utilizá-la, quando também serão ouvidas opiniões sobre o uso. Cada ferramenta segue um cronograma próprio de atualizações, mas pode ser que novas sejam acrescentadas ao dashboard no futuro.

“O desmatamento é um tema importantíssimo para o território brasileiro. Além de ser uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa, é também um dos principais vetores de erosão da biodiversidade em nosso país, por isso dizer-se ESG sem endereçar apropriadamente o desmatamento é hipocrisia e greenwashing. Não existe ESG com desmatamento”, reforça Campos.

É importante lembrar que há outras possíveis fontes de impacto na biodiversidade além do desmatamento. “As instituições que querem diminuir ainda mais seu impacto na biodiversidade devem observar em sua avaliação de investimento a introdução de novas fontes poluidoras, introdução responsável de espécies exóticas, exploração comercial de espécies selvagens e obras de infraestrutura que alterem os ecossistemas, como, por exemplo, barragens em rios”, relembra Campos.

Tese

Já a tese se trata de uma lista de oportunidades a ser apresentada aos investidores, para que eles possam conhecer possíveis caminhos para auxiliar a descarbonização e conversão zero no uso do solo. O objetivo é contribuir para que os investidores possam entender e elaborar teses próprias baseadas em desmatamento zero, além de acessar mais informações a respeito.

“A pretensão é fomentar o setor, trazer a semente da discussão”, afirma Ferrato. “Já tem ali os inputs e as atividades, para ajudar a traduzir isso num impacto financeiro positivo. Para gerar esse impacto, o investidor precisa entender o que está tentando solucionar e atacar esse problema”, comenta. Segundo ela, é necessário lembrar que existe uma dupla materialidade: os ativos financeiros dependem da biodiversidade para serem rentáveis e, ao mesmo tempo, tem o dever de ajudá-la a ser preservada.

Dessa forma, o protagonismo fica com os próprios agentes do mercado financeiro, que devem decidir como agir para ajudar na transição para uma economia mais verde e que leve a biodiversidade em consideração. “Uma vez que os investidores possuem partes das empresas, como ativos, ações e shares, eles têm um papel central de incentivar e monitorar as transformações corporativas, não só no tema de desmatamento, como também em questões climáticas e de direitos humanos, atuando para alinhar discurso e prática, impedindo o greenwashing”, conclui Campos.

O avanço da pauta ESG, que defende a preocupação das empresas com questões ambientais, sociais e de governança corporativa, leva questões como o desmatamento e a preservação da biodiversidade diretamente para os investidores. Contudo, esses temas nem sempre são simples de serem avaliados, devido à falta de informação e métricas. A ONG World Wide Fund for Nature (WWF) Brasil e a consultoria Nint visam lidar com esse problema com dois lançamentos: um dashboard (painel de controle) e uma tese.

O dashboard traz ferramentas como métricas, metodologias e mapas para a avaliação de como os investimentos em determinadas áreas e empresas podem afetar o uso do solo e a biodiversidade locais. Os mecanismos estão categorizados por commodities, cobertura geográfica, formas de visualização, granularidade e os próprios recursos utilizados. Algumas ferramentas são gratuitas e outras pagas às empresas que as desenvolveram.

“A ideia surgiu da constatação de que é fundamental excluir o desmatamento do portfólio de investimentos do setor financeiro, bem como, apresentar as ferramentas apropriadas para fazê-lo. A erosão da biodiversidade e a disrupção dos sistemas climáticos já levam a prejuízos em diversos setores, em especial aqueles altamente dependentes dos serviços ecossistêmicos, como a agropecuária”, afirma Fabrício Campos, especialista em Conservação do WWF-Brasil.

Segundo o Relatório Planeta Vivo 2020 da Rede Global WWF, o mundo viu uma queda de 68% no tamanho das populações de espécies entre 1970 e 2016. A América Latina tem o pior índice do planeta, com redução de 94% das espécies. E, de acordo com o Observatório do Clima (2019), o Brasil emitiu 1,939 bilhão de toneladas brutas de gases de efeito estufa em 2018, medidas em toneladas de CO2. Desse total, 44% vieram das mudanças no uso da terra, sobretudo do desmatamento na Amazônia e no Cerrado.

