O grupo JBS, o maior processador de carnes do mundo, fechou ontem a compra da Seara, principal marca da concorrente Marfrig, segundo informou pelo blog a colunista do 'Estado' Sonia Racy. Os detalhes do negócio, que também devem incluir a compra de uma unidade de produção de couro, serão divulgados amanhã durante coletiva com a presença de executivos das duas companhias.
Procuradas, JBS e Marfrig não quiseram comentar o assunto. Segundo fontes próximas às negociações, os executivos das duas companhias passaram a manhã de ontem fechando os últimos detalhes da aquisição. O comunicado com a conclusão das negociações pode sair ainda hoje. As especulações sobre o futuro do Marfrig já duram alguns meses, especialmente por causa do elevado endividamento da empresa.
Até o terceiro trimestre do ano passado, a dívida do grupo somava R$ 12 bilhões, resultado de 42 aquisições feitas em cinco anos, sem levar às sinergias esperadas. Os rumores de que a Seara poderia ser vendida aumentaram nos últimos dois meses depois que o presidente da divisão, Sergio Rial (que assumirá o Marfrig a partir de janeiro de 2014 no lugar de Marcos Moina), afirmou que poderia colocar a Seara à venda ou fazer um IPO (oferta pública de ações) da marca para capitalizar a companhia.
Desde então, executivos e analistas apostavam que a divisão ficaria com o JBS e o resto com o frigorífico Minerva. Uma das explicações seria o fato de o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ter participação nas duas companhias. Em 2010, o banco de fomento comprou R$ 2,5 bilhões de debêntures para capitalizar o Marfrig. A instituição tinha esperança de transformar a empresa numa multinacional verde-amarela de alimentos - meta que ficou apenas no papel. Na época, o Marfrig comprou a Seara, da Cargill, e a americana Keystone Foods, uma das principais fornecedoras globais para a rede McDonald's.
Com as aquisições, no entanto, o grupo viu seu endividamento crescer de forma acelerada e logo em seguida teve de se desfazer dos ativos. Em 2011, vendeu parte da Keystone Foods por US$ 400 milhões para a Martin Brower e agora se desfaz da Seara. Nesse período, além do endividamento subir de forma expressiva, o valor das ações da companhia despencaram. Em janeiro de 2010, o valor das ações ordinárias do grupo estava em R$ 19,21. Na semana passada, fechou cotada em R$ 7,45.
Para o JBS, a aquisição da Seara significa reforçar a produção local de aves. Embora seja o maior produtor de carnes do mundo, no Brasil, a unidade de aves ainda era pequena comparada com a produção total do grupo. Essa participação pode contar a favor do grupo no momento em que a negociação tiver de passar pelo crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Em outras aquisições, o mercado reclamou da concentração nas mãos do JBS. No início do ano, o Cade afirmou que avaliaria o crescimento do frigorífico no Brasil e os impactos nos preços pagos aos pecuaristas e cobrados dos consumidores pela carne bovina. Os pecuaristas, especialmente do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, vinham reclamando dos problemas provocados pela concentração do mercado nas mãos do JBS, que ocorreu a partir de 2008, quando vários frigoríficos quebraram.