Ex-presidente do BC e sócio da Rio Bravo Investimentos

Opinião|Por que tanta festa em torno dos 30 anos do real? Talvez a explicação seja por aí: é um protesto


Explicação para essas comemorações tão efusivas tem a ver com as aflições do presente; Lula e seu ministro da Fazenda estão muito parecidos com as lideranças anteriores a 1994

Por Gustavo H.B. Franco

É claro que a movimentação festiva em torno dos 30 anos do real incomoda o governo. Eles sempre foram contra e nunca recuaram. Talvez seja por aí a explicação para tanto interesse nessa efeméride: é um protesto. Uma cutucada para bom entendedor. Trinta anos é uma data de muito peso, é verdade. Mas os outros aniversários do real em datas redondas, as de número 25, 20, 15 e 10 e 5, passaram praticamente em branco, ou quase. E antes disso era muito cedo para cantar vitória.

Por que a ficha caiu apenas no 30º ano? Não é porque só agora percebemos o tamanho da conquista, ou tardiamente nos demos conta que a tese da herança maldita era uma tolice sem tamanho, coisa de gente ciumenta, ou ruim da cabeça e doente do pé, como na expressão do samba de Dorival Caymmi.

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A explicação para essas comemorações tão efusivas tem a ver com as aflições do presente. É claro que é um protesto. Sutil e civilizado, mas um protesto sim. Saudades da melhor versão de nós mesmos. Lembrar das seleções brasileiras do passado pode ser uma maneira educada de lamentar o que temos hoje, não?

O fato é que Lula e seu ministro da Fazenda estão muito parecidos com as lideranças anteriores a 1994, tanto pelos diagnósticos econômicos destrambelhados, quanto pela retórica que subestima a inteligência dos chamados agentes econômicos.

Gustavo Franco: 'O maior dos erros no terreno da política econômica é achar que as pessoas não entendem o que está se passando e não sabem fazer conta' Foto: Vinicius Doti/Fundacao FHC
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O maior dos erros no terreno da política econômica é achar que as pessoas não entendem o que está se passando e não sabem fazer conta. As falas do presidente sobre política fiscal e sobre o Banco Central são lamentáveis, ainda que não totalmente incomuns entre políticos. Todavia, essas explosões não são tomadas ao pé da letra quando o comando da economia possui personalidade.

De seu lado, para não confrontar o presidente, o ministro se abraçou com a ideia de fechar as contas pelo lado da receita, porém, segundo afirma, sem aumentar os impostos. Como assim?

O carro que não precisa de combustível, a produção de energia a partir do pensamento, bem como o almoço grátis sempre foram muito populares. Era típico de Brasília no tempo da hiperinflação. Mas agora?

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Levou alguns meses para o ministro perceber que os impostos já são muito altos, além de complexos. Não há nenhuma solução fácil dormitando numa gaveta em Brasília, nem ineficiências óbvias ou milagres e as contas da Receita sobre renúncias e subsídios não são o que parecem.

Não obstante, o ministro largou o que estava fazendo para ir conversar sobre a taxação global dos super-ricos com o papa. Quem sabe não ouviu uma boa sugestão para o sucessor de Roberto Campos Neto.

É claro que a movimentação festiva em torno dos 30 anos do real incomoda o governo. Eles sempre foram contra e nunca recuaram. Talvez seja por aí a explicação para tanto interesse nessa efeméride: é um protesto. Uma cutucada para bom entendedor. Trinta anos é uma data de muito peso, é verdade. Mas os outros aniversários do real em datas redondas, as de número 25, 20, 15 e 10 e 5, passaram praticamente em branco, ou quase. E antes disso era muito cedo para cantar vitória.

Por que a ficha caiu apenas no 30º ano? Não é porque só agora percebemos o tamanho da conquista, ou tardiamente nos demos conta que a tese da herança maldita era uma tolice sem tamanho, coisa de gente ciumenta, ou ruim da cabeça e doente do pé, como na expressão do samba de Dorival Caymmi.

A explicação para essas comemorações tão efusivas tem a ver com as aflições do presente. É claro que é um protesto. Sutil e civilizado, mas um protesto sim. Saudades da melhor versão de nós mesmos. Lembrar das seleções brasileiras do passado pode ser uma maneira educada de lamentar o que temos hoje, não?

O fato é que Lula e seu ministro da Fazenda estão muito parecidos com as lideranças anteriores a 1994, tanto pelos diagnósticos econômicos destrambelhados, quanto pela retórica que subestima a inteligência dos chamados agentes econômicos.

Gustavo Franco: 'O maior dos erros no terreno da política econômica é achar que as pessoas não entendem o que está se passando e não sabem fazer conta' Foto: Vinicius Doti/Fundacao FHC

O maior dos erros no terreno da política econômica é achar que as pessoas não entendem o que está se passando e não sabem fazer conta. As falas do presidente sobre política fiscal e sobre o Banco Central são lamentáveis, ainda que não totalmente incomuns entre políticos. Todavia, essas explosões não são tomadas ao pé da letra quando o comando da economia possui personalidade.

De seu lado, para não confrontar o presidente, o ministro se abraçou com a ideia de fechar as contas pelo lado da receita, porém, segundo afirma, sem aumentar os impostos. Como assim?

O carro que não precisa de combustível, a produção de energia a partir do pensamento, bem como o almoço grátis sempre foram muito populares. Era típico de Brasília no tempo da hiperinflação. Mas agora?

Levou alguns meses para o ministro perceber que os impostos já são muito altos, além de complexos. Não há nenhuma solução fácil dormitando numa gaveta em Brasília, nem ineficiências óbvias ou milagres e as contas da Receita sobre renúncias e subsídios não são o que parecem.

