Governo Lula trabalha para colocar Mantega no conselho de administração da Vale


Arranjo elaborado em Brasília prevê que o atual presidente, Eduardo Bartolomeo, seja reconduzido por mais um ano

Por Mariana Carneiro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalha para acomodar o ex-ministro Guido Mantega, titular do Ministério da Fazenda de 2006 a 2014, no conselho de administração da Vale, ex-estatal privatizada há 26 anos. O arranjo foi elaborado às vésperas da sucessão na companhia - no fim deste mês o conselho decidirá se reconduz o atual presidente, Eduardo Bartolomeo, que já declarou ter a intenção de permanecer no cargo.

O governo, que ainda tem influência na empresa, concorda em manter Bartolomeo na presidência e renovar o seu mandato por mais um ano, até abril de 2025. Mantega, cujo nome Lula tentou emplacar para dirigir a Vale no ano passado, seria então acomodado em um dos assentos da Previ no conselho de administração. Apoiar uma recondução de Bartolomeo não é o desejo da Previ e, por isso, o arranjo governista é uma tentativa de acordo para contemplar os interesses dos demais sócios na companhia.

Auxiliares do presidente afirmam que, desde que chegou ao Palácio do Planalto, Lula fala em retribuir Mantega pelos trabalhos prestados ao PT. O ex-ministro atuou informalmente na campanha de Lula, em 2022, e integrou por uma semana a equipe de transição.

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Em 2016, ele foi inabilitado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a assumir cargos públicos em razão de sua participação nas “pedaladas” fiscais do segundo governo Dilma Rousseff e que levaram a então presidente ao impeachment. No ano passado, porém, a decisão foi suspensa pelo TRF-1 (Tribunal Regional Federal).

O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega Foto: CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO

Se a investida prosperar, o ex-ministro terá uma remuneração aproximada de R$ 100 mil por mês. O trabalho prevê uma reunião ordinária mensal e a atuação obrigatória em dois comitês internos.

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Procurada, a Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência da República informou que não comentaria o assunto. Mantega não respondeu às ligações e mensagens enviadas pela reportagem.

A fórmula que inclui Mantega e Bartolomeo deseja acomodar ainda um nome da Cosan, que também é acionista da Vale, no comando da companhia. O intento é colocar Luis Henrique Guimarães no grupo de executivos que administram a Vale, possivelmente como um dos vice-presidentes, ainda que ele tenha estatura para ser o titular.

Luis Henrique presidiu a Cosan até novembro, quando deixou o cargo. Em Brasília, o movimento foi interpretado como um sinal de que o executivo tem pretensões de assumir um posto na Vale. O Estadão tentou falar com Guimarães, mas ele preferiu não se manifestar.

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As tratativas dependem porém dos demais acionistas, uma vez que a Vale já não é uma empresa com tanta influência do governo como no passado. Desde 2020, ela é uma “corporation”, ou seja, tem o seu capital diluído no mercado e não há um acionista individual com mais de 10% da empresa. O sócio com maior participação é a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, por meio do qual o governo exerce a sua influência na Vale. Depois dela estão a Mitsui, a Blackrock e a Cosan.

O quadro é bastante diferente do vivido por Lula durante seus dois primeiros mandatos, quando a companhia era comandada por um bloco de controle integrado por Previ, Bradespar e BNDESpar. Durante a gestão Jair Bolsonaro, em 2021, o banco estatal se desfez da participação na Vale e a Bradespar tem hoje menos de 5%.

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A Previ tem dois assentos do total de 13 posições no conselho de administração. A Mitsui tem um, a Bradespar, um e os funcionários da empresa, um. Os demais são independentes e foram eleitos para um mandato de dois anos que começou em maio de 2023. Três deles são estrangeiros, o que reflete a presença de capital externo na companhia, que é uma das maiores mineradoras do mundo, com ações entre as mais negociadas na Bolsa de Nova York.

O Estadão ouviu um alto funcionário do governo Lula, um executivo e quatro conselheiros da Vale na confecção desta reportagem.

