BRASÍLIA - A cotação do dólar disparou no início da tarde desta quarta-feira, 27, e fechou em alta de 1,81%, cotado a R$ 5,9135. A moeda americana chegou à máxima histórica de R$ 5,929, por volta de 15h40min. O valor de fechamento é o mais elevado não só do governo Lula 3 – é o maior da história do real, superando a marca de R$ 5,8694, registrada em 1º de novembro. O movimento, segundo especialistas, reflete a expectativa em torno do pacote de corte de gastos, que deve ser anunciado ainda nesta quarta pelo governo.
O pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que será veiculado em rede nacional de TV pelo governo às 20h30 desta quarta-feira deve incluir o anúncio da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. O pronunciamento terá 7 minutos e 18 segundos de duração.
A medida é uma promessa de campanha reiterada diversas vezes pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A ideia é divulgá-la com o pacote fiscal para balancear o conteúdo impopular da contenção de despesas.
Apesar de a mensagem já ter sido gravada, integrantes da cúpula do governo afirmaram ao Estadão/Broadcast Político que ainda não há martelo batido sobre o IR. Confirmada a isenção, ela poderia valer já em 2025 dependendo da votação no Congresso Nacional, segundo apurou a reportagem. Também será uma vitória da ala política.
A equipe econômica era contra a medida. Além da fala sobre o Imposto de Renda, a declaração de Haddad deverá comunicar ponto a ponto quais são as medidas de ajuste fiscal. O pronunciamento fará do ministro da Fazenda a cara da contenção de despesas, em uma tentativa de reduzir o dano de imagem a Lula.
Interlocutores relataram ao Estadão/Broadcast que, no início das discussões sobre o pacote de contenção de despesas, houve conversas sobre medidas que poderiam amenizar o eventual impacto negativo das medidas.
A isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil chegou a ser mencionada nesse contexto, mas a ideia havia sido abandonada. A retomada do tema nesta semana coincidiu com o fechamento do pacote de gastos e discussão sobre a apresentação das medidas ao Congresso antes de torná-las públicas.
Parlamentares do Partido dos Trabalhadores (PT) queriam que o governo anunciasse a medida de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil. O Ministério da Fazenda, no entanto, foi contra a proposta ao citar o impacto em torno de R$ 40 bilhões aos cofres públicos com a aprovação da medida.
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Em entrevista ao Estadão esta semana, Luís Stuhlberger, CEO da Verde Asset e gestor do Fundo Verde, fez, porém, um cálculo mais assustador. Segundo ele, a ideia do governo de isentar o Imposto de Renda até R$ 5 mil terá um custo de R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões por ano, e que isso poderia ofuscar os ganhos com o pacote de gastos.
Deputados ouvidos pela reportagem reiteram a necessidade de divulgar propostas que atinjam o “andar de cima”, em referência à parcela mais rica da população, até como forma de evitar um desgaste da imagem do presidente e do partido. Isso porque as medidas em estudo pela equipe econômica preveem alterações nas regras de benefícios sociais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e nos valores do salário mínimo, pontos sensíveis para o eleitorado petista.
Bolsa em queda
Além da alta do dólar, as notícias influenciaram também o mercado de ações. Às 15h, o Ibovespa, principal índice da B3, operava em queda de 1,27%, aos 128.234 pontos. Além da piora das bolsas americanas, os investidores reagiram mal à notícia de que o governo anunciará isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. “No mínimo não é o momento mais adequado para sinalizar uma medida assim, que piora o déficit fiscal. Não faz sentido. Vem numa hora em que tem feito um trabalho difícil para reduzir o déficit fiscal”, diz Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria.
Na visão de Bruno Takeo, estrategista da Potenza Capital, a eventual redução do IR neste momento vai na contramão da expectativa do mercado de um pacote robusto de corte de gastos. “A sensação é de que tentará inflar o pacote com medidas que não sejam tão realísticas, fica difícil o mercado não ficar cético”, afirma.