A nova guerra no Golfo poderia levar o petróleo a US$ 100 o barril?


Mísseis estão sobrevoando uma região que fornece um terço do petróleo bruto do mundo; o conflito pode transformar em alvo o complexo petroindustrial do Irã, a tábua de salvação do regime, e agravar a tensão nos mercados da commodity, já nervosos

Por The Economist

Desde os ataques do Hamas a Israel há um ano, o maior medo nos mercados de petróleo tem sido que as tensões se transformem em uma guerra regional completa colocando Israel contra o Irã, o sétimo maior produtor mundial de petróleo bruto.

Até recentemente, ambos os países pareciam ansiosos para evitá-la. Isso explica por que o nervosismo inicial nos mercados de petróleo após o 7 de outubro do ano passado logo deu lugar aos preços baixos e estáveis que prevaleceram durante grande parte deste ano.

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Mas, em 1º de outubro, o Irã disparou mísseis contra Israel em resposta ao ataque israelense ao Hezbollah e outros representantes iranianos. Agora, o mundo está esperando ansiosamente pela resposta de Israel. Os mercados de petróleo estão nervosos.

Na segunda-feira, 7, a cotação da commodity superou US$ 80 com a possibilidade de ataque a poços no Oriente Médio. Quando a mais recente guerra envolvendo um grande petroestado estourou, na Ucrânia em 2022, o petróleo bruto ultrapassou US$ 100 o barril. Isso pode acontecer novamente?

Para entender o quanto os preços podem subir, olhe primeiro para as opções de retaliação de Israel. Se fossem atingidos apenas alvos militares, como locais de lançamento de mísseis — e o Irã respondesse moderadamente —, então parte do prêmio geopolítico que impulsiona os preços do petróleo evaporaria. Mas Israel poderia escolher uma escalada, bombardeando a infraestrutura civil do Irã, instalações de petróleo e gás ou locais de enriquecimento nuclear.

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Seja qual for a escolha de Israel, o Irã pode se sentir forçado a uma resposta robusta, desencadeando um ciclo que acaba transformando em um alvo o complexo petroindustrial do Irã, a tábua de salvação do regime. Portanto, não é necessário que os ativos de petróleo sejam atacados primeiro para que os mercados globais se preocupem.

Mísseis disparados em 1º de outubro em direção a Israel pelo Irã, o sétimo maior produtor mundial de petróleo bruto, intensificaram a alta no preço da commodity Foto: Ohad Zwigenberg/AP

Se Israel quisesse dar um golpe severo nas exportações de energia do Irã, poderia ir atrás dos terminais de petróleo na Ilha Kharg, no Golfo Pérsico — de onde nove décimos de todos os barris de petróleo bruto iraniano são enviados — ou mesmo dos próprios campos de petróleo. Isso teria um custo diplomático.

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O governo Biden ficaria irritado com o fato de que isso poderia fazer os preços da gasolina subirem menos de um mês antes da eleição presidencial dos Estados Unidos. A China, o destino de quase todas as exportações de petróleo do Irã, também ficaria irritada.

Israel ainda pode considerar que vale a pena arcar com esse custo e optar por atacar os terminais. Um ataque bem-sucedido tiraria instantaneamente um grande estoque de petróleo dos mercados internacionais: no mês passado, o Irã exportou um recorde de 2 milhões de barris por dia (bpd), equivalente a quase 2% do suprimento mundial.

Diferenças em relação à guerra na Ucrânia

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Mesmo assim, as consequências globais provavelmente seriam contidas. Diferentemente da situação após a invasão da Ucrânia pela Rússia, quando o mundo estava bombeando petróleo a todo vapor e a demanda estava se recuperando após a pandemia, a oferta hoje é abundante e a demanda lenta.

Após uma série de cortes de produção, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, conhecidos coletivamente como Opep+, têm mais de 5 milhões de bpd em capacidade ociosa — mais do que suficiente para compensar a perda do petróleo bruto iraniano.

