Ex-presidente do BC e sócio da Rio Bravo Investimentos

Opinião|Tudo pela despesa


Se governo falhar ou desistir de aumentar os impostos, vamos perder as metas fiscais, e vai haver mais dívida, mais juro e mais inflação, em combinação impossível de antecipar

Por Gustavo H.B. Franco

A inundação de memes sobre a política fiscal do governo, mirando por ora apenas no ministro Fernando Haddad, é apenas a face mais lúdica de um assunto muito sério: o ministro e o governo se abraçaram à causa de aumentar os impostos. Um perigo.

Não é um problema de percepção, ou de falha na comunicação oficial, mas de aritmética: se há déficit e o presidente não quer mexer na despesa – talvez mesmo queira aumentá-la –, o que sobra é a receita. A população sabe fazer conta.

É com leve contrariedade, mas jamais de forma explícita, que o governo recorre ao compromisso com o “arcabouço”, tão festejado pelo pessoal do mercado, para se justificar: se querem déficit zero, então não venham reclamar de maiores impostos.

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Claro que não é uma boa estratégia de comunicação. Por isso o governo tem procurado fórmulas melhores de vender o mesmo peixe.

A primeira foi recorrer às evasivas: o ministro insistia que só estava “corrigindo distorções”, que não havia aumento de alíquota ou imposto novo e que apenas “corrigia a base” e colocava para pagar quem devia estar pagando.

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A segunda foi o jabuti, ou seja, (tentar) aproveitar um cavalo selado. O truque consiste em associar a palavra “reforma” a um pacote de aumento de carga, como tentativa de usar a simpatia em torno da reforma tributária, que trata de corrigir as imensas distorções nos impostos sobre o consumo.

Seria uma “reforma da renda”, introduzida com tonalidades progressistas, mas como “segunda etapa” de uma reforma que conta com muitos apoiadores, mas que não tinha esse escopo.

A terceira tem sido jogar para a plateia. Aproveitando o palco oferecido pelo G-20 o governo fez grande alarde ao propor uma tributação global sobre os super-ricos, um punhado de famílias trilionárias que fazem uso de ardis variados para pagar menos impostos do que deveriam. De novo o apelo progressista, desta vez num palanque internacional.

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'Se há déficit e o presidente não quer mexer na despesa – talvez mesmo queira aumentá-la –, o que sobra é a receita', escreve Franco. Foto: Wilton Junior/Estadao

Nessa mesma linha, o ministro da Fazenda foi ver o Papa Francisco. No G-20 a repercussão foi morna, mais para o indiferente. A fórmula não é nova nem prática, os países ricos já experimentaram sem sucesso muitas variantes desse tema, que, todavia, permanece sempre disponível na prateleira das fórmulas impactantes que não funcionam.

De verdade, o Brasil nunca conseguiu implementar nada desse tipo dentro de suas fronteiras. Só se pode especular sobre eficácia dessas estratégias para adocicar a intenção do governo de elevar a carga tributária.

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Mas, se falhar ou desistir de aumentar os impostos, vamos perder as metas fiscais, e vai haver mais dívida, mais juro e mais inflação, em combinação impossível de antecipar. Tudo para não reduzir a despesa.

A inundação de memes sobre a política fiscal do governo, mirando por ora apenas no ministro Fernando Haddad, é apenas a face mais lúdica de um assunto muito sério: o ministro e o governo se abraçaram à causa de aumentar os impostos. Um perigo.

Não é um problema de percepção, ou de falha na comunicação oficial, mas de aritmética: se há déficit e o presidente não quer mexer na despesa – talvez mesmo queira aumentá-la –, o que sobra é a receita. A população sabe fazer conta.

É com leve contrariedade, mas jamais de forma explícita, que o governo recorre ao compromisso com o “arcabouço”, tão festejado pelo pessoal do mercado, para se justificar: se querem déficit zero, então não venham reclamar de maiores impostos.

