Enquanto Bolsa brasileira vive seca, Índia experimenta boom de IPOs


País asiático se consolidou no posto dos grandes polos de ofertas iniciais de ações do mundo, com 334 estreias de companhias na Bolsa em 2024, um crescimento de 43% em relação ao ano anterior

Por Gabriel Baldocchi

A montadora Hyundai cravou duas marcas históricas ao concluir a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da sua operação local da Índia na Bolsa de Mumbai, no fim do ano passado: pela primeira vez, a fabricante sul-coreana abriu capital de uma subsidiária, numa transação que foi a maior estreia já registrada no mercado indiano. A unidade levantou US$ 3,3 bilhões e foi avaliada em quase US$ 20 bilhões, cerca de 40% da empresa-mãe, na Coreia do Sul. A demanda pelos papéis superou em duas vezes o disponível na oferta.

Os números revelam como a Índia está vendo a pujança da sua economia fomentar o sucesso do mercado de capitais, numa relação que se retroalimenta. Quanto maior o potencial de crescimento, mais investidores dispostos a apostar suas reservas nela e, assim, maior a chance de que as previsões se concretizem.

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No ano passado, a Índia se consolidou no posto dos grandes polos de IPOs do mundo, com 334 estreias de companhias na Bolsa, segundo a Dealogic, um crescimento de 43% em relação ao ano anterior. Ao todo, foram cerca de US$ 20 bilhões em recursos levantados nas ofertas iniciais de ações, mais do que os dois anos anteriores somados (US$ 16 bilhões). O valor fica atrás somente dos Estados Unidos e, pela primeira vez, à frente da China.

Índia e Brasil estão no espectro de economias globais emergentes, com grandes mercados consumidores e relativa estabilidade política Foto: Idrees Mohammed/AFP

O ambiente aquecido no mercado acionário estimula até as multinacionais interessadas nas altas taxas de crescimento do país a tirar proveito da ânsia dos investidores. Em 2025, a LG deve fazer um movimento semelhante ao da Hyundai, com planos de listar sua unidade local na Índia, em busca de uma avaliação de cerca de US$ 15 bilhões.

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“O mercado de IPOs na Índia está muito quente, a economia está crescendo. Para muitos investidores, a Índia é a nova China”, afirma Pedro Costa, responsável pela área de Mercado de Capitais de Ações do Santander Brasil. “Enquanto o crescimento do PIB da China caiu do patamar de crescimento de 9%, 11% ao ano, para 4%, 4,5%, o da Índia passou para 7%, 8%.”

Os dados indianos só ampliam o contraste com o deserto vivido na cena de IPOs no Brasil. Já são três anos sem um novo nome na Bolsa brasileira, marca que pode ser ampliada para quatro anos, se confirmadas as projeções de novas dificuldades em 2025.

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Para efeito de comparação, a última multinacional a conseguir abrir seu capital localmente no Brasil foi o Carrefour, com o IPO na B3 em meados de 2017, quando levantou R$ 5,1 bilhões (menos de US$ 1 bilhão pela cotação atual). A francesa Coty, dona de marcas de perfumes e cosméticos como Gucci e Burberry, protocolou o pedido de IPO em 2021 na Bolsa brasileira, mas acabou desistindo por falta de condições do mercado de ações local.

Diferenças

Brasil e Índia estão no espectro de economias globais emergentes, com grandes mercados consumidores e relativa estabilidade política. Mas as semelhanças param aí. Por aqui, a taxa de crescimento fica bem abaixo do concorrente asiático. Enquanto o PIB brasileiro deve avançar cerca de 3,5% em 2024, a Índia caminha para fechar o ano com um crescimento de 7%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

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Na comparação dos juros, um elemento crucial para destravar as ofertas em Bolsa, os indianos estão em vantagem. A taxa básica do Brasil está em tendência de alta, no patamar de dois dígitos (12,25%). Já os juros básicos da Índia estão estacionados em 6,5% há quase dois anos.