Eles provavelmente não esperariam muito antes de aumentar a produção. Os membros da Opep+, irritados ao ver sua participação de mercado cair nos meses mais recentes, estavam esperando por uma oportunidade dessas para reverter seus cortes. Recentemente, eles confirmaram planos de aumentar a produção em 180.000 bpd a cada mês durante um ano, começando em dezembro.

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Os sauditas estão tão determinados a não ceder mais terreno que dizem ter baixado sua meta de retornar o petróleo a US$ 100 o barril, o nível necessário para equilibrar as contas do reino em meio ao desenvolvimento de vários megaprojetos.

A produção está aumentando nos EUA, Canadá, Guiana, Brasil e outros lugares. A Agência Internacional de Energia espera que a produção fora da Opep cresça em 1,5 milhão de bpd no ano que vem, mais do que o suficiente para cobrir qualquer aumento na demanda global. E a demanda está diminuindo por conta do crescimento econômico morno nos EUA, China e Europa e de uma corrida para substituir os carros a gasolina por modelos elétricos.

Antes da mais recente escalada nas tensões no Oriente Médio, os comerciantes esperavam um excesso de petróleo em 2025, empurrando os preços abaixo de US$ 70 o barril. Hoje, os estoques de petróleo bruto na OCDE estão abaixo da média de cinco anos. Portanto, um ataque à Ilha Kharg sem dúvida sacudiria os mercados. Mas os preços provavelmente se estabilizariam apenas US$ 5 a 10 acima de seus níveis atuais.

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O Brasil é um dos países em que a produção de petróleo vem aumentando, a exemplo dos EUA, do Canadá e da Guiana Foto: Marcos de Paula/Agência Estado/AE

Como o Irã pode agravar a ameaça ao abastecimento

As coisas poderiam ficar muito mais selvagens se o Irã atacar outros Estados do Golfo vistos como apoiadores de Israel. Nos anos mais recentes, as relações entre o Irã e seus vizinhos têm se estabilizado e, nos últimos dias, autoridades de Estados árabes do Golfo se encontraram com colegas iranianos no Catar para tentar tranquilizá-los em relação à sua neutralidade.

Ainda assim, com poucas opções disponíveis, o Irã pode tentar atingir os campos de petróleo de seus vizinhos, começando talvez com Estados menores, como Bahrein ou Kuwait.

A outra ferramenta que o Irã poderia usar para criar o caos global seria fechar o Estreito de Ormuz, por onde 30% do petróleo bruto marítimo do mundo e 20% do seu gás natural líquido precisam passar. Isso, no entanto, equivaleria a um suicídio econômico, pois deixaria o Irã incapaz não apenas de enviar petróleo ou outras exportações, mas também de trazer muitas importações. E irritaria muito a China, que obtém cerca de metade do seu petróleo bruto dos países do Golfo.

É difícil adivinhar como o mercado responderia a tais cenários, mesmo porque as ações do Irã desencadeariam mais reações de Israel, dos EUA e outros. EUA e China, por exemplo, provavelmente enviariam suas marinhas para reabrir o Estreito de Ormuz.

Ainda assim, supondo que as interrupções sejam grandes o suficiente para causar escassez de petróleo bruto que dure um tempo, então os preços do petróleo provavelmente subiriam a ponto de conter o apetite por petróleo, para então começarem a cair.

Analistas acreditam que tal “destruição da demanda” ocorreria quando o petróleo bruto atingisse US$ 130 o barril — aproximadamente o nível máximo alcançado em 2022.

Se os mercados de petróleo acreditassem que tal cenário fosse remotamente provável, seus medos começariam a se refletir no preço atual. Os traders que apostaram na queda dos preços do petróleo em um futuro próximo estariam correndo para se desfazer de suas posições.

No entanto, se recuarmos um pouco, o recente aumento nos preços não parece impressionante, mesmo pelos padrões relativamente calmos dos 18 meses mais recentes. No ano passado, o petróleo manteve uma média de US$ 82 o barril; em 2022, US$ 100.

