Jovens puxam a fila da renegociação de dívidas atrasadas no Brasil


Volta do emprego, com vagas de menor remuneração, e maior interesse por educação financeira explicam crescimento de 54,62% do número de jovens entre 18 e 25 anos que limparam o nome

Por Márcia De Chiara
Atualização:

Os inadimplentes mais jovens têm puxado a fila de renegociações de dívidas atrasadas no Brasil, em meio a um cenário de calote recorde. Hoje, há no País 68,390 milhões de pessoas com dívidas em atraso de todas as idades. Os jovens, de 18 a 25 anos, são a menor fatia deste total: 12,6% ou 8,61 milhões. No entanto, durante o último ano essa foi a faixa etária que mais ampliou a inadimplência e também a que mais renegociou dívidas.

Entre setembro de 2021 e setembro deste ano, o número de consumidores entre 18 e 25 anos de idade que saiu da inadimplência cresceu 54,62%, aponta levantamento da Serasa, empresa especializada em informações financeiras. No mesmo período, os inadimplentes entre 26 e 30 anos que renegociaram pendências aumentaram 16,64%. Entre aqueles com idades entre 31 e 40 anos, o avanço foi de apenas 9,18%.

continua após a publicidade

“Percebemos que essa foi a faixa etária onde mais cresceu a inadimplência, mas agora eles buscam a renegociação de dívidas e estão efetivamente conseguindo”, afirma Fernando Gambaro, coordenador de pesquisa da Serasa e responsável pelo levantamento feito a partir da base de dados de um dos maiores birôs de crédito do País.

Com a pandemia, o jovens foram os primeiros a ficar sem emprego. O desemprego sempre o foi o principal motivo do calote. De setembro de 2021 a setembro deste ano, a inadimplência geral, de todas as faixas etárias, cresceu 9,93%, mas entre os jovens com até 25 anos subiu 15,71%, aponta o levantamento. Em outras faixas etárias, os avanços do calote foram bem menores: alta de 9% na população entre 26 e 40 anos, de 8,61% entre os que têm 41 e 60 anos e de 11,34% para os acima de 60 anos.

Gambaro atribui a forte renegociação de dívidas dos mais jovens à recuperação do emprego que ocorre hoje com mais vigor para esse estrato da população, geralmente com vagas que oferecem menor remuneração.

continua após a publicidade

“Além disso, há questões culturais”, diz Gambaro. Ele se refere à grande facilidade dos mais jovens em lidar com os canais digitais. “99% das renegociações de dívidas em atraso dos mais jovens aconteceram pelos canais digitais.”

Jefferson de Santana Santos, 24 anos, que renegociou a dívida de R $10 mil no cartão de crédito pelo aplicativo do celular Foto: Werther Santana/Estadão

Esse foi o caso de Jefferson de Santana Santos, de 24 anos. Quando veio a pandemia, ele fazia estágio na área de Tecnologia de Informação, na qual é formado. Com a parada de muitas atividades, ele foi dispensado do estágio e começou a vender balas em semáforos.

continua após a publicidade

“Foi uma pancada só: perdi o emprego e não consegui pagar os cartões”, lembra. Com a venda de doces, mal conseguia pagar as despesas básicas, a dívida com os cartões foi crescendo e chegou a R$ 10 mil.

Virada

Faz quatro meses que Santos deu a volta por cima. Ele começou a trabalhar consertando máquinas industriais, também por conta própria, mas como Microempreendedor Individual (MEI). Isso fez a sua renda aumentar para R$ 4 mil por mês. “Eu já vinha estudando há algum tempo a renegociação”, diz ele, que aproveitou a campanha de recuperação de crédito para colocar a vida financeira em ordem.

continua após a publicidade

“Consegui um bom desconto: quitei uma dívida de R$ 10 mil desembolsando R$ 700 à vista”, conta. Santos estava disposto até a gastar mais, R$ 1.200, para ter o nome limpo. “Preciso ter o meu nome limpo para poder ter as minhas coisas: meu carro, minha casa.”

Ele conta que fez toda a renegociação online, por meio do aplicativo, assim como Milene Rudi, de 22 anos, que pagou uma das dívidas usando Pix.

continua após a publicidade

No início deste mês, ela começou a trabalhar com carteira assinada como atendente em uma rede de lanchonete. Milene ainda não recebeu o primeiro salário, mas decidiu quitar as pendências usando o empréstimo que conseguiu por meio do Auxílio Brasil. “Há muito tempo estava querendo ter o nome limpo”, diz ela, ressaltando que essa situação estava lhe fazendo mal.

