Como os brasileiros chegaram ao endividamento recorde de R$ 4,6 mil por pessoa


Em um ano, lista do calote foi engrossada com 5,3 milhões de inadimplentes até janeiro de 2023, o equivalente à população da Noruega; no total, são mais de 70 milhões de inadimplentes

Por Márcia De Chiara e Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

Nunca o brasileiro deveu tanto – e não pagou. Em janeiro deste ano, 70,1 milhões de inadimplentes com bancos, empresas de cartão de crédito, financeiras, lojas e serviços de utilidades pública, como água e luz, acumulavam dívidas em atraso que totalizavam R$ 323,3 bilhões. Tanto em número de inadimplentes (que equivale à população da França) como nas cifras devidas, as marcas são recordes da série iniciada em março de 2016, apontam dados da Serasa que reúne informações do SPC Brasil, os dois maiores birôs de crédito do País.

Entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, a lista do calote foi engrossada com 5,3 milhões de inadimplentes, o equivalente à população da Noruega. E a dívida cresceu cerca de 24% (R$ 62,6 bilhões) no período. O valor médio por inadimplente avançou de R$ 4.022 para R$ 4.612.

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Juros altos e renda corroída pela inflação elevada foram os gatilhos para o aumento do calote, adormecido no auge da pandemia por conta das postergações da quitação dos atrasos.

A escalada no número de inadimplentes começou a partir de setembro de 2021, quando a inflação acumulada em 12 meses atingiu 10,23%. Até aquele mês, a quantidade de inadimplentes girava em torno de 62 milhões, uma marca já elevada. E a média total da dívida era de R$ 245 bilhões.

“A inflação fez um estrago gigantesco no orçamento das famílias, especialmente nas de baixa renda, o que gerou esse crescimento no número de brasileiros inadimplentes”, afirma o economista-chefe da Serasa, Luiz Rabi.

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Para esticar a renda e manter o padrão de consumo, as famílias buscaram o crédito mais fácil e mais caro, como cartão de crédito e cheque especial, mas a estratégia não deu certo a médio prazo, porque a inflação não cedeu. O IPCA só começou a recuar artificialmente em meados de 2022 com corte de impostos sobre combustíveis.

O cenário se agravou devido à fraqueza do mercado de trabalho. Embora a ocupação tenha aumentado, o salário não teve ganhos reais.

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Uso de linhas emergenciais

A deterioração da situação financeira das famílias já traz uma preocupação para o sistema financeiro do País, o que leva os bancos a ficarem mais rígidos na concessão de novos créditos e obriga os brasileiros a recorrerem às chamadas linhas emergenciais, como cheque especial e rotativo do cartão de crédito, que têm os juros mais elevados. Em 12 meses até janeiro, por exemplo, a concessão de crédito dessas duas modalidades registrou alta de 22% e 47,5%, respectivamente, de acordo com dados do Banco Central (BC).

“Todo esse cenário pressiona a situação financeira das famílias, diminuindo tanto a demanda como a oferta de crédito”, afirma Isabela Tavares, analista da Tendências. “Esse tipo de crédito revela uma necessidade das famílias em momentos de emergência, porque elas não têm acesso a outras modalidades.”

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Também foram as linhas de cheque especial e cartão de crédito que registraram os maiores índices de inadimplência. Em janeiro, o atraso apurado há pelo menos 90 dias respondia por 13,6% dos saldo a receber no cheque especial e 8,6% no cartão de crédito parcelado, aponta o BC.

É uma marca bem superior à inadimplência média das pessoas físicas com recursos livres que atingiu 6,1% no mesmo período, observa o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes. Ele destaca que essa taxa média de inadimplência da pessoa física com o sistema financeiro é a maior em seis anos e meio. “Só a recessão de 2015/16 produziu um cenário tão negativo quanto esse que temos hoje”, afirma o economista.

Num cenário macroeconômico de baixo crescimento, inflação pressionada e juros ainda elevados ao longo deste ano, economistas concordam que a saída para equacionar neste momento o problema da inadimplência é microeconômica. Ou seja, a renegociação

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No governo, a preocupação com uma ampla crise de crédito no País já é evidente. Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que apresentou o desenho do programa Desenrola, que prevê a renegociação de dívidas de pessoas com renda de até dois salários mínimos, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Serasa iniciou na última terça-feira o Feirão Limpa Nome presencial em São Paulo, que vai até este sábado, 11. Mas as negociações online duram até 31 de março. Pela primeira vez, o birô conseguiu reunir um número recorde de 425 empresas credoras, dispostas a oferecer descontos de até 99% sobre o valor das pendências.

Entre os que buscam a renegociação no Feirão da Serasa, o caminho que leva a inadimplência é parecido e é justificado por queda na renda e perda de emprego.

