Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central

Opinião|Argentina precisa limitar os gastos do governo


Com a eleição de Javier Milei, é inevitável comparar a dramática situação da Argentina com a do Brasil

Por Henrique Meirelles

Com a eleição de Javier Milei, é inevitável comparar a dramática situação da Argentina com a do Brasil. A Argentina tem dois principais problemas econômicos: falta de reservas internacionais e déficit fiscal elevado financiado pelo Banco Central, que provoca uma hiperinflação de 150% ao ano. O Brasil era assim na década de 1980, quando estava insolvente. É importante examinar o que foi feito nos últimos anos, e que deixou os dois países em patamares diferentes.

Quando assumi o Banco Central, em 2003, a hiperinflação havia sido superada pelo Plano Real. Mesmo assim, a inflação ainda estava instável devido à fuga de dólares que resultava do receio com o governo Lula. A responsabilidade fiscal demonstrada pelo governo e uma política monetária rigorosa estabilizaram a inflação e levaram à expansão do crédito, com uma consequente explosão nas exportações de produtos agrícolas. Passamos a acumular reservas, que chegaram a cerca de US$ 290 bilhões quando deixei o cargo, em 2011.

O outro problema da Argentina é o déficit fiscal. O governo gasta mais do que arrecada e seu Banco Central o financia – ou seja, emite moeda para pagar despesas públicas (o que não acontece no Brasil). Isso alimenta a hiperinflação. O Brasil ancorou as despesas fiscais em 2016, com o teto de gastos.

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A limitação do crescimento da despesa – que se expandia a um ritmo insustentável – foi fundamental para permitir ao Banco Central fazer uma política monetária mais eficiente. Quando a política fiscal e a monetária caminham na direção correta, é possível controlar a inflação com uma taxa de juros mais baixa.

Quando a política fiscal e a monetária caminham na direção correta, é possível controlar a inflação com uma taxa de juros mais baixa Foto: Marcello Casal Jr/Agência Br
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A partir daí, o Brasil entrou numa trajetória de certa normalidade. Foram feitas reformas difíceis. A reforma da Previdência possibilitou a manutenção do teto de gastos, substituído neste ano pelo arcabouço fiscal, que sinaliza um compromisso com o controle da despesa. Houve a reforma trabalhista, que começa a gerar uma melhora na produtividade. A reforma tributária simplifica a estrutura de impostos e, apesar dos problemas gerados pelos benefícios a certos setores, vai gerar ganhos.

Com isso, o Brasil tem reservas em dólares em nível confortável e controle de despesas, dois pilares que mantêm a inflação e o risco fiscal em patamares próximos aos dos países mais relevantes. São essas as diferenças cruciais com a Argentina.

Nosso vizinho precisa controlar seu déficit fiscal, ou seja, limitar os gastos do governo. Não será fácil romper o ciclo atual, como não foi no Brasil. Com isso, terá as primeiras condições de controlar a inflação e ter alguma estabilidade para iniciar seu período de reconstrução.

Com a eleição de Javier Milei, é inevitável comparar a dramática situação da Argentina com a do Brasil. A Argentina tem dois principais problemas econômicos: falta de reservas internacionais e déficit fiscal elevado financiado pelo Banco Central, que provoca uma hiperinflação de 150% ao ano. O Brasil era assim na década de 1980, quando estava insolvente. É importante examinar o que foi feito nos últimos anos, e que deixou os dois países em patamares diferentes.

Quando assumi o Banco Central, em 2003, a hiperinflação havia sido superada pelo Plano Real. Mesmo assim, a inflação ainda estava instável devido à fuga de dólares que resultava do receio com o governo Lula. A responsabilidade fiscal demonstrada pelo governo e uma política monetária rigorosa estabilizaram a inflação e levaram à expansão do crédito, com uma consequente explosão nas exportações de produtos agrícolas. Passamos a acumular reservas, que chegaram a cerca de US$ 290 bilhões quando deixei o cargo, em 2011.

O outro problema da Argentina é o déficit fiscal. O governo gasta mais do que arrecada e seu Banco Central o financia – ou seja, emite moeda para pagar despesas públicas (o que não acontece no Brasil). Isso alimenta a hiperinflação. O Brasil ancorou as despesas fiscais em 2016, com o teto de gastos.

