Desde a crise financeira de 2008, os países desenvolvidos, principalmente os Estados Unidos, injetam grandes volumes de dinheiro na economia. Isso aumentou fortemente a quantidade de capital disponível nos mercados, com mais dinheiro em circulação nos últimos 14 anos.
Um dos efeitos colaterais foi o inchaço do valor de mercado das empresas de tecnologia e o aumento descomunal no número de startups investidas. Com dinheiro a preço extremamente baixo se comparado ao período pré-2008, os investidores viram seu apetite por risco crescer e se sentiram mais confortáveis tanto para aportar mais valores quanto para diversificar seus investimentos.
Isso permitiu que muitas startups munidas unicamente de uma apresentação bem feita e de um discurso recheado de jargões recebessem milhões em recursos sem apresentar resultado que justificasse o investimento.
Os investidores tinham dinheiro em excesso e aportaram em empresas de mérito duvidoso. Só no Brasil, as startups receberam US$ 9,4 bilhões em 2021, segundo levantamento da plataforma Distrito.
Contudo, essa tendência apresenta desgaste. O ponto de inflexão pode ser a guerra da Ucrânia. Nos últimos meses, muitos investidores já demonstraram a necessidade de verem resultados concretos de suas investidas. No entanto, a maior parte deles ainda os ignorava diante de um discurso megalomaníaco por parte dos fundadores do próximo Uber disso ou do novo Facebook daquilo.
O conflito provocou um aumento fortíssimo no preço das commodities, já que as sanções contra a Rússia e o receio de uma escalada na disputa armada levaram os investidores a anteciparem uma subida futura de preços, a comprarem mais para estocar e a aportarem capital em várias delas (sendo o ouro um exemplo) para proteger seu dinheiro.
Assim, o apetite por risco diminuiu de modo que as startups agora precisam comprovar uma relação de probabilidade entre risco e retorno, muito superior ao período precedente à guerra, para receberem os mesmos investimentos.
Embora o capital barato tenha incentivado o crescimento de startups, esse tipo de montante também mascarava ineficiências que levaram à destruição imensa de valor, como aconteceu no caso do WeWork.
Por mais que seja desejável a realização de investimentos em empresas de inovação, ele deve se guiar por regras que prestigiem startups que fazem seu dever de casa, cortando ineficiências e crescendo de forma escalável, sob pena de que o capital abundante oferecido pelo mundo seja desperdiçado em investimentos indevidos.