Economia brasileira supera capacidade máxima produtiva por falta de oferta, aponta FGV


PIB não tem mais espaço para crescer sem pressões inflacionárias após sete anos de ociosidade; fenômeno é causado por estagnação da capacidade produtiva e não sinaliza aquecimento

Por Daniela Amorim

RIO – Após mais de sete anos operando com ociosidade, a economia brasileira superou enfim a sua capacidade máxima produtiva em 2022, fechando assim o hiato do produto — diferença entre o Produto Interno Bruto (PIB) corrente e o PIB potencial. No entanto, o fenômeno ocorreu por uma estagnação dessa capacidade produtiva, e não de um avanço mais contundente da demanda. Os cálculos são de um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O hiato do produto mede o espaço que o PIB tem para se expandir sem que estimule uma inflação de demanda: quando está negativo, significa que há ociosidade; quando está positivo, significa uma demanda maior do que a capacidade de produção.

Em território negativo desde 2015, o hiato voltou ao positivo apenas no segundo trimestre de 2022, a 0,5%. O indicador acelerou a 1,8% no terceiro trimestre de 2022, arrefecendo a 0,4% no quarto trimestre do ano passado. Até então, a última vez que o hiato mostrara um resultado positivo foi no quarto trimestre de 2014, de 0,7%.

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No entanto, o hiato do produto positivo não é um sinal de aquecimento da economia brasileira, mas é explicado, em grande parte, pela estagnação do produto potencial, depois de 40 anos de crescimento no longo prazo, defendem os pesquisadores Claudio Considera, Elisa Andrade e Juliana Trece, autores do estudo do Ibre/FGV.

“É a falta de oferta”, escreveram os pesquisadores.

A economia brasileira permaneceu rodando com capacidade ociosa por 29 trimestres consecutivos. O pico da ociosidade ocorreu no segundo trimestre de 2020, quando o hiato estava em -14,7%, devido ao choque provocado pela pandemia de covid-19, mas a economia já mantinha capacidade ociosa desde a recessão econômica anterior, que se estendeu de 2014 a 2016.

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O PIB potencial cresceu anualmente, em média, 2,73% entre 1982 e 2014. Desde a recessão, entre 2014 e 2022, esse crescimento médio arrefeceu para apenas 0,23% ao ano.

“O que eu chamo a atenção é que ele só está positivo porque o produto potencial (PIB potencial) parou de crescer. Se ele viesse no padrão dele, de 2,7% ao ano, como ele tinha crescido até 2014, não teria esse problema, ainda teríamos um hiato negativo. A economia está operando agora acima da capacidade potencial, mas não porque esteja aquecida, mas porque o produto potencial estagnou. Isso não é uma coisa normal.”, avaliou Claudio Considera, coordenador de Contas Nacionais do Ibre/FGV.

A estagnação da capacidade produtiva no País é decorrente de uma menor participação da população no mercado de trabalho e da falta de investimentos no capital produtivo, justificou.

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O economista Claudio Considera é um dos autores do estudo Foto: Fábio Motta/Estadão

O levantamento da FGV se baseia no PIB efetivo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e estima o PIB potencial através da produtividade total dos fatores, que considera a capacidade instalada de capital e a utilização da oferta de mão de obra.

“Não cresce por quê? Porque não tem investimento em capital, e o trabalho não voltou”, resumiu Considera sobre a situação do PIB potencial.

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Pelo lado do trabalho, apesar da recuperação no emprego, o Brasil ainda tem milhões de inativos — pessoas que não trabalham nem buscam uma vaga — a mais do que no pré-pandemia. A proporção de pessoas em idade de trabalhar (com 14 anos ou mais) que efetivamente participa do mercado de trabalho (seja trabalhando, seja procurando emprego) encerrou o primeiro trimestre de 2023 em 61,6%, patamar inferior ao registrado no primeiro trimestre de 2019, de 63,4%.

