Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central

Opinião|Brasil e China assinam acordos de cooperação e de comércio em boa hora para investir em laços


Livre-comércio mundial terá problemas a partir de janeiro, considerando promessas de medidas protecionistas de Trump

Por Henrique Meirelles

Brasil e China assinaram mais de 30 acordos de cooperação e de comércio na semana passada, quando o presidente Xi Jinping esteve com o presidente Lula em Brasília. São acordos menores do que se esperava, mas ao menos demonstram uma disposição em aumentar os negócios entre os dois países. É uma boa hora para investir no incremento de laços comerciais.

O presidente da China, Xi Jinping, à esquerda, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, posam para fotos com seus acordos bilaterais no Palácio da Alvorada, em Brasília, Brasil, na quarta-feira, 20 de novembro de 2024  Foto: Eraldo Peres/AP

A levar a sério o que disse Donald Trump na campanha eleitoral, o livre-comércio mundial terá problemas a partir de janeiro. Trump fez várias promessas de tomar medidas protecionistas, com a intenção, segundo ele, de incentivar o setor industrial do país. A China é seu principal alvo.

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Como já disse aqui, prefiro pensar no que o Brasil pode fazer para se fortalecer, a especular sobre as dificuldades de um cenário hipotético. E, nesse caso, fortalecer laços com a China, a segunda maior economia do mundo e maior parceiro comercial, é uma opção interessante. O Brasil ainda é um país de economia fechada, precisa se abrir, e pode se beneficiar das restrições criadas por Trump contra os chineses.

Como o foco de Trump é a indústria, medidas protecionistas prejudicam mais a China do que o Brasil, exportador de commodities. Além disso, o Brasil tem déficit na relação comercial com os Estados Unidos. Por isso, pode ser menos atingido.

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Em um momento que pode ser adverso, o Brasil precisa buscar espaço no comércio e tentar atrair investimentos. O País tem oportunidades interessantes a oferecer. Negócios voltados para o consumo demonstram potencial. O consumo cresceu 3,7% no ano passado.

Parte disso vem do aumento da renda, impulsionado por um mercado de trabalho forte, que levou ao aumento de salários. O baixo desemprego tem diversas causas, uma delas a reforma trabalhista de 2017. Outra parte vem do aumento do gasto público, via despesas com benefícios sociais e pagamentos de precatórios – dinheiro injetado pelo governo. Essa parte é a menos sustentável.

Outro setor atrativo é o do saneamento. A Sabesp, maior estatal do setor, foi vendida por R$ 15 bilhões. A estimativa é de que o setor precise de investimentos de R$ 900 bilhões para alcançar a universalização do serviço até 2033. O agronegócio oferece oportunidades na agroindústria, gerando exportações de produtos industrializados substituindo a exportação apenas de commodities.

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Se o governo aprovar um pacote efetivo de corte de gastos, capaz de alterar a trajetória de alta da dívida pública, pode ajudar muito.

* * * *

Quero agradecer a todos que estiveram nos lançamentos do meu livro, Calma sob pressão.

Brasil e China assinaram mais de 30 acordos de cooperação e de comércio na semana passada, quando o presidente Xi Jinping esteve com o presidente Lula em Brasília. São acordos menores do que se esperava, mas ao menos demonstram uma disposição em aumentar os negócios entre os dois países. É uma boa hora para investir no incremento de laços comerciais.

O presidente da China, Xi Jinping, à esquerda, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, posam para fotos com seus acordos bilaterais no Palácio da Alvorada, em Brasília, Brasil, na quarta-feira, 20 de novembro de 2024  Foto: Eraldo Peres/AP

A levar a sério o que disse Donald Trump na campanha eleitoral, o livre-comércio mundial terá problemas a partir de janeiro. Trump fez várias promessas de tomar medidas protecionistas, com a intenção, segundo ele, de incentivar o setor industrial do país. A China é seu principal alvo.

Como já disse aqui, prefiro pensar no que o Brasil pode fazer para se fortalecer, a especular sobre as dificuldades de um cenário hipotético. E, nesse caso, fortalecer laços com a China, a segunda maior economia do mundo e maior parceiro comercial, é uma opção interessante. O Brasil ainda é um país de economia fechada, precisa se abrir, e pode se beneficiar das restrições criadas por Trump contra os chineses.