Um dos conselheiros que atuam fora da zona de influência do governo relata, sob reserva, que o entendimento majoritário hoje entre os acionistas é o de continuidade da atual gestão. Bartolomeo tem o trabalho bem avaliado e, no currículo, a solução do imbróglio provocado pelo desastre de Brumadinho. Ele assumiu a presidência em 2019, poucos meses após o rompimento da barragem em Minas Gerais e, em 2021, formalizou um acordo de reparação com o governo do Estado.

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Bartolomeo também formou um time de executivos que entregou aumento de produção, de dividendos e a previsão de três grandes investimentos no Pará e em Minas, além de novos materiais. Um dos destaques nesse time é Gustavo Pimenta, atual CFO (vice-presidente financeiro) e considerado o “vice-presidente” da empresa.

Na direção oposta, descreve outro conselheiro, Bartolomeo tem como maior debilidade a fragilidade nas relações institucionais, com o governo e com as comunidades onde a Vale atua. Esse ponto ganhou relevo principalmente após a eleição de Lula e a intenção de Brasília de ter a empresa como parceira em projetos de interesse do governo.

A avaliação de auxiliares de Lula é que a Vale é uma empresa que pode ajudar a fazer investimentos, num momento de restrição de caixa da União, e a apoiar iniciativas da transição ecológica, colocada em marcha pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

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Entre conselheiros não governistas, a visão é a de que é preciso criar um “ambiente colaborativo” com Brasília, que hoje não existe, e que atrapalha o desempenho da Vale. A empresa pode cooperar com o crescimento econômico, com a transição energética e com a pauta ambiental, desde que mantendo a independência institucional de uma empresa privada, sem a pressão do governo no comitê executivo.

Traduzindo para a vida real, pode-se contar com a arrecadação de tributos e com a geração de reservas cambiais da Vale, mas não com o pagamento da renovação da concessão ferroviária que o Ministério dos Transportes reclama e que poderia drenar quase R$ 30 bilhões da companhia.

Dessa forma, o nome de Mantega poderia ser “útil” na mediação, disse um deles, para levar a agenda da Vale para o governo, e não só funcionando na direção oposta.

Há, porém, questões estatutárias a serem dirimidas nesta articulação. Formalmente, o mandato do presidente é de três anos. Mas não se vê entre os conselheiros oposição a uma negociação que leve a uma interrupção antes do prazo.

A “não perenização” do presidente, que está no cargo há quatro anos, é uma ideia que sensibiliza os representantes dos acionistas, assim como a necessidade de se criar uma alternativa que não provoque a ruptura dos objetivos traçados para a companhia. Além disso, como a Vale é uma empresa privada, o entendimento é o de que o assunto pode ser resolvido no conselho de acionistas.

Outra questão é o mandato dos conselheiros. Os dois nomes da Previ estão no meio do mandato (válido até maio de 2025), e a troca, ainda que caiba ao próprio fundo de pensão, também terá que passar pela aprovação dos demais conselheiros. O mais antigo no posto é Daniel Stieler, que chegou à posição ainda na gestão Jair Bolsonaro e hoje preside o conselho de administração da Vale. O outro é o atual presidente da Previ, João Fukunaga.

Neste momento, os conselheiros estão fazendo uma avaliação do trabalho de Bartolomeo à frente da Vale. Há uma reunião prevista para o próximo dia 31, mas não se descarta uma reunião antes disso para tratar da sucessão.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalha para acomodar o ex-ministro Guido Mantega, titular do Ministério da Fazenda de 2006 a 2014, no conselho de administração da Vale, ex-estatal privatizada há 26 anos. O arranjo foi elaborado às vésperas da sucessão na companhia - no fim deste mês o conselho decidirá se reconduz o atual presidente, Eduardo Bartolomeo, que já declarou ter a intenção de permanecer no cargo.

O governo, que ainda tem influência na empresa, concorda em manter Bartolomeo na presidência e renovar o seu mandato por mais um ano, até abril de 2025. Mantega, cujo nome Lula tentou emplacar para dirigir a Vale no ano passado, seria então acomodado em um dos assentos da Previ no conselho de administração. Apoiar uma recondução de Bartolomeo não é o desejo da Previ e, por isso, o arranjo governista é uma tentativa de acordo para contemplar os interesses dos demais sócios na companhia.

