A nova locomotiva global? Índia vai representar 20% do crescimento mundial até 2030, diz banco


Perspectiva para a economia indiana é positiva, mas país precisa investir em capital humano e garantir a inserção das mulheres no mercado de trabalho

Por Luciana Dyniewicz e Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

Com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, mas que deverá chegar a 1,7 bilhão em 2050, ultrapassando a da China em quase 400 milhões, a Índia passou a ser a aposta de muitos economistas como o país que vai emergir como grande potência nas próximas décadas. O Goldman Sachs projeta que a economia indiana será a segunda maior do mundo em 2075, atrás apenas da chinesa. Profissionais do Morgan Stanley já afirmaram, em relatório, que esta é a “década da Índia” e que, até 2030, o país será responsável por um quinto do crescimento global.

Além do enorme mercado doméstico que ainda precisa ser explorado e do volume de mão de obra disponível, a Índia tem chamado a atenção por receber centros de TI de empresas de todo o mundo, que transferem essas unidades em busca de redução de custos. De acordo com relatório do Morgan Stanley, o total de trabalhadores nessa indústria no país cresceu de 4,3 milhões para 5,1 milhões na pandemia. Até o fim da década, esse número deve mais do que dobrar, prevê o banco americano. O crescimento desse setor deve alavancar também a demanda por imóveis na Índia.

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Há projeções de que os investimentos industriais também aumentem nos próximos anos, dado que o governo tem adotado políticas de corte de impostos e conseguiu melhorar o ambiente de negócios com uma reforma tributária que começou a vigorar em 2017. “O Brasil está enfrentando a reforma tributária, mas a Índia já passou por isso”, diz Umesh Mukhi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

As tensões entre Pequim e Washington são outro fator que tem feito multinacionais levarem fábricas para a Índia. No ano passado, a Apple decidiu produzir o iPhone 14 no país. A companhia justificou a decisão por causa de questões geopolíticas e pelos problemas na cadeia de produção detonados pela pandemia. Há dois meses, a Amazon afirmou que adicionaria US$ 6,5 bilhões a seus investimentos no país até 2030, totalizando US$ 26 bilhões, e a Tesla sinalizou a intenção de instalar uma planta por lá.

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Estação de trem em Mumbai, capital financeira da Índia; país pode ter segunda maior economia do mundo em 2075, segundo Goldman Sachs Foto: Rafiq Maqbool/ AP Photo

O economista Michael Wan, analista de mercados global do banco MUFG em Cingapura, diz estar otimista com a possibilidade de a Índia assumir parte da montagem de produtos de baixo valor agregado. Ele alerta, porém, que levará tempo para o país construir uma cadeia de fornecimento e produzir manufaturas mais sofisticadas.

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Também favorece a Índia sua taxa de poupança, que garante recursos para investimentos. No ano passado, segundo dados do FMI, ela ficou em 29% do PIB. O número pode não ser tão elevado quanto o da China (46,2%), mas ainda assim é considerado alto.

Como é o ritmo da economia indiana?

Nas últimas três décadas, a economia da Índia tem apresentado um crescimento bastante vigoroso, em alguns momentos, acima até da chinesa, considerada o motor da economia global. O Produto Interno Bruto (PIB) tem sido puxado, sobretudo, pelo consumo interno, que representa de 55% a 60% da atividade local.

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Em 2021, no ano seguinte ao colapso provocado pela pandemia, o PIB do país subiu 9%. Nos próximos anos, as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que a expansão indiana deve ser de 6%, em média, acima das previsões para o desempenho chinês, que deve cair abaixo de 4%.

Para o economista Arthur Mota, do BTG Pactual, ainda que o crescimento indiano seja significativo nos próximos anos, o país não vai repetir o exemplo chinês. “Provavelmente nunca mais teremos uma nova China”, diz. Ele afirma, no entanto, que o potencial indiano não pode ser ignorado, sobretudo devido ao tamanho da população. Mota diz ainda que o país tem melhorado seu arcabouço institucional com melhores regras de propriedade intelectual.

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Na visão de Wan, do MUFG, o atual otimismo em relação à Índia é justificado. Ele alerta, entretanto, que para o país manter a atual taxa de crescimento além dos próximos cinco anos será preciso investimentos ainda maiores e melhorias na logística, além de reformas, incluindo uma na área de educação básica e superior.

Com a vantagem demográfica, um dos grandes desafios da Índia, apontam os economistas, será dar conta de absorver essa mão de obra e qualificá-la. Nos últimos 15 anos, a taxa de participação da força de trabalho recuou, sobretudo pela baixa presença das mulheres. “Se houver mais oportunidades (...), é possível fortalecer a taxa de participação da força de trabalho, o que pode impulsionar ainda mais o crescimento potencial”, disse Santanu Sengupta, economista do Goldman Sachs para a Índia, em relatório.

