Ex-presidente do BC e sócio da Rio Bravo Investimentos

Opinião|Governo não tinha agenda econômica e agora sabe perfeitamente o que fazer para agradar


Melhora na nota concedida pela Fitch e os festejos que provocou serviram para apontar uma direção para uma tropa no interior da qual abundam dúvidas e as divisões

Por Gustavo H.B. Franco

Parece bem claro que a classificação de risco soberano (o rating) do País se tornou o grande organizador conceitual da política econômica do governo Lula 3. Como é bem sabido, a economia não esteve entre os grandes debates no decorrer do processo eleitoral. Em consequência, o programa econômico tem sido montado em pleno voo, e por ministros que não imaginavam estar nas cadeiras que hoje ocupam.

Sim, há muito espaço para improviso e voluntarismo, bem como para a influência corporativa das “máquinas”. São grandes os perigos, basta lembrar da Nova República. Há muitas salvaguardas dessa vez, e a principal delas, não vamos esquecer, é a autonomia do BC, da qual o presidente se queixa. Nesse contexto, o “upgrade”, ou a melhora na nota concedida pela Fitch, e mais ainda os festejos que provocou, em Brasília e no mercado, serviram para apontar uma direção para uma tropa no interior da qual abundam dúvidas e as divisões.

É claro que o presidente democraticamente eleito possui toda a legitimidade do mundo para fazer tudo errado na economia. Mas é melhor que acerte.

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É claro que o “upgrade” foi um prêmio para o governo e, em especial, aos bons serviços do ministro Haddad, que vai desempenhando muito bem o papel que outrora coube a Antonio Palocci. Elegante e altaneiro, o ministro dividiu as honras, parecendo entender que a melhor parte da premiação era a indicação sobre o gosto do público: o governo não tinha uma agenda econômica e agora sabe perfeitamente o que fazer para agradar.

"Upgrade” da Fitch foi um prêmio para o governo e, em especial, aos bons serviços do ministro Haddad Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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E, ao acertar na economia, o resto vem muito mais fácil.

As indicações são também preciosas sobre o que não fazer. O anticapitalismo infantil típico dos economistas do PT é um risco importante, e que pode contaminar a conversa sobre impostos que o ministro quer estabelecer mais adiante.

Não há ironia na Fitch utilizar a palavra pragmatismo mais de uma vez em seu relatório. Entendem que o governo é de esquerda e que advoga um afastamento da agenda liberal de governos anteriores. Entendem também que o governo vai se inclinar na direção do aplauso, pois não existe soberania sem responsabilidade.

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A agência viu méritos em iniciativas do ministro que vinham no empuxo, e que eram assuntos em andamento, como o arcabouço fiscal e a reforma tributária. E aplaudiu coisas que o governo não fez, mesmo que tenha tentado, como detonar a autonomia do BC e o marco do saneamento.

Pouco importa o processo decisório e a intenção, o resultado foi positivo e o campeonato prossegue. Pouco importa também que ir do BB- para o BB seja mais ou menos como entrar no G4 da série B. É um progresso. O importante é fixar o conceito do que é necessário para voltar à série A.

Parece bem claro que a classificação de risco soberano (o rating) do País se tornou o grande organizador conceitual da política econômica do governo Lula 3. Como é bem sabido, a economia não esteve entre os grandes debates no decorrer do processo eleitoral. Em consequência, o programa econômico tem sido montado em pleno voo, e por ministros que não imaginavam estar nas cadeiras que hoje ocupam.

Sim, há muito espaço para improviso e voluntarismo, bem como para a influência corporativa das “máquinas”. São grandes os perigos, basta lembrar da Nova República. Há muitas salvaguardas dessa vez, e a principal delas, não vamos esquecer, é a autonomia do BC, da qual o presidente se queixa. Nesse contexto, o “upgrade”, ou a melhora na nota concedida pela Fitch, e mais ainda os festejos que provocou, em Brasília e no mercado, serviram para apontar uma direção para uma tropa no interior da qual abundam dúvidas e as divisões.

É claro que o presidente democraticamente eleito possui toda a legitimidade do mundo para fazer tudo errado na economia. Mas é melhor que acerte.

É claro que o “upgrade” foi um prêmio para o governo e, em especial, aos bons serviços do ministro Haddad, que vai desempenhando muito bem o papel que outrora coube a Antonio Palocci. Elegante e altaneiro, o ministro dividiu as honras, parecendo entender que a melhor parte da premiação era a indicação sobre o gosto do público: o governo não tinha uma agenda econômica e agora sabe perfeitamente o que fazer para agradar.

