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Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central

Opinião|Palavras de Trump sobre o Fed fazem barulho, mas não têm efeito prático a curto prazo


Autoridades monetárias, como o Fed, são independentes para proteger a economia, até mesmo do presidente mais poderoso do mundo

Por Henrique Meirelles

Tratei aqui algumas vezes de um tema fundamental quando se fala de autoridades monetárias, que é a autonomia operacional. Bancos centrais precisam ser independentes de governos porque sua missão de manter a estabilidade da economia não pode estar sujeita aos interesses imediatos da política. O tempo da política é diferente do tempo da política monetária. É fundamental voltar ao assunto depois da atitude do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tentou intimidar o Federal Reserve (Fed).

Na semana passada, Trump publicou em uma rede social: “as taxas de juros devem ser reduzidas, o que deve acontecer junto com as iminentes tarifas!”. Era um recado para o Fed, que mantém a taxa básica alta pelos padrões americanos diante da resiliência da inflação. Horas depois, em um testemunho no Congresso, o chairman do Fed, Jerome Powell, disse que não renunciaria por causa de Trump.

O Fed é um paradigma de autoridade monetária independente e Jerome Powell tem mandato até maio de 2026. Portanto, as palavras de Trump sobre política monetária podem fazer barulho, mas não terão efeito prático no momento – mas podem provocar temores quanto ao médio prazo.

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As palavras de Trump sobre política monetária podem fazer barulho, mas não terão efeito prático no momento.
As palavras de Trump sobre política monetária podem fazer barulho, mas não terão efeito prático no momento.  Foto: Alex Brandon/AP

Daqui um ano, Trump vai escolher entre reconduzir Powell ou indicar outro chairman. A escolha é fundamental para a saúde da economia americana, como mostra a história. Arthur Burns foi um chairman do Fed que obedecia aos projetos do presidente Richard Nixon; elevava os juros para conter a inflação, mas interrompia o movimento quando o baixo nível de atividade afetava a popularidade do presidente.

O resultado é que, entre 1968 e 1983, a inflação foi de 7,3% ao ano em média, um recorde para os padrões americanos. Só foi debelada com a dura política monetária do sucessor, Paul Volcker, que levou os juros a 20% ao ano, uma enormidade.

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Jimmy Carter nomeou Volcker para o Fed sabendo o que ele faria. Enfrentou os efeitos da recessão causada pela política de Volcker. Houve uma inédita passeata contra o Fed na Pensilvania Avenue. Porém, a inflação foi dominada e os Estados Unidos tiveram 20 anos de crescimento com inflação e juros baixos.

A política de Trump de impor tarifas de importação, como no caso do aço, tem potencial de causar inflação. Se isso acontecer, o Fed elevará os juros, o que levará à redução da atividade e do emprego no curto prazo – exatamente o oposto do que ele prometeu em sua campanha ao dizer que ressuscitaria a indústria.

Autoridades monetárias, como o Fed, são independentes para proteger a economia de interesses imediatistas e dos humores políticos, até mesmo do presidente mais poderoso do mundo.

Tratei aqui algumas vezes de um tema fundamental quando se fala de autoridades monetárias, que é a autonomia operacional. Bancos centrais precisam ser independentes de governos porque sua missão de manter a estabilidade da economia não pode estar sujeita aos interesses imediatos da política. O tempo da política é diferente do tempo da política monetária. É fundamental voltar ao assunto depois da atitude do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tentou intimidar o Federal Reserve (Fed).

Na semana passada, Trump publicou em uma rede social: “as taxas de juros devem ser reduzidas, o que deve acontecer junto com as iminentes tarifas!”. Era um recado para o Fed, que mantém a taxa básica alta pelos padrões americanos diante da resiliência da inflação. Horas depois, em um testemunho no Congresso, o chairman do Fed, Jerome Powell, disse que não renunciaria por causa de Trump.

O Fed é um paradigma de autoridade monetária independente e Jerome Powell tem mandato até maio de 2026. Portanto, as palavras de Trump sobre política monetária podem fazer barulho, mas não terão efeito prático no momento – mas podem provocar temores quanto ao médio prazo.

