Na sabatina que aprovou Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central, na semana passada, alguns senadores perguntaram qual seria a atitude dele quando recebesse pressões para reduzir a taxa de juros e sobre o alcance da autonomia da instituição. Eu quero ressaltar a importância de essas perguntas terem sido feitas. A postura dos senadores mostra que a independência do BC está sedimentada no Brasil.
Todos estávamos acostumados a ver políticos e empresários – entre muitos outros agentes – criticarem o Banco Central pela taxa de juros. A sabatina demonstra que algo mudou. A preocupação com a independência do Banco Central em relação aos eventuais interesses de diversos setores se tornou um tema relevante, mais presente no debate do que as críticas à independência, que está consagrada nos países mais relevantes.
A autoridade monetária com autonomia garante maior estabilidade à economia de um país, pois pode cumprir sua missão de tomar as decisões necessárias para manter a inflação na meta. Governos, por exemplo, têm interesses mais imediatistas, que é o tempo da política, que não necessariamente combina em todos os momentos com o tempo da política monetária.
Um exemplo básico: na sua última reunião, em setembro, o Copom optou por elevar a taxa de juros em 0,25 ponto porcentual. Como sempre, houve críticas, pois dias antes havia sido divulgado o registro de deflação em agosto. Mas as decisões do Copom levam em conta não apenas dados da economia no momento, mas levam em consideração tendências para o médio e longo prazo; são traçados cenários por meio de modelos econométricos, que levam em conta a inflação projetada em diversos cenários, com diferentes taxas Selic.
A prova de que o Copom estava certo é que a inflação subiu em setembro: o IPCA divulgado na semana passada foi o mais alto para o mês desde 2021, e foi dentro das expectativas do mercado. O Copom sabia que a trajetória da inflação era de alta e tomou a decisão mais adequada.
A independência do Banco Central serve para isso, para tomar as decisões corretas, baseadas unicamente em dados técnicos, sem influências do ambiente no momento. Um presidente de Banco Central precisa ter, antes de tudo, coragem para tomar as decisões certas. Seu compromisso – e de toda a diretoria – deve ser com a estabilidade da economia.
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Lanço meu livro de memórias Calma sob pressão na terça-feira, às 19h, na Livraria Travessa do shopping Leblon, no Rio. Será um prazer receber a todos que puderem estar presentes.