"Upgrade” da Fitch foi um prêmio para o governo e, em especial, aos bons serviços do ministro Haddad Foto: Daniel Teixeira/Estadão

E, ao acertar na economia, o resto vem muito mais fácil.

As indicações são também preciosas sobre o que não fazer. O anticapitalismo infantil típico dos economistas do PT é um risco importante, e que pode contaminar a conversa sobre impostos que o ministro quer estabelecer mais adiante.

Não há ironia na Fitch utilizar a palavra pragmatismo mais de uma vez em seu relatório. Entendem que o governo é de esquerda e que advoga um afastamento da agenda liberal de governos anteriores. Entendem também que o governo vai se inclinar na direção do aplauso, pois não existe soberania sem responsabilidade.

A agência viu méritos em iniciativas do ministro que vinham no empuxo, e que eram assuntos em andamento, como o arcabouço fiscal e a reforma tributária. E aplaudiu coisas que o governo não fez, mesmo que tenha tentado, como detonar a autonomia do BC e o marco do saneamento.

Pouco importa o processo decisório e a intenção, o resultado foi positivo e o campeonato prossegue. Pouco importa também que ir do BB- para o BB seja mais ou menos como entrar no G4 da série B. É um progresso. O importante é fixar o conceito do que é necessário para voltar à série A.

Parece bem claro que a classificação de risco soberano (o rating) do País se tornou o grande organizador conceitual da política econômica do governo Lula 3. Como é bem sabido, a economia não esteve entre os grandes debates no decorrer do processo eleitoral. Em consequência, o programa econômico tem sido montado em pleno voo, e por ministros que não imaginavam estar nas cadeiras que hoje ocupam.

Sim, há muito espaço para improviso e voluntarismo, bem como para a influência corporativa das “máquinas”. São grandes os perigos, basta lembrar da Nova República. Há muitas salvaguardas dessa vez, e a principal delas, não vamos esquecer, é a autonomia do BC, da qual o presidente se queixa. Nesse contexto, o “upgrade”, ou a melhora na nota concedida pela Fitch, e mais ainda os festejos que provocou, em Brasília e no mercado, serviram para apontar uma direção para uma tropa no interior da qual abundam dúvidas e as divisões.

É claro que o presidente democraticamente eleito possui toda a legitimidade do mundo para fazer tudo errado na economia. Mas é melhor que acerte.

É claro que o “upgrade” foi um prêmio para o governo e, em especial, aos bons serviços do ministro Haddad, que vai desempenhando muito bem o papel que outrora coube a Antonio Palocci. Elegante e altaneiro, o ministro dividiu as honras, parecendo entender que a melhor parte da premiação era a indicação sobre o gosto do público: o governo não tinha uma agenda econômica e agora sabe perfeitamente o que fazer para agradar.

"Upgrade” da Fitch foi um prêmio para o governo e, em especial, aos bons serviços do ministro Haddad Foto: Daniel Teixeira/Estadão

E, ao acertar na economia, o resto vem muito mais fácil.

As indicações são também preciosas sobre o que não fazer. O anticapitalismo infantil típico dos economistas do PT é um risco importante, e que pode contaminar a conversa sobre impostos que o ministro quer estabelecer mais adiante.

Não há ironia na Fitch utilizar a palavra pragmatismo mais de uma vez em seu relatório. Entendem que o governo é de esquerda e que advoga um afastamento da agenda liberal de governos anteriores. Entendem também que o governo vai se inclinar na direção do aplauso, pois não existe soberania sem responsabilidade.

A agência viu méritos em iniciativas do ministro que vinham no empuxo, e que eram assuntos em andamento, como o arcabouço fiscal e a reforma tributária. E aplaudiu coisas que o governo não fez, mesmo que tenha tentado, como detonar a autonomia do BC e o marco do saneamento.

Pouco importa o processo decisório e a intenção, o resultado foi positivo e o campeonato prossegue. Pouco importa também que ir do BB- para o BB seja mais ou menos como entrar no G4 da série B. É um progresso. O importante é fixar o conceito do que é necessário para voltar à série A.

Opinião por Gustavo H.B. Franco

Ex-presidente do Banco Central e sócio da Rio Bravo Investimentos

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