Auxiliares do presidente afirmam que, desde que chegou ao Palácio do Planalto, Lula fala em retribuir Mantega pelos trabalhos prestados ao PT. O ex-ministro atuou informalmente na campanha de Lula, em 2022, e integrou por uma semana a equipe de transição.

Em 2016, ele foi inabilitado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a assumir cargos públicos em razão de sua participação nas “pedaladas” fiscais do segundo governo Dilma Rousseff e que levaram a então presidente ao impeachment. No ano passado, porém, a decisão foi suspensa pelo TRF-1 (Tribunal Regional Federal).

O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega Foto: CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO

Se a investida prosperar, o ex-ministro terá uma remuneração aproximada de R$ 100 mil por mês. O trabalho prevê uma reunião ordinária mensal e a atuação obrigatória em dois comitês internos.

Procurada, a Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência da República informou que não comentaria o assunto. Mantega não respondeu às ligações e mensagens enviadas pela reportagem.

A fórmula que inclui Mantega e Bartolomeo deseja acomodar ainda um nome da Cosan, que também é acionista da Vale, no comando da companhia. O intento é colocar Luis Henrique Guimarães no grupo de executivos que administram a Vale, possivelmente como um dos vice-presidentes, ainda que ele tenha estatura para ser o titular.

Luis Henrique presidiu a Cosan até novembro, quando deixou o cargo. Em Brasília, o movimento foi interpretado como um sinal de que o executivo tem pretensões de assumir um posto na Vale. O Estadão tentou falar com Guimarães, mas ele preferiu não se manifestar.

As tratativas dependem porém dos demais acionistas, uma vez que a Vale já não é uma empresa com tanta influência do governo como no passado. Desde 2020, ela é uma “corporation”, ou seja, tem o seu capital diluído no mercado e não há um acionista individual com mais de 10% da empresa. O sócio com maior participação é a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, por meio do qual o governo exerce a sua influência na Vale. Depois dela estão a Mitsui, a Blackrock e a Cosan.

O quadro é bastante diferente do vivido por Lula durante seus dois primeiros mandatos, quando a companhia era comandada por um bloco de controle integrado por Previ, Bradespar e BNDESpar. Durante a gestão Jair Bolsonaro, em 2021, o banco estatal se desfez da participação na Vale e a Bradespar tem hoje menos de 5%.

A Previ tem dois assentos do total de 13 posições no conselho de administração. A Mitsui tem um, a Bradespar, um e os funcionários da empresa, um. Os demais são independentes e foram eleitos para um mandato de dois anos que começou em maio de 2023. Três deles são estrangeiros, o que reflete a presença de capital externo na companhia, que é uma das maiores mineradoras do mundo, com ações entre as mais negociadas na Bolsa de Nova York.

O Estadão ouviu um alto funcionário do governo Lula, um executivo e quatro conselheiros da Vale na confecção desta reportagem.

Um dos conselheiros que atuam fora da zona de influência do governo relata, sob reserva, que o entendimento majoritário hoje entre os acionistas é o de continuidade da atual gestão. Bartolomeo tem o trabalho bem avaliado e, no currículo, a solução do imbróglio provocado pelo desastre de Brumadinho. Ele assumiu a presidência em 2019, poucos meses após o rompimento da barragem em Minas Gerais e, em 2021, formalizou um acordo de reparação com o governo do Estado.

Bartolomeo também formou um time de executivos que entregou aumento de produção, de dividendos e a previsão de três grandes investimentos no Pará e em Minas, além de novos materiais. Um dos destaques nesse time é Gustavo Pimenta, atual CFO (vice-presidente financeiro) e considerado o “vice-presidente” da empresa.

Na direção oposta, descreve outro conselheiro, Bartolomeo tem como maior debilidade a fragilidade nas relações institucionais, com o governo e com as comunidades onde a Vale atua. Esse ponto ganhou relevo principalmente após a eleição de Lula e a intenção de Brasília de ter a empresa como parceira em projetos de interesse do governo.

