O Futuro dos Negócios

Opinião|Nosso mundo material


Por mais que a economia seja digital, é impossível escapar do mundo dos materiais

Por Guy Perelmuter

O Kantar BrandZ Top 100 Most Valuable Global Brands é elaborado anualmente, apresentando o ranking das marcas mais valiosas do mundo. Em 2024, a liderança é da Apple (a primeira marca a ultrapassar o valor de um trilhão de dólares), seguida pela Google (US$ 750 milhões), Microsoft (US$ 713 milhões), Amazon (US$ 576 milhões), McDonald’s (US$ 221 milhões), NVIDIA (US$ 202 milhões), Visa (US$ 189 milhões), Facebook (US$ 167 milhões), Oracle (US$ 145 milhões) e Tencent (US$ 135 milhões). Conforme já observamos aqui, é inevitável não notar o domínio das marcas de tecnologia na lista, uma demonstração inequívoca do poder e da relevância destes nomes no cotidiano de bilhões de pessoas.

Mas existem outras marcas, muitas delas praticamente desconhecidas do grande público e fundamentais para manter a economia moderna funcionando: marcas que permitem que os nomes acima possam transformar em realidade seus projetos e produtos. Nomes como CATL, CNSIC, Vale, Codelco, Wacker, Baowu, ArcelorMittal, Shagang, TSMC e ASML. O que todas têm em comum é justamente sua estreita relação com o mundo dos materiais e dos átomos — não dos bits e dos apps.

Em seu livro de Material World: The Six Raw Materials That Shape Modern Civilization (2023) — em português, algo como “Mundo material: as seis matérias-primas que moldam a civilização moderna” — Ed Conway, colunista do jornal britânico The Times, destaca seis materiais sem os quais a sociedade moderna simplesmente não existiria: areia, sal, ferro, cobre, petróleo e lítio. Ele observa que, apenas em 2019, “extraímos, escavamos e explodimos mais materiais da superfície da Terra do que a soma total de tudo o que extraímos desde o início da humanidade até 1950.”

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Por que esses seis materiais em particular? Razões não faltam: da areia, composta principalmente por dióxido de silício, fazemos o vidro - uma tecnologia de propósito geral - , as fibras óticas e os microprocessadores (graças à semicondutividade do silício). Misturando-a com o cimento, fazemos o concreto, um dos materiais de construção mais importantes do mundo. O sal, além de ter sido uma moeda de troca em civilizações antigas (originando, inclusive, a palavra salário e estabelecendo as origens do sistema capitalista) tem no sódio um de seus componentes, fundamental para nossa saúde, equilibrando fluidos corporais e funções nervosas e musculares.

Apple lidera ranking das maiores marcas do mundo, assim como outras empresas de tecnologia - mas companhias ligadas à extração de materiais primários também aparecem Foto: Guilherme Guerra / Estadão

Do ferro, misturado com diferentes percentagens de carbono, produzimos o aço, elemento presente em virtualmente todas as manufaturas do planeta, independente do que elas estejam produzindo. O cobre, capaz de conduzir eletricidade enquanto pode ser torcido e retorcido para tomar a forma necessária, é um dos elementos fundamentais dos geradores e transformadores que compõem as redes elétricas mundo afora. O petróleo é responsável, direta ou indiretamente, por uma fração crítica da energia que sustenta lares, indústrias e meios de transporte. E o lítio está no coração de praticamente todas as baterias que alimentam não apenas nossos inseparáveis dispositivos portáteis - smartphones, tablets e laptops - como também os carros elétricos que prometem tornar-se uma percentagem relevante das frotas urbanas nas próximas décadas.

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A presença destes materiais em virtualmente todos os aspectos de nossas vidas sem que nem mesmo pensemos neles reflete o sucesso de sua adoção: da extração em minas, dunas ou oceanos até sua incorporação em máquinas, prédios, veículos ou bens de consumo, o custo econômico do processamento dos materiais caiu seguindo um padrão observado pelo engenheiro aeronáutico Theodore Wright (1895-1970) e que acabou tornando-se uma lei que recebeu seu nome. A Lei de Wright basicamente estabelece que quanto maior a experiência e o aprendizado de determinado processo industrial, maior será a eficiência do processo como um todo. Conforme Conway relata em seu livro, cada vez que a produção de um item dobra, o custo associado cai em média cerca de 15%.

Como inovações tecnológicas em ciências de materiais, sensores, inteligência artificial e veículos autônomos estão influenciando uma das áreas mais fundamentais da economia será o tema da nossa próxima coluna. Até lá.