A dívida pendente, de quatro anos atrás, estava já em quase R$ 2 mil e ela conseguiu quitá-la por R$ 750. “Renegociar pelo aplicativo é melhor do que presencialmente, não tenho dúvida”, diz. Milene argumenta que pelo canal online não há burocracia, não se gasta dinheiro com condução e evita-se o constrangimento da negociação presencial.

Influenciadores digitais

continua após a publicidade

Além da facilidade com os canais digitais, Gambaro, da Serasa, diz que o avanço da educação financeira, disseminada por influenciadores digitais, tem levado os mais jovens a renegociar dívidas em atraso. “Os influenciadores digitais estão quebrando esse tabu que havia antigamente em se falar sobre dinheiro e eles estão dando mais consciência aos jovens sobre a importância de manter as finanças pessoais organizadas”, argumenta.

A maior parte das dívidas pendentes entre os mais jovens está no cartão de crédito (36%), seguida pelas financeiras (19%) e lojas de varejo (16,4%), aponta a Serasa. O cartão sempre aparece como o vilão da inadimplência tanto entre os mais jovens como a população em geral, porque é um crédito pré-aprovado de fácil acesso, mas com as maiores taxas de juros entre outros meios de pagamento.

Outra característica dos jovens inadimplentes é que 52,7% deles têm renda de R$1 mil a R$2 mil e 31,3% entre R$500 e R$1 mil. Além disso, mais da metade (51,4%) é mulher.

Os inadimplentes mais jovens têm puxado a fila de renegociações de dívidas atrasadas no Brasil, em meio a um cenário de calote recorde. Hoje, há no País 68,390 milhões de pessoas com dívidas em atraso de todas as idades. Os jovens, de 18 a 25 anos, são a menor fatia deste total: 12,6% ou 8,61 milhões. No entanto, durante o último ano essa foi a faixa etária que mais ampliou a inadimplência e também a que mais renegociou dívidas.

Entre setembro de 2021 e setembro deste ano, o número de consumidores entre 18 e 25 anos de idade que saiu da inadimplência cresceu 54,62%, aponta levantamento da Serasa, empresa especializada em informações financeiras. No mesmo período, os inadimplentes entre 26 e 30 anos que renegociaram pendências aumentaram 16,64%. Entre aqueles com idades entre 31 e 40 anos, o avanço foi de apenas 9,18%.

“Percebemos que essa foi a faixa etária onde mais cresceu a inadimplência, mas agora eles buscam a renegociação de dívidas e estão efetivamente conseguindo”, afirma Fernando Gambaro, coordenador de pesquisa da Serasa e responsável pelo levantamento feito a partir da base de dados de um dos maiores birôs de crédito do País.

Com a pandemia, o jovens foram os primeiros a ficar sem emprego. O desemprego sempre o foi o principal motivo do calote. De setembro de 2021 a setembro deste ano, a inadimplência geral, de todas as faixas etárias, cresceu 9,93%, mas entre os jovens com até 25 anos subiu 15,71%, aponta o levantamento. Em outras faixas etárias, os avanços do calote foram bem menores: alta de 9% na população entre 26 e 40 anos, de 8,61% entre os que têm 41 e 60 anos e de 11,34% para os acima de 60 anos.

Gambaro atribui a forte renegociação de dívidas dos mais jovens à recuperação do emprego que ocorre hoje com mais vigor para esse estrato da população, geralmente com vagas que oferecem menor remuneração.

“Além disso, há questões culturais”, diz Gambaro. Ele se refere à grande facilidade dos mais jovens em lidar com os canais digitais. “99% das renegociações de dívidas em atraso dos mais jovens aconteceram pelos canais digitais.”

Jefferson de Santana Santos, 24 anos, que renegociou a dívida de R $10 mil no cartão de crédito pelo aplicativo do celular Foto: Werther Santana/Estadão

Esse foi o caso de Jefferson de Santana Santos, de 24 anos. Quando veio a pandemia, ele fazia estágio na área de Tecnologia de Informação, na qual é formado. Com a parada de muitas atividades, ele foi dispensado do estágio e começou a vender balas em semáforos.

