A indústria automobilística encontra-se no limiar de mudanças relevantes causadas por diversos fatores. Semana passada analisamos o impacto da substituição do tradicional motor de combustão interna por carros movidos a baterias - silenciosos, não-poluentes e de manutenção bem mais simples.
Outro elemento que deve modificar de forma ainda mais visível a arquitetura dos carros é a popularização dos chamados veículos autônomos, que não precisam de um ser humano ao volante - ou melhor, que nem precisam de volante.
Os primeiros carros autônomos foram desenvolvidos na década de 80, fruto do trabalho da equipe de robótica da universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, EUA, e do projeto PROMETHEUS, de origem pan-Europeia. Aliás, esse é um acrônimo que merece ser explicado: “PROgraMme for European Traffic of Highest Efficiency and Unprecedented Safety” (“Programa para Tráfego Europeu de Alta Eficiência e Segurança Inédita”).
Os avanços recentes em disciplinas como inteligência artificial e robótica aceleraram as pesquisas para incorporação de um “piloto automático” nos carros – espera-se que os veículos autônomos sejam a regra, e não a exceção, ao longo das próximas duas décadas. E da mesma maneira que você recebe atualizações dos programas instalados em seu telefone celular pelo ar, o software responsável pela direção do seu futuro carro também será atualizado remotamente.
Isso gera um novo conjunto de questões ligadas à segurança e à invasão do sistema por hackers. Profissionais de segurança da informação – uma das carreiras mais promissoras dos próximos anos - terão desafios importantes quando a direção dos carros estiver sob a responsabilidade de sistemas computacionais. E as agências reguladoras também – a Agência Nacional de Segurança nas Estradas dos EUA (NHTSA) já estuda o estabelecimento de uma legislação que obrigue todos os veículos autônomos a serem capazes de trocar informações entre si em tempo real.
Em um relatório de julho de 2008, a mesma NHTSA indicou que, em mais de 90% dos casos, a responsabilidade pelos acidentes é do condutor do veículo - ou seja, do ser humano. Estudos independentes realizados no Reino Unido chegaram à mesma conclusão, e é razoável assumir que essa estatística seja válida globalmente. Eliminando o ser humano da equação, e com sistemas suficientemente robustos, a redução do número de acidentes é algo amplamente esperado.
Os carros, além de autônomos e capazes de “perceber” o ambiente à sua volta através de sensores dos mais diversos tipos, também serão capazes de transmitir e receber informações para outros dispositivos, em particular para outros carros. Os engarrafamentos tendem a ser reduzidos - no limite, sinais de trânsito poderão ser eliminados em diversos pontos das cidades, deixando a organização do fluxo por conta da rede formada pelos veículos circulando em determinada região.
Há literalmente dezenas de empresas e universidades trabalhando no desenvolvimento de veículos autônomos: Apple, Audi, BMW, Google, Intel, Microsoft, MIT, Nissan, Scania, Stanford, Tesla, Toyota, Uber, Volvo - a lista é extensa e não deve parar de crescer tão cedo, incluindo tanto montadoras quanto empresas de tecnologia. A General Motors, por exemplo, adquiriu em março de 2016 por US$ 1 bilhão a start-up Cruise, fundada apenas 26 meses antes com US$ 4 milhões. É esse tipo de operação que faz a fama do Vale do Silício e do investimento em capital de risco.
Semana que vem seguiremos no tema, explorando algumas situações complexas que a adoção em larga escala dos carros autônomos irá certamente gerar. Até lá.
*Investidor em novas tecnologias, é Engenheiro de Computação e Mestre em Inteligência Artificial