O Kantar BrandZ Top 100 Most Valuable Global Brands é elaborado anualmente, apresentando o ranking das marcas mais valiosas do mundo. Em 2024, a liderança é da Apple (a primeira marca a ultrapassar o valor de um trilhão de dólares), seguida pela Google (US$ 750 milhões), Microsoft (US$ 713 milhões), Amazon (US$ 576 milhões), McDonald’s (US$ 221 milhões), NVIDIA (US$ 202 milhões), Visa (US$ 189 milhões), Facebook (US$ 167 milhões), Oracle (US$ 145 milhões) e Tencent (US$ 135 milhões). Conforme já observamos aqui, é inevitável não notar o domínio das marcas de tecnologia na lista, uma demonstração inequívoca do poder e da relevância destes nomes no cotidiano de bilhões de pessoas.

Mas existem outras marcas, muitas delas praticamente desconhecidas do grande público e fundamentais para manter a economia moderna funcionando: marcas que permitem que os nomes acima possam transformar em realidade seus projetos e produtos. Nomes como CATL, CNSIC, Vale, Codelco, Wacker, Baowu, ArcelorMittal, Shagang, TSMC e ASML. O que todas têm em comum é justamente sua estreita relação com o mundo dos materiais e dos átomos — não dos bits e dos apps.

Em seu livro de Material World: The Six Raw Materials That Shape Modern Civilization (2023) — em português, algo como “Mundo material: as seis matérias-primas que moldam a civilização moderna” — Ed Conway, colunista do jornal britânico The Times, destaca seis materiais sem os quais a sociedade moderna simplesmente não existiria: areia, sal, ferro, cobre, petróleo e lítio. Ele observa que, apenas em 2019, “extraímos, escavamos e explodimos mais materiais da superfície da Terra do que a soma total de tudo o que extraímos desde o início da humanidade até 1950.”

Por que esses seis materiais em particular? Razões não faltam: da areia, composta principalmente por dióxido de silício, fazemos o vidro - uma tecnologia de propósito geral - , as fibras óticas e os microprocessadores (graças à semicondutividade do silício). Misturando-a com o cimento, fazemos o concreto, um dos materiais de construção mais importantes do mundo. O sal, além de ter sido uma moeda de troca em civilizações antigas (originando, inclusive, a palavra salário e estabelecendo as origens do sistema capitalista) tem no sódio um de seus componentes, fundamental para nossa saúde, equilibrando fluidos corporais e funções nervosas e musculares.

Apple lidera ranking das maiores marcas do mundo, assim como outras empresas de tecnologia - mas companhias ligadas à extração de materiais primários também aparecem Foto: Guilherme Guerra / Estadão

Do ferro, misturado com diferentes percentagens de carbono, produzimos o aço, elemento presente em virtualmente todas as manufaturas do planeta, independente do que elas estejam produzindo. O cobre, capaz de conduzir eletricidade enquanto pode ser torcido e retorcido para tomar a forma necessária, é um dos elementos fundamentais dos geradores e transformadores que compõem as redes elétricas mundo afora. O petróleo é responsável, direta ou indiretamente, por uma fração crítica da energia que sustenta lares, indústrias e meios de transporte. E o lítio está no coração de praticamente todas as baterias que alimentam não apenas nossos inseparáveis dispositivos portáteis - smartphones, tablets e laptops - como também os carros elétricos que prometem tornar-se uma percentagem relevante das frotas urbanas nas próximas décadas.

A presença destes materiais em virtualmente todos os aspectos de nossas vidas sem que nem mesmo pensemos neles reflete o sucesso de sua adoção: da extração em minas, dunas ou oceanos até sua incorporação em máquinas, prédios, veículos ou bens de consumo, o custo econômico do processamento dos materiais caiu seguindo um padrão observado pelo engenheiro aeronáutico Theodore Wright (1895-1970) e que acabou tornando-se uma lei que recebeu seu nome. A Lei de Wright basicamente estabelece que quanto maior a experiência e o aprendizado de determinado processo industrial, maior será a eficiência do processo como um todo. Conforme Conway relata em seu livro, cada vez que a produção de um item dobra, o custo associado cai em média cerca de 15%.

Como inovações tecnológicas em ciências de materiais, sensores, inteligência artificial e veículos autônomos estão influenciando uma das áreas mais fundamentais da economia será o tema da nossa próxima coluna. Até lá.