As palavras de Trump sobre política monetária podem fazer barulho, mas não terão efeito prático no momento.  Foto: Alex Brandon/AP

Daqui um ano, Trump vai escolher entre reconduzir Powell ou indicar outro chairman. A escolha é fundamental para a saúde da economia americana, como mostra a história. Arthur Burns foi um chairman do Fed que obedecia aos projetos do presidente Richard Nixon; elevava os juros para conter a inflação, mas interrompia o movimento quando o baixo nível de atividade afetava a popularidade do presidente.

O resultado é que, entre 1968 e 1983, a inflação foi de 7,3% ao ano em média, um recorde para os padrões americanos. Só foi debelada com a dura política monetária do sucessor, Paul Volcker, que levou os juros a 20% ao ano, uma enormidade.

Jimmy Carter nomeou Volcker para o Fed sabendo o que ele faria. Enfrentou os efeitos da recessão causada pela política de Volcker. Houve uma inédita passeata contra o Fed na Pensilvania Avenue. Porém, a inflação foi dominada e os Estados Unidos tiveram 20 anos de crescimento com inflação e juros baixos.

A política de Trump de impor tarifas de importação, como no caso do aço, tem potencial de causar inflação. Se isso acontecer, o Fed elevará os juros, o que levará à redução da atividade e do emprego no curto prazo – exatamente o oposto do que ele prometeu em sua campanha ao dizer que ressuscitaria a indústria.

Autoridades monetárias, como o Fed, são independentes para proteger a economia de interesses imediatistas e dos humores políticos, até mesmo do presidente mais poderoso do mundo.

Tratei aqui algumas vezes de um tema fundamental quando se fala de autoridades monetárias, que é a autonomia operacional. Bancos centrais precisam ser independentes de governos porque sua missão de manter a estabilidade da economia não pode estar sujeita aos interesses imediatos da política. O tempo da política é diferente do tempo da política monetária. É fundamental voltar ao assunto depois da atitude do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tentou intimidar o Federal Reserve (Fed).

Na semana passada, Trump publicou em uma rede social: “as taxas de juros devem ser reduzidas, o que deve acontecer junto com as iminentes tarifas!”. Era um recado para o Fed, que mantém a taxa básica alta pelos padrões americanos diante da resiliência da inflação. Horas depois, em um testemunho no Congresso, o chairman do Fed, Jerome Powell, disse que não renunciaria por causa de Trump.

O Fed é um paradigma de autoridade monetária independente e Jerome Powell tem mandato até maio de 2026. Portanto, as palavras de Trump sobre política monetária podem fazer barulho, mas não terão efeito prático no momento – mas podem provocar temores quanto ao médio prazo.

As palavras de Trump sobre política monetária podem fazer barulho, mas não terão efeito prático no momento.  Foto: Alex Brandon/AP

Daqui um ano, Trump vai escolher entre reconduzir Powell ou indicar outro chairman. A escolha é fundamental para a saúde da economia americana, como mostra a história. Arthur Burns foi um chairman do Fed que obedecia aos projetos do presidente Richard Nixon; elevava os juros para conter a inflação, mas interrompia o movimento quando o baixo nível de atividade afetava a popularidade do presidente.

O resultado é que, entre 1968 e 1983, a inflação foi de 7,3% ao ano em média, um recorde para os padrões americanos. Só foi debelada com a dura política monetária do sucessor, Paul Volcker, que levou os juros a 20% ao ano, uma enormidade.

Jimmy Carter nomeou Volcker para o Fed sabendo o que ele faria. Enfrentou os efeitos da recessão causada pela política de Volcker. Houve uma inédita passeata contra o Fed na Pensilvania Avenue. Porém, a inflação foi dominada e os Estados Unidos tiveram 20 anos de crescimento com inflação e juros baixos.

A política de Trump de impor tarifas de importação, como no caso do aço, tem potencial de causar inflação. Se isso acontecer, o Fed elevará os juros, o que levará à redução da atividade e do emprego no curto prazo – exatamente o oposto do que ele prometeu em sua campanha ao dizer que ressuscitaria a indústria.

Autoridades monetárias, como o Fed, são independentes para proteger a economia de interesses imediatistas e dos humores políticos, até mesmo do presidente mais poderoso do mundo.

Opinião por Henrique Meirelles

Ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda