O que ex-diretores do Banco Central pensam da indicação de Galípolo à presidência do BC?


Economistas avaliam que novo nome representa teste à autonomia da instituição e ao compromisso com a meta de inflação

Por Redação
Atualização:

BRASÍLIA – A indicação do economista Gabriel Galípolo à presidência do Banco Central por Luiz Inácio Lula da Silva representa um teste tanto à autonomia da instituição como ao compromisso do escolhido com a meta de inflação, avaliam ex-diretores do BC ouvidos pelo Estadão.

Segundo os economistas, se aprovado pelo Senado, Galípolo terá como desafio assegurar que as decisões de política monetária sejam “sempre técnicas e apoiadas em dados e evidências”, devido à sua proximidade com Lula – relação essa que, apesar de preocupar o mercado financeiro, pode ser seu “possível grande trunfo como presidente”, na interlocução com o governo.

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Alexandre Schwartsman (de novembro de 2003 a abril de 2006)

Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e consultor Foto: Werther Santana/Estadão

A escolha de Gabriel Galípolo não trouxe surpresa ao mercado. Desde sua indicação à diretoria do BC, há pouco mais de um ano, havia a suspeita (não uso a palavra por acaso) que se tratava apenas de um degrau para a presidência da instituição, repetindo, diga-se, a trajetória seguida por Alexandre Pombini (perdão, Tombini).

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A ausência de surpresa é a única faceta positiva da escolha. Ao contrário de antecessores como Armínio Fraga e Ilan Goldfajn, não se trata de um macroeconomista de sólida formação acadêmica, com passagens relevantes por departamentos importantes de Economia e pelo setor privado. Em oposição a Roberto Campos Neto, não tem uma longa carreira em mesa de operações. Diferentemente de Henrique Meirelles, não chegou ao cargo para emprestar sua credibilidade à escolha.

Sua principal, senão solitária, qualidade é a proximidade ao presidente da República e ao ministro da Fazenda, forjada nos últimos anos, à sombra da parceria com Luiz Belluzzo, economista de igualmente escassa qualidade técnica.

Isto gera custos consideráveis. Face à desconfiança de indicação política para a posição, terá de se mostrar mais realista que o rei, ou seja, ainda mais duro em termos de política monetária que o próprio Roberto Campos. Por outro lado, não tem a estatura que o permita se contrapor a Lula quando este se sentir, como tantas vezes se manifestou, incomodado com o nível da taxa de juros.

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Como vai se equilibrar entre dois senhores, ainda não sabemos. Se ficar no meio do caminho (ou de seu lado político) haverá pressões sobre dólar, expectativas inflacionárias e juros longos. Nada que não tenhamos visto durante o Pombinato, não exatamente o ponto mais brilhante de condução de política monetária nos últimos 30 anos.

Luiz Fernando Figueiredo (de março de 1999 a março de 2003)

Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e presidente do conselho de administração da Jive Investments Foto: Werther Santana/Estadão
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A nomeação de Gabriel Galípolo à presidência do BCB representa um novo teste à autonomia do Bacen. Sua trajetória como diretor de política monetária foi marcada por aprendizados, tanto técnicos quanto em experiência prática. Ele virá na esteira de um governo cujo presidente desafia recorrentemente a autonomia do banco central.

Em maio passado, ele, junto aos outros três diretores indicados pelo governo de Lula, tiveram a sua credibilidade reduzida, devido à votação em divergência dos outros membros do Copom, para reduzir 50 pontos (0,5 ponto porcentual) ao invés de 25 (0,25 ponto). O resultado foi uma enorme crítica e uma importante piora nas expectativas de inflação.

O BCB, sob a gestão do RCN (Roberto Campos Neto) avançou muito, não apenas na política monetária e cambial. Modernizar e ampliar a concorrência no ecossistema financeiro, bem como dos produtos financeiros, além de, no final, ampliar o acesso ao sistema para uma grande parcela da população que não era bancarizada, foi um grande feito dessa gestão, para a instituição.

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Por isso, a meu ver, o desafio do novo presidente não se limita à manutenção do controle inflacionário, mas também à continuidade dessa agenda tão importante e inclusiva que evoluiu consideravelmente desde a gestão do Ilan.