O conflito de um ano no Oriente Médio confundiu muitas expectativas. Mas, para que os preços do petróleo cheguem aos três dígitos novamente, muitas coisas ainda precisam dar muito, muito errado. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Desde os ataques do Hamas a Israel há um ano, o maior medo nos mercados de petróleo tem sido que as tensões se transformem em uma guerra regional completa colocando Israel contra o Irã, o sétimo maior produtor mundial de petróleo bruto.

Até recentemente, ambos os países pareciam ansiosos para evitá-la. Isso explica por que o nervosismo inicial nos mercados de petróleo após o 7 de outubro do ano passado logo deu lugar aos preços baixos e estáveis que prevaleceram durante grande parte deste ano.

Mas, em 1º de outubro, o Irã disparou mísseis contra Israel em resposta ao ataque israelense ao Hezbollah e outros representantes iranianos. Agora, o mundo está esperando ansiosamente pela resposta de Israel. Os mercados de petróleo estão nervosos.

Na segunda-feira, 7, a cotação da commodity superou US$ 80 com a possibilidade de ataque a poços no Oriente Médio. Quando a mais recente guerra envolvendo um grande petroestado estourou, na Ucrânia em 2022, o petróleo bruto ultrapassou US$ 100 o barril. Isso pode acontecer novamente?

Para entender o quanto os preços podem subir, olhe primeiro para as opções de retaliação de Israel. Se fossem atingidos apenas alvos militares, como locais de lançamento de mísseis — e o Irã respondesse moderadamente —, então parte do prêmio geopolítico que impulsiona os preços do petróleo evaporaria. Mas Israel poderia escolher uma escalada, bombardeando a infraestrutura civil do Irã, instalações de petróleo e gás ou locais de enriquecimento nuclear.

Seja qual for a escolha de Israel, o Irã pode se sentir forçado a uma resposta robusta, desencadeando um ciclo que acaba transformando em um alvo o complexo petroindustrial do Irã, a tábua de salvação do regime. Portanto, não é necessário que os ativos de petróleo sejam atacados primeiro para que os mercados globais se preocupem.

Mísseis disparados em 1º de outubro em direção a Israel pelo Irã, o sétimo maior produtor mundial de petróleo bruto, intensificaram a alta no preço da commodity Foto: Ohad Zwigenberg/AP

Se Israel quisesse dar um golpe severo nas exportações de energia do Irã, poderia ir atrás dos terminais de petróleo na Ilha Kharg, no Golfo Pérsico — de onde nove décimos de todos os barris de petróleo bruto iraniano são enviados — ou mesmo dos próprios campos de petróleo. Isso teria um custo diplomático.

O governo Biden ficaria irritado com o fato de que isso poderia fazer os preços da gasolina subirem menos de um mês antes da eleição presidencial dos Estados Unidos. A China, o destino de quase todas as exportações de petróleo do Irã, também ficaria irritada.

Israel ainda pode considerar que vale a pena arcar com esse custo e optar por atacar os terminais. Um ataque bem-sucedido tiraria instantaneamente um grande estoque de petróleo dos mercados internacionais: no mês passado, o Irã exportou um recorde de 2 milhões de barris por dia (bpd), equivalente a quase 2% do suprimento mundial.

Diferenças em relação à guerra na Ucrânia

Mesmo assim, as consequências globais provavelmente seriam contidas. Diferentemente da situação após a invasão da Ucrânia pela Rússia, quando o mundo estava bombeando petróleo a todo vapor e a demanda estava se recuperando após a pandemia, a oferta hoje é abundante e a demanda lenta.

Após uma série de cortes de produção, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, conhecidos coletivamente como Opep+, têm mais de 5 milhões de bpd em capacidade ociosa — mais do que suficiente para compensar a perda do petróleo bruto iraniano.