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‘Ou pagava aluguel ou pagava as dívidas’

As dívidas de Eliane Silva Araújo, de 45 anos, se arrastam desde 2011, quando ficou desempregada. Atualmente, deve cerca de R$ 7 mil para bancos e lojas de varejo. “Fiquei desempregada e fiz um empréstimo de R$ 1,5 mil, mas, agora, me cobram muita coisa. Estou tentando negociar”, conta.

Ela só conseguiu um emprego há pouco mais de um ano. Nesse período, fez bicos e vendeu bolos e salgados para ter alguma renda. “Ou pagava o aluguel ou pagava as dívidas. Era uma escolha.”

A cozinheira Eliane Silva Araújo viu sua dívida crescer de R$ 1,5 mil para R$ 7 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Do salário que recebe atualmente como cozinheira, uma boa parte vai direto para pagar o aluguel da casa onde moram três filhos e um neto. O resto é dividido entre as compras do mês e o pagamento de dívidas menores. “Agora que estou ganhando melhor, eu quero quitar, mas está difícil. É inegociável o que querem.”

‘Cobre uma dívida, mas aparece outra’

As dívidas de Ernando Moreira, de 51 anos, incluem bancos, lojas de varejo e cartão de crédito. Somam, ao todo, R$ 13 mil. “Vai passando de uma (dívida) para outra. Cobre uma, mas aparece outra.”

Dívidas de Ernando Moreira, que trabalha com manutenção predial, chegam a R$ 13 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Ernando trabalha com manutenção predial. Cuida desde limpeza à pintura, mas ficou um ano e quatro meses sem trabalho. “O tempo vai passando e as dívidas vão aumentando”, conta.

Ele conseguiu um emprego há nove meses. Na última quarta-feira, 8, conseguiu renegociar duas das suas cinco dívidas. “Já comecei a dar o primeiro passo.”

‘Me enrolei de novo’

Há dois anos, Sebastião Gomes, de 57 anos, tentou renegociar suas dívidas, mas não teve sucesso. Elas chegaram a somar R$ 20 mil. “Paguei algumas coisas, mas, depois, me enrolei de novo”, diz. “Quando eu fui ver no banco, já estava devendo e comecei a pagar juros. Agora, estou tentando voltar ao normal.”

Sebastião perdeu o controle do seu orçamento depois de abrir uma empresa de jardinagem. Não conseguiu manter as contas em dia. Agora, buscou uma negociação e conseguiu reduzir o montante que devia, sobretudo, para bancos, para R$ 2 mil.

Sebastião Gomes conseguiu renegociar suas dívidas, que chegaram a R$ 20 mil, para R$ 2 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Enquanto não sai da lista de inadimplentes, não consegue crédito para a sua empresa. Por isso, vive de trabalhos menores. “Não posso fechar grandes serviços, só pequenos.”

Num dos momentos mais difíceis, durante a pandemia, se valeu do auxílio emergencial e, depois, do Auxílio Brasil. “Foi bom naquele tempo que estava fraco, na pandemia ficou fraco mesmo.”

Nunca o brasileiro deveu tanto – e não pagou. Em janeiro deste ano, 70,1 milhões de inadimplentes com bancos, empresas de cartão de crédito, financeiras, lojas e serviços de utilidades pública, como água e luz, acumulavam dívidas em atraso que totalizavam R$ 323,3 bilhões. Tanto em número de inadimplentes (que equivale à população da França) como nas cifras devidas, as marcas são recordes da série iniciada em março de 2016, apontam dados da Serasa que reúne informações do SPC Brasil, os dois maiores birôs de crédito do País.

Entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, a lista do calote foi engrossada com 5,3 milhões de inadimplentes, o equivalente à população da Noruega. E a dívida cresceu cerca de 24% (R$ 62,6 bilhões) no período. O valor médio por inadimplente avançou de R$ 4.022 para R$ 4.612.

Juros altos e renda corroída pela inflação elevada foram os gatilhos para o aumento do calote, adormecido no auge da pandemia por conta das postergações da quitação dos atrasos.

A escalada no número de inadimplentes começou a partir de setembro de 2021, quando a inflação acumulada em 12 meses atingiu 10,23%. Até aquele mês, a quantidade de inadimplentes girava em torno de 62 milhões, uma marca já elevada. E a média total da dívida era de R$ 245 bilhões.

“A inflação fez um estrago gigantesco no orçamento das famílias, especialmente nas de baixa renda, o que gerou esse crescimento no número de brasileiros inadimplentes”, afirma o economista-chefe da Serasa, Luiz Rabi.