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Para o economista Ashoka Mody, professor visitante em Princeton e autor do livro “India is Broken” (A Índia está quebrada, em tradução livre), os problemas de falta de investimento em capital humano e de inserção das mulheres no mercado de trabalho travam o desenvolvimento da Índia e impedirão o país de ser uma potência. Segundo o professor, esses dois fatores são chaves para aumentar a produtividade de uma economia e praticamente nenhum país no mundo conseguiu ter sucesso sem investir neles.

“Você não consegue fazer com que a Índia tenha sucesso apenas falando que ela terá. É preciso investir em capital humano. Você já viu algum país ter sucesso sem investir em capital humano?”, questiona Mody.

O professor destaca ainda que México e Brasil vivem situações semelhantes e também não terão sucesso enquanto não transformarem seus sistemas educacionais. No caso do México, que vem sendo visto com grande potencial por causa do “nearsrhoring”, ele lembra que a entrada do país no Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta) já não foi capaz de impulsionar a economia de forma significativa.

“O México teve todas as oportunidades para crescer desde meados dos anos 1990 e mal cresceu. Por que vai ser diferente agora? (O “nearshoring”) vai fazer uma diferença pequena, mas me surpreenderia muito se mudasse algo significativamente”, diz Mody.

Você não consegue fazer com que a Índia tenha sucesso apenas falando que ela terá. É preciso investir em capital humano

Ashoka Mody

Uma outra barreira para o país é a importação de uma fatia relevante de commodities, o que provoca desequilíbrios macroeconômicos nos períodos de alta de preços dos produtos. “As exportações líquidas sempre foram um entrave ao crescimento, porque a Índia registra um déficit em conta corrente. Recentemente, estamos observando algum progresso nesse sentido. As exportações de serviços estão aumentando”, acrescenta Sengupta, do Goldman Sachs.

Peso político

O aumento da influência da Índia no cenário global tem ficado evidente a cada movimento do mundo político e empresarial. No poder desde 2014, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, foi recebido na Casa Branca pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em junho deste ano. Também esteve com o líder francês Emmanuel Macron. No mundo empresarial, aproveitou a viagem aos EUA para encontrar figuras importantes do capitalismo global, incluindo o presidente da Apple, Tim Cook.

“O protagonismo de mostrar a Índia como um potencial de investimento não é liderado somente pelo governo, mas pessoalmente pelo primeiro-ministro”, afirma Mukhi, da FGV.

O poderio crescente de Modi na diplomacia global parece deixar pontos sensíveis do governo indiano em segundo plano. Em 2023, no Índice de Liberdade de Imprensa, a Índia ocupou a 161.ª posição entre 180 nações pesquisadas.

O que ajuda a explicar o fato de as potências do Ocidente passarem por cima de questões polêmicas do governo indiano tem justamente a ver com as tensões geopolíticas entre os norte-americanos e os chineses. “A Índia tem uma boa sorte geográfica por estar localizada na Ásia, do lado da China”, afirma o economista Manuel Gonzalo, professor-adjunto na Universidad Nacional de Quilmes e autor do livro India from Latin America: Peripherisation, Statebuilding, and Demand-Led Growth (A Índia vista da América Latina: periferização, construção do Estado e crescimento impulsionado pela demanda, na tradução literal). “O mundo está indo para a Ásia e as potências ocidentais necessitam de um sócio lá.”

Com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, mas que deverá chegar a 1,7 bilhão em 2050, ultrapassando a da China em quase 400 milhões, a Índia passou a ser a aposta de muitos economistas como o país que vai emergir como grande potência nas próximas décadas. O Goldman Sachs projeta que a economia indiana será a segunda maior do mundo em 2075, atrás apenas da chinesa. Profissionais do Morgan Stanley já afirmaram, em relatório, que esta é a “década da Índia” e que, até 2030, o país será responsável por um quinto do crescimento global.

Além do enorme mercado doméstico que ainda precisa ser explorado e do volume de mão de obra disponível, a Índia tem chamado a atenção por receber centros de TI de empresas de todo o mundo, que transferem essas unidades em busca de redução de custos. De acordo com relatório do Morgan Stanley, o total de trabalhadores nessa indústria no país cresceu de 4,3 milhões para 5,1 milhões na pandemia. Até o fim da década, esse número deve mais do que dobrar, prevê o banco americano. O crescimento desse setor deve alavancar também a demanda por imóveis na Índia.

Há projeções de que os investimentos industriais também aumentem nos próximos anos, dado que o governo tem adotado políticas de corte de impostos e conseguiu melhorar o ambiente de negócios com uma reforma tributária que começou a vigorar em 2017. “O Brasil está enfrentando a reforma tributária, mas a Índia já passou por isso”, diz Umesh Mukhi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

As tensões entre Pequim e Washington são outro fator que tem feito multinacionais levarem fábricas para a Índia. No ano passado, a Apple decidiu produzir o iPhone 14 no país. A companhia justificou a decisão por causa de questões geopolíticas e pelos problemas na cadeia de produção detonados pela pandemia. Há dois meses, a Amazon afirmou que adicionaria US$ 6,5 bilhões a seus investimentos no país até 2030, totalizando US$ 26 bilhões, e a Tesla sinalizou a intenção de instalar uma planta por lá.

