Ex-presidente do BC e sócio da Rio Bravo Investimentos

Opinião|Real e realidade, 30 anos


Orgulho pelo que temos hoje é do tamanho das dificuldades que tivemos de superar; real é apenas cinco anos (e pouco) mais moço que a nossa Constituição

Por Gustavo H.B. Franco

Estamos celebrando 30 anos do real como moeda nacional. O primado do real. Há muito simbolismo aí. A moeda é o equivalente universal. Nada comporta mais metáforas. A moeda é qualquer coisa que você quiser, diz Jorge Luis Borges. É, para ele, o tempo futuro, uma tarde flanando, a música de Brahms, a sua liberdade de escolher. A cafetina entre a necessidade e o objeto, segundo Marx. Agora, imagine uma moeda chamada real.

Qualquer pessoa em 1993, como hoje, entenderia a ideia de “valor real”. Era, e ainda é, o poder de compra. Nossa Constituição está repleta de passagens falando em valores reais. Quem viveu a inflação, sabe do que se trata.

Quando, então, apareceu uma “unidade real”, em fevereiro de 1994, todos compreenderam. Foi fácil batizar e adotar o real e, ao fazê-lo, o País pôs fim a uma longa embriaguez na construção institucional da sua moeda. É sempre bom recordar. Ainda que penoso. A lembrança da cracolândia bem serve ao esforço de abstinência.

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O real conheceu 6 presidentes nesses 30 anos: os do PT (Lula e Dilma) são levemente majoritários, pois ocuparam 50,5% do tempo (5.538 dias de 10.958*). FHC vem em seguida, com 26,7%; Bolsonaro com 13,2%; Temer com 7,8%; e Itamar Franco com 1,7%.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso segura uma nota de R$ 1 lançada no Plano Real, quando completava dez anos, em 2004. Foto: Alex Silva /Estadão

A moeda nacional é de todos, e de cada um de nós. O padrão monetário devia ser para sempre. Como a bandeira e o hino. São escolhas fundadoras, feitas geralmente quando a Nação se constitui. Mas cada país tem a sua história, cada uma de um jeito. A nossa é diferente: extrema e confusa, mas é nossa.

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O orgulho pelo que temos hoje é do tamanho das dificuldades que tivemos de superar. O real é apenas 5 anos (e pouco) mais moço que a nossa Constituição. Somos uma nação jovem, cuja Carta fez 34 anos e já teve 132 emendas. A juventude é a reconstrução permanente, certo?

Essa mesma Constituição já conviveu com 5 (cinco) padrões monetários diferentes. Nasceu com o cruzado, introduzido em 1986. Em seguida, veio o cruzado novo, o cruzeiro (num arranjo que manteve as duas moedas, com os cruzados aprisionados no porão) e, em meados de 1993, veio o cruzeiro real, logo antes de o País enfrentar o vexame de emitir uma cédula de um milhão. Nenhum país sério emite uma cédula de um milhão.

O truque de “cortar os zeros” era bem conhecido. Mais ou menos como trocar as fraldas do dinheiro. Bem, em fevereiro de 1994 veio a URV, a se transformar no real quatro meses depois, em 1.º de julho. De novo, o País tinha duas moedas, na verdade uma e meia, dessa vez para consertar a bagunça.

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Que história, essa nossa!

Estamos celebrando 30 anos do real como moeda nacional. O primado do real. Há muito simbolismo aí. A moeda é o equivalente universal. Nada comporta mais metáforas. A moeda é qualquer coisa que você quiser, diz Jorge Luis Borges. É, para ele, o tempo futuro, uma tarde flanando, a música de Brahms, a sua liberdade de escolher. A cafetina entre a necessidade e o objeto, segundo Marx. Agora, imagine uma moeda chamada real.

Qualquer pessoa em 1993, como hoje, entenderia a ideia de “valor real”. Era, e ainda é, o poder de compra. Nossa Constituição está repleta de passagens falando em valores reais. Quem viveu a inflação, sabe do que se trata.

Quando, então, apareceu uma “unidade real”, em fevereiro de 1994, todos compreenderam. Foi fácil batizar e adotar o real e, ao fazê-lo, o País pôs fim a uma longa embriaguez na construção institucional da sua moeda. É sempre bom recordar. Ainda que penoso. A lembrança da cracolândia bem serve ao esforço de abstinência.

O real conheceu 6 presidentes nesses 30 anos: os do PT (Lula e Dilma) são levemente majoritários, pois ocuparam 50,5% do tempo (5.538 dias de 10.958*). FHC vem em seguida, com 26,7%; Bolsonaro com 13,2%; Temer com 7,8%; e Itamar Franco com 1,7%.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso segura uma nota de R$ 1 lançada no Plano Real, quando completava dez anos, em 2004. Foto: Alex Silva /Estadão

A moeda nacional é de todos, e de cada um de nós. O padrão monetário devia ser para sempre. Como a bandeira e o hino. São escolhas fundadoras, feitas geralmente quando a Nação se constitui. Mas cada país tem a sua história, cada uma de um jeito. A nossa é diferente: extrema e confusa, mas é nossa.

O orgulho pelo que temos hoje é do tamanho das dificuldades que tivemos de superar. O real é apenas 5 anos (e pouco) mais moço que a nossa Constituição. Somos uma nação jovem, cuja Carta fez 34 anos e já teve 132 emendas. A juventude é a reconstrução permanente, certo?

Essa mesma Constituição já conviveu com 5 (cinco) padrões monetários diferentes. Nasceu com o cruzado, introduzido em 1986. Em seguida, veio o cruzado novo, o cruzeiro (num arranjo que manteve as duas moedas, com os cruzados aprisionados no porão) e, em meados de 1993, veio o cruzeiro real, logo antes de o País enfrentar o vexame de emitir uma cédula de um milhão. Nenhum país sério emite uma cédula de um milhão.

O truque de “cortar os zeros” era bem conhecido. Mais ou menos como trocar as fraldas do dinheiro. Bem, em fevereiro de 1994 veio a URV, a se transformar no real quatro meses depois, em 1.º de julho. De novo, o País tinha duas moedas, na verdade uma e meia, dessa vez para consertar a bagunça.

Que história, essa nossa!

Estamos celebrando 30 anos do real como moeda nacional. O primado do real. Há muito simbolismo aí. A moeda é o equivalente universal. Nada comporta mais metáforas. A moeda é qualquer coisa que você quiser, diz Jorge Luis Borges. É, para ele, o tempo futuro, uma tarde flanando, a música de Brahms, a sua liberdade de escolher. A cafetina entre a necessidade e o objeto, segundo Marx. Agora, imagine uma moeda chamada real.

Qualquer pessoa em 1993, como hoje, entenderia a ideia de “valor real”. Era, e ainda é, o poder de compra. Nossa Constituição está repleta de passagens falando em valores reais. Quem viveu a inflação, sabe do que se trata.

Quando, então, apareceu uma “unidade real”, em fevereiro de 1994, todos compreenderam. Foi fácil batizar e adotar o real e, ao fazê-lo, o País pôs fim a uma longa embriaguez na construção institucional da sua moeda. É sempre bom recordar. Ainda que penoso. A lembrança da cracolândia bem serve ao esforço de abstinência.

O real conheceu 6 presidentes nesses 30 anos: os do PT (Lula e Dilma) são levemente majoritários, pois ocuparam 50,5% do tempo (5.538 dias de 10.958*). FHC vem em seguida, com 26,7%; Bolsonaro com 13,2%; Temer com 7,8%; e Itamar Franco com 1,7%.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso segura uma nota de R$ 1 lançada no Plano Real, quando completava dez anos, em 2004. Foto: Alex Silva /Estadão

A moeda nacional é de todos, e de cada um de nós. O padrão monetário devia ser para sempre. Como a bandeira e o hino. São escolhas fundadoras, feitas geralmente quando a Nação se constitui. Mas cada país tem a sua história, cada uma de um jeito. A nossa é diferente: extrema e confusa, mas é nossa.

O orgulho pelo que temos hoje é do tamanho das dificuldades que tivemos de superar. O real é apenas 5 anos (e pouco) mais moço que a nossa Constituição. Somos uma nação jovem, cuja Carta fez 34 anos e já teve 132 emendas. A juventude é a reconstrução permanente, certo?

Essa mesma Constituição já conviveu com 5 (cinco) padrões monetários diferentes. Nasceu com o cruzado, introduzido em 1986. Em seguida, veio o cruzado novo, o cruzeiro (num arranjo que manteve as duas moedas, com os cruzados aprisionados no porão) e, em meados de 1993, veio o cruzeiro real, logo antes de o País enfrentar o vexame de emitir uma cédula de um milhão. Nenhum país sério emite uma cédula de um milhão.

O truque de “cortar os zeros” era bem conhecido. Mais ou menos como trocar as fraldas do dinheiro. Bem, em fevereiro de 1994 veio a URV, a se transformar no real quatro meses depois, em 1.º de julho. De novo, o País tinha duas moedas, na verdade uma e meia, dessa vez para consertar a bagunça.

Que história, essa nossa!

Opinião por Gustavo H.B. Franco

Ex-presidente do Banco Central e sócio da Rio Bravo Investimentos

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