“A questão da biodiversidade esbarra muito na falta de métricas: como podemos mensurá-la? Nós juntamos algumas ferramentas disponíveis, mas não tinha nada categorizado, por ter muita coisa ainda sendo feita, muitas ferramentas sendo criadas ou em versões beta”, explica Júlia Ferrato, consultora em ESG da Nint, sobre porque separar em diferentes categorias foi importante. “O dashboard ajuda a mostrar o nível de granularidade de cada mecanismo, qual o tipo de resultado que essa ferramenta traz de retorno e qual o uso dela”, completa.

Algumas empresas já são consolidadas como referência em ESG, mas outras têm maior dificuldade em boas práticas ambientais, pela própria natureza do negócio. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A prioridade foi para ferramentas que ajudassem a verificar mudanças no uso da terra. Um exemplo é a inteligência artificial Previsia, que indica áreas em risco de desmatamento na Amazônia - diferente de tecnologias de satélite que detectam a derrubada de árvores depois que ela é realizada. “Os atores financeiros têm os recursos para parar com a lógica de destruição. Mas às vezes, apesar de saberem da importância, não sabem nem por onde começar, o que acessar, a quais dados recorrer”, afirma Ferrato.

O dashboard pode servir de apoio em “due dilligences”, no mapeamento de impactos e em trabalhos de pesquisa. “Traz tudo mastigado, as ferramentas que a pessoa pode usar para chegar nesses dados, outras em valor quantitativa para calcular os hectares, a área de risco, traz esses possíveis recursos”, diz a consultora.

A ferramenta será apresentada ao mercado principalmente por meio de workshops com os possíveis interessados em utilizá-la, quando também serão ouvidas opiniões sobre o uso. Cada ferramenta segue um cronograma próprio de atualizações, mas pode ser que novas sejam acrescentadas ao dashboard no futuro.

“O desmatamento é um tema importantíssimo para o território brasileiro. Além de ser uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa, é também um dos principais vetores de erosão da biodiversidade em nosso país, por isso dizer-se ESG sem endereçar apropriadamente o desmatamento é hipocrisia e greenwashing. Não existe ESG com desmatamento”, reforça Campos.

É importante lembrar que há outras possíveis fontes de impacto na biodiversidade além do desmatamento. “As instituições que querem diminuir ainda mais seu impacto na biodiversidade devem observar em sua avaliação de investimento a introdução de novas fontes poluidoras, introdução responsável de espécies exóticas, exploração comercial de espécies selvagens e obras de infraestrutura que alterem os ecossistemas, como, por exemplo, barragens em rios”, relembra Campos.

Tese

Já a tese se trata de uma lista de oportunidades a ser apresentada aos investidores, para que eles possam conhecer possíveis caminhos para auxiliar a descarbonização e conversão zero no uso do solo. O objetivo é contribuir para que os investidores possam entender e elaborar teses próprias baseadas em desmatamento zero, além de acessar mais informações a respeito.

“A pretensão é fomentar o setor, trazer a semente da discussão”, afirma Ferrato. “Já tem ali os inputs e as atividades, para ajudar a traduzir isso num impacto financeiro positivo. Para gerar esse impacto, o investidor precisa entender o que está tentando solucionar e atacar esse problema”, comenta. Segundo ela, é necessário lembrar que existe uma dupla materialidade: os ativos financeiros dependem da biodiversidade para serem rentáveis e, ao mesmo tempo, tem o dever de ajudá-la a ser preservada.

Dessa forma, o protagonismo fica com os próprios agentes do mercado financeiro, que devem decidir como agir para ajudar na transição para uma economia mais verde e que leve a biodiversidade em consideração. “Uma vez que os investidores possuem partes das empresas, como ativos, ações e shares, eles têm um papel central de incentivar e monitorar as transformações corporativas, não só no tema de desmatamento, como também em questões climáticas e de direitos humanos, atuando para alinhar discurso e prática, impedindo o greenwashing”, conclui Campos.