A avaliação de auxiliares de Lula é que a Vale é uma empresa que pode ajudar a fazer investimentos, num momento de restrição de caixa da União, e a apoiar iniciativas da transição ecológica, colocada em marcha pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Entre conselheiros não governistas, a visão é a de que é preciso criar um “ambiente colaborativo” com Brasília, que hoje não existe, e que atrapalha o desempenho da Vale. A empresa pode cooperar com o crescimento econômico, com a transição energética e com a pauta ambiental, desde que mantendo a independência institucional de uma empresa privada, sem a pressão do governo no comitê executivo.

Traduzindo para a vida real, pode-se contar com a arrecadação de tributos e com a geração de reservas cambiais da Vale, mas não com o pagamento da renovação da concessão ferroviária que o Ministério dos Transportes reclama e que poderia drenar quase R$ 30 bilhões da companhia.

Dessa forma, o nome de Mantega poderia ser “útil” na mediação, disse um deles, para levar a agenda da Vale para o governo, e não só funcionando na direção oposta.

Há, porém, questões estatutárias a serem dirimidas nesta articulação. Formalmente, o mandato do presidente é de três anos. Mas não se vê entre os conselheiros oposição a uma negociação que leve a uma interrupção antes do prazo.

A “não perenização” do presidente, que está no cargo há quatro anos, é uma ideia que sensibiliza os representantes dos acionistas, assim como a necessidade de se criar uma alternativa que não provoque a ruptura dos objetivos traçados para a companhia. Além disso, como a Vale é uma empresa privada, o entendimento é o de que o assunto pode ser resolvido no conselho de acionistas.

Outra questão é o mandato dos conselheiros. Os dois nomes da Previ estão no meio do mandato (válido até maio de 2025), e a troca, ainda que caiba ao próprio fundo de pensão, também terá que passar pela aprovação dos demais conselheiros. O mais antigo no posto é Daniel Stieler, que chegou à posição ainda na gestão Jair Bolsonaro e hoje preside o conselho de administração da Vale. O outro é o atual presidente da Previ, João Fukunaga.

Neste momento, os conselheiros estão fazendo uma avaliação do trabalho de Bartolomeo à frente da Vale. Há uma reunião prevista para o próximo dia 31, mas não se descarta uma reunião antes disso para tratar da sucessão.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalha para acomodar o ex-ministro Guido Mantega, titular do Ministério da Fazenda de 2006 a 2014, no conselho de administração da Vale, ex-estatal privatizada há 26 anos. O arranjo foi elaborado às vésperas da sucessão na companhia - no fim deste mês o conselho decidirá se reconduz o atual presidente, Eduardo Bartolomeo, que já declarou ter a intenção de permanecer no cargo.

O governo, que ainda tem influência na empresa, concorda em manter Bartolomeo na presidência e renovar o seu mandato por mais um ano, até abril de 2025. Mantega, cujo nome Lula tentou emplacar para dirigir a Vale no ano passado, seria então acomodado em um dos assentos da Previ no conselho de administração. Apoiar uma recondução de Bartolomeo não é o desejo da Previ e, por isso, o arranjo governista é uma tentativa de acordo para contemplar os interesses dos demais sócios na companhia.

Auxiliares do presidente afirmam que, desde que chegou ao Palácio do Planalto, Lula fala em retribuir Mantega pelos trabalhos prestados ao PT. O ex-ministro atuou informalmente na campanha de Lula, em 2022, e integrou por uma semana a equipe de transição.

Em 2016, ele foi inabilitado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a assumir cargos públicos em razão de sua participação nas “pedaladas” fiscais do segundo governo Dilma Rousseff e que levaram a então presidente ao impeachment. No ano passado, porém, a decisão foi suspensa pelo TRF-1 (Tribunal Regional Federal).

O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega Foto: CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO

Se a investida prosperar, o ex-ministro terá uma remuneração aproximada de R$ 100 mil por mês. O trabalho prevê uma reunião ordinária mensal e a atuação obrigatória em dois comitês internos.

Procurada, a Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência da República informou que não comentaria o assunto. Mantega não respondeu às ligações e mensagens enviadas pela reportagem.