O fenômeno de aumento da inatividade é generalizado, afetando todas as faixas etárias, conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) apurados pelo IBGE. O estudo da FGV lembra ainda que houve mais de 700 mil vidas perdidas para a covid-19 no País, “sem contar as várias pessoas com sequelas tornando-se pouco produtivas”.

Quanto à capacidade instalada de capital, Considera acredita que, além da ociosidade elevada persistente, o ambiente de incertezas políticas e econômicas nos últimos anos desestimulou novos investimentos.

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“Assim não tem como dar confiança a investidor. O investidor prefere estar ganhando dinheiro fazendo outra coisa, apostando no mercado financeiro, comprando títulos do banco, que pelo menos dá 13% ao ano”, opinou o pesquisador.

O hiato entre o PIB efetivo e o PIB potencial é um dos elementos acompanhados pelo Banco Central para determinar os rumos da política monetária no País, já que indica a capacidade que a atividade econômica tem para crescer sem que gere pressões inflacionárias.

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O resultado do estudo colocaria em xeque a tese do BC de que a inflação estaria pressionada como consequência de uma demanda aquecida, acreditam os pesquisadores.

“A partir disso, conclui-se que o hiato do produto positivo ou mesmo um pouco negativo que se tem observado no período recente, deriva não de um excesso de demanda, mas da falta de oferta”, escrevem os autores no estudo.

“Nesse contexto, é necessário se perguntar se a política monetária é o instrumento mais adequado para mitigar o processo inflacionário que temos observado e que está demorando a ceder, dada a alta taxa de juros por longo período.”

O IBGE divulga na próxima quinta-feira, 1º de junho, os resultados do PIB do primeiro trimestre de 2023.

RIO – Após mais de sete anos operando com ociosidade, a economia brasileira superou enfim a sua capacidade máxima produtiva em 2022, fechando assim o hiato do produto — diferença entre o Produto Interno Bruto (PIB) corrente e o PIB potencial. No entanto, o fenômeno ocorreu por uma estagnação dessa capacidade produtiva, e não de um avanço mais contundente da demanda. Os cálculos são de um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O hiato do produto mede o espaço que o PIB tem para se expandir sem que estimule uma inflação de demanda: quando está negativo, significa que há ociosidade; quando está positivo, significa uma demanda maior do que a capacidade de produção.

Em território negativo desde 2015, o hiato voltou ao positivo apenas no segundo trimestre de 2022, a 0,5%. O indicador acelerou a 1,8% no terceiro trimestre de 2022, arrefecendo a 0,4% no quarto trimestre do ano passado. Até então, a última vez que o hiato mostrara um resultado positivo foi no quarto trimestre de 2014, de 0,7%.

No entanto, o hiato do produto positivo não é um sinal de aquecimento da economia brasileira, mas é explicado, em grande parte, pela estagnação do produto potencial, depois de 40 anos de crescimento no longo prazo, defendem os pesquisadores Claudio Considera, Elisa Andrade e Juliana Trece, autores do estudo do Ibre/FGV.

“É a falta de oferta”, escreveram os pesquisadores.

A economia brasileira permaneceu rodando com capacidade ociosa por 29 trimestres consecutivos. O pico da ociosidade ocorreu no segundo trimestre de 2020, quando o hiato estava em -14,7%, devido ao choque provocado pela pandemia de covid-19, mas a economia já mantinha capacidade ociosa desde a recessão econômica anterior, que se estendeu de 2014 a 2016.

O PIB potencial cresceu anualmente, em média, 2,73% entre 1982 e 2014. Desde a recessão, entre 2014 e 2022, esse crescimento médio arrefeceu para apenas 0,23% ao ano.

“O que eu chamo a atenção é que ele só está positivo porque o produto potencial (PIB potencial) parou de crescer. Se ele viesse no padrão dele, de 2,7% ao ano, como ele tinha crescido até 2014, não teria esse problema, ainda teríamos um hiato negativo. A economia está operando agora acima da capacidade potencial, mas não porque esteja aquecida, mas porque o produto potencial estagnou. Isso não é uma coisa normal.”, avaliou Claudio Considera, coordenador de Contas Nacionais do Ibre/FGV.