Estação de trem em Mumbai, capital financeira da Índia; país pode ter segunda maior economia do mundo em 2075, segundo Goldman Sachs Foto: Rafiq Maqbool/ AP Photo

O economista Michael Wan, analista de mercados global do banco MUFG em Cingapura, diz estar otimista com a possibilidade de a Índia assumir parte da montagem de produtos de baixo valor agregado. Ele alerta, porém, que levará tempo para o país construir uma cadeia de fornecimento e produzir manufaturas mais sofisticadas.

Também favorece a Índia sua taxa de poupança, que garante recursos para investimentos. No ano passado, segundo dados do FMI, ela ficou em 29% do PIB. O número pode não ser tão elevado quanto o da China (46,2%), mas ainda assim é considerado alto.

Como é o ritmo da economia indiana?

Nas últimas três décadas, a economia da Índia tem apresentado um crescimento bastante vigoroso, em alguns momentos, acima até da chinesa, considerada o motor da economia global. O Produto Interno Bruto (PIB) tem sido puxado, sobretudo, pelo consumo interno, que representa de 55% a 60% da atividade local.

Em 2021, no ano seguinte ao colapso provocado pela pandemia, o PIB do país subiu 9%. Nos próximos anos, as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que a expansão indiana deve ser de 6%, em média, acima das previsões para o desempenho chinês, que deve cair abaixo de 4%.

Para o economista Arthur Mota, do BTG Pactual, ainda que o crescimento indiano seja significativo nos próximos anos, o país não vai repetir o exemplo chinês. “Provavelmente nunca mais teremos uma nova China”, diz. Ele afirma, no entanto, que o potencial indiano não pode ser ignorado, sobretudo devido ao tamanho da população. Mota diz ainda que o país tem melhorado seu arcabouço institucional com melhores regras de propriedade intelectual.

Na visão de Wan, do MUFG, o atual otimismo em relação à Índia é justificado. Ele alerta, entretanto, que para o país manter a atual taxa de crescimento além dos próximos cinco anos será preciso investimentos ainda maiores e melhorias na logística, além de reformas, incluindo uma na área de educação básica e superior.

Com a vantagem demográfica, um dos grandes desafios da Índia, apontam os economistas, será dar conta de absorver essa mão de obra e qualificá-la. Nos últimos 15 anos, a taxa de participação da força de trabalho recuou, sobretudo pela baixa presença das mulheres. “Se houver mais oportunidades (...), é possível fortalecer a taxa de participação da força de trabalho, o que pode impulsionar ainda mais o crescimento potencial”, disse Santanu Sengupta, economista do Goldman Sachs para a Índia, em relatório.

Para o economista Ashoka Mody, professor visitante em Princeton e autor do livro “India is Broken” (A Índia está quebrada, em tradução livre), os problemas de falta de investimento em capital humano e de inserção das mulheres no mercado de trabalho travam o desenvolvimento da Índia e impedirão o país de ser uma potência. Segundo o professor, esses dois fatores são chaves para aumentar a produtividade de uma economia e praticamente nenhum país no mundo conseguiu ter sucesso sem investir neles.

“Você não consegue fazer com que a Índia tenha sucesso apenas falando que ela terá. É preciso investir em capital humano. Você já viu algum país ter sucesso sem investir em capital humano?”, questiona Mody.

O professor destaca ainda que México e Brasil vivem situações semelhantes e também não terão sucesso enquanto não transformarem seus sistemas educacionais. No caso do México, que vem sendo visto com grande potencial por causa do “nearsrhoring”, ele lembra que a entrada do país no Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta) já não foi capaz de impulsionar a economia de forma significativa.

“O México teve todas as oportunidades para crescer desde meados dos anos 1990 e mal cresceu. Por que vai ser diferente agora? (O “nearshoring”) vai fazer uma diferença pequena, mas me surpreenderia muito se mudasse algo significativamente”, diz Mody.

Você não consegue fazer com que a Índia tenha sucesso apenas falando que ela terá. É preciso investir em capital humano

Ashoka Mody

Uma outra barreira para o país é a importação de uma fatia relevante de commodities, o que provoca desequilíbrios macroeconômicos nos períodos de alta de preços dos produtos. “As exportações líquidas sempre foram um entrave ao crescimento, porque a Índia registra um déficit em conta corrente. Recentemente, estamos observando algum progresso nesse sentido. As exportações de serviços estão aumentando”, acrescenta Sengupta, do Goldman Sachs.

Peso político

O aumento da influência da Índia no cenário global tem ficado evidente a cada movimento do mundo político e empresarial. No poder desde 2014, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, foi recebido na Casa Branca pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em junho deste ano. Também esteve com o líder francês Emmanuel Macron. No mundo empresarial, aproveitou a viagem aos EUA para encontrar figuras importantes do capitalismo global, incluindo o presidente da Apple, Tim Cook.