A fórmula que inclui Mantega e Bartolomeo deseja acomodar ainda um nome da Cosan, que também é acionista da Vale, no comando da companhia. O intento é colocar Luis Henrique Guimarães no grupo de executivos que administram a Vale, possivelmente como um dos vice-presidentes, ainda que ele tenha estatura para ser o titular.

Luis Henrique presidiu a Cosan até novembro, quando deixou o cargo. Em Brasília, o movimento foi interpretado como um sinal de que o executivo tem pretensões de assumir um posto na Vale. O Estadão tentou falar com Guimarães, mas ele preferiu não se manifestar.

As tratativas dependem porém dos demais acionistas, uma vez que a Vale já não é uma empresa com tanta influência do governo como no passado. Desde 2020, ela é uma “corporation”, ou seja, tem o seu capital diluído no mercado e não há um acionista individual com mais de 10% da empresa. O sócio com maior participação é a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, por meio do qual o governo exerce a sua influência na Vale. Depois dela estão a Mitsui, a Blackrock e a Cosan.

O quadro é bastante diferente do vivido por Lula durante seus dois primeiros mandatos, quando a companhia era comandada por um bloco de controle integrado por Previ, Bradespar e BNDESpar. Durante a gestão Jair Bolsonaro, em 2021, o banco estatal se desfez da participação na Vale e a Bradespar tem hoje menos de 5%.

A Previ tem dois assentos do total de 13 posições no conselho de administração. A Mitsui tem um, a Bradespar, um e os funcionários da empresa, um. Os demais são independentes e foram eleitos para um mandato de dois anos que começou em maio de 2023. Três deles são estrangeiros, o que reflete a presença de capital externo na companhia, que é uma das maiores mineradoras do mundo, com ações entre as mais negociadas na Bolsa de Nova York.

O Estadão ouviu um alto funcionário do governo Lula, um executivo e quatro conselheiros da Vale na confecção desta reportagem.

Um dos conselheiros que atuam fora da zona de influência do governo relata, sob reserva, que o entendimento majoritário hoje entre os acionistas é o de continuidade da atual gestão. Bartolomeo tem o trabalho bem avaliado e, no currículo, a solução do imbróglio provocado pelo desastre de Brumadinho. Ele assumiu a presidência em 2019, poucos meses após o rompimento da barragem em Minas Gerais e, em 2021, formalizou um acordo de reparação com o governo do Estado.

Bartolomeo também formou um time de executivos que entregou aumento de produção, de dividendos e a previsão de três grandes investimentos no Pará e em Minas, além de novos materiais. Um dos destaques nesse time é Gustavo Pimenta, atual CFO (vice-presidente financeiro) e considerado o “vice-presidente” da empresa.

Na direção oposta, descreve outro conselheiro, Bartolomeo tem como maior debilidade a fragilidade nas relações institucionais, com o governo e com as comunidades onde a Vale atua. Esse ponto ganhou relevo principalmente após a eleição de Lula e a intenção de Brasília de ter a empresa como parceira em projetos de interesse do governo.

A avaliação de auxiliares de Lula é que a Vale é uma empresa que pode ajudar a fazer investimentos, num momento de restrição de caixa da União, e a apoiar iniciativas da transição ecológica, colocada em marcha pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Entre conselheiros não governistas, a visão é a de que é preciso criar um “ambiente colaborativo” com Brasília, que hoje não existe, e que atrapalha o desempenho da Vale. A empresa pode cooperar com o crescimento econômico, com a transição energética e com a pauta ambiental, desde que mantendo a independência institucional de uma empresa privada, sem a pressão do governo no comitê executivo.

Traduzindo para a vida real, pode-se contar com a arrecadação de tributos e com a geração de reservas cambiais da Vale, mas não com o pagamento da renovação da concessão ferroviária que o Ministério dos Transportes reclama e que poderia drenar quase R$ 30 bilhões da companhia.

Dessa forma, o nome de Mantega poderia ser “útil” na mediação, disse um deles, para levar a agenda da Vale para o governo, e não só funcionando na direção oposta.

Há, porém, questões estatutárias a serem dirimidas nesta articulação. Formalmente, o mandato do presidente é de três anos. Mas não se vê entre os conselheiros oposição a uma negociação que leve a uma interrupção antes do prazo.