Eles provavelmente não esperariam muito antes de aumentar a produção. Os membros da Opep+, irritados ao ver sua participação de mercado cair nos meses mais recentes, estavam esperando por uma oportunidade dessas para reverter seus cortes. Recentemente, eles confirmaram planos de aumentar a produção em 180.000 bpd a cada mês durante um ano, começando em dezembro.

Os sauditas estão tão determinados a não ceder mais terreno que dizem ter baixado sua meta de retornar o petróleo a US$ 100 o barril, o nível necessário para equilibrar as contas do reino em meio ao desenvolvimento de vários megaprojetos.

A produção está aumentando nos EUA, Canadá, Guiana, Brasil e outros lugares. A Agência Internacional de Energia espera que a produção fora da Opep cresça em 1,5 milhão de bpd no ano que vem, mais do que o suficiente para cobrir qualquer aumento na demanda global. E a demanda está diminuindo por conta do crescimento econômico morno nos EUA, China e Europa e de uma corrida para substituir os carros a gasolina por modelos elétricos.

Antes da mais recente escalada nas tensões no Oriente Médio, os comerciantes esperavam um excesso de petróleo em 2025, empurrando os preços abaixo de US$ 70 o barril. Hoje, os estoques de petróleo bruto na OCDE estão abaixo da média de cinco anos. Portanto, um ataque à Ilha Kharg sem dúvida sacudiria os mercados. Mas os preços provavelmente se estabilizariam apenas US$ 5 a 10 acima de seus níveis atuais.

O Brasil é um dos países em que a produção de petróleo vem aumentando, a exemplo dos EUA, do Canadá e da Guiana Foto: Marcos de Paula/Agência Estado/AE

Como o Irã pode agravar a ameaça ao abastecimento

As coisas poderiam ficar muito mais selvagens se o Irã atacar outros Estados do Golfo vistos como apoiadores de Israel. Nos anos mais recentes, as relações entre o Irã e seus vizinhos têm se estabilizado e, nos últimos dias, autoridades de Estados árabes do Golfo se encontraram com colegas iranianos no Catar para tentar tranquilizá-los em relação à sua neutralidade.

Ainda assim, com poucas opções disponíveis, o Irã pode tentar atingir os campos de petróleo de seus vizinhos, começando talvez com Estados menores, como Bahrein ou Kuwait.

A outra ferramenta que o Irã poderia usar para criar o caos global seria fechar o Estreito de Ormuz, por onde 30% do petróleo bruto marítimo do mundo e 20% do seu gás natural líquido precisam passar. Isso, no entanto, equivaleria a um suicídio econômico, pois deixaria o Irã incapaz não apenas de enviar petróleo ou outras exportações, mas também de trazer muitas importações. E irritaria muito a China, que obtém cerca de metade do seu petróleo bruto dos países do Golfo.

É difícil adivinhar como o mercado responderia a tais cenários, mesmo porque as ações do Irã desencadeariam mais reações de Israel, dos EUA e outros. EUA e China, por exemplo, provavelmente enviariam suas marinhas para reabrir o Estreito de Ormuz.

Ainda assim, supondo que as interrupções sejam grandes o suficiente para causar escassez de petróleo bruto que dure um tempo, então os preços do petróleo provavelmente subiriam a ponto de conter o apetite por petróleo, para então começarem a cair.

Analistas acreditam que tal “destruição da demanda” ocorreria quando o petróleo bruto atingisse US$ 130 o barril — aproximadamente o nível máximo alcançado em 2022.

Se os mercados de petróleo acreditassem que tal cenário fosse remotamente provável, seus medos começariam a se refletir no preço atual. Os traders que apostaram na queda dos preços do petróleo em um futuro próximo estariam correndo para se desfazer de suas posições.

No entanto, se recuarmos um pouco, o recente aumento nos preços não parece impressionante, mesmo pelos padrões relativamente calmos dos 18 meses mais recentes. No ano passado, o petróleo manteve uma média de US$ 82 o barril; em 2022, US$ 100.