O Kantar BrandZ Top 100 Most Valuable Global Brands é elaborado anualmente, apresentando o ranking das marcas mais valiosas do mundo. Em 2024, a liderança é da Apple (a primeira marca a ultrapassar o valor de um trilhão de dólares), seguida pela Google (US$ 750 milhões), Microsoft (US$ 713 milhões), Amazon (US$ 576 milhões), McDonald’s (US$ 221 milhões), NVIDIA (US$ 202 milhões), Visa (US$ 189 milhões), Facebook (US$ 167 milhões), Oracle (US$ 145 milhões) e Tencent (US$ 135 milhões). Conforme já observamos aqui, é inevitável não notar o domínio das marcas de tecnologia na lista, uma demonstração inequívoca do poder e da relevância destes nomes no cotidiano de bilhões de pessoas.

Mas existem outras marcas, muitas delas praticamente desconhecidas do grande público e fundamentais para manter a economia moderna funcionando: marcas que permitem que os nomes acima possam transformar em realidade seus projetos e produtos. Nomes como CATL, CNSIC, Vale, Codelco, Wacker, Baowu, ArcelorMittal, Shagang, TSMC e ASML. O que todas têm em comum é justamente sua estreita relação com o mundo dos materiais e dos átomos — não dos bits e dos apps.

Em seu livro de Material World: The Six Raw Materials That Shape Modern Civilization (2023) — em português, algo como “Mundo material: as seis matérias-primas que moldam a civilização moderna” — Ed Conway, colunista do jornal britânico The Times, destaca seis materiais sem os quais a sociedade moderna simplesmente não existiria: areia, sal, ferro, cobre, petróleo e lítio. Ele observa que, apenas em 2019, “extraímos, escavamos e explodimos mais materiais da superfície da Terra do que a soma total de tudo o que extraímos desde o início da humanidade até 1950.”

Por que esses seis materiais em particular? Razões não faltam: da areia, composta principalmente por dióxido de silício, fazemos o vidro - uma tecnologia de propósito geral - , as fibras óticas e os microprocessadores (graças à semicondutividade do silício). Misturando-a com o cimento, fazemos o concreto, um dos materiais de construção mais importantes do mundo. O sal, além de ter sido uma moeda de troca em civilizações antigas (originando, inclusive, a palavra salário e estabelecendo as origens do sistema capitalista) tem no sódio um de seus componentes, fundamental para nossa saúde, equilibrando fluidos corporais e funções nervosas e musculares.

Apple lidera ranking das maiores marcas do mundo, assim como outras empresas de tecnologia - mas companhias ligadas à extração de materiais primários também aparecem Foto: Guilherme Guerra / Estadão

Do ferro, misturado com diferentes percentagens de carbono, produzimos o aço, elemento presente em virtualmente todas as manufaturas do planeta, independente do que elas estejam produzindo. O cobre, capaz de conduzir eletricidade enquanto pode ser torcido e retorcido para tomar a forma necessária, é um dos elementos fundamentais dos geradores e transformadores que compõem as redes elétricas mundo afora. O petróleo é responsável, direta ou indiretamente, por uma fração crítica da energia que sustenta lares, indústrias e meios de transporte. E o lítio está no coração de praticamente todas as baterias que alimentam não apenas nossos inseparáveis dispositivos portáteis - smartphones, tablets e laptops - como também os carros elétricos que prometem tornar-se uma percentagem relevante das frotas urbanas nas próximas décadas.

A presença destes materiais em virtualmente todos os aspectos de nossas vidas sem que nem mesmo pensemos neles reflete o sucesso de sua adoção: da extração em minas, dunas ou oceanos até sua incorporação em máquinas, prédios, veículos ou bens de consumo, o custo econômico do processamento dos materiais caiu seguindo um padrão observado pelo engenheiro aeronáutico Theodore Wright (1895-1970) e que acabou tornando-se uma lei que recebeu seu nome. A Lei de Wright basicamente estabelece que quanto maior a experiência e o aprendizado de determinado processo industrial, maior será a eficiência do processo como um todo. Conforme Conway relata em seu livro, cada vez que a produção de um item dobra, o custo associado cai em média cerca de 15%.

Como inovações tecnológicas em ciências de materiais, sensores, inteligência artificial e veículos autônomos estão influenciando uma das áreas mais fundamentais da economia será o tema da nossa próxima coluna. Até lá.