A Índia também está conseguindo aproveitar a tendência recente de busca por alternativas à China, em resposta às incertezas geopolíticas. A Hyundai, por exemplo, quer transformar a Índia num hub para exportações e planeja reverter os recursos levantados na oferta para ampliar em 30% a produção no país. A montadora também é a segunda em vendas internas, um mercado de mais de 4 milhões de veículos, na terceira posição global.

Crescimento da base de consumidores e do parque fabril se somam a uma classe média ascendente e encontram um ambiente com mão de obra disponível e qualificada. Avanços recentes na área de inovação também brilham os olhos dos investidores — a Índia é hoje o terceiro maior celeiro de unicórnios, com 107 startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.

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“Um mercado vibrante de IPOs valida o potencial de ideias inovadoras e oferece uma saída atrativa para investidores, estimulando a tomada de riscos”, afirmou relatório recente da KPMG sobre o cenário de ofertas iniciais de ações indiano.

O índice de mercados emergentes do Morgan Stanley (MSCI) mostra como o país também ganhou relevância nos portfólios globais de investimento. A Índia tem um peso de quase 20% no índice, num patamar mais próximo da China (pouco mais de 25%). Já a fatia do Brasil caiu para menos de 5%.

Todo esse fluxo ajuda a sustentar um número maior de empresas listadas no mercado indiano. E o desempenho dos papéis na estreia indica que, apesar das suspeitas de superaquecimento, o movimento, em geral, se mantém saudável. As ações de estreantes na Bolsa tiveram uma média de valorização de 29% no primeiro dia em 2024, segundo a KPMG./Colaboraram Altamiro Silva Junior e Cynthia Decloedt

A montadora Hyundai cravou duas marcas históricas ao concluir a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da sua operação local da Índia na Bolsa de Mumbai, no fim do ano passado: pela primeira vez, a fabricante sul-coreana abriu capital de uma subsidiária, numa transação que foi a maior estreia já registrada no mercado indiano. A unidade levantou US$ 3,3 bilhões e foi avaliada em quase US$ 20 bilhões, cerca de 40% da empresa-mãe, na Coreia do Sul. A demanda pelos papéis superou em duas vezes o disponível na oferta.

Os números revelam como a Índia está vendo a pujança da sua economia fomentar o sucesso do mercado de capitais, numa relação que se retroalimenta. Quanto maior o potencial de crescimento, mais investidores dispostos a apostar suas reservas nela e, assim, maior a chance de que as previsões se concretizem.

No ano passado, a Índia se consolidou no posto dos grandes polos de IPOs do mundo, com 334 estreias de companhias na Bolsa, segundo a Dealogic, um crescimento de 43% em relação ao ano anterior. Ao todo, foram cerca de US$ 20 bilhões em recursos levantados nas ofertas iniciais de ações, mais do que os dois anos anteriores somados (US$ 16 bilhões). O valor fica atrás somente dos Estados Unidos e, pela primeira vez, à frente da China.

Índia e Brasil estão no espectro de economias globais emergentes, com grandes mercados consumidores e relativa estabilidade política Foto: Idrees Mohammed/AFP

O ambiente aquecido no mercado acionário estimula até as multinacionais interessadas nas altas taxas de crescimento do país a tirar proveito da ânsia dos investidores. Em 2025, a LG deve fazer um movimento semelhante ao da Hyundai, com planos de listar sua unidade local na Índia, em busca de uma avaliação de cerca de US$ 15 bilhões.

“O mercado de IPOs na Índia está muito quente, a economia está crescendo. Para muitos investidores, a Índia é a nova China”, afirma Pedro Costa, responsável pela área de Mercado de Capitais de Ações do Santander Brasil. “Enquanto o crescimento do PIB da China caiu do patamar de crescimento de 9%, 11% ao ano, para 4%, 4,5%, o da Índia passou para 7%, 8%.”

Os dados indianos só ampliam o contraste com o deserto vivido na cena de IPOs no Brasil. Já são três anos sem um novo nome na Bolsa brasileira, marca que pode ser ampliada para quatro anos, se confirmadas as projeções de novas dificuldades em 2025.