A “não perenização” do presidente, que está no cargo há quatro anos, é uma ideia que sensibiliza os representantes dos acionistas, assim como a necessidade de se criar uma alternativa que não provoque a ruptura dos objetivos traçados para a companhia. Além disso, como a Vale é uma empresa privada, o entendimento é o de que o assunto pode ser resolvido no conselho de acionistas.

Outra questão é o mandato dos conselheiros. Os dois nomes da Previ estão no meio do mandato (válido até maio de 2025), e a troca, ainda que caiba ao próprio fundo de pensão, também terá que passar pela aprovação dos demais conselheiros. O mais antigo no posto é Daniel Stieler, que chegou à posição ainda na gestão Jair Bolsonaro e hoje preside o conselho de administração da Vale. O outro é o atual presidente da Previ, João Fukunaga.

Neste momento, os conselheiros estão fazendo uma avaliação do trabalho de Bartolomeo à frente da Vale. Há uma reunião prevista para o próximo dia 31, mas não se descarta uma reunião antes disso para tratar da sucessão.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalha para acomodar o ex-ministro Guido Mantega, titular do Ministério da Fazenda de 2006 a 2014, no conselho de administração da Vale, ex-estatal privatizada há 26 anos. O arranjo foi elaborado às vésperas da sucessão na companhia - no fim deste mês o conselho decidirá se reconduz o atual presidente, Eduardo Bartolomeo, que já declarou ter a intenção de permanecer no cargo.

O governo, que ainda tem influência na empresa, concorda em manter Bartolomeo na presidência e renovar o seu mandato por mais um ano, até abril de 2025. Mantega, cujo nome Lula tentou emplacar para dirigir a Vale no ano passado, seria então acomodado em um dos assentos da Previ no conselho de administração. Apoiar uma recondução de Bartolomeo não é o desejo da Previ e, por isso, o arranjo governista é uma tentativa de acordo para contemplar os interesses dos demais sócios na companhia.

Auxiliares do presidente afirmam que, desde que chegou ao Palácio do Planalto, Lula fala em retribuir Mantega pelos trabalhos prestados ao PT. O ex-ministro atuou informalmente na campanha de Lula, em 2022, e integrou por uma semana a equipe de transição.

Em 2016, ele foi inabilitado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a assumir cargos públicos em razão de sua participação nas “pedaladas” fiscais do segundo governo Dilma Rousseff e que levaram a então presidente ao impeachment. No ano passado, porém, a decisão foi suspensa pelo TRF-1 (Tribunal Regional Federal).

O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega Foto: CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO

Se a investida prosperar, o ex-ministro terá uma remuneração aproximada de R$ 100 mil por mês. O trabalho prevê uma reunião ordinária mensal e a atuação obrigatória em dois comitês internos.

Procurada, a Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência da República informou que não comentaria o assunto. Mantega não respondeu às ligações e mensagens enviadas pela reportagem.

A fórmula que inclui Mantega e Bartolomeo deseja acomodar ainda um nome da Cosan, que também é acionista da Vale, no comando da companhia. O intento é colocar Luis Henrique Guimarães no grupo de executivos que administram a Vale, possivelmente como um dos vice-presidentes, ainda que ele tenha estatura para ser o titular.

Luis Henrique presidiu a Cosan até novembro, quando deixou o cargo. Em Brasília, o movimento foi interpretado como um sinal de que o executivo tem pretensões de assumir um posto na Vale. O Estadão tentou falar com Guimarães, mas ele preferiu não se manifestar.

As tratativas dependem porém dos demais acionistas, uma vez que a Vale já não é uma empresa com tanta influência do governo como no passado. Desde 2020, ela é uma “corporation”, ou seja, tem o seu capital diluído no mercado e não há um acionista individual com mais de 10% da empresa. O sócio com maior participação é a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, por meio do qual o governo exerce a sua influência na Vale. Depois dela estão a Mitsui, a Blackrock e a Cosan.