“O protagonismo de mostrar a Índia como um potencial de investimento não é liderado somente pelo governo, mas pessoalmente pelo primeiro-ministro”, afirma Mukhi, da FGV.

O poderio crescente de Modi na diplomacia global parece deixar pontos sensíveis do governo indiano em segundo plano. Em 2023, no Índice de Liberdade de Imprensa, a Índia ocupou a 161.ª posição entre 180 nações pesquisadas.

O que ajuda a explicar o fato de as potências do Ocidente passarem por cima de questões polêmicas do governo indiano tem justamente a ver com as tensões geopolíticas entre os norte-americanos e os chineses. “A Índia tem uma boa sorte geográfica por estar localizada na Ásia, do lado da China”, afirma o economista Manuel Gonzalo, professor-adjunto na Universidad Nacional de Quilmes e autor do livro India from Latin America: Peripherisation, Statebuilding, and Demand-Led Growth (A Índia vista da América Latina: periferização, construção do Estado e crescimento impulsionado pela demanda, na tradução literal). “O mundo está indo para a Ásia e as potências ocidentais necessitam de um sócio lá.”

Com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, mas que deverá chegar a 1,7 bilhão em 2050, ultrapassando a da China em quase 400 milhões, a Índia passou a ser a aposta de muitos economistas como o país que vai emergir como grande potência nas próximas décadas. O Goldman Sachs projeta que a economia indiana será a segunda maior do mundo em 2075, atrás apenas da chinesa. Profissionais do Morgan Stanley já afirmaram, em relatório, que esta é a “década da Índia” e que, até 2030, o país será responsável por um quinto do crescimento global.

Além do enorme mercado doméstico que ainda precisa ser explorado e do volume de mão de obra disponível, a Índia tem chamado a atenção por receber centros de TI de empresas de todo o mundo, que transferem essas unidades em busca de redução de custos. De acordo com relatório do Morgan Stanley, o total de trabalhadores nessa indústria no país cresceu de 4,3 milhões para 5,1 milhões na pandemia. Até o fim da década, esse número deve mais do que dobrar, prevê o banco americano. O crescimento desse setor deve alavancar também a demanda por imóveis na Índia.

Há projeções de que os investimentos industriais também aumentem nos próximos anos, dado que o governo tem adotado políticas de corte de impostos e conseguiu melhorar o ambiente de negócios com uma reforma tributária que começou a vigorar em 2017. “O Brasil está enfrentando a reforma tributária, mas a Índia já passou por isso”, diz Umesh Mukhi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

As tensões entre Pequim e Washington são outro fator que tem feito multinacionais levarem fábricas para a Índia. No ano passado, a Apple decidiu produzir o iPhone 14 no país. A companhia justificou a decisão por causa de questões geopolíticas e pelos problemas na cadeia de produção detonados pela pandemia. Há dois meses, a Amazon afirmou que adicionaria US$ 6,5 bilhões a seus investimentos no país até 2030, totalizando US$ 26 bilhões, e a Tesla sinalizou a intenção de instalar uma planta por lá.

Estação de trem em Mumbai, capital financeira da Índia; país pode ter segunda maior economia do mundo em 2075, segundo Goldman Sachs Foto: Rafiq Maqbool/ AP Photo

O economista Michael Wan, analista de mercados global do banco MUFG em Cingapura, diz estar otimista com a possibilidade de a Índia assumir parte da montagem de produtos de baixo valor agregado. Ele alerta, porém, que levará tempo para o país construir uma cadeia de fornecimento e produzir manufaturas mais sofisticadas.

Também favorece a Índia sua taxa de poupança, que garante recursos para investimentos. No ano passado, segundo dados do FMI, ela ficou em 29% do PIB. O número pode não ser tão elevado quanto o da China (46,2%), mas ainda assim é considerado alto.

Como é o ritmo da economia indiana?

Nas últimas três décadas, a economia da Índia tem apresentado um crescimento bastante vigoroso, em alguns momentos, acima até da chinesa, considerada o motor da economia global. O Produto Interno Bruto (PIB) tem sido puxado, sobretudo, pelo consumo interno, que representa de 55% a 60% da atividade local.

Em 2021, no ano seguinte ao colapso provocado pela pandemia, o PIB do país subiu 9%. Nos próximos anos, as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que a expansão indiana deve ser de 6%, em média, acima das previsões para o desempenho chinês, que deve cair abaixo de 4%.

Para o economista Arthur Mota, do BTG Pactual, ainda que o crescimento indiano seja significativo nos próximos anos, o país não vai repetir o exemplo chinês. “Provavelmente nunca mais teremos uma nova China”, diz. Ele afirma, no entanto, que o potencial indiano não pode ser ignorado, sobretudo devido ao tamanho da população. Mota diz ainda que o país tem melhorado seu arcabouço institucional com melhores regras de propriedade intelectual.