O avanço da pauta ESG, que defende a preocupação das empresas com questões ambientais, sociais e de governança corporativa, leva questões como o desmatamento e a preservação da biodiversidade diretamente para os investidores. Contudo, esses temas nem sempre são simples de serem avaliados, devido à falta de informação e métricas. A ONG World Wide Fund for Nature (WWF) Brasil e a consultoria Nint visam lidar com esse problema com dois lançamentos: um dashboard (painel de controle) e uma tese.

O dashboard traz ferramentas como métricas, metodologias e mapas para a avaliação de como os investimentos em determinadas áreas e empresas podem afetar o uso do solo e a biodiversidade locais. Os mecanismos estão categorizados por commodities, cobertura geográfica, formas de visualização, granularidade e os próprios recursos utilizados. Algumas ferramentas são gratuitas e outras pagas às empresas que as desenvolveram.

“A ideia surgiu da constatação de que é fundamental excluir o desmatamento do portfólio de investimentos do setor financeiro, bem como, apresentar as ferramentas apropriadas para fazê-lo. A erosão da biodiversidade e a disrupção dos sistemas climáticos já levam a prejuízos em diversos setores, em especial aqueles altamente dependentes dos serviços ecossistêmicos, como a agropecuária”, afirma Fabrício Campos, especialista em Conservação do WWF-Brasil.

Segundo o Relatório Planeta Vivo 2020 da Rede Global WWF, o mundo viu uma queda de 68% no tamanho das populações de espécies entre 1970 e 2016. A América Latina tem o pior índice do planeta, com redução de 94% das espécies. E, de acordo com o Observatório do Clima (2019), o Brasil emitiu 1,939 bilhão de toneladas brutas de gases de efeito estufa em 2018, medidas em toneladas de CO2. Desse total, 44% vieram das mudanças no uso da terra, sobretudo do desmatamento na Amazônia e no Cerrado.

“A questão da biodiversidade esbarra muito na falta de métricas: como podemos mensurá-la? Nós juntamos algumas ferramentas disponíveis, mas não tinha nada categorizado, por ter muita coisa ainda sendo feita, muitas ferramentas sendo criadas ou em versões beta”, explica Júlia Ferrato, consultora em ESG da Nint, sobre porque separar em diferentes categorias foi importante. “O dashboard ajuda a mostrar o nível de granularidade de cada mecanismo, qual o tipo de resultado que essa ferramenta traz de retorno e qual o uso dela”, completa.

Algumas empresas já são consolidadas como referência em ESG, mas outras têm maior dificuldade em boas práticas ambientais, pela própria natureza do negócio. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A prioridade foi para ferramentas que ajudassem a verificar mudanças no uso da terra. Um exemplo é a inteligência artificial Previsia, que indica áreas em risco de desmatamento na Amazônia - diferente de tecnologias de satélite que detectam a derrubada de árvores depois que ela é realizada. “Os atores financeiros têm os recursos para parar com a lógica de destruição. Mas às vezes, apesar de saberem da importância, não sabem nem por onde começar, o que acessar, a quais dados recorrer”, afirma Ferrato.

O dashboard pode servir de apoio em “due dilligences”, no mapeamento de impactos e em trabalhos de pesquisa. “Traz tudo mastigado, as ferramentas que a pessoa pode usar para chegar nesses dados, outras em valor quantitativa para calcular os hectares, a área de risco, traz esses possíveis recursos”, diz a consultora.

A ferramenta será apresentada ao mercado principalmente por meio de workshops com os possíveis interessados em utilizá-la, quando também serão ouvidas opiniões sobre o uso. Cada ferramenta segue um cronograma próprio de atualizações, mas pode ser que novas sejam acrescentadas ao dashboard no futuro.