O conflito de um ano no Oriente Médio confundiu muitas expectativas. Mas, para que os preços do petróleo cheguem aos três dígitos novamente, muitas coisas ainda precisam dar muito, muito errado. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Desde os ataques do Hamas a Israel há um ano, o maior medo nos mercados de petróleo tem sido que as tensões se transformem em uma guerra regional completa colocando Israel contra o Irã, o sétimo maior produtor mundial de petróleo bruto.

Até recentemente, ambos os países pareciam ansiosos para evitá-la. Isso explica por que o nervosismo inicial nos mercados de petróleo após o 7 de outubro do ano passado logo deu lugar aos preços baixos e estáveis que prevaleceram durante grande parte deste ano.

Mas, em 1º de outubro, o Irã disparou mísseis contra Israel em resposta ao ataque israelense ao Hezbollah e outros representantes iranianos. Agora, o mundo está esperando ansiosamente pela resposta de Israel. Os mercados de petróleo estão nervosos.

Na segunda-feira, 7, a cotação da commodity superou US$ 80 com a possibilidade de ataque a poços no Oriente Médio. Quando a mais recente guerra envolvendo um grande petroestado estourou, na Ucrânia em 2022, o petróleo bruto ultrapassou US$ 100 o barril. Isso pode acontecer novamente?

Para entender o quanto os preços podem subir, olhe primeiro para as opções de retaliação de Israel. Se fossem atingidos apenas alvos militares, como locais de lançamento de mísseis — e o Irã respondesse moderadamente —, então parte do prêmio geopolítico que impulsiona os preços do petróleo evaporaria. Mas Israel poderia escolher uma escalada, bombardeando a infraestrutura civil do Irã, instalações de petróleo e gás ou locais de enriquecimento nuclear.

Seja qual for a escolha de Israel, o Irã pode se sentir forçado a uma resposta robusta, desencadeando um ciclo que acaba transformando em um alvo o complexo petroindustrial do Irã, a tábua de salvação do regime. Portanto, não é necessário que os ativos de petróleo sejam atacados primeiro para que os mercados globais se preocupem.

Mísseis disparados em 1º de outubro em direção a Israel pelo Irã, o sétimo maior produtor mundial de petróleo bruto, intensificaram a alta no preço da commodity Foto: Ohad Zwigenberg/AP

Se Israel quisesse dar um golpe severo nas exportações de energia do Irã, poderia ir atrás dos terminais de petróleo na Ilha Kharg, no Golfo Pérsico — de onde nove décimos de todos os barris de petróleo bruto iraniano são enviados — ou mesmo dos próprios campos de petróleo. Isso teria um custo diplomático.

O governo Biden ficaria irritado com o fato de que isso poderia fazer os preços da gasolina subirem menos de um mês antes da eleição presidencial dos Estados Unidos. A China, o destino de quase todas as exportações de petróleo do Irã, também ficaria irritada.

Israel ainda pode considerar que vale a pena arcar com esse custo e optar por atacar os terminais. Um ataque bem-sucedido tiraria instantaneamente um grande estoque de petróleo dos mercados internacionais: no mês passado, o Irã exportou um recorde de 2 milhões de barris por dia (bpd), equivalente a quase 2% do suprimento mundial.

Diferenças em relação à guerra na Ucrânia

Mesmo assim, as consequências globais provavelmente seriam contidas. Diferentemente da situação após a invasão da Ucrânia pela Rússia, quando o mundo estava bombeando petróleo a todo vapor e a demanda estava se recuperando após a pandemia, a oferta hoje é abundante e a demanda lenta.

Após uma série de cortes de produção, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, conhecidos coletivamente como Opep+, têm mais de 5 milhões de bpd em capacidade ociosa — mais do que suficiente para compensar a perda do petróleo bruto iraniano.