Na visão de Wan, do MUFG, o atual otimismo em relação à Índia é justificado. Ele alerta, entretanto, que para o país manter a atual taxa de crescimento além dos próximos cinco anos será preciso investimentos ainda maiores e melhorias na logística, além de reformas, incluindo uma na área de educação básica e superior.

Com a vantagem demográfica, um dos grandes desafios da Índia, apontam os economistas, será dar conta de absorver essa mão de obra e qualificá-la. Nos últimos 15 anos, a taxa de participação da força de trabalho recuou, sobretudo pela baixa presença das mulheres. “Se houver mais oportunidades (...), é possível fortalecer a taxa de participação da força de trabalho, o que pode impulsionar ainda mais o crescimento potencial”, disse Santanu Sengupta, economista do Goldman Sachs para a Índia, em relatório.

Para o economista Ashoka Mody, professor visitante em Princeton e autor do livro “India is Broken” (A Índia está quebrada, em tradução livre), os problemas de falta de investimento em capital humano e de inserção das mulheres no mercado de trabalho travam o desenvolvimento da Índia e impedirão o país de ser uma potência. Segundo o professor, esses dois fatores são chaves para aumentar a produtividade de uma economia e praticamente nenhum país no mundo conseguiu ter sucesso sem investir neles.

“Você não consegue fazer com que a Índia tenha sucesso apenas falando que ela terá. É preciso investir em capital humano. Você já viu algum país ter sucesso sem investir em capital humano?”, questiona Mody.

O professor destaca ainda que México e Brasil vivem situações semelhantes e também não terão sucesso enquanto não transformarem seus sistemas educacionais. No caso do México, que vem sendo visto com grande potencial por causa do “nearsrhoring”, ele lembra que a entrada do país no Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta) já não foi capaz de impulsionar a economia de forma significativa.

“O México teve todas as oportunidades para crescer desde meados dos anos 1990 e mal cresceu. Por que vai ser diferente agora? (O “nearshoring”) vai fazer uma diferença pequena, mas me surpreenderia muito se mudasse algo significativamente”, diz Mody.

Você não consegue fazer com que a Índia tenha sucesso apenas falando que ela terá. É preciso investir em capital humano

Ashoka Mody

Uma outra barreira para o país é a importação de uma fatia relevante de commodities, o que provoca desequilíbrios macroeconômicos nos períodos de alta de preços dos produtos. “As exportações líquidas sempre foram um entrave ao crescimento, porque a Índia registra um déficit em conta corrente. Recentemente, estamos observando algum progresso nesse sentido. As exportações de serviços estão aumentando”, acrescenta Sengupta, do Goldman Sachs.

Peso político

O aumento da influência da Índia no cenário global tem ficado evidente a cada movimento do mundo político e empresarial. No poder desde 2014, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, foi recebido na Casa Branca pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em junho deste ano. Também esteve com o líder francês Emmanuel Macron. No mundo empresarial, aproveitou a viagem aos EUA para encontrar figuras importantes do capitalismo global, incluindo o presidente da Apple, Tim Cook.

“O protagonismo de mostrar a Índia como um potencial de investimento não é liderado somente pelo governo, mas pessoalmente pelo primeiro-ministro”, afirma Mukhi, da FGV.

O poderio crescente de Modi na diplomacia global parece deixar pontos sensíveis do governo indiano em segundo plano. Em 2023, no Índice de Liberdade de Imprensa, a Índia ocupou a 161.ª posição entre 180 nações pesquisadas.

O que ajuda a explicar o fato de as potências do Ocidente passarem por cima de questões polêmicas do governo indiano tem justamente a ver com as tensões geopolíticas entre os norte-americanos e os chineses. “A Índia tem uma boa sorte geográfica por estar localizada na Ásia, do lado da China”, afirma o economista Manuel Gonzalo, professor-adjunto na Universidad Nacional de Quilmes e autor do livro India from Latin America: Peripherisation, Statebuilding, and Demand-Led Growth (A Índia vista da América Latina: periferização, construção do Estado e crescimento impulsionado pela demanda, na tradução literal). “O mundo está indo para a Ásia e as potências ocidentais necessitam de um sócio lá.”

Com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, mas que deverá chegar a 1,7 bilhão em 2050, ultrapassando a da China em quase 400 milhões, a Índia passou a ser a aposta de muitos economistas como o país que vai emergir como grande potência nas próximas décadas. O Goldman Sachs projeta que a economia indiana será a segunda maior do mundo em 2075, atrás apenas da chinesa. Profissionais do Morgan Stanley já afirmaram, em relatório, que esta é a “década da Índia” e que, até 2030, o país será responsável por um quinto do crescimento global.

Além do enorme mercado doméstico que ainda precisa ser explorado e do volume de mão de obra disponível, a Índia tem chamado a atenção por receber centros de TI de empresas de todo o mundo, que transferem essas unidades em busca de redução de custos. De acordo com relatório do Morgan Stanley, o total de trabalhadores nessa indústria no país cresceu de 4,3 milhões para 5,1 milhões na pandemia. Até o fim da década, esse número deve mais do que dobrar, prevê o banco americano. O crescimento desse setor deve alavancar também a demanda por imóveis na Índia.