Para esticar a renda e manter o padrão de consumo, as famílias buscaram o crédito mais fácil e mais caro, como cartão de crédito e cheque especial, mas a estratégia não deu certo a médio prazo, porque a inflação não cedeu. O IPCA só começou a recuar artificialmente em meados de 2022 com corte de impostos sobre combustíveis.

O cenário se agravou devido à fraqueza do mercado de trabalho. Embora a ocupação tenha aumentado, o salário não teve ganhos reais.

Uso de linhas emergenciais

A deterioração da situação financeira das famílias já traz uma preocupação para o sistema financeiro do País, o que leva os bancos a ficarem mais rígidos na concessão de novos créditos e obriga os brasileiros a recorrerem às chamadas linhas emergenciais, como cheque especial e rotativo do cartão de crédito, que têm os juros mais elevados. Em 12 meses até janeiro, por exemplo, a concessão de crédito dessas duas modalidades registrou alta de 22% e 47,5%, respectivamente, de acordo com dados do Banco Central (BC).

“Todo esse cenário pressiona a situação financeira das famílias, diminuindo tanto a demanda como a oferta de crédito”, afirma Isabela Tavares, analista da Tendências. “Esse tipo de crédito revela uma necessidade das famílias em momentos de emergência, porque elas não têm acesso a outras modalidades.”

Também foram as linhas de cheque especial e cartão de crédito que registraram os maiores índices de inadimplência. Em janeiro, o atraso apurado há pelo menos 90 dias respondia por 13,6% dos saldo a receber no cheque especial e 8,6% no cartão de crédito parcelado, aponta o BC.

É uma marca bem superior à inadimplência média das pessoas físicas com recursos livres que atingiu 6,1% no mesmo período, observa o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes. Ele destaca que essa taxa média de inadimplência da pessoa física com o sistema financeiro é a maior em seis anos e meio. “Só a recessão de 2015/16 produziu um cenário tão negativo quanto esse que temos hoje”, afirma o economista.

Num cenário macroeconômico de baixo crescimento, inflação pressionada e juros ainda elevados ao longo deste ano, economistas concordam que a saída para equacionar neste momento o problema da inadimplência é microeconômica. Ou seja, a renegociação

No governo, a preocupação com uma ampla crise de crédito no País já é evidente. Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que apresentou o desenho do programa Desenrola, que prevê a renegociação de dívidas de pessoas com renda de até dois salários mínimos, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Serasa iniciou na última terça-feira o Feirão Limpa Nome presencial em São Paulo, que vai até este sábado, 11. Mas as negociações online duram até 31 de março. Pela primeira vez, o birô conseguiu reunir um número recorde de 425 empresas credoras, dispostas a oferecer descontos de até 99% sobre o valor das pendências.

Entre os que buscam a renegociação no Feirão da Serasa, o caminho que leva a inadimplência é parecido e é justificado por queda na renda e perda de emprego.

‘Ou pagava aluguel ou pagava as dívidas’

As dívidas de Eliane Silva Araújo, de 45 anos, se arrastam desde 2011, quando ficou desempregada. Atualmente, deve cerca de R$ 7 mil para bancos e lojas de varejo. “Fiquei desempregada e fiz um empréstimo de R$ 1,5 mil, mas, agora, me cobram muita coisa. Estou tentando negociar”, conta.

Ela só conseguiu um emprego há pouco mais de um ano. Nesse período, fez bicos e vendeu bolos e salgados para ter alguma renda. “Ou pagava o aluguel ou pagava as dívidas. Era uma escolha.”

A cozinheira Eliane Silva Araújo viu sua dívida crescer de R$ 1,5 mil para R$ 7 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Do salário que recebe atualmente como cozinheira, uma boa parte vai direto para pagar o aluguel da casa onde moram três filhos e um neto. O resto é dividido entre as compras do mês e o pagamento de dívidas menores. “Agora que estou ganhando melhor, eu quero quitar, mas está difícil. É inegociável o que querem.”

‘Cobre uma dívida, mas aparece outra’

As dívidas de Ernando Moreira, de 51 anos, incluem bancos, lojas de varejo e cartão de crédito. Somam, ao todo, R$ 13 mil. “Vai passando de uma (dívida) para outra. Cobre uma, mas aparece outra.”

Dívidas de Ernando Moreira, que trabalha com manutenção predial, chegam a R$ 13 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Ernando trabalha com manutenção predial. Cuida desde limpeza à pintura, mas ficou um ano e quatro meses sem trabalho. “O tempo vai passando e as dívidas vão aumentando”, conta.

Ele conseguiu um emprego há nove meses. Na última quarta-feira, 8, conseguiu renegociar duas das suas cinco dívidas. “Já comecei a dar o primeiro passo.”

