BRASÍLIA – Na primeira rodada de projeções do governo para os principais indicadores econômicos do País, o novo Ministério da Fazenda anunciou que prevê uma inflação maior e um crescimento menor da economia em 2023 – dado que, ainda assim, é mais otimista do que as projeções do mercado.
De acordo com a nova grade de parâmetros macroeconômicos da pasta, a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano passou de 4,60% para 5,31%. Para 2024, a projeção é de 3,52%.
No documento, a Secretaria de Política Econômica (SPE) argumenta que a revisão foi motivada pelo aumento na projeção de preços monitorados, apenas parcialmente contrabalanceada pela desaceleração esperada na inflação de alimentação no domicílio e de bens industriais. “A partir de 2025, espera-se convergência do IPCA para a meta de 3,00%”, completou.
No último relatório Focus, os analistas de mercado consultados pelo Banco Central estimaram que o IPCA deve acumular alta de 5,96% em 2023 e de 4,01% em 2024.
Todas as projeções para a inflação em 2023 estão bem acima do teto da meta deste ano, de 3,25%, que tem uma margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual (índice de 1,75% a 4,75%). No caso de 2024, a meta é de 3,00%, com margem de 1,5 ponto (1,50% a 4,50%).
O Ministério da Fazenda também atualizou a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) - utilizado para a correção do salário mínimo. De acordo com a nova grade de parâmetros macroeconômicos da pasta, a estimativa para a alta do indicador neste ano passou de 4,90% para 5,16%. Para 2024, a projeção é de 3,30%.
Já a estimativa da Fazenda para a alta do IGP-DI em 2023 passou de 4,55% para 3,85%. Para o próximo ano, a projeção é de 3,80%. As estimativas são utilizadas na confecção do Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas, que será divulgado na próxima quarta-feira.
A subsecretária de Política Macroeconômica do Ministério da Fazenda, Raquel Nadal, disse que, apesar da projeção mais alta para a inflação deste ano, acredita que o IPCA voltará para dentro do intervalo da meta no ano que vem.
Ela disse contar com uma aceleração dos preços monitorados, em grande parte por causa da decisão do governo de reonerar os preços dos combustíveis. Além disso, as contas de luz e os planos de saúde também devem ser reajustados e apresentar destaque dentro da composição da inflação. Uma parte da alta dos preços monitorados deve ser compensada com uma diminuição da inflação dos alimentação e de bens industriais, conforme a subsecretária.
PIB
O ministério chefiado por Fernando Haddad também reduziu o otimismo para a alta do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023. Mesmo assim, a pasta manteve as expectativas para o desempenho da atividade neste ano em um patamar bem superior ao do mercado.
De acordo com a grade de parâmetros divulgada há pouco pela Secretaria de Política Econômica, a estimativa para a expansão da atividade em 2022 passou de 2,1% para 1,61%. A projeção anterior havia sido feita em novembro, ainda no governo passado.
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De acordo com o Boletim Macrofiscal, a redução de 0,49 ponto porcentual deve-se ao arrefecimento na margem dos indicadores econômicos divulgados desde o documento anterior e também aos efeitos defasados mais intensos da política monetária sobre a atividade e mercado de crédito do que o anteriormente projetado. “As perspectivas de liquidez reduzida nos EUA e em outras economias também colaboraram para a revisão da projeção anterior”, apontou a SPE.
O ministério também reduziu as projeções de crescimento da economia de 2024, de 2,50% para 2,34%. Já para 2025, o prognóstico aumentou de 2,50% para 2,76%. Para 2026, a estimativa passou de 2,2% para 2,42%. E para 2027, a projeção anunciada hoje é de 2,49%.
A alta de 1,61% prevista para este ano repercute, segundo a SPE, a aceleração no setor agropecuário e o arrefecimento na Indústria e em Serviços. Para o período de 2024 a 2027, a expectativa é de crescimento médio ao ano de 2,5%. “Essa expansão se baseia nos planos de investimento e nas oportunidades que podem ser exploradas com a transição para uma economia verde e sustentável”, salientou a SPE. A secretaria também credita a expansão às reformas que serão implementadas ainda em 2023, como fiscal e tributária, com potencial de reduzir de forma estrutural a taxa de juros no Brasil.
No último relatório Focus, os analistas de mercado consultados pelo Banco Central estimaram uma alta de apenas 0,89% para o PIB de 2023. Para 2024, a estimativa no Focus é de alta de 1,50%. As estimativas de mercado para os anos de 2025 e 2026 estão em 1,80% e 1,98%, respectivamente.
Impacto em 2024
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse que os impactos positivos das medidas econômicas tomadas pelo governo serão mais visíveis a partir do ano que vem. “Esperamos uma aceleração do crescimento para 2024″, afirmou.
Segundo ele, a grade de parâmetros apresentada tem grau de “realismo e transparência” bastante elevado. Mello enfatizou que todas as projeções são constantemente revisadas e que sua equipe seguirá acompanhando a trajetória da economia global e da brasileira.
Crédito e juros
O secretário salientou que o mercado de crédito vem registrando desde fevereiro do ano passado uma desaceleração na oferta. Assim como no caso do PIB, o secretário apontou que a alta dos juros tem sido uma das principais responsáveis por esse quadro.
“A política monetária contracionista impacta o mercado de crédito”, afirmou, citando “elevadíssimos” níveis de inadimplência, principalmente das famílias. Por isso, continuou, uma das prioridades do governo é a renegociação das dívidas das famílias com o programa Desenrola.
Guilherme Mello defendeu que, quanto antes começar a sinalização de redução da taxa básica de juros (Selic), mais cedo se verá o impacto no mercado de crédito e sobre a atividade. “Quanto antes for possível reduzir a Selic, melhor vai responder a economia em 2023 e 2024″, disse.
O secretário disse, porém, que não cabe a ele e sua equipe julgar a política monetária. “Trouxemos fatos”, enfatizou. “É fato que a maior taxa real de juros do mundo afeta o mercado de crédito”, continuou sobre o atual nível da Selic, que hoje está em 13,75% ao ano.