Há projeções de que os investimentos industriais também aumentem nos próximos anos, dado que o governo tem adotado políticas de corte de impostos e conseguiu melhorar o ambiente de negócios com uma reforma tributária que começou a vigorar em 2017. “O Brasil está enfrentando a reforma tributária, mas a Índia já passou por isso”, diz Umesh Mukhi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

As tensões entre Pequim e Washington são outro fator que tem feito multinacionais levarem fábricas para a Índia. No ano passado, a Apple decidiu produzir o iPhone 14 no país. A companhia justificou a decisão por causa de questões geopolíticas e pelos problemas na cadeia de produção detonados pela pandemia. Há dois meses, a Amazon afirmou que adicionaria US$ 6,5 bilhões a seus investimentos no país até 2030, totalizando US$ 26 bilhões, e a Tesla sinalizou a intenção de instalar uma planta por lá.

Estação de trem em Mumbai, capital financeira da Índia; país pode ter segunda maior economia do mundo em 2075, segundo Goldman Sachs Foto: Rafiq Maqbool/ AP Photo

O economista Michael Wan, analista de mercados global do banco MUFG em Cingapura, diz estar otimista com a possibilidade de a Índia assumir parte da montagem de produtos de baixo valor agregado. Ele alerta, porém, que levará tempo para o país construir uma cadeia de fornecimento e produzir manufaturas mais sofisticadas.

Também favorece a Índia sua taxa de poupança, que garante recursos para investimentos. No ano passado, segundo dados do FMI, ela ficou em 29% do PIB. O número pode não ser tão elevado quanto o da China (46,2%), mas ainda assim é considerado alto.

Como é o ritmo da economia indiana?

Nas últimas três décadas, a economia da Índia tem apresentado um crescimento bastante vigoroso, em alguns momentos, acima até da chinesa, considerada o motor da economia global. O Produto Interno Bruto (PIB) tem sido puxado, sobretudo, pelo consumo interno, que representa de 55% a 60% da atividade local.

Em 2021, no ano seguinte ao colapso provocado pela pandemia, o PIB do país subiu 9%. Nos próximos anos, as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que a expansão indiana deve ser de 6%, em média, acima das previsões para o desempenho chinês, que deve cair abaixo de 4%.

Para o economista Arthur Mota, do BTG Pactual, ainda que o crescimento indiano seja significativo nos próximos anos, o país não vai repetir o exemplo chinês. “Provavelmente nunca mais teremos uma nova China”, diz. Ele afirma, no entanto, que o potencial indiano não pode ser ignorado, sobretudo devido ao tamanho da população. Mota diz ainda que o país tem melhorado seu arcabouço institucional com melhores regras de propriedade intelectual.

Na visão de Wan, do MUFG, o atual otimismo em relação à Índia é justificado. Ele alerta, entretanto, que para o país manter a atual taxa de crescimento além dos próximos cinco anos será preciso investimentos ainda maiores e melhorias na logística, além de reformas, incluindo uma na área de educação básica e superior.

Com a vantagem demográfica, um dos grandes desafios da Índia, apontam os economistas, será dar conta de absorver essa mão de obra e qualificá-la. Nos últimos 15 anos, a taxa de participação da força de trabalho recuou, sobretudo pela baixa presença das mulheres. “Se houver mais oportunidades (...), é possível fortalecer a taxa de participação da força de trabalho, o que pode impulsionar ainda mais o crescimento potencial”, disse Santanu Sengupta, economista do Goldman Sachs para a Índia, em relatório.

Para o economista Ashoka Mody, professor visitante em Princeton e autor do livro “India is Broken” (A Índia está quebrada, em tradução livre), os problemas de falta de investimento em capital humano e de inserção das mulheres no mercado de trabalho travam o desenvolvimento da Índia e impedirão o país de ser uma potência. Segundo o professor, esses dois fatores são chaves para aumentar a produtividade de uma economia e praticamente nenhum país no mundo conseguiu ter sucesso sem investir neles.

“Você não consegue fazer com que a Índia tenha sucesso apenas falando que ela terá. É preciso investir em capital humano. Você já viu algum país ter sucesso sem investir em capital humano?”, questiona Mody.

O professor destaca ainda que México e Brasil vivem situações semelhantes e também não terão sucesso enquanto não transformarem seus sistemas educacionais. No caso do México, que vem sendo visto com grande potencial por causa do “nearsrhoring”, ele lembra que a entrada do país no Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta) já não foi capaz de impulsionar a economia de forma significativa.

“O México teve todas as oportunidades para crescer desde meados dos anos 1990 e mal cresceu. Por que vai ser diferente agora? (O “nearshoring”) vai fazer uma diferença pequena, mas me surpreenderia muito se mudasse algo significativamente”, diz Mody.