‘Me enrolei de novo’

Há dois anos, Sebastião Gomes, de 57 anos, tentou renegociar suas dívidas, mas não teve sucesso. Elas chegaram a somar R$ 20 mil. “Paguei algumas coisas, mas, depois, me enrolei de novo”, diz. “Quando eu fui ver no banco, já estava devendo e comecei a pagar juros. Agora, estou tentando voltar ao normal.”

Sebastião perdeu o controle do seu orçamento depois de abrir uma empresa de jardinagem. Não conseguiu manter as contas em dia. Agora, buscou uma negociação e conseguiu reduzir o montante que devia, sobretudo, para bancos, para R$ 2 mil.

Sebastião Gomes conseguiu renegociar suas dívidas, que chegaram a R$ 20 mil, para R$ 2 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Enquanto não sai da lista de inadimplentes, não consegue crédito para a sua empresa. Por isso, vive de trabalhos menores. “Não posso fechar grandes serviços, só pequenos.”

Num dos momentos mais difíceis, durante a pandemia, se valeu do auxílio emergencial e, depois, do Auxílio Brasil. “Foi bom naquele tempo que estava fraco, na pandemia ficou fraco mesmo.”

Nunca o brasileiro deveu tanto – e não pagou. Em janeiro deste ano, 70,1 milhões de inadimplentes com bancos, empresas de cartão de crédito, financeiras, lojas e serviços de utilidades pública, como água e luz, acumulavam dívidas em atraso que totalizavam R$ 323,3 bilhões. Tanto em número de inadimplentes (que equivale à população da França) como nas cifras devidas, as marcas são recordes da série iniciada em março de 2016, apontam dados da Serasa que reúne informações do SPC Brasil, os dois maiores birôs de crédito do País.

Entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, a lista do calote foi engrossada com 5,3 milhões de inadimplentes, o equivalente à população da Noruega. E a dívida cresceu cerca de 24% (R$ 62,6 bilhões) no período. O valor médio por inadimplente avançou de R$ 4.022 para R$ 4.612.

Juros altos e renda corroída pela inflação elevada foram os gatilhos para o aumento do calote, adormecido no auge da pandemia por conta das postergações da quitação dos atrasos.

A escalada no número de inadimplentes começou a partir de setembro de 2021, quando a inflação acumulada em 12 meses atingiu 10,23%. Até aquele mês, a quantidade de inadimplentes girava em torno de 62 milhões, uma marca já elevada. E a média total da dívida era de R$ 245 bilhões.

“A inflação fez um estrago gigantesco no orçamento das famílias, especialmente nas de baixa renda, o que gerou esse crescimento no número de brasileiros inadimplentes”, afirma o economista-chefe da Serasa, Luiz Rabi.

Para esticar a renda e manter o padrão de consumo, as famílias buscaram o crédito mais fácil e mais caro, como cartão de crédito e cheque especial, mas a estratégia não deu certo a médio prazo, porque a inflação não cedeu. O IPCA só começou a recuar artificialmente em meados de 2022 com corte de impostos sobre combustíveis.

O cenário se agravou devido à fraqueza do mercado de trabalho. Embora a ocupação tenha aumentado, o salário não teve ganhos reais.

Uso de linhas emergenciais

A deterioração da situação financeira das famílias já traz uma preocupação para o sistema financeiro do País, o que leva os bancos a ficarem mais rígidos na concessão de novos créditos e obriga os brasileiros a recorrerem às chamadas linhas emergenciais, como cheque especial e rotativo do cartão de crédito, que têm os juros mais elevados. Em 12 meses até janeiro, por exemplo, a concessão de crédito dessas duas modalidades registrou alta de 22% e 47,5%, respectivamente, de acordo com dados do Banco Central (BC).

“Todo esse cenário pressiona a situação financeira das famílias, diminuindo tanto a demanda como a oferta de crédito”, afirma Isabela Tavares, analista da Tendências. “Esse tipo de crédito revela uma necessidade das famílias em momentos de emergência, porque elas não têm acesso a outras modalidades.”

Também foram as linhas de cheque especial e cartão de crédito que registraram os maiores índices de inadimplência. Em janeiro, o atraso apurado há pelo menos 90 dias respondia por 13,6% dos saldo a receber no cheque especial e 8,6% no cartão de crédito parcelado, aponta o BC.

É uma marca bem superior à inadimplência média das pessoas físicas com recursos livres que atingiu 6,1% no mesmo período, observa o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes. Ele destaca que essa taxa média de inadimplência da pessoa física com o sistema financeiro é a maior em seis anos e meio. “Só a recessão de 2015/16 produziu um cenário tão negativo quanto esse que temos hoje”, afirma o economista.