Para efeito de comparação, a última multinacional a conseguir abrir seu capital localmente no Brasil foi o Carrefour, com o IPO na B3 em meados de 2017, quando levantou R$ 5,1 bilhões (menos de US$ 1 bilhão pela cotação atual). A francesa Coty, dona de marcas de perfumes e cosméticos como Gucci e Burberry, protocolou o pedido de IPO em 2021 na Bolsa brasileira, mas acabou desistindo por falta de condições do mercado de ações local.

Diferenças

Brasil e Índia estão no espectro de economias globais emergentes, com grandes mercados consumidores e relativa estabilidade política. Mas as semelhanças param aí. Por aqui, a taxa de crescimento fica bem abaixo do concorrente asiático. Enquanto o PIB brasileiro deve avançar cerca de 3,5% em 2024, a Índia caminha para fechar o ano com um crescimento de 7%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na comparação dos juros, um elemento crucial para destravar as ofertas em Bolsa, os indianos estão em vantagem. A taxa básica do Brasil está em tendência de alta, no patamar de dois dígitos (12,25%). Já os juros básicos da Índia estão estacionados em 6,5% há quase dois anos.

A Índia também está conseguindo aproveitar a tendência recente de busca por alternativas à China, em resposta às incertezas geopolíticas. A Hyundai, por exemplo, quer transformar a Índia num hub para exportações e planeja reverter os recursos levantados na oferta para ampliar em 30% a produção no país. A montadora também é a segunda em vendas internas, um mercado de mais de 4 milhões de veículos, na terceira posição global.

Crescimento da base de consumidores e do parque fabril se somam a uma classe média ascendente e encontram um ambiente com mão de obra disponível e qualificada. Avanços recentes na área de inovação também brilham os olhos dos investidores — a Índia é hoje o terceiro maior celeiro de unicórnios, com 107 startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.

“Um mercado vibrante de IPOs valida o potencial de ideias inovadoras e oferece uma saída atrativa para investidores, estimulando a tomada de riscos”, afirmou relatório recente da KPMG sobre o cenário de ofertas iniciais de ações indiano.

O índice de mercados emergentes do Morgan Stanley (MSCI) mostra como o país também ganhou relevância nos portfólios globais de investimento. A Índia tem um peso de quase 20% no índice, num patamar mais próximo da China (pouco mais de 25%). Já a fatia do Brasil caiu para menos de 5%.

Todo esse fluxo ajuda a sustentar um número maior de empresas listadas no mercado indiano. E o desempenho dos papéis na estreia indica que, apesar das suspeitas de superaquecimento, o movimento, em geral, se mantém saudável. As ações de estreantes na Bolsa tiveram uma média de valorização de 29% no primeiro dia em 2024, segundo a KPMG./Colaboraram Altamiro Silva Junior e Cynthia Decloedt

A montadora Hyundai cravou duas marcas históricas ao concluir a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da sua operação local da Índia na Bolsa de Mumbai, no fim do ano passado: pela primeira vez, a fabricante sul-coreana abriu capital de uma subsidiária, numa transação que foi a maior estreia já registrada no mercado indiano. A unidade levantou US$ 3,3 bilhões e foi avaliada em quase US$ 20 bilhões, cerca de 40% da empresa-mãe, na Coreia do Sul. A demanda pelos papéis superou em duas vezes o disponível na oferta.

Os números revelam como a Índia está vendo a pujança da sua economia fomentar o sucesso do mercado de capitais, numa relação que se retroalimenta. Quanto maior o potencial de crescimento, mais investidores dispostos a apostar suas reservas nela e, assim, maior a chance de que as previsões se concretizem.

No ano passado, a Índia se consolidou no posto dos grandes polos de IPOs do mundo, com 334 estreias de companhias na Bolsa, segundo a Dealogic, um crescimento de 43% em relação ao ano anterior. Ao todo, foram cerca de US$ 20 bilhões em recursos levantados nas ofertas iniciais de ações, mais do que os dois anos anteriores somados (US$ 16 bilhões). O valor fica atrás somente dos Estados Unidos e, pela primeira vez, à frente da China.