“O desmatamento é um tema importantíssimo para o território brasileiro. Além de ser uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa, é também um dos principais vetores de erosão da biodiversidade em nosso país, por isso dizer-se ESG sem endereçar apropriadamente o desmatamento é hipocrisia e greenwashing. Não existe ESG com desmatamento”, reforça Campos.

É importante lembrar que há outras possíveis fontes de impacto na biodiversidade além do desmatamento. “As instituições que querem diminuir ainda mais seu impacto na biodiversidade devem observar em sua avaliação de investimento a introdução de novas fontes poluidoras, introdução responsável de espécies exóticas, exploração comercial de espécies selvagens e obras de infraestrutura que alterem os ecossistemas, como, por exemplo, barragens em rios”, relembra Campos.

Tese

Já a tese se trata de uma lista de oportunidades a ser apresentada aos investidores, para que eles possam conhecer possíveis caminhos para auxiliar a descarbonização e conversão zero no uso do solo. O objetivo é contribuir para que os investidores possam entender e elaborar teses próprias baseadas em desmatamento zero, além de acessar mais informações a respeito.

“A pretensão é fomentar o setor, trazer a semente da discussão”, afirma Ferrato. “Já tem ali os inputs e as atividades, para ajudar a traduzir isso num impacto financeiro positivo. Para gerar esse impacto, o investidor precisa entender o que está tentando solucionar e atacar esse problema”, comenta. Segundo ela, é necessário lembrar que existe uma dupla materialidade: os ativos financeiros dependem da biodiversidade para serem rentáveis e, ao mesmo tempo, tem o dever de ajudá-la a ser preservada.

Dessa forma, o protagonismo fica com os próprios agentes do mercado financeiro, que devem decidir como agir para ajudar na transição para uma economia mais verde e que leve a biodiversidade em consideração. “Uma vez que os investidores possuem partes das empresas, como ativos, ações e shares, eles têm um papel central de incentivar e monitorar as transformações corporativas, não só no tema de desmatamento, como também em questões climáticas e de direitos humanos, atuando para alinhar discurso e prática, impedindo o greenwashing”, conclui Campos.

O avanço da pauta ESG, que defende a preocupação das empresas com questões ambientais, sociais e de governança corporativa, leva questões como o desmatamento e a preservação da biodiversidade diretamente para os investidores. Contudo, esses temas nem sempre são simples de serem avaliados, devido à falta de informação e métricas. A ONG World Wide Fund for Nature (WWF) Brasil e a consultoria Nint visam lidar com esse problema com dois lançamentos: um dashboard (painel de controle) e uma tese.

O dashboard traz ferramentas como métricas, metodologias e mapas para a avaliação de como os investimentos em determinadas áreas e empresas podem afetar o uso do solo e a biodiversidade locais. Os mecanismos estão categorizados por commodities, cobertura geográfica, formas de visualização, granularidade e os próprios recursos utilizados. Algumas ferramentas são gratuitas e outras pagas às empresas que as desenvolveram.

“A ideia surgiu da constatação de que é fundamental excluir o desmatamento do portfólio de investimentos do setor financeiro, bem como, apresentar as ferramentas apropriadas para fazê-lo. A erosão da biodiversidade e a disrupção dos sistemas climáticos já levam a prejuízos em diversos setores, em especial aqueles altamente dependentes dos serviços ecossistêmicos, como a agropecuária”, afirma Fabrício Campos, especialista em Conservação do WWF-Brasil.

Segundo o Relatório Planeta Vivo 2020 da Rede Global WWF, o mundo viu uma queda de 68% no tamanho das populações de espécies entre 1970 e 2016. A América Latina tem o pior índice do planeta, com redução de 94% das espécies. E, de acordo com o Observatório do Clima (2019), o Brasil emitiu 1,939 bilhão de toneladas brutas de gases de efeito estufa em 2018, medidas em toneladas de CO2. Desse total, 44% vieram das mudanças no uso da terra, sobretudo do desmatamento na Amazônia e no Cerrado.