Num cenário macroeconômico de baixo crescimento, inflação pressionada e juros ainda elevados ao longo deste ano, economistas concordam que a saída para equacionar neste momento o problema da inadimplência é microeconômica. Ou seja, a renegociação

No governo, a preocupação com uma ampla crise de crédito no País já é evidente. Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que apresentou o desenho do programa Desenrola, que prevê a renegociação de dívidas de pessoas com renda de até dois salários mínimos, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Serasa iniciou na última terça-feira o Feirão Limpa Nome presencial em São Paulo, que vai até este sábado, 11. Mas as negociações online duram até 31 de março. Pela primeira vez, o birô conseguiu reunir um número recorde de 425 empresas credoras, dispostas a oferecer descontos de até 99% sobre o valor das pendências.

Entre os que buscam a renegociação no Feirão da Serasa, o caminho que leva a inadimplência é parecido e é justificado por queda na renda e perda de emprego.

‘Ou pagava aluguel ou pagava as dívidas’

As dívidas de Eliane Silva Araújo, de 45 anos, se arrastam desde 2011, quando ficou desempregada. Atualmente, deve cerca de R$ 7 mil para bancos e lojas de varejo. “Fiquei desempregada e fiz um empréstimo de R$ 1,5 mil, mas, agora, me cobram muita coisa. Estou tentando negociar”, conta.

Ela só conseguiu um emprego há pouco mais de um ano. Nesse período, fez bicos e vendeu bolos e salgados para ter alguma renda. “Ou pagava o aluguel ou pagava as dívidas. Era uma escolha.”

A cozinheira Eliane Silva Araújo viu sua dívida crescer de R$ 1,5 mil para R$ 7 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Do salário que recebe atualmente como cozinheira, uma boa parte vai direto para pagar o aluguel da casa onde moram três filhos e um neto. O resto é dividido entre as compras do mês e o pagamento de dívidas menores. “Agora que estou ganhando melhor, eu quero quitar, mas está difícil. É inegociável o que querem.”

‘Cobre uma dívida, mas aparece outra’

As dívidas de Ernando Moreira, de 51 anos, incluem bancos, lojas de varejo e cartão de crédito. Somam, ao todo, R$ 13 mil. “Vai passando de uma (dívida) para outra. Cobre uma, mas aparece outra.”

Dívidas de Ernando Moreira, que trabalha com manutenção predial, chegam a R$ 13 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Ernando trabalha com manutenção predial. Cuida desde limpeza à pintura, mas ficou um ano e quatro meses sem trabalho. “O tempo vai passando e as dívidas vão aumentando”, conta.

Ele conseguiu um emprego há nove meses. Na última quarta-feira, 8, conseguiu renegociar duas das suas cinco dívidas. “Já comecei a dar o primeiro passo.”

‘Me enrolei de novo’

Há dois anos, Sebastião Gomes, de 57 anos, tentou renegociar suas dívidas, mas não teve sucesso. Elas chegaram a somar R$ 20 mil. “Paguei algumas coisas, mas, depois, me enrolei de novo”, diz. “Quando eu fui ver no banco, já estava devendo e comecei a pagar juros. Agora, estou tentando voltar ao normal.”

Sebastião perdeu o controle do seu orçamento depois de abrir uma empresa de jardinagem. Não conseguiu manter as contas em dia. Agora, buscou uma negociação e conseguiu reduzir o montante que devia, sobretudo, para bancos, para R$ 2 mil.

Sebastião Gomes conseguiu renegociar suas dívidas, que chegaram a R$ 20 mil, para R$ 2 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Enquanto não sai da lista de inadimplentes, não consegue crédito para a sua empresa. Por isso, vive de trabalhos menores. “Não posso fechar grandes serviços, só pequenos.”

Num dos momentos mais difíceis, durante a pandemia, se valeu do auxílio emergencial e, depois, do Auxílio Brasil. “Foi bom naquele tempo que estava fraco, na pandemia ficou fraco mesmo.”

Nunca o brasileiro deveu tanto – e não pagou. Em janeiro deste ano, 70,1 milhões de inadimplentes com bancos, empresas de cartão de crédito, financeiras, lojas e serviços de utilidades pública, como água e luz, acumulavam dívidas em atraso que totalizavam R$ 323,3 bilhões. Tanto em número de inadimplentes (que equivale à população da França) como nas cifras devidas, as marcas são recordes da série iniciada em março de 2016, apontam dados da Serasa que reúne informações do SPC Brasil, os dois maiores birôs de crédito do País.

Entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, a lista do calote foi engrossada com 5,3 milhões de inadimplentes, o equivalente à população da Noruega. E a dívida cresceu cerca de 24% (R$ 62,6 bilhões) no período. O valor médio por inadimplente avançou de R$ 4.022 para R$ 4.612.