Eles provavelmente não esperariam muito antes de aumentar a produção. Os membros da Opep+, irritados ao ver sua participação de mercado cair nos meses mais recentes, estavam esperando por uma oportunidade dessas para reverter seus cortes. Recentemente, eles confirmaram planos de aumentar a produção em 180.000 bpd a cada mês durante um ano, começando em dezembro.

Os sauditas estão tão determinados a não ceder mais terreno que dizem ter baixado sua meta de retornar o petróleo a US$ 100 o barril, o nível necessário para equilibrar as contas do reino em meio ao desenvolvimento de vários megaprojetos.

A produção está aumentando nos EUA, Canadá, Guiana, Brasil e outros lugares. A Agência Internacional de Energia espera que a produção fora da Opep cresça em 1,5 milhão de bpd no ano que vem, mais do que o suficiente para cobrir qualquer aumento na demanda global. E a demanda está diminuindo por conta do crescimento econômico morno nos EUA, China e Europa e de uma corrida para substituir os carros a gasolina por modelos elétricos.

Antes da mais recente escalada nas tensões no Oriente Médio, os comerciantes esperavam um excesso de petróleo em 2025, empurrando os preços abaixo de US$ 70 o barril. Hoje, os estoques de petróleo bruto na OCDE estão abaixo da média de cinco anos. Portanto, um ataque à Ilha Kharg sem dúvida sacudiria os mercados. Mas os preços provavelmente se estabilizariam apenas US$ 5 a 10 acima de seus níveis atuais.

O Brasil é um dos países em que a produção de petróleo vem aumentando, a exemplo dos EUA, do Canadá e da Guiana Foto: Marcos de Paula/Agência Estado/AE

Como o Irã pode agravar a ameaça ao abastecimento

As coisas poderiam ficar muito mais selvagens se o Irã atacar outros Estados do Golfo vistos como apoiadores de Israel. Nos anos mais recentes, as relações entre o Irã e seus vizinhos têm se estabilizado e, nos últimos dias, autoridades de Estados árabes do Golfo se encontraram com colegas iranianos no Catar para tentar tranquilizá-los em relação à sua neutralidade.

Ainda assim, com poucas opções disponíveis, o Irã pode tentar atingir os campos de petróleo de seus vizinhos, começando talvez com Estados menores, como Bahrein ou Kuwait.

A outra ferramenta que o Irã poderia usar para criar o caos global seria fechar o Estreito de Ormuz, por onde 30% do petróleo bruto marítimo do mundo e 20% do seu gás natural líquido precisam passar. Isso, no entanto, equivaleria a um suicídio econômico, pois deixaria o Irã incapaz não apenas de enviar petróleo ou outras exportações, mas também de trazer muitas importações. E irritaria muito a China, que obtém cerca de metade do seu petróleo bruto dos países do Golfo.

É difícil adivinhar como o mercado responderia a tais cenários, mesmo porque as ações do Irã desencadeariam mais reações de Israel, dos EUA e outros. EUA e China, por exemplo, provavelmente enviariam suas marinhas para reabrir o Estreito de Ormuz.

Ainda assim, supondo que as interrupções sejam grandes o suficiente para causar escassez de petróleo bruto que dure um tempo, então os preços do petróleo provavelmente subiriam a ponto de conter o apetite por petróleo, para então começarem a cair.

Analistas acreditam que tal “destruição da demanda” ocorreria quando o petróleo bruto atingisse US$ 130 o barril — aproximadamente o nível máximo alcançado em 2022.

Se os mercados de petróleo acreditassem que tal cenário fosse remotamente provável, seus medos começariam a se refletir no preço atual. Os traders que apostaram na queda dos preços do petróleo em um futuro próximo estariam correndo para se desfazer de suas posições.

No entanto, se recuarmos um pouco, o recente aumento nos preços não parece impressionante, mesmo pelos padrões relativamente calmos dos 18 meses mais recentes. No ano passado, o petróleo manteve uma média de US$ 82 o barril; em 2022, US$ 100.