O quadro é bastante diferente do vivido por Lula durante seus dois primeiros mandatos, quando a companhia era comandada por um bloco de controle integrado por Previ, Bradespar e BNDESpar. Durante a gestão Jair Bolsonaro, em 2021, o banco estatal se desfez da participação na Vale e a Bradespar tem hoje menos de 5%.

A Previ tem dois assentos do total de 13 posições no conselho de administração. A Mitsui tem um, a Bradespar, um e os funcionários da empresa, um. Os demais são independentes e foram eleitos para um mandato de dois anos que começou em maio de 2023. Três deles são estrangeiros, o que reflete a presença de capital externo na companhia, que é uma das maiores mineradoras do mundo, com ações entre as mais negociadas na Bolsa de Nova York.

O Estadão ouviu um alto funcionário do governo Lula, um executivo e quatro conselheiros da Vale na confecção desta reportagem.

Um dos conselheiros que atuam fora da zona de influência do governo relata, sob reserva, que o entendimento majoritário hoje entre os acionistas é o de continuidade da atual gestão. Bartolomeo tem o trabalho bem avaliado e, no currículo, a solução do imbróglio provocado pelo desastre de Brumadinho. Ele assumiu a presidência em 2019, poucos meses após o rompimento da barragem em Minas Gerais e, em 2021, formalizou um acordo de reparação com o governo do Estado.

Bartolomeo também formou um time de executivos que entregou aumento de produção, de dividendos e a previsão de três grandes investimentos no Pará e em Minas, além de novos materiais. Um dos destaques nesse time é Gustavo Pimenta, atual CFO (vice-presidente financeiro) e considerado o “vice-presidente” da empresa.

Na direção oposta, descreve outro conselheiro, Bartolomeo tem como maior debilidade a fragilidade nas relações institucionais, com o governo e com as comunidades onde a Vale atua. Esse ponto ganhou relevo principalmente após a eleição de Lula e a intenção de Brasília de ter a empresa como parceira em projetos de interesse do governo.

A avaliação de auxiliares de Lula é que a Vale é uma empresa que pode ajudar a fazer investimentos, num momento de restrição de caixa da União, e a apoiar iniciativas da transição ecológica, colocada em marcha pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Entre conselheiros não governistas, a visão é a de que é preciso criar um “ambiente colaborativo” com Brasília, que hoje não existe, e que atrapalha o desempenho da Vale. A empresa pode cooperar com o crescimento econômico, com a transição energética e com a pauta ambiental, desde que mantendo a independência institucional de uma empresa privada, sem a pressão do governo no comitê executivo.

Traduzindo para a vida real, pode-se contar com a arrecadação de tributos e com a geração de reservas cambiais da Vale, mas não com o pagamento da renovação da concessão ferroviária que o Ministério dos Transportes reclama e que poderia drenar quase R$ 30 bilhões da companhia.

Dessa forma, o nome de Mantega poderia ser “útil” na mediação, disse um deles, para levar a agenda da Vale para o governo, e não só funcionando na direção oposta.

Há, porém, questões estatutárias a serem dirimidas nesta articulação. Formalmente, o mandato do presidente é de três anos. Mas não se vê entre os conselheiros oposição a uma negociação que leve a uma interrupção antes do prazo.

A “não perenização” do presidente, que está no cargo há quatro anos, é uma ideia que sensibiliza os representantes dos acionistas, assim como a necessidade de se criar uma alternativa que não provoque a ruptura dos objetivos traçados para a companhia. Além disso, como a Vale é uma empresa privada, o entendimento é o de que o assunto pode ser resolvido no conselho de acionistas.

Outra questão é o mandato dos conselheiros. Os dois nomes da Previ estão no meio do mandato (válido até maio de 2025), e a troca, ainda que caiba ao próprio fundo de pensão, também terá que passar pela aprovação dos demais conselheiros. O mais antigo no posto é Daniel Stieler, que chegou à posição ainda na gestão Jair Bolsonaro e hoje preside o conselho de administração da Vale. O outro é o atual presidente da Previ, João Fukunaga.

Neste momento, os conselheiros estão fazendo uma avaliação do trabalho de Bartolomeo à frente da Vale. Há uma reunião prevista para o próximo dia 31, mas não se descarta uma reunião antes disso para tratar da sucessão.

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