A estagnação da capacidade produtiva no País é decorrente de uma menor participação da população no mercado de trabalho e da falta de investimentos no capital produtivo, justificou.

O economista Claudio Considera é um dos autores do estudo Foto: Fábio Motta/Estadão

O levantamento da FGV se baseia no PIB efetivo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e estima o PIB potencial através da produtividade total dos fatores, que considera a capacidade instalada de capital e a utilização da oferta de mão de obra.

“Não cresce por quê? Porque não tem investimento em capital, e o trabalho não voltou”, resumiu Considera sobre a situação do PIB potencial.

Pelo lado do trabalho, apesar da recuperação no emprego, o Brasil ainda tem milhões de inativos — pessoas que não trabalham nem buscam uma vaga — a mais do que no pré-pandemia. A proporção de pessoas em idade de trabalhar (com 14 anos ou mais) que efetivamente participa do mercado de trabalho (seja trabalhando, seja procurando emprego) encerrou o primeiro trimestre de 2023 em 61,6%, patamar inferior ao registrado no primeiro trimestre de 2019, de 63,4%.

O fenômeno de aumento da inatividade é generalizado, afetando todas as faixas etárias, conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) apurados pelo IBGE. O estudo da FGV lembra ainda que houve mais de 700 mil vidas perdidas para a covid-19 no País, “sem contar as várias pessoas com sequelas tornando-se pouco produtivas”.

Quanto à capacidade instalada de capital, Considera acredita que, além da ociosidade elevada persistente, o ambiente de incertezas políticas e econômicas nos últimos anos desestimulou novos investimentos.

“Assim não tem como dar confiança a investidor. O investidor prefere estar ganhando dinheiro fazendo outra coisa, apostando no mercado financeiro, comprando títulos do banco, que pelo menos dá 13% ao ano”, opinou o pesquisador.

O hiato entre o PIB efetivo e o PIB potencial é um dos elementos acompanhados pelo Banco Central para determinar os rumos da política monetária no País, já que indica a capacidade que a atividade econômica tem para crescer sem que gere pressões inflacionárias.

O resultado do estudo colocaria em xeque a tese do BC de que a inflação estaria pressionada como consequência de uma demanda aquecida, acreditam os pesquisadores.

“A partir disso, conclui-se que o hiato do produto positivo ou mesmo um pouco negativo que se tem observado no período recente, deriva não de um excesso de demanda, mas da falta de oferta”, escrevem os autores no estudo.

“Nesse contexto, é necessário se perguntar se a política monetária é o instrumento mais adequado para mitigar o processo inflacionário que temos observado e que está demorando a ceder, dada a alta taxa de juros por longo período.”

O IBGE divulga na próxima quinta-feira, 1º de junho, os resultados do PIB do primeiro trimestre de 2023.

RIO – Após mais de sete anos operando com ociosidade, a economia brasileira superou enfim a sua capacidade máxima produtiva em 2022, fechando assim o hiato do produto — diferença entre o Produto Interno Bruto (PIB) corrente e o PIB potencial. No entanto, o fenômeno ocorreu por uma estagnação dessa capacidade produtiva, e não de um avanço mais contundente da demanda. Os cálculos são de um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O hiato do produto mede o espaço que o PIB tem para se expandir sem que estimule uma inflação de demanda: quando está negativo, significa que há ociosidade; quando está positivo, significa uma demanda maior do que a capacidade de produção.

Em território negativo desde 2015, o hiato voltou ao positivo apenas no segundo trimestre de 2022, a 0,5%. O indicador acelerou a 1,8% no terceiro trimestre de 2022, arrefecendo a 0,4% no quarto trimestre do ano passado. Até então, a última vez que o hiato mostrara um resultado positivo foi no quarto trimestre de 2014, de 0,7%.