“A questão da biodiversidade esbarra muito na falta de métricas: como podemos mensurá-la? Nós juntamos algumas ferramentas disponíveis, mas não tinha nada categorizado, por ter muita coisa ainda sendo feita, muitas ferramentas sendo criadas ou em versões beta”, explica Júlia Ferrato, consultora em ESG da Nint, sobre porque separar em diferentes categorias foi importante. “O dashboard ajuda a mostrar o nível de granularidade de cada mecanismo, qual o tipo de resultado que essa ferramenta traz de retorno e qual o uso dela”, completa.

Algumas empresas já são consolidadas como referência em ESG, mas outras têm maior dificuldade em boas práticas ambientais, pela própria natureza do negócio. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A prioridade foi para ferramentas que ajudassem a verificar mudanças no uso da terra. Um exemplo é a inteligência artificial Previsia, que indica áreas em risco de desmatamento na Amazônia - diferente de tecnologias de satélite que detectam a derrubada de árvores depois que ela é realizada. “Os atores financeiros têm os recursos para parar com a lógica de destruição. Mas às vezes, apesar de saberem da importância, não sabem nem por onde começar, o que acessar, a quais dados recorrer”, afirma Ferrato.

O dashboard pode servir de apoio em “due dilligences”, no mapeamento de impactos e em trabalhos de pesquisa. “Traz tudo mastigado, as ferramentas que a pessoa pode usar para chegar nesses dados, outras em valor quantitativa para calcular os hectares, a área de risco, traz esses possíveis recursos”, diz a consultora.

A ferramenta será apresentada ao mercado principalmente por meio de workshops com os possíveis interessados em utilizá-la, quando também serão ouvidas opiniões sobre o uso. Cada ferramenta segue um cronograma próprio de atualizações, mas pode ser que novas sejam acrescentadas ao dashboard no futuro.

“O desmatamento é um tema importantíssimo para o território brasileiro. Além de ser uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa, é também um dos principais vetores de erosão da biodiversidade em nosso país, por isso dizer-se ESG sem endereçar apropriadamente o desmatamento é hipocrisia e greenwashing. Não existe ESG com desmatamento”, reforça Campos.

É importante lembrar que há outras possíveis fontes de impacto na biodiversidade além do desmatamento. “As instituições que querem diminuir ainda mais seu impacto na biodiversidade devem observar em sua avaliação de investimento a introdução de novas fontes poluidoras, introdução responsável de espécies exóticas, exploração comercial de espécies selvagens e obras de infraestrutura que alterem os ecossistemas, como, por exemplo, barragens em rios”, relembra Campos.

Tese

Já a tese se trata de uma lista de oportunidades a ser apresentada aos investidores, para que eles possam conhecer possíveis caminhos para auxiliar a descarbonização e conversão zero no uso do solo. O objetivo é contribuir para que os investidores possam entender e elaborar teses próprias baseadas em desmatamento zero, além de acessar mais informações a respeito.

“A pretensão é fomentar o setor, trazer a semente da discussão”, afirma Ferrato. “Já tem ali os inputs e as atividades, para ajudar a traduzir isso num impacto financeiro positivo. Para gerar esse impacto, o investidor precisa entender o que está tentando solucionar e atacar esse problema”, comenta. Segundo ela, é necessário lembrar que existe uma dupla materialidade: os ativos financeiros dependem da biodiversidade para serem rentáveis e, ao mesmo tempo, tem o dever de ajudá-la a ser preservada.

Dessa forma, o protagonismo fica com os próprios agentes do mercado financeiro, que devem decidir como agir para ajudar na transição para uma economia mais verde e que leve a biodiversidade em consideração. “Uma vez que os investidores possuem partes das empresas, como ativos, ações e shares, eles têm um papel central de incentivar e monitorar as transformações corporativas, não só no tema de desmatamento, como também em questões climáticas e de direitos humanos, atuando para alinhar discurso e prática, impedindo o greenwashing”, conclui Campos.

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