“Foi uma pancada só: perdi o emprego e não consegui pagar os cartões”, lembra. Com a venda de doces, mal conseguia pagar as despesas básicas, a dívida com os cartões foi crescendo e chegou a R$ 10 mil.

Virada

Faz quatro meses que Santos deu a volta por cima. Ele começou a trabalhar consertando máquinas industriais, também por conta própria, mas como Microempreendedor Individual (MEI). Isso fez a sua renda aumentar para R$ 4 mil por mês. “Eu já vinha estudando há algum tempo a renegociação”, diz ele, que aproveitou a campanha de recuperação de crédito para colocar a vida financeira em ordem.

“Consegui um bom desconto: quitei uma dívida de R$ 10 mil desembolsando R$ 700 à vista”, conta. Santos estava disposto até a gastar mais, R$ 1.200, para ter o nome limpo. “Preciso ter o meu nome limpo para poder ter as minhas coisas: meu carro, minha casa.”

Ele conta que fez toda a renegociação online, por meio do aplicativo, assim como Milene Rudi, de 22 anos, que pagou uma das dívidas usando Pix.

No início deste mês, ela começou a trabalhar com carteira assinada como atendente em uma rede de lanchonete. Milene ainda não recebeu o primeiro salário, mas decidiu quitar as pendências usando o empréstimo que conseguiu por meio do Auxílio Brasil. “Há muito tempo estava querendo ter o nome limpo”, diz ela, ressaltando que essa situação estava lhe fazendo mal.

A dívida pendente, de quatro anos atrás, estava já em quase R$ 2 mil e ela conseguiu quitá-la por R$ 750. “Renegociar pelo aplicativo é melhor do que presencialmente, não tenho dúvida”, diz. Milene argumenta que pelo canal online não há burocracia, não se gasta dinheiro com condução e evita-se o constrangimento da negociação presencial.

Influenciadores digitais

Além da facilidade com os canais digitais, Gambaro, da Serasa, diz que o avanço da educação financeira, disseminada por influenciadores digitais, tem levado os mais jovens a renegociar dívidas em atraso. “Os influenciadores digitais estão quebrando esse tabu que havia antigamente em se falar sobre dinheiro e eles estão dando mais consciência aos jovens sobre a importância de manter as finanças pessoais organizadas”, argumenta.

A maior parte das dívidas pendentes entre os mais jovens está no cartão de crédito (36%), seguida pelas financeiras (19%) e lojas de varejo (16,4%), aponta a Serasa. O cartão sempre aparece como o vilão da inadimplência tanto entre os mais jovens como a população em geral, porque é um crédito pré-aprovado de fácil acesso, mas com as maiores taxas de juros entre outros meios de pagamento.

Outra característica dos jovens inadimplentes é que 52,7% deles têm renda de R$1 mil a R$2 mil e 31,3% entre R$500 e R$1 mil. Além disso, mais da metade (51,4%) é mulher.

Os inadimplentes mais jovens têm puxado a fila de renegociações de dívidas atrasadas no Brasil, em meio a um cenário de calote recorde. Hoje, há no País 68,390 milhões de pessoas com dívidas em atraso de todas as idades. Os jovens, de 18 a 25 anos, são a menor fatia deste total: 12,6% ou 8,61 milhões. No entanto, durante o último ano essa foi a faixa etária que mais ampliou a inadimplência e também a que mais renegociou dívidas.

Entre setembro de 2021 e setembro deste ano, o número de consumidores entre 18 e 25 anos de idade que saiu da inadimplência cresceu 54,62%, aponta levantamento da Serasa, empresa especializada em informações financeiras. No mesmo período, os inadimplentes entre 26 e 30 anos que renegociaram pendências aumentaram 16,64%. Entre aqueles com idades entre 31 e 40 anos, o avanço foi de apenas 9,18%.

“Percebemos que essa foi a faixa etária onde mais cresceu a inadimplência, mas agora eles buscam a renegociação de dívidas e estão efetivamente conseguindo”, afirma Fernando Gambaro, coordenador de pesquisa da Serasa e responsável pelo levantamento feito a partir da base de dados de um dos maiores birôs de crédito do País.