A limitação do crescimento da despesa – que se expandia a um ritmo insustentável – foi fundamental para permitir ao Banco Central fazer uma política monetária mais eficiente. Quando a política fiscal e a monetária caminham na direção correta, é possível controlar a inflação com uma taxa de juros mais baixa.

Quando a política fiscal e a monetária caminham na direção correta, é possível controlar a inflação com uma taxa de juros mais baixa Foto: Marcello Casal Jr/Agência Br

A partir daí, o Brasil entrou numa trajetória de certa normalidade. Foram feitas reformas difíceis. A reforma da Previdência possibilitou a manutenção do teto de gastos, substituído neste ano pelo arcabouço fiscal, que sinaliza um compromisso com o controle da despesa. Houve a reforma trabalhista, que começa a gerar uma melhora na produtividade. A reforma tributária simplifica a estrutura de impostos e, apesar dos problemas gerados pelos benefícios a certos setores, vai gerar ganhos.

Com isso, o Brasil tem reservas em dólares em nível confortável e controle de despesas, dois pilares que mantêm a inflação e o risco fiscal em patamares próximos aos dos países mais relevantes. São essas as diferenças cruciais com a Argentina.

Nosso vizinho precisa controlar seu déficit fiscal, ou seja, limitar os gastos do governo. Não será fácil romper o ciclo atual, como não foi no Brasil. Com isso, terá as primeiras condições de controlar a inflação e ter alguma estabilidade para iniciar seu período de reconstrução.

Com a eleição de Javier Milei, é inevitável comparar a dramática situação da Argentina com a do Brasil. A Argentina tem dois principais problemas econômicos: falta de reservas internacionais e déficit fiscal elevado financiado pelo Banco Central, que provoca uma hiperinflação de 150% ao ano. O Brasil era assim na década de 1980, quando estava insolvente. É importante examinar o que foi feito nos últimos anos, e que deixou os dois países em patamares diferentes.

Quando assumi o Banco Central, em 2003, a hiperinflação havia sido superada pelo Plano Real. Mesmo assim, a inflação ainda estava instável devido à fuga de dólares que resultava do receio com o governo Lula. A responsabilidade fiscal demonstrada pelo governo e uma política monetária rigorosa estabilizaram a inflação e levaram à expansão do crédito, com uma consequente explosão nas exportações de produtos agrícolas. Passamos a acumular reservas, que chegaram a cerca de US$ 290 bilhões quando deixei o cargo, em 2011.

O outro problema da Argentina é o déficit fiscal. O governo gasta mais do que arrecada e seu Banco Central o financia – ou seja, emite moeda para pagar despesas públicas (o que não acontece no Brasil). Isso alimenta a hiperinflação. O Brasil ancorou as despesas fiscais em 2016, com o teto de gastos.

A limitação do crescimento da despesa – que se expandia a um ritmo insustentável – foi fundamental para permitir ao Banco Central fazer uma política monetária mais eficiente. Quando a política fiscal e a monetária caminham na direção correta, é possível controlar a inflação com uma taxa de juros mais baixa.

Quando a política fiscal e a monetária caminham na direção correta, é possível controlar a inflação com uma taxa de juros mais baixa Foto: Marcello Casal Jr/Agência Br

A partir daí, o Brasil entrou numa trajetória de certa normalidade. Foram feitas reformas difíceis. A reforma da Previdência possibilitou a manutenção do teto de gastos, substituído neste ano pelo arcabouço fiscal, que sinaliza um compromisso com o controle da despesa. Houve a reforma trabalhista, que começa a gerar uma melhora na produtividade. A reforma tributária simplifica a estrutura de impostos e, apesar dos problemas gerados pelos benefícios a certos setores, vai gerar ganhos.

Com isso, o Brasil tem reservas em dólares em nível confortável e controle de despesas, dois pilares que mantêm a inflação e o risco fiscal em patamares próximos aos dos países mais relevantes. São essas as diferenças cruciais com a Argentina.

Nosso vizinho precisa controlar seu déficit fiscal, ou seja, limitar os gastos do governo. Não será fácil romper o ciclo atual, como não foi no Brasil. Com isso, terá as primeiras condições de controlar a inflação e ter alguma estabilidade para iniciar seu período de reconstrução.

Opinião por Henrique Meirelles

Ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda

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