Você não consegue fazer com que a Índia tenha sucesso apenas falando que ela terá. É preciso investir em capital humano

Ashoka Mody

Uma outra barreira para o país é a importação de uma fatia relevante de commodities, o que provoca desequilíbrios macroeconômicos nos períodos de alta de preços dos produtos. “As exportações líquidas sempre foram um entrave ao crescimento, porque a Índia registra um déficit em conta corrente. Recentemente, estamos observando algum progresso nesse sentido. As exportações de serviços estão aumentando”, acrescenta Sengupta, do Goldman Sachs.

Peso político

O aumento da influência da Índia no cenário global tem ficado evidente a cada movimento do mundo político e empresarial. No poder desde 2014, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, foi recebido na Casa Branca pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em junho deste ano. Também esteve com o líder francês Emmanuel Macron. No mundo empresarial, aproveitou a viagem aos EUA para encontrar figuras importantes do capitalismo global, incluindo o presidente da Apple, Tim Cook.

“O protagonismo de mostrar a Índia como um potencial de investimento não é liderado somente pelo governo, mas pessoalmente pelo primeiro-ministro”, afirma Mukhi, da FGV.

O poderio crescente de Modi na diplomacia global parece deixar pontos sensíveis do governo indiano em segundo plano. Em 2023, no Índice de Liberdade de Imprensa, a Índia ocupou a 161.ª posição entre 180 nações pesquisadas.

O que ajuda a explicar o fato de as potências do Ocidente passarem por cima de questões polêmicas do governo indiano tem justamente a ver com as tensões geopolíticas entre os norte-americanos e os chineses. “A Índia tem uma boa sorte geográfica por estar localizada na Ásia, do lado da China”, afirma o economista Manuel Gonzalo, professor-adjunto na Universidad Nacional de Quilmes e autor do livro India from Latin America: Peripherisation, Statebuilding, and Demand-Led Growth (A Índia vista da América Latina: periferização, construção do Estado e crescimento impulsionado pela demanda, na tradução literal). “O mundo está indo para a Ásia e as potências ocidentais necessitam de um sócio lá.”

Com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, mas que deverá chegar a 1,7 bilhão em 2050, ultrapassando a da China em quase 400 milhões, a Índia passou a ser a aposta de muitos economistas como o país que vai emergir como grande potência nas próximas décadas. O Goldman Sachs projeta que a economia indiana será a segunda maior do mundo em 2075, atrás apenas da chinesa. Profissionais do Morgan Stanley já afirmaram, em relatório, que esta é a “década da Índia” e que, até 2030, o país será responsável por um quinto do crescimento global.

Além do enorme mercado doméstico que ainda precisa ser explorado e do volume de mão de obra disponível, a Índia tem chamado a atenção por receber centros de TI de empresas de todo o mundo, que transferem essas unidades em busca de redução de custos. De acordo com relatório do Morgan Stanley, o total de trabalhadores nessa indústria no país cresceu de 4,3 milhões para 5,1 milhões na pandemia. Até o fim da década, esse número deve mais do que dobrar, prevê o banco americano. O crescimento desse setor deve alavancar também a demanda por imóveis na Índia.

Há projeções de que os investimentos industriais também aumentem nos próximos anos, dado que o governo tem adotado políticas de corte de impostos e conseguiu melhorar o ambiente de negócios com uma reforma tributária que começou a vigorar em 2017. “O Brasil está enfrentando a reforma tributária, mas a Índia já passou por isso”, diz Umesh Mukhi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

As tensões entre Pequim e Washington são outro fator que tem feito multinacionais levarem fábricas para a Índia. No ano passado, a Apple decidiu produzir o iPhone 14 no país. A companhia justificou a decisão por causa de questões geopolíticas e pelos problemas na cadeia de produção detonados pela pandemia. Há dois meses, a Amazon afirmou que adicionaria US$ 6,5 bilhões a seus investimentos no país até 2030, totalizando US$ 26 bilhões, e a Tesla sinalizou a intenção de instalar uma planta por lá.

Estação de trem em Mumbai, capital financeira da Índia; país pode ter segunda maior economia do mundo em 2075, segundo Goldman Sachs Foto: Rafiq Maqbool/ AP Photo

O economista Michael Wan, analista de mercados global do banco MUFG em Cingapura, diz estar otimista com a possibilidade de a Índia assumir parte da montagem de produtos de baixo valor agregado. Ele alerta, porém, que levará tempo para o país construir uma cadeia de fornecimento e produzir manufaturas mais sofisticadas.

Também favorece a Índia sua taxa de poupança, que garante recursos para investimentos. No ano passado, segundo dados do FMI, ela ficou em 29% do PIB. O número pode não ser tão elevado quanto o da China (46,2%), mas ainda assim é considerado alto.

Como é o ritmo da economia indiana?

Nas últimas três décadas, a economia da Índia tem apresentado um crescimento bastante vigoroso, em alguns momentos, acima até da chinesa, considerada o motor da economia global. O Produto Interno Bruto (PIB) tem sido puxado, sobretudo, pelo consumo interno, que representa de 55% a 60% da atividade local.