Como o foco de Trump é a indústria, medidas protecionistas prejudicam mais a China do que o Brasil, exportador de commodities. Além disso, o Brasil tem déficit na relação comercial com os Estados Unidos. Por isso, pode ser menos atingido.

Em um momento que pode ser adverso, o Brasil precisa buscar espaço no comércio e tentar atrair investimentos. O País tem oportunidades interessantes a oferecer. Negócios voltados para o consumo demonstram potencial. O consumo cresceu 3,7% no ano passado.

Parte disso vem do aumento da renda, impulsionado por um mercado de trabalho forte, que levou ao aumento de salários. O baixo desemprego tem diversas causas, uma delas a reforma trabalhista de 2017. Outra parte vem do aumento do gasto público, via despesas com benefícios sociais e pagamentos de precatórios – dinheiro injetado pelo governo. Essa parte é a menos sustentável.

Outro setor atrativo é o do saneamento. A Sabesp, maior estatal do setor, foi vendida por R$ 15 bilhões. A estimativa é de que o setor precise de investimentos de R$ 900 bilhões para alcançar a universalização do serviço até 2033. O agronegócio oferece oportunidades na agroindústria, gerando exportações de produtos industrializados substituindo a exportação apenas de commodities.

Se o governo aprovar um pacote efetivo de corte de gastos, capaz de alterar a trajetória de alta da dívida pública, pode ajudar muito.

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Brasil e China assinaram mais de 30 acordos de cooperação e de comércio na semana passada, quando o presidente Xi Jinping esteve com o presidente Lula em Brasília. São acordos menores do que se esperava, mas ao menos demonstram uma disposição em aumentar os negócios entre os dois países. É uma boa hora para investir no incremento de laços comerciais.

O presidente da China, Xi Jinping, à esquerda, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, posam para fotos com seus acordos bilaterais no Palácio da Alvorada, em Brasília, Brasil, na quarta-feira, 20 de novembro de 2024  Foto: Eraldo Peres/AP

A levar a sério o que disse Donald Trump na campanha eleitoral, o livre-comércio mundial terá problemas a partir de janeiro. Trump fez várias promessas de tomar medidas protecionistas, com a intenção, segundo ele, de incentivar o setor industrial do país. A China é seu principal alvo.

Como já disse aqui, prefiro pensar no que o Brasil pode fazer para se fortalecer, a especular sobre as dificuldades de um cenário hipotético. E, nesse caso, fortalecer laços com a China, a segunda maior economia do mundo e maior parceiro comercial, é uma opção interessante. O Brasil ainda é um país de economia fechada, precisa se abrir, e pode se beneficiar das restrições criadas por Trump contra os chineses.

Como o foco de Trump é a indústria, medidas protecionistas prejudicam mais a China do que o Brasil, exportador de commodities. Além disso, o Brasil tem déficit na relação comercial com os Estados Unidos. Por isso, pode ser menos atingido.

Em um momento que pode ser adverso, o Brasil precisa buscar espaço no comércio e tentar atrair investimentos. O País tem oportunidades interessantes a oferecer. Negócios voltados para o consumo demonstram potencial. O consumo cresceu 3,7% no ano passado.

Parte disso vem do aumento da renda, impulsionado por um mercado de trabalho forte, que levou ao aumento de salários. O baixo desemprego tem diversas causas, uma delas a reforma trabalhista de 2017. Outra parte vem do aumento do gasto público, via despesas com benefícios sociais e pagamentos de precatórios – dinheiro injetado pelo governo. Essa parte é a menos sustentável.

Outro setor atrativo é o do saneamento. A Sabesp, maior estatal do setor, foi vendida por R$ 15 bilhões. A estimativa é de que o setor precise de investimentos de R$ 900 bilhões para alcançar a universalização do serviço até 2033. O agronegócio oferece oportunidades na agroindústria, gerando exportações de produtos industrializados substituindo a exportação apenas de commodities.

Se o governo aprovar um pacote efetivo de corte de gastos, capaz de alterar a trajetória de alta da dívida pública, pode ajudar muito.

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