Claro que não é uma boa estratégia de comunicação. Por isso o governo tem procurado fórmulas melhores de vender o mesmo peixe.

A primeira foi recorrer às evasivas: o ministro insistia que só estava “corrigindo distorções”, que não havia aumento de alíquota ou imposto novo e que apenas “corrigia a base” e colocava para pagar quem devia estar pagando.

A segunda foi o jabuti, ou seja, (tentar) aproveitar um cavalo selado. O truque consiste em associar a palavra “reforma” a um pacote de aumento de carga, como tentativa de usar a simpatia em torno da reforma tributária, que trata de corrigir as imensas distorções nos impostos sobre o consumo.

Seria uma “reforma da renda”, introduzida com tonalidades progressistas, mas como “segunda etapa” de uma reforma que conta com muitos apoiadores, mas que não tinha esse escopo.

A terceira tem sido jogar para a plateia. Aproveitando o palco oferecido pelo G-20 o governo fez grande alarde ao propor uma tributação global sobre os super-ricos, um punhado de famílias trilionárias que fazem uso de ardis variados para pagar menos impostos do que deveriam. De novo o apelo progressista, desta vez num palanque internacional.

'Se há déficit e o presidente não quer mexer na despesa – talvez mesmo queira aumentá-la –, o que sobra é a receita', escreve Franco. Foto: Wilton Junior/Estadao

Nessa mesma linha, o ministro da Fazenda foi ver o Papa Francisco. No G-20 a repercussão foi morna, mais para o indiferente. A fórmula não é nova nem prática, os países ricos já experimentaram sem sucesso muitas variantes desse tema, que, todavia, permanece sempre disponível na prateleira das fórmulas impactantes que não funcionam.

De verdade, o Brasil nunca conseguiu implementar nada desse tipo dentro de suas fronteiras. Só se pode especular sobre eficácia dessas estratégias para adocicar a intenção do governo de elevar a carga tributária.

Mas, se falhar ou desistir de aumentar os impostos, vamos perder as metas fiscais, e vai haver mais dívida, mais juro e mais inflação, em combinação impossível de antecipar. Tudo para não reduzir a despesa.

A inundação de memes sobre a política fiscal do governo, mirando por ora apenas no ministro Fernando Haddad, é apenas a face mais lúdica de um assunto muito sério: o ministro e o governo se abraçaram à causa de aumentar os impostos. Um perigo.

Não é um problema de percepção, ou de falha na comunicação oficial, mas de aritmética: se há déficit e o presidente não quer mexer na despesa – talvez mesmo queira aumentá-la –, o que sobra é a receita. A população sabe fazer conta.

É com leve contrariedade, mas jamais de forma explícita, que o governo recorre ao compromisso com o “arcabouço”, tão festejado pelo pessoal do mercado, para se justificar: se querem déficit zero, então não venham reclamar de maiores impostos.

Claro que não é uma boa estratégia de comunicação. Por isso o governo tem procurado fórmulas melhores de vender o mesmo peixe.

A primeira foi recorrer às evasivas: o ministro insistia que só estava “corrigindo distorções”, que não havia aumento de alíquota ou imposto novo e que apenas “corrigia a base” e colocava para pagar quem devia estar pagando.

A segunda foi o jabuti, ou seja, (tentar) aproveitar um cavalo selado. O truque consiste em associar a palavra “reforma” a um pacote de aumento de carga, como tentativa de usar a simpatia em torno da reforma tributária, que trata de corrigir as imensas distorções nos impostos sobre o consumo.

Seria uma “reforma da renda”, introduzida com tonalidades progressistas, mas como “segunda etapa” de uma reforma que conta com muitos apoiadores, mas que não tinha esse escopo.

A terceira tem sido jogar para a plateia. Aproveitando o palco oferecido pelo G-20 o governo fez grande alarde ao propor uma tributação global sobre os super-ricos, um punhado de famílias trilionárias que fazem uso de ardis variados para pagar menos impostos do que deveriam. De novo o apelo progressista, desta vez num palanque internacional.

