Apesar do debate a respeito dos efeitos do progresso técnico sobre o emprego, até recentemente as visões acadêmica e econômica prevalentes eram de um processo benigno como consequência da evolução tecnológica. A tecnologia era percebida como um elemento que, em última instância, iria gerar mais empregos. Isso parece estar mudando - agora, um número relevante de economistas e acadêmicos começa a acreditar que entramos em um período onde não somente a quantidade de empregos será reduzida, mas também o tipo dessa redução irá mudar: não serão apenas as atividades repetitivas e que exigem menos formação acadêmica que serão afetadas.
Larry Summers, ex-secretário do Tesouro norte-americano e professor de Harvard, resumiu essa visão, dizendo que o problema no futuro da humanidade não era mais produzir bens em quantidade suficiente, mas sim sermos capazes de criar um número suficiente grande de empregos para todos.
Em um primeiro momento, a automação atingiu de forma mais expressiva o setor agrícola e manufatureiro. Mas agora o setor de serviços começa a ser impactado, em um processo que só deve se aprofundar nos próximos anos.
Motoristas - sejam eles de táxi, ônibus ou caminhão - possivelmente não serão necessários em algum momento dos próximos vinte ou trinta anos em função da popularização dos veículos autônomos, tema que abordamos neste espaço.
Estabelecimentos comerciais não irão precisar da figura do "caixa", pois o simples ato de sair da loja com um certo conjunto de mercadorias irá debitar sua conta - recentemente, a Amazon inaugurou uma loja física em Seattle (chamada Amazon Go) onde isso já é realidade. Por meio de sistemas integrados de visão computacional e sensores, é possível monitorar quais os itens que o usuário retira ou coloca em seu carrinho de compras. Cada consumidor é devidamente identificado ao entrar na loja por meio de um aplicativo instalado em seu telefone celular.
Ao ligar para uma central de atendimento ou interagir via chat com um agente de suporte você provavelmente também terá do outro lado da linha uma máquina. Por meio de técnicas de inteligência artificial, esses bots (abreviatura de robots, ou seja, robôs) entram em operação após "aprenderem" como lidar com as requisições mais usuais, e ao longo do tempo acumulam experiência e flexibilidade. Em diversos casos essas entidades já são capazes de interagir com seres humanos sem que percebamos que estamos de fato falando com uma máquina.
Mas as modificações não param aí. Outras tarefas que possuem um grau razoável de sofisticação já começaram a ser executadas por máquinas com resultados extremamente promissores: tradução de textos, elaboração de contratos, análise de imagens, contabilidade e aconselhamento financeiro são apenas alguns exemplos. E não há dúvida que há muito mais por vir.
No livro de 2015 Rise of the Robots (A Ascensão dos Robôs), o autor norte-americano Martin Ford argumenta que o impacto dessa tendência de automação de tarefas simples até outras significativamente complexas irá potencialmente criar uma espiral deflacionária: com a redução do tamanho do mercado de trabalho, os consumidores irão sentir-se pouco seguros em gastar. A solução para isso, segundo diversos economistas e alguns participantes da própria indústria de tecnologia, é a elaboração de programas governamentais que garantam uma renda mínima para grande parte da população. Essa proposta deve ser analisada de forma muito cuidadosa em função dos significativos impactos sobre os indivíduos, os negócios e a sociedade - e esse será nosso tema na próxima semana. Até lá.
*Investidor em novas tecnologias, é Engenheiro de Computação e Mestre em Inteligência Artificial