O Kantar BrandZ Top 100 Most Valuable Global Brands é elaborado anualmente, apresentando o ranking das marcas mais valiosas do mundo. Em 2024, a liderança é da Apple (a primeira marca a ultrapassar o valor de um trilhão de dólares), seguida pela Google (US$ 750 milhões), Microsoft (US$ 713 milhões), Amazon (US$ 576 milhões), McDonald’s (US$ 221 milhões), NVIDIA (US$ 202 milhões), Visa (US$ 189 milhões), Facebook (US$ 167 milhões), Oracle (US$ 145 milhões) e Tencent (US$ 135 milhões). Conforme já observamos aqui, é inevitável não notar o domínio das marcas de tecnologia na lista, uma demonstração inequívoca do poder e da relevância destes nomes no cotidiano de bilhões de pessoas.

Mas existem outras marcas, muitas delas praticamente desconhecidas do grande público e fundamentais para manter a economia moderna funcionando: marcas que permitem que os nomes acima possam transformar em realidade seus projetos e produtos. Nomes como CATL, CNSIC, Vale, Codelco, Wacker, Baowu, ArcelorMittal, Shagang, TSMC e ASML. O que todas têm em comum é justamente sua estreita relação com o mundo dos materiais e dos átomos — não dos bits e dos apps.

Em seu livro de Material World: The Six Raw Materials That Shape Modern Civilization (2023) — em português, algo como “Mundo material: as seis matérias-primas que moldam a civilização moderna” — Ed Conway, colunista do jornal britânico The Times, destaca seis materiais sem os quais a sociedade moderna simplesmente não existiria: areia, sal, ferro, cobre, petróleo e lítio. Ele observa que, apenas em 2019, “extraímos, escavamos e explodimos mais materiais da superfície da Terra do que a soma total de tudo o que extraímos desde o início da humanidade até 1950.”

Por que esses seis materiais em particular? Razões não faltam: da areia, composta principalmente por dióxido de silício, fazemos o vidro - uma tecnologia de propósito geral - , as fibras óticas e os microprocessadores (graças à semicondutividade do silício). Misturando-a com o cimento, fazemos o concreto, um dos materiais de construção mais importantes do mundo. O sal, além de ter sido uma moeda de troca em civilizações antigas (originando, inclusive, a palavra salário e estabelecendo as origens do sistema capitalista) tem no sódio um de seus componentes, fundamental para nossa saúde, equilibrando fluidos corporais e funções nervosas e musculares.

Apple lidera ranking das maiores marcas do mundo, assim como outras empresas de tecnologia - mas companhias ligadas à extração de materiais primários também aparecem Foto: Guilherme Guerra / Estadão

Do ferro, misturado com diferentes percentagens de carbono, produzimos o aço, elemento presente em virtualmente todas as manufaturas do planeta, independente do que elas estejam produzindo. O cobre, capaz de conduzir eletricidade enquanto pode ser torcido e retorcido para tomar a forma necessária, é um dos elementos fundamentais dos geradores e transformadores que compõem as redes elétricas mundo afora. O petróleo é responsável, direta ou indiretamente, por uma fração crítica da energia que sustenta lares, indústrias e meios de transporte. E o lítio está no coração de praticamente todas as baterias que alimentam não apenas nossos inseparáveis dispositivos portáteis - smartphones, tablets e laptops - como também os carros elétricos que prometem tornar-se uma percentagem relevante das frotas urbanas nas próximas décadas.

A presença destes materiais em virtualmente todos os aspectos de nossas vidas sem que nem mesmo pensemos neles reflete o sucesso de sua adoção: da extração em minas, dunas ou oceanos até sua incorporação em máquinas, prédios, veículos ou bens de consumo, o custo econômico do processamento dos materiais caiu seguindo um padrão observado pelo engenheiro aeronáutico Theodore Wright (1895-1970) e que acabou tornando-se uma lei que recebeu seu nome. A Lei de Wright basicamente estabelece que quanto maior a experiência e o aprendizado de determinado processo industrial, maior será a eficiência do processo como um todo. Conforme Conway relata em seu livro, cada vez que a produção de um item dobra, o custo associado cai em média cerca de 15%.

Como inovações tecnológicas em ciências de materiais, sensores, inteligência artificial e veículos autônomos estão influenciando uma das áreas mais fundamentais da economia será o tema da nossa próxima coluna. Até lá.

Opinião por Guy Perelmuter

Fundador da Grids Capital e autor do livro "Futuro Presente - O mundo movido à tecnologia", vencedor do Prêmio Jabuti 2020 na categoria Ciências. É engenheiro de computação e mestre em inteligência artificial

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