'Se há déficit e o presidente não quer mexer na despesa – talvez mesmo queira aumentá-la –, o que sobra é a receita', escreve Franco. Foto: Wilton Junior/Estadao

Nessa mesma linha, o ministro da Fazenda foi ver o Papa Francisco. No G-20 a repercussão foi morna, mais para o indiferente. A fórmula não é nova nem prática, os países ricos já experimentaram sem sucesso muitas variantes desse tema, que, todavia, permanece sempre disponível na prateleira das fórmulas impactantes que não funcionam.

De verdade, o Brasil nunca conseguiu implementar nada desse tipo dentro de suas fronteiras. Só se pode especular sobre eficácia dessas estratégias para adocicar a intenção do governo de elevar a carga tributária.

Mas, se falhar ou desistir de aumentar os impostos, vamos perder as metas fiscais, e vai haver mais dívida, mais juro e mais inflação, em combinação impossível de antecipar. Tudo para não reduzir a despesa.

A inundação de memes sobre a política fiscal do governo, mirando por ora apenas no ministro Fernando Haddad, é apenas a face mais lúdica de um assunto muito sério: o ministro e o governo se abraçaram à causa de aumentar os impostos. Um perigo.

Não é um problema de percepção, ou de falha na comunicação oficial, mas de aritmética: se há déficit e o presidente não quer mexer na despesa – talvez mesmo queira aumentá-la –, o que sobra é a receita. A população sabe fazer conta.

É com leve contrariedade, mas jamais de forma explícita, que o governo recorre ao compromisso com o “arcabouço”, tão festejado pelo pessoal do mercado, para se justificar: se querem déficit zero, então não venham reclamar de maiores impostos.

Claro que não é uma boa estratégia de comunicação. Por isso o governo tem procurado fórmulas melhores de vender o mesmo peixe.

A primeira foi recorrer às evasivas: o ministro insistia que só estava “corrigindo distorções”, que não havia aumento de alíquota ou imposto novo e que apenas “corrigia a base” e colocava para pagar quem devia estar pagando.

A segunda foi o jabuti, ou seja, (tentar) aproveitar um cavalo selado. O truque consiste em associar a palavra “reforma” a um pacote de aumento de carga, como tentativa de usar a simpatia em torno da reforma tributária, que trata de corrigir as imensas distorções nos impostos sobre o consumo.

Seria uma “reforma da renda”, introduzida com tonalidades progressistas, mas como “segunda etapa” de uma reforma que conta com muitos apoiadores, mas que não tinha esse escopo.

A terceira tem sido jogar para a plateia. Aproveitando o palco oferecido pelo G-20 o governo fez grande alarde ao propor uma tributação global sobre os super-ricos, um punhado de famílias trilionárias que fazem uso de ardis variados para pagar menos impostos do que deveriam. De novo o apelo progressista, desta vez num palanque internacional.

'Se há déficit e o presidente não quer mexer na despesa – talvez mesmo queira aumentá-la –, o que sobra é a receita', escreve Franco. Foto: Wilton Junior/Estadao

Nessa mesma linha, o ministro da Fazenda foi ver o Papa Francisco. No G-20 a repercussão foi morna, mais para o indiferente. A fórmula não é nova nem prática, os países ricos já experimentaram sem sucesso muitas variantes desse tema, que, todavia, permanece sempre disponível na prateleira das fórmulas impactantes que não funcionam.

De verdade, o Brasil nunca conseguiu implementar nada desse tipo dentro de suas fronteiras. Só se pode especular sobre eficácia dessas estratégias para adocicar a intenção do governo de elevar a carga tributária.

Mas, se falhar ou desistir de aumentar os impostos, vamos perder as metas fiscais, e vai haver mais dívida, mais juro e mais inflação, em combinação impossível de antecipar. Tudo para não reduzir a despesa.

Opinião por Gustavo H.B. Franco

Ex-presidente do Banco Central e sócio da Rio Bravo Investimentos

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