Índia e Brasil estão no espectro de economias globais emergentes, com grandes mercados consumidores e relativa estabilidade política Foto: Idrees Mohammed/AFP

O ambiente aquecido no mercado acionário estimula até as multinacionais interessadas nas altas taxas de crescimento do país a tirar proveito da ânsia dos investidores. Em 2025, a LG deve fazer um movimento semelhante ao da Hyundai, com planos de listar sua unidade local na Índia, em busca de uma avaliação de cerca de US$ 15 bilhões.

“O mercado de IPOs na Índia está muito quente, a economia está crescendo. Para muitos investidores, a Índia é a nova China”, afirma Pedro Costa, responsável pela área de Mercado de Capitais de Ações do Santander Brasil. “Enquanto o crescimento do PIB da China caiu do patamar de crescimento de 9%, 11% ao ano, para 4%, 4,5%, o da Índia passou para 7%, 8%.”

Os dados indianos só ampliam o contraste com o deserto vivido na cena de IPOs no Brasil. Já são três anos sem um novo nome na Bolsa brasileira, marca que pode ser ampliada para quatro anos, se confirmadas as projeções de novas dificuldades em 2025.

Para efeito de comparação, a última multinacional a conseguir abrir seu capital localmente no Brasil foi o Carrefour, com o IPO na B3 em meados de 2017, quando levantou R$ 5,1 bilhões (menos de US$ 1 bilhão pela cotação atual). A francesa Coty, dona de marcas de perfumes e cosméticos como Gucci e Burberry, protocolou o pedido de IPO em 2021 na Bolsa brasileira, mas acabou desistindo por falta de condições do mercado de ações local.

Diferenças

Brasil e Índia estão no espectro de economias globais emergentes, com grandes mercados consumidores e relativa estabilidade política. Mas as semelhanças param aí. Por aqui, a taxa de crescimento fica bem abaixo do concorrente asiático. Enquanto o PIB brasileiro deve avançar cerca de 3,5% em 2024, a Índia caminha para fechar o ano com um crescimento de 7%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na comparação dos juros, um elemento crucial para destravar as ofertas em Bolsa, os indianos estão em vantagem. A taxa básica do Brasil está em tendência de alta, no patamar de dois dígitos (12,25%). Já os juros básicos da Índia estão estacionados em 6,5% há quase dois anos.

A Índia também está conseguindo aproveitar a tendência recente de busca por alternativas à China, em resposta às incertezas geopolíticas. A Hyundai, por exemplo, quer transformar a Índia num hub para exportações e planeja reverter os recursos levantados na oferta para ampliar em 30% a produção no país. A montadora também é a segunda em vendas internas, um mercado de mais de 4 milhões de veículos, na terceira posição global.

Crescimento da base de consumidores e do parque fabril se somam a uma classe média ascendente e encontram um ambiente com mão de obra disponível e qualificada. Avanços recentes na área de inovação também brilham os olhos dos investidores — a Índia é hoje o terceiro maior celeiro de unicórnios, com 107 startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.

“Um mercado vibrante de IPOs valida o potencial de ideias inovadoras e oferece uma saída atrativa para investidores, estimulando a tomada de riscos”, afirmou relatório recente da KPMG sobre o cenário de ofertas iniciais de ações indiano.

O índice de mercados emergentes do Morgan Stanley (MSCI) mostra como o país também ganhou relevância nos portfólios globais de investimento. A Índia tem um peso de quase 20% no índice, num patamar mais próximo da China (pouco mais de 25%). Já a fatia do Brasil caiu para menos de 5%.

Todo esse fluxo ajuda a sustentar um número maior de empresas listadas no mercado indiano. E o desempenho dos papéis na estreia indica que, apesar das suspeitas de superaquecimento, o movimento, em geral, se mantém saudável. As ações de estreantes na Bolsa tiveram uma média de valorização de 29% no primeiro dia em 2024, segundo a KPMG./Colaboraram Altamiro Silva Junior e Cynthia Decloedt

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