Juros altos e renda corroída pela inflação elevada foram os gatilhos para o aumento do calote, adormecido no auge da pandemia por conta das postergações da quitação dos atrasos.

A escalada no número de inadimplentes começou a partir de setembro de 2021, quando a inflação acumulada em 12 meses atingiu 10,23%. Até aquele mês, a quantidade de inadimplentes girava em torno de 62 milhões, uma marca já elevada. E a média total da dívida era de R$ 245 bilhões.

“A inflação fez um estrago gigantesco no orçamento das famílias, especialmente nas de baixa renda, o que gerou esse crescimento no número de brasileiros inadimplentes”, afirma o economista-chefe da Serasa, Luiz Rabi.

Para esticar a renda e manter o padrão de consumo, as famílias buscaram o crédito mais fácil e mais caro, como cartão de crédito e cheque especial, mas a estratégia não deu certo a médio prazo, porque a inflação não cedeu. O IPCA só começou a recuar artificialmente em meados de 2022 com corte de impostos sobre combustíveis.

O cenário se agravou devido à fraqueza do mercado de trabalho. Embora a ocupação tenha aumentado, o salário não teve ganhos reais.

Uso de linhas emergenciais

A deterioração da situação financeira das famílias já traz uma preocupação para o sistema financeiro do País, o que leva os bancos a ficarem mais rígidos na concessão de novos créditos e obriga os brasileiros a recorrerem às chamadas linhas emergenciais, como cheque especial e rotativo do cartão de crédito, que têm os juros mais elevados. Em 12 meses até janeiro, por exemplo, a concessão de crédito dessas duas modalidades registrou alta de 22% e 47,5%, respectivamente, de acordo com dados do Banco Central (BC).

“Todo esse cenário pressiona a situação financeira das famílias, diminuindo tanto a demanda como a oferta de crédito”, afirma Isabela Tavares, analista da Tendências. “Esse tipo de crédito revela uma necessidade das famílias em momentos de emergência, porque elas não têm acesso a outras modalidades.”

Também foram as linhas de cheque especial e cartão de crédito que registraram os maiores índices de inadimplência. Em janeiro, o atraso apurado há pelo menos 90 dias respondia por 13,6% dos saldo a receber no cheque especial e 8,6% no cartão de crédito parcelado, aponta o BC.

É uma marca bem superior à inadimplência média das pessoas físicas com recursos livres que atingiu 6,1% no mesmo período, observa o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes. Ele destaca que essa taxa média de inadimplência da pessoa física com o sistema financeiro é a maior em seis anos e meio. “Só a recessão de 2015/16 produziu um cenário tão negativo quanto esse que temos hoje”, afirma o economista.

Num cenário macroeconômico de baixo crescimento, inflação pressionada e juros ainda elevados ao longo deste ano, economistas concordam que a saída para equacionar neste momento o problema da inadimplência é microeconômica. Ou seja, a renegociação

No governo, a preocupação com uma ampla crise de crédito no País já é evidente. Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que apresentou o desenho do programa Desenrola, que prevê a renegociação de dívidas de pessoas com renda de até dois salários mínimos, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Serasa iniciou na última terça-feira o Feirão Limpa Nome presencial em São Paulo, que vai até este sábado, 11. Mas as negociações online duram até 31 de março. Pela primeira vez, o birô conseguiu reunir um número recorde de 425 empresas credoras, dispostas a oferecer descontos de até 99% sobre o valor das pendências.

Entre os que buscam a renegociação no Feirão da Serasa, o caminho que leva a inadimplência é parecido e é justificado por queda na renda e perda de emprego.

‘Ou pagava aluguel ou pagava as dívidas’

As dívidas de Eliane Silva Araújo, de 45 anos, se arrastam desde 2011, quando ficou desempregada. Atualmente, deve cerca de R$ 7 mil para bancos e lojas de varejo. “Fiquei desempregada e fiz um empréstimo de R$ 1,5 mil, mas, agora, me cobram muita coisa. Estou tentando negociar”, conta.

Ela só conseguiu um emprego há pouco mais de um ano. Nesse período, fez bicos e vendeu bolos e salgados para ter alguma renda. “Ou pagava o aluguel ou pagava as dívidas. Era uma escolha.”

A cozinheira Eliane Silva Araújo viu sua dívida crescer de R$ 1,5 mil para R$ 7 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Do salário que recebe atualmente como cozinheira, uma boa parte vai direto para pagar o aluguel da casa onde moram três filhos e um neto. O resto é dividido entre as compras do mês e o pagamento de dívidas menores. “Agora que estou ganhando melhor, eu quero quitar, mas está difícil. É inegociável o que querem.”

