Da mesma maneira que a ARPANET, gênese da atual Internet, foi desenvolvida com objetivos militares e eventualmente tornou-se uma tecnologia presente em todos os setores da sociedade, os drones também seguem o mesmo caminho. Depois de uma longa história de desenvolvimento motivada por guerras, desde o início da década atual o interesse por estes veículos aéreos não-tripulados continua aumentando. O consumidor que deseja pilotar um drone para fins recreativos tem dezenas de modelos diferentes à sua disposição, cujo preço varia de algumas dezenas a alguns milhares de dólares. Muitos já possuem câmeras em sua estrutura, cuja resolução e alcance são diretamente relacionados aos seus objetivos. Obter imagens em alta definição tanto para fotos quanto para filmes já é lugar comum, e há drones "recreativos" com lentes que alcançam confortavelmente objetos há mais de um quilômetro de distância. No caso de drones militares, mesmo quando estão voando a uma altitude de dez quilômetros são capazes de obter com precisão a placa de um carro.
A popularização dos drones ocorreu de forma tão rápida que a FAA (Federal Aviation Administration), a entidade que regulamenta a aviação civil nos Estados Unidos, estabeleceu uma extensa regulamentação sobre o tema, incluindo a necessidade de obtenção de licenças para voo em diversos casos. O objetivo é evitar que com a quantidade crescente de drones cruzando os céus acidentes ocorram - colisões e quedas, impacto em prédios ou postes e voos em áreas restritas, entre outros. De acordo com um relatório publicado pela FAA no primeiro trimestre de 2016, em 2020 espera-se que a venda anual de drones nos EUA atinja sete milhões de unidades, sendo 2,7 milhões para fins comerciais e 4,3 milhões para fins recreativos. Os valores envolvidos já são significativos: segundo o Grupo Gartner, a receita global com a venda de drones para uso pessoal e comercial deve atingir mais de US$ 11 bilhões em 2020, comparada com cerca de US$ 6 bilhões ao longo de 2017. Por sua versatilidade, drones já são utilizados em um grande número de setores, em empresas de energia, seguros, construção, agricultura, pesquisa, varejo, mídia e logística. Suas tarefas são variadas, e incluem a inspeção de estruturas, a análise de linhas de transmissão de energia elétrica, gasodutos, controle de qualidade de telhados e coberturas, monitoramento de movimentação de veículos e pessoas e, mais recentemente, entrega de mercadorias e medicamentos.
Novos usos e aplicações surgem regularmente, frequentemente através da combinação de diversos elementos viabilizados economicamente pelo avanço nos processos de manufatura que caracterizam a convergência de tecnologias que a sociedade vai continuar experimentando ao longo das próximas décadas. Um exemplo está no uso de drones na cadeia de suprimentos, conforme comentamos neste espaço, aliados à tecnologia de identificação por rádiofrequência (RFID). Esta técnica funciona através da "resposta" que etiquetas especiais (chamadas de "RFID tags") são capazes de dar quando um equipamento específico é acionado para ler a informação armazenada. Isso faz com que as etiquetas se comportem como elementos passivos, não precisando de baterias e simplesmente "respondendo" quando ondas de rádio específicas as atingem. Pois um dos inúmeros projetos em desenvolvimento no MIT (Massachusetts Institute of Technology, em Cambridge, Estados Unidos) utiliza uma frota de drones que voa de forma autônoma por um armazém, estimulando as etiquetas RFID com ondas de rádio e catalogando a localização de cada item armazenado com uma margem de erro menor que vinte centímetros.
A combinação de tecnologias é um dos principais elementos de aceleração das inovações - e uma das áreas viabilizadas exatamente em função da convergência de diversos avanços técnico-científicos é a nanotecnologia, que possui um potencial extraordinário para impactar indústrias e a sociedade. É sobre ela que iremos falar na semana que vem. Até lá.
*Fundador da GRIDS Capital, é Engenheiro de Computação e Mestre em Inteligência Artificial