Galípolo teve muito a aprender nesse período como diretor de política monetária. Seu desafio como presidente será não só de liderar bem os diretores e o excelente corpo técnico, mas cuidar para que as decisões sejam sempre técnicas e apoiadas em dados e evidências. Só assim ele conquistará a tão importante credibilidade, muito necessária para a minimização do custo de política monetária para manter a inflação dentro de limites razoáveis.

*Este artigo teve como coautor Italo Faviano, economista da Buysidebrasil

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Tony Volpon (de abril de 2015 a julho de 2016)

Tony Volpon, ex-diretor do BC e professor da Universidade Georgetown, em Washington (EUA) Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A escolha de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central não é óbvia dada sua experiência acadêmica e profissional. Mas têm sido notáveis seus esforços desde sua nomeação como diretor de defender o sistema de metas de inflação e de não tecer nenhuma das críticas feitas por economistas heterodoxos aos modus operandi da autarquia.

Sua amizade e elogios com Roberto Campos Neto também é algo notável, dado o difícil relacionamento entre o presidente atual e o governo. Seu possível grande trunfo como presidente é exatamente o que preocupa o mercado financeiro: sua aproximação pessoal e política com o governo.

Ela pode servir para distensionar o debate sobre a política monetária em um momento onde o Copom terá de elevar o juros para aumentar a hoje baixa probabilidade de convergência de inflação à meta. Assim, Galípolo poderá, nas próximas reuniões, provar se ele de fato tem um compromisso incondicional com a meta de inflação.

BRASÍLIA – A indicação do economista Gabriel Galípolo à presidência do Banco Central por Luiz Inácio Lula da Silva representa um teste tanto à autonomia da instituição como ao compromisso do escolhido com a meta de inflação, avaliam ex-diretores do BC ouvidos pelo Estadão.

Segundo os economistas, se aprovado pelo Senado, Galípolo terá como desafio assegurar que as decisões de política monetária sejam “sempre técnicas e apoiadas em dados e evidências”, devido à sua proximidade com Lula – relação essa que, apesar de preocupar o mercado financeiro, pode ser seu “possível grande trunfo como presidente”, na interlocução com o governo.

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Alexandre Schwartsman (de novembro de 2003 a abril de 2006)

Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e consultor Foto: Werther Santana/Estadão

A escolha de Gabriel Galípolo não trouxe surpresa ao mercado. Desde sua indicação à diretoria do BC, há pouco mais de um ano, havia a suspeita (não uso a palavra por acaso) que se tratava apenas de um degrau para a presidência da instituição, repetindo, diga-se, a trajetória seguida por Alexandre Pombini (perdão, Tombini).

A ausência de surpresa é a única faceta positiva da escolha. Ao contrário de antecessores como Armínio Fraga e Ilan Goldfajn, não se trata de um macroeconomista de sólida formação acadêmica, com passagens relevantes por departamentos importantes de Economia e pelo setor privado. Em oposição a Roberto Campos Neto, não tem uma longa carreira em mesa de operações. Diferentemente de Henrique Meirelles, não chegou ao cargo para emprestar sua credibilidade à escolha.

Sua principal, senão solitária, qualidade é a proximidade ao presidente da República e ao ministro da Fazenda, forjada nos últimos anos, à sombra da parceria com Luiz Belluzzo, economista de igualmente escassa qualidade técnica.

Isto gera custos consideráveis. Face à desconfiança de indicação política para a posição, terá de se mostrar mais realista que o rei, ou seja, ainda mais duro em termos de política monetária que o próprio Roberto Campos. Por outro lado, não tem a estatura que o permita se contrapor a Lula quando este se sentir, como tantas vezes se manifestou, incomodado com o nível da taxa de juros.

Como vai se equilibrar entre dois senhores, ainda não sabemos. Se ficar no meio do caminho (ou de seu lado político) haverá pressões sobre dólar, expectativas inflacionárias e juros longos. Nada que não tenhamos visto durante o Pombinato, não exatamente o ponto mais brilhante de condução de política monetária nos últimos 30 anos.

Luiz Fernando Figueiredo (de março de 1999 a março de 2003)

Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e presidente do conselho de administração da Jive Investments Foto: Werther Santana/Estadão

A nomeação de Gabriel Galípolo à presidência do BCB representa um novo teste à autonomia do Bacen. Sua trajetória como diretor de política monetária foi marcada por aprendizados, tanto técnicos quanto em experiência prática. Ele virá na esteira de um governo cujo presidente desafia recorrentemente a autonomia do banco central.

Em maio passado, ele, junto aos outros