‘Cobre uma dívida, mas aparece outra’

As dívidas de Ernando Moreira, de 51 anos, incluem bancos, lojas de varejo e cartão de crédito. Somam, ao todo, R$ 13 mil. “Vai passando de uma (dívida) para outra. Cobre uma, mas aparece outra.”

Dívidas de Ernando Moreira, que trabalha com manutenção predial, chegam a R$ 13 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Ernando trabalha com manutenção predial. Cuida desde limpeza à pintura, mas ficou um ano e quatro meses sem trabalho. “O tempo vai passando e as dívidas vão aumentando”, conta.

Ele conseguiu um emprego há nove meses. Na última quarta-feira, 8, conseguiu renegociar duas das suas cinco dívidas. “Já comecei a dar o primeiro passo.”

‘Me enrolei de novo’

Há dois anos, Sebastião Gomes, de 57 anos, tentou renegociar suas dívidas, mas não teve sucesso. Elas chegaram a somar R$ 20 mil. “Paguei algumas coisas, mas, depois, me enrolei de novo”, diz. “Quando eu fui ver no banco, já estava devendo e comecei a pagar juros. Agora, estou tentando voltar ao normal.”

Sebastião perdeu o controle do seu orçamento depois de abrir uma empresa de jardinagem. Não conseguiu manter as contas em dia. Agora, buscou uma negociação e conseguiu reduzir o montante que devia, sobretudo, para bancos, para R$ 2 mil.

Sebastião Gomes conseguiu renegociar suas dívidas, que chegaram a R$ 20 mil, para R$ 2 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Enquanto não sai da lista de inadimplentes, não consegue crédito para a sua empresa. Por isso, vive de trabalhos menores. “Não posso fechar grandes serviços, só pequenos.”

Num dos momentos mais difíceis, durante a pandemia, se valeu do auxílio emergencial e, depois, do Auxílio Brasil. “Foi bom naquele tempo que estava fraco, na pandemia ficou fraco mesmo.”

Nunca o brasileiro deveu tanto – e não pagou. Em janeiro deste ano, 70,1 milhões de inadimplentes com bancos, empresas de cartão de crédito, financeiras, lojas e serviços de utilidades pública, como água e luz, acumulavam dívidas em atraso que totalizavam R$ 323,3 bilhões. Tanto em número de inadimplentes (que equivale à população da França) como nas cifras devidas, as marcas são recordes da série iniciada em março de 2016, apontam dados da Serasa que reúne informações do SPC Brasil, os dois maiores birôs de crédito do País.

Entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, a lista do calote foi engrossada com 5,3 milhões de inadimplentes, o equivalente à população da Noruega. E a dívida cresceu cerca de 24% (R$ 62,6 bilhões) no período. O valor médio por inadimplente avançou de R$ 4.022 para R$ 4.612.

Juros altos e renda corroída pela inflação elevada foram os gatilhos para o aumento do calote, adormecido no auge da pandemia por conta das postergações da quitação dos atrasos.

A escalada no número de inadimplentes começou a partir de setembro de 2021, quando a inflação acumulada em 12 meses atingiu 10,23%. Até aquele mês, a quantidade de inadimplentes girava em torno de 62 milhões, uma marca já elevada. E a média total da dívida era de R$ 245 bilhões.

“A inflação fez um estrago gigantesco no orçamento das famílias, especialmente nas de baixa renda, o que gerou esse crescimento no número de brasileiros inadimplentes”, afirma o economista-chefe da Serasa, Luiz Rabi.

Para esticar a renda e manter o padrão de consumo, as famílias buscaram o crédito mais fácil e mais caro, como cartão de crédito e cheque especial, mas a estratégia não deu certo a médio prazo, porque a inflação não cedeu. O IPCA só começou a recuar artificialmente em meados de 2022 com corte de impostos sobre combustíveis.

O cenário se agravou devido à fraqueza do mercado de trabalho. Embora a ocupação tenha aumentado, o salário não teve ganhos reais.

Uso de linhas emergenciais

A deterioração da situação financeira das famílias já traz uma preocupação para o sistema financeiro do País, o que leva os bancos a ficarem mais rígidos na concessão de novos créditos e obriga os brasileiros a recorrerem às chamadas linhas emergenciais, como cheque especial e rotativo do cartão de crédito, que têm os juros mais elevados. Em 12 meses até janeiro, por exemplo, a concessão de crédito dessas duas modalidades registrou alta de 22% e 47,5%, respectivamente, de acordo com dados do Banco Central (BC).

“Todo esse cenário pressiona a situação financeira das famílias, diminuindo tanto a demanda como a oferta de crédito”, afirma Isabela Tavares, analista da Tendências. “Esse tipo de crédito revela uma necessidade das famílias em momentos de emergência, porque elas não têm acesso a outras modalidades.”