O conflito de um ano no Oriente Médio confundiu muitas expectativas. Mas, para que os preços do petróleo cheguem aos três dígitos novamente, muitas coisas ainda precisam dar muito, muito errado. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Desde os ataques do Hamas a Israel há um ano, o maior medo nos mercados de petróleo tem sido que as tensões se transformem em uma guerra regional completa colocando Israel contra o Irã, o sétimo maior produtor mundial de petróleo bruto.

Até recentemente, ambos os países pareciam ansiosos para evitá-la. Isso explica por que o nervosismo inicial nos mercados de petróleo após o 7 de outubro do ano passado logo deu lugar aos preços baixos e estáveis que prevaleceram durante grande parte deste ano.

Mas, em 1º de outubro, o Irã disparou mísseis contra Israel em resposta ao ataque israelense ao Hezbollah e outros representantes iranianos. Agora, o mundo está esperando ansiosamente pela resposta de Israel. Os mercados de petróleo estão nervosos.

Na segunda-feira, 7, a cotação da commodity superou US$ 80 com a possibilidade de ataque a poços no Oriente Médio. Quando a mais recente guerra envolvendo um grande petroestado estourou, na Ucrânia em 2022, o petróleo bruto ultrapassou US$ 100 o barril. Isso pode acontecer novamente?

Para entender o quanto os preços podem subir, olhe primeiro para as opções de retaliação de Israel. Se fossem atingidos apenas alvos militares, como locais de lançamento de mísseis — e o Irã respondesse moderadamente —, então parte do prêmio geopolítico que impulsiona os preços do petróleo evaporaria. Mas Israel poderia escolher uma escalada, bombardeando a infraestrutura civil do Irã, instalações de petróleo e gás ou locais de enriquecimento nuclear.

Seja qual for a escolha de Israel, o Irã pode se sentir forçado a uma resposta robusta, desencadeando um ciclo que acaba transformando em um alvo o complexo petroindustrial do Irã, a tábua de salvação do regime. Portanto, não é necessário que os ativos de petróleo sejam atacados primeiro para que os mercados globais se preocupem.

Mísseis disparados em 1º de outubro em direção a Israel pelo Irã, o sétimo maior produtor mundial de petróleo bruto, intensificaram a alta no preço da commodity Foto: Ohad Zwigenberg/AP

Se Israel quisesse dar um golpe severo nas exportações de energia do Irã, poderia ir atrás dos terminais de petróleo na Ilha Kharg, no Golfo Pérsico — de onde nove décimos de todos os barris de petróleo bruto iraniano são enviados — ou mesmo dos próprios campos de petróleo. Isso teria um custo diplomático.

O governo Biden ficaria irritado com o fato de que isso poderia fazer os preços da gasolina subirem menos de um mês antes da eleição presidencial dos Estados Unidos. A China, o destino de quase todas as exportações de petróleo do Irã, também ficaria irritada.

Israel ainda pode considerar que vale a pena arcar com esse custo e optar por atacar os terminais. Um ataque bem-sucedido tiraria instantaneamente um grande estoque de petróleo dos mercados internacionais: no mês passado, o Irã exportou um recorde de 2 milhões de barris por dia (bpd), equivalente a quase 2% do suprimento mundial.

Diferenças em relação à guerra na Ucrânia

Mesmo assim, as consequências globais provavelmente seriam contidas. Diferentemente da situação após a invasão da Ucrânia pela Rússia, quando o mundo estava bombeando petróleo a todo vapor e a demanda estava se recuperando após a pandemia, a oferta hoje é abundante e a demanda lenta.

Após uma série de cortes de produção, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, conhecidos coletivamente como Opep+, têm mais de 5 milhões de bpd em capacidade ociosa — mais do que suficiente para compensar a perda do petróleo bruto iraniano.

Eles provavelmente não esperariam muito antes de aumentar a produção. Os membros da Opep+, irritados ao ver sua participação de mercado cair nos meses mais recentes, estavam esperando por uma oportunidade dessas para reverter seus cortes. Recentemente, eles confirmaram planos de aumentar a produção em 180.000 bpd a cada mês durante um ano, começando em dezembro.