No entanto, o hiato do produto positivo não é um sinal de aquecimento da economia brasileira, mas é explicado, em grande parte, pela estagnação do produto potencial, depois de 40 anos de crescimento no longo prazo, defendem os pesquisadores Claudio Considera, Elisa Andrade e Juliana Trece, autores do estudo do Ibre/FGV.

“É a falta de oferta”, escreveram os pesquisadores.

A economia brasileira permaneceu rodando com capacidade ociosa por 29 trimestres consecutivos. O pico da ociosidade ocorreu no segundo trimestre de 2020, quando o hiato estava em -14,7%, devido ao choque provocado pela pandemia de covid-19, mas a economia já mantinha capacidade ociosa desde a recessão econômica anterior, que se estendeu de 2014 a 2016.

O PIB potencial cresceu anualmente, em média, 2,73% entre 1982 e 2014. Desde a recessão, entre 2014 e 2022, esse crescimento médio arrefeceu para apenas 0,23% ao ano.

“O que eu chamo a atenção é que ele só está positivo porque o produto potencial (PIB potencial) parou de crescer. Se ele viesse no padrão dele, de 2,7% ao ano, como ele tinha crescido até 2014, não teria esse problema, ainda teríamos um hiato negativo. A economia está operando agora acima da capacidade potencial, mas não porque esteja aquecida, mas porque o produto potencial estagnou. Isso não é uma coisa normal.”, avaliou Claudio Considera, coordenador de Contas Nacionais do Ibre/FGV.

A estagnação da capacidade produtiva no País é decorrente de uma menor participação da população no mercado de trabalho e da falta de investimentos no capital produtivo, justificou.

O economista Claudio Considera é um dos autores do estudo Foto: Fábio Motta/Estadão

O levantamento da FGV se baseia no PIB efetivo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e estima o PIB potencial através da produtividade total dos fatores, que considera a capacidade instalada de capital e a utilização da oferta de mão de obra.

“Não cresce por quê? Porque não tem investimento em capital, e o trabalho não voltou”, resumiu Considera sobre a situação do PIB potencial.

Pelo lado do trabalho, apesar da recuperação no emprego, o Brasil ainda tem milhões de inativos — pessoas que não trabalham nem buscam uma vaga — a mais do que no pré-pandemia. A proporção de pessoas em idade de trabalhar (com 14 anos ou mais) que efetivamente participa do mercado de trabalho (seja trabalhando, seja procurando emprego) encerrou o primeiro trimestre de 2023 em 61,6%, patamar inferior ao registrado no primeiro trimestre de 2019, de 63,4%.

O fenômeno de aumento da inatividade é generalizado, afetando todas as faixas etárias, conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) apurados pelo IBGE. O estudo da FGV lembra ainda que houve mais de 700 mil vidas perdidas para a covid-19 no País, “sem contar as várias pessoas com sequelas tornando-se pouco produtivas”.

Quanto à capacidade instalada de capital, Considera acredita que, além da ociosidade elevada persistente, o ambiente de incertezas políticas e econômicas nos últimos anos desestimulou novos investimentos.

“Assim não tem como dar confiança a investidor. O investidor prefere estar ganhando dinheiro fazendo outra coisa, apostando no mercado financeiro, comprando títulos do banco, que pelo menos dá 13% ao ano”, opinou o pesquisador.

O hiato entre o PIB efetivo e o PIB potencial é um dos elementos acompanhados pelo Banco Central para determinar os rumos da política monetária no País, já que indica a capacidade que a atividade econômica tem para crescer sem que gere pressões inflacionárias.

O resultado do estudo colocaria em xeque a tese do BC de que a inflação estaria pressionada como consequência de uma demanda aquecida, acreditam os pesquisadores.

“A partir disso, conclui-se que o hiato do produto positivo ou mesmo um pouco negativo que se tem observado no período recente, deriva não de um excesso de demanda, mas da falta de oferta”, escrevem os autores no estudo.

“Nesse contexto, é necessário se perguntar se a política monetária é o instrumento mais adequado para mitigar o processo inflacionário que temos observado e que está demorando a ceder, dada a alta taxa de juros por longo período.”

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