Com a pandemia, o jovens foram os primeiros a ficar sem emprego. O desemprego sempre o foi o principal motivo do calote. De setembro de 2021 a setembro deste ano, a inadimplência geral, de todas as faixas etárias, cresceu 9,93%, mas entre os jovens com até 25 anos subiu 15,71%, aponta o levantamento. Em outras faixas etárias, os avanços do calote foram bem menores: alta de 9% na população entre 26 e 40 anos, de 8,61% entre os que têm 41 e 60 anos e de 11,34% para os acima de 60 anos.

Gambaro atribui a forte renegociação de dívidas dos mais jovens à recuperação do emprego que ocorre hoje com mais vigor para esse estrato da população, geralmente com vagas que oferecem menor remuneração.

“Além disso, há questões culturais”, diz Gambaro. Ele se refere à grande facilidade dos mais jovens em lidar com os canais digitais. “99% das renegociações de dívidas em atraso dos mais jovens aconteceram pelos canais digitais.”

Jefferson de Santana Santos, 24 anos, que renegociou a dívida de R $10 mil no cartão de crédito pelo aplicativo do celular Foto: Werther Santana/Estadão

Esse foi o caso de Jefferson de Santana Santos, de 24 anos. Quando veio a pandemia, ele fazia estágio na área de Tecnologia de Informação, na qual é formado. Com a parada de muitas atividades, ele foi dispensado do estágio e começou a vender balas em semáforos.

“Foi uma pancada só: perdi o emprego e não consegui pagar os cartões”, lembra. Com a venda de doces, mal conseguia pagar as despesas básicas, a dívida com os cartões foi crescendo e chegou a R$ 10 mil.

Virada

Faz quatro meses que Santos deu a volta por cima. Ele começou a trabalhar consertando máquinas industriais, também por conta própria, mas como Microempreendedor Individual (MEI). Isso fez a sua renda aumentar para R$ 4 mil por mês. “Eu já vinha estudando há algum tempo a renegociação”, diz ele, que aproveitou a campanha de recuperação de crédito para colocar a vida financeira em ordem.

“Consegui um bom desconto: quitei uma dívida de R$ 10 mil desembolsando R$ 700 à vista”, conta. Santos estava disposto até a gastar mais, R$ 1.200, para ter o nome limpo. “Preciso ter o meu nome limpo para poder ter as minhas coisas: meu carro, minha casa.”

Ele conta que fez toda a renegociação online, por meio do aplicativo, assim como Milene Rudi, de 22 anos, que pagou uma das dívidas usando Pix.

No início deste mês, ela começou a trabalhar com carteira assinada como atendente em uma rede de lanchonete. Milene ainda não recebeu o primeiro salário, mas decidiu quitar as pendências usando o empréstimo que conseguiu por meio do Auxílio Brasil. “Há muito tempo estava querendo ter o nome limpo”, diz ela, ressaltando que essa situação estava lhe fazendo mal.

A dívida pendente, de quatro anos atrás, estava já em quase R$ 2 mil e ela conseguiu quitá-la por R$ 750. “Renegociar pelo aplicativo é melhor do que presencialmente, não tenho dúvida”, diz. Milene argumenta que pelo canal online não há burocracia, não se gasta dinheiro com condução e evita-se o constrangimento da negociação presencial.

Influenciadores digitais

Além da facilidade com os canais digitais, Gambaro, da Serasa, diz que o avanço da educação financeira, disseminada por influenciadores digitais, tem levado os mais jovens a renegociar dívidas em atraso. “Os influenciadores digitais estão quebrando esse tabu que havia antigamente em se falar sobre dinheiro e eles estão dando mais consciência aos jovens sobre a importância de manter as finanças pessoais organizadas”, argumenta.

A maior parte das dívidas pendentes entre os mais jovens está no cartão de crédito (36%), seguida pelas financeiras (19%) e lojas de varejo (16,4%), aponta a Serasa. O cartão sempre aparece como o vilão da inadimplência tanto entre os mais jovens como a população em geral, porque é um crédito pré-aprovado de fácil acesso, mas com as maiores taxas de juros entre outros meios de pagamento.

Outra característica dos jovens inadimplentes é que 52,7% deles têm renda de R$1 mil a R$2 mil e 31,3% entre R$500 e R$1 mil. Além disso, mais da metade (51,4%) é mulher.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.