Também foram as linhas de cheque especial e cartão de crédito que registraram os maiores índices de inadimplência. Em janeiro, o atraso apurado há pelo menos 90 dias respondia por 13,6% dos saldo a receber no cheque especial e 8,6% no cartão de crédito parcelado, aponta o BC.

É uma marca bem superior à inadimplência média das pessoas físicas com recursos livres que atingiu 6,1% no mesmo período, observa o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes. Ele destaca que essa taxa média de inadimplência da pessoa física com o sistema financeiro é a maior em seis anos e meio. “Só a recessão de 2015/16 produziu um cenário tão negativo quanto esse que temos hoje”, afirma o economista.

Num cenário macroeconômico de baixo crescimento, inflação pressionada e juros ainda elevados ao longo deste ano, economistas concordam que a saída para equacionar neste momento o problema da inadimplência é microeconômica. Ou seja, a renegociação

No governo, a preocupação com uma ampla crise de crédito no País já é evidente. Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que apresentou o desenho do programa Desenrola, que prevê a renegociação de dívidas de pessoas com renda de até dois salários mínimos, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Serasa iniciou na última terça-feira o Feirão Limpa Nome presencial em São Paulo, que vai até este sábado, 11. Mas as negociações online duram até 31 de março. Pela primeira vez, o birô conseguiu reunir um número recorde de 425 empresas credoras, dispostas a oferecer descontos de até 99% sobre o valor das pendências.

Entre os que buscam a renegociação no Feirão da Serasa, o caminho que leva a inadimplência é parecido e é justificado por queda na renda e perda de emprego.

‘Ou pagava aluguel ou pagava as dívidas’

As dívidas de Eliane Silva Araújo, de 45 anos, se arrastam desde 2011, quando ficou desempregada. Atualmente, deve cerca de R$ 7 mil para bancos e lojas de varejo. “Fiquei desempregada e fiz um empréstimo de R$ 1,5 mil, mas, agora, me cobram muita coisa. Estou tentando negociar”, conta.

Ela só conseguiu um emprego há pouco mais de um ano. Nesse período, fez bicos e vendeu bolos e salgados para ter alguma renda. “Ou pagava o aluguel ou pagava as dívidas. Era uma escolha.”

A cozinheira Eliane Silva Araújo viu sua dívida crescer de R$ 1,5 mil para R$ 7 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Do salário que recebe atualmente como cozinheira, uma boa parte vai direto para pagar o aluguel da casa onde moram três filhos e um neto. O resto é dividido entre as compras do mês e o pagamento de dívidas menores. “Agora que estou ganhando melhor, eu quero quitar, mas está difícil. É inegociável o que querem.”

‘Cobre uma dívida, mas aparece outra’

As dívidas de Ernando Moreira, de 51 anos, incluem bancos, lojas de varejo e cartão de crédito. Somam, ao todo, R$ 13 mil. “Vai passando de uma (dívida) para outra. Cobre uma, mas aparece outra.”

Dívidas de Ernando Moreira, que trabalha com manutenção predial, chegam a R$ 13 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Ernando trabalha com manutenção predial. Cuida desde limpeza à pintura, mas ficou um ano e quatro meses sem trabalho. “O tempo vai passando e as dívidas vão aumentando”, conta.

Ele conseguiu um emprego há nove meses. Na última quarta-feira, 8, conseguiu renegociar duas das suas cinco dívidas. “Já comecei a dar o primeiro passo.”

‘Me enrolei de novo’

Há dois anos, Sebastião Gomes, de 57 anos, tentou renegociar suas dívidas, mas não teve sucesso. Elas chegaram a somar R$ 20 mil. “Paguei algumas coisas, mas, depois, me enrolei de novo”, diz. “Quando eu fui ver no banco, já estava devendo e comecei a pagar juros. Agora, estou tentando voltar ao normal.”

Sebastião perdeu o controle do seu orçamento depois de abrir uma empresa de jardinagem. Não conseguiu manter as contas em dia. Agora, buscou uma negociação e conseguiu reduzir o montante que devia, sobretudo, para bancos, para R$ 2 mil.

Sebastião Gomes conseguiu renegociar suas dívidas, que chegaram a R$ 20 mil, para R$ 2 mil Foto: Werther Santana/Estadão

Enquanto não sai da lista de inadimplentes, não consegue crédito para a sua empresa. Por isso, vive de trabalhos menores. “Não posso fechar grandes serviços, só pequenos.”

Num dos momentos mais difíceis, durante a pandemia, se valeu do auxílio emergencial e, depois, do Auxílio Brasil. “Foi bom naquele tempo que estava fraco, na pandemia ficou fraco mesmo.”

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