Não obstante, o ministro largou o que estava fazendo para ir conversar sobre a taxação global dos super-ricos com o papa. Quem sabe não ouviu uma boa sugestão para o sucessor de Roberto Campos Neto.

É claro que a movimentação festiva em torno dos 30 anos do real incomoda o governo. Eles sempre foram contra e nunca recuaram. Talvez seja por aí a explicação para tanto interesse nessa efeméride: é um protesto. Uma cutucada para bom entendedor. Trinta anos é uma data de muito peso, é verdade. Mas os outros aniversários do real em datas redondas, as de número 25, 20, 15 e 10 e 5, passaram praticamente em branco, ou quase. E antes disso era muito cedo para cantar vitória.

Por que a ficha caiu apenas no 30º ano? Não é porque só agora percebemos o tamanho da conquista, ou tardiamente nos demos conta que a tese da herança maldita era uma tolice sem tamanho, coisa de gente ciumenta, ou ruim da cabeça e doente do pé, como na expressão do samba de Dorival Caymmi.

A explicação para essas comemorações tão efusivas tem a ver com as aflições do presente. É claro que é um protesto. Sutil e civilizado, mas um protesto sim. Saudades da melhor versão de nós mesmos. Lembrar das seleções brasileiras do passado pode ser uma maneira educada de lamentar o que temos hoje, não?

O fato é que Lula e seu ministro da Fazenda estão muito parecidos com as lideranças anteriores a 1994, tanto pelos diagnósticos econômicos destrambelhados, quanto pela retórica que subestima a inteligência dos chamados agentes econômicos.

Gustavo Franco: 'O maior dos erros no terreno da política econômica é achar que as pessoas não entendem o que está se passando e não sabem fazer conta' Foto: Vinicius Doti/Fundacao FHC

O maior dos erros no terreno da política econômica é achar que as pessoas não entendem o que está se passando e não sabem fazer conta. As falas do presidente sobre política fiscal e sobre o Banco Central são lamentáveis, ainda que não totalmente incomuns entre políticos. Todavia, essas explosões não são tomadas ao pé da letra quando o comando da economia possui personalidade.

De seu lado, para não confrontar o presidente, o ministro se abraçou com a ideia de fechar as contas pelo lado da receita, porém, segundo afirma, sem aumentar os impostos. Como assim?

O carro que não precisa de combustível, a produção de energia a partir do pensamento, bem como o almoço grátis sempre foram muito populares. Era típico de Brasília no tempo da hiperinflação. Mas agora?

Levou alguns meses para o ministro perceber que os impostos já são muito altos, além de complexos. Não há nenhuma solução fácil dormitando numa gaveta em Brasília, nem ineficiências óbvias ou milagres e as contas da Receita sobre renúncias e subsídios não são o que parecem.

Não obstante, o ministro largou o que estava fazendo para ir conversar sobre a taxação global dos super-ricos com o papa. Quem sabe não ouviu uma boa sugestão para o sucessor de Roberto Campos Neto.

É claro que a movimentação festiva em torno dos 30 anos do real incomoda o governo. Eles sempre foram contra e nunca recuaram. Talvez seja por aí a explicação para tanto interesse nessa efeméride: é um protesto. Uma cutucada para bom entendedor. Trinta anos é uma data de muito peso, é verdade. Mas os outros aniversários do real em datas redondas, as de número 25, 20, 15 e 10 e 5, passaram praticamente em branco, ou quase. E antes disso era muito cedo para cantar vitória.

Por que a ficha caiu apenas no 30º ano? Não é porque só agora percebemos o tamanho da conquista, ou tardiamente nos demos conta que a tese da herança maldita era uma tolice sem tamanho, coisa de gente ciumenta, ou ruim da cabeça e doente do pé, como na expressão do samba de Dorival Caymmi.

A explicação para essas comemorações tão efusivas tem a ver com as aflições do presente. É claro que é um protesto. Sutil e civilizado, mas um protesto sim. Saudades da melhor versão de nós mesmos. Lembrar das seleções brasileiras do passado pode ser uma maneira educada de lamentar o que temos hoje, não?

O fato é que Lula e seu ministro da Fazenda estão muito parecidos com as lideranças anteriores a 1994, tanto pelos diagnósticos econômicos destrambelhados, quanto pela retórica que subestima a inteligência dos chamados agentes econômicos.

Gustavo Franco: 'O maior dos erros no terreno da política econômica é achar que as pessoas não entendem o que está se passando e não sabem fazer conta' Foto: Vinicius Doti/Fundacao FHC

O maior dos erros no terreno da política econômica é achar que as pessoas não entendem o que está se passando e não sabem fazer conta. As falas do presidente sobre política fiscal e sobre o Banco Central são lamentáveis, ainda que não totalmente incomuns entre políticos. Todavia, essas explosões não são tomadas ao pé da letra quando o comando da economia possui personalidade.

De seu lado, para não confrontar o presidente, o ministro se abraçou com a ideia de fechar as contas pelo lado da receita, porém, segundo afirma, sem aumentar os impostos. Como assim?

O carro que não precisa de combustível, a produção de energia a partir do pensamento, bem como o almoço grátis sempre foram muito populares. Era típico de Brasília no tempo da hiperinflação. Mas agora?

Levou alguns meses para o ministro perceber que os impostos já são muito altos, além de complexos. Não há nenhuma solução fácil dormitando numa gaveta em Brasília, nem ineficiências óbvias ou milagres e as contas da Receita sobre renúncias e subsídios não são o que parecem.

Não obstante, o ministro largou o que estava fazendo para ir conversar sobre a taxação global dos super-ricos com o papa. Quem sabe não ouviu uma boa sugestão para o sucessor de Roberto Campos Neto.

Opinião por Gustavo H.B. Franco

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