Os sauditas estão tão determinados a não ceder mais terreno que dizem ter baixado sua meta de retornar o petróleo a US$ 100 o barril, o nível necessário para equilibrar as contas do reino em meio ao desenvolvimento de vários megaprojetos.

A produção está aumentando nos EUA, Canadá, Guiana, Brasil e outros lugares. A Agência Internacional de Energia espera que a produção fora da Opep cresça em 1,5 milhão de bpd no ano que vem, mais do que o suficiente para cobrir qualquer aumento na demanda global. E a demanda está diminuindo por conta do crescimento econômico morno nos EUA, China e Europa e de uma corrida para substituir os carros a gasolina por modelos elétricos.

Antes da mais recente escalada nas tensões no Oriente Médio, os comerciantes esperavam um excesso de petróleo em 2025, empurrando os preços abaixo de US$ 70 o barril. Hoje, os estoques de petróleo bruto na OCDE estão abaixo da média de cinco anos. Portanto, um ataque à Ilha Kharg sem dúvida sacudiria os mercados. Mas os preços provavelmente se estabilizariam apenas US$ 5 a 10 acima de seus níveis atuais.

O Brasil é um dos países em que a produção de petróleo vem aumentando, a exemplo dos EUA, do Canadá e da Guiana Foto: Marcos de Paula/Agência Estado/AE

Como o Irã pode agravar a ameaça ao abastecimento

As coisas poderiam ficar muito mais selvagens se o Irã atacar outros Estados do Golfo vistos como apoiadores de Israel. Nos anos mais recentes, as relações entre o Irã e seus vizinhos têm se estabilizado e, nos últimos dias, autoridades de Estados árabes do Golfo se encontraram com colegas iranianos no Catar para tentar tranquilizá-los em relação à sua neutralidade.

Ainda assim, com poucas opções disponíveis, o Irã pode tentar atingir os campos de petróleo de seus vizinhos, começando talvez com Estados menores, como Bahrein ou Kuwait.

A outra ferramenta que o Irã poderia usar para criar o caos global seria fechar o Estreito de Ormuz, por onde 30% do petróleo bruto marítimo do mundo e 20% do seu gás natural líquido precisam passar. Isso, no entanto, equivaleria a um suicídio econômico, pois deixaria o Irã incapaz não apenas de enviar petróleo ou outras exportações, mas também de trazer muitas importações. E irritaria muito a China, que obtém cerca de metade do seu petróleo bruto dos países do Golfo.

É difícil adivinhar como o mercado responderia a tais cenários, mesmo porque as ações do Irã desencadeariam mais reações de Israel, dos EUA e outros. EUA e China, por exemplo, provavelmente enviariam suas marinhas para reabrir o Estreito de Ormuz.

Ainda assim, supondo que as interrupções sejam grandes o suficiente para causar escassez de petróleo bruto que dure um tempo, então os preços do petróleo provavelmente subiriam a ponto de conter o apetite por petróleo, para então começarem a cair.

Analistas acreditam que tal “destruição da demanda” ocorreria quando o petróleo bruto atingisse US$ 130 o barril — aproximadamente o nível máximo alcançado em 2022.

Se os mercados de petróleo acreditassem que tal cenário fosse remotamente provável, seus medos começariam a se refletir no preço atual. Os traders que apostaram na queda dos preços do petróleo em um futuro próximo estariam correndo para se desfazer de suas posições.

No entanto, se recuarmos um pouco, o recente aumento nos preços não parece impressionante, mesmo pelos padrões relativamente calmos dos 18 meses mais recentes. No ano passado, o petróleo manteve uma média de US$ 82 o barril; em 2022, US$ 100.

O conflito de um ano no Oriente Médio confundiu muitas expectativas. Mas, para que os preços do petróleo cheguem aos três dígitos novamente, muitas coisas ainda precisam dar muito, muito errado. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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