Em 2021, no ano seguinte ao colapso provocado pela pandemia, o PIB do país subiu 9%. Nos próximos anos, as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que a expansão indiana deve ser de 6%, em média, acima das previsões para o desempenho chinês, que deve cair abaixo de 4%.

Para o economista Arthur Mota, do BTG Pactual, ainda que o crescimento indiano seja significativo nos próximos anos, o país não vai repetir o exemplo chinês. “Provavelmente nunca mais teremos uma nova China”, diz. Ele afirma, no entanto, que o potencial indiano não pode ser ignorado, sobretudo devido ao tamanho da população. Mota diz ainda que o país tem melhorado seu arcabouço institucional com melhores regras de propriedade intelectual.

Na visão de Wan, do MUFG, o atual otimismo em relação à Índia é justificado. Ele alerta, entretanto, que para o país manter a atual taxa de crescimento além dos próximos cinco anos será preciso investimentos ainda maiores e melhorias na logística, além de reformas, incluindo uma na área de educação básica e superior.

Com a vantagem demográfica, um dos grandes desafios da Índia, apontam os economistas, será dar conta de absorver essa mão de obra e qualificá-la. Nos últimos 15 anos, a taxa de participação da força de trabalho recuou, sobretudo pela baixa presença das mulheres. “Se houver mais oportunidades (...), é possível fortalecer a taxa de participação da força de trabalho, o que pode impulsionar ainda mais o crescimento potencial”, disse Santanu Sengupta, economista do Goldman Sachs para a Índia, em relatório.

Para o economista Ashoka Mody, professor visitante em Princeton e autor do livro “India is Broken” (A Índia está quebrada, em tradução livre), os problemas de falta de investimento em capital humano e de inserção das mulheres no mercado de trabalho travam o desenvolvimento da Índia e impedirão o país de ser uma potência. Segundo o professor, esses dois fatores são chaves para aumentar a produtividade de uma economia e praticamente nenhum país no mundo conseguiu ter sucesso sem investir neles.

“Você não consegue fazer com que a Índia tenha sucesso apenas falando que ela terá. É preciso investir em capital humano. Você já viu algum país ter sucesso sem investir em capital humano?”, questiona Mody.

O professor destaca ainda que México e Brasil vivem situações semelhantes e também não terão sucesso enquanto não transformarem seus sistemas educacionais. No caso do México, que vem sendo visto com grande potencial por causa do “nearsrhoring”, ele lembra que a entrada do país no Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta) já não foi capaz de impulsionar a economia de forma significativa.

“O México teve todas as oportunidades para crescer desde meados dos anos 1990 e mal cresceu. Por que vai ser diferente agora? (O “nearshoring”) vai fazer uma diferença pequena, mas me surpreenderia muito se mudasse algo significativamente”, diz Mody.

Você não consegue fazer com que a Índia tenha sucesso apenas falando que ela terá. É preciso investir em capital humano

Ashoka Mody

Uma outra barreira para o país é a importação de uma fatia relevante de commodities, o que provoca desequilíbrios macroeconômicos nos períodos de alta de preços dos produtos. “As exportações líquidas sempre foram um entrave ao crescimento, porque a Índia registra um déficit em conta corrente. Recentemente, estamos observando algum progresso nesse sentido. As exportações de serviços estão aumentando”, acrescenta Sengupta, do Goldman Sachs.

Peso político

O aumento da influência da Índia no cenário global tem ficado evidente a cada movimento do mundo político e empresarial. No poder desde 2014, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, foi recebido na Casa Branca pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em junho deste ano. Também esteve com o líder francês Emmanuel Macron. No mundo empresarial, aproveitou a viagem aos EUA para encontrar figuras importantes do capitalismo global, incluindo o presidente da Apple, Tim Cook.

“O protagonismo de mostrar a Índia como um potencial de investimento não é liderado somente pelo governo, mas pessoalmente pelo primeiro-ministro”, afirma Mukhi, da FGV.

O poderio crescente de Modi na diplomacia global parece deixar pontos sensíveis do governo indiano em segundo plano. Em 2023, no Índice de Liberdade de Imprensa, a Índia ocupou a 161.ª posição entre 180 nações pesquisadas.

O que ajuda a explicar o fato de as potências do Ocidente passarem por cima de questões polêmicas do governo indiano tem justamente a ver com as tensões geopolíticas entre os norte-americanos e os chineses. “A Índia tem uma boa sorte geográfica por estar localizada na Ásia, do lado da China”, afirma o economista Manuel Gonzalo, professor-adjunto na Universidad Nacional de Quilmes e autor do livro India from Latin America: Peripherisation, Statebuilding, and Demand-Led Growth (A Índia vista da América Latina: periferização, construção do Estado e crescimento impulsionado pela demanda, na tradução literal). “O mundo está indo para a Ásia e as potências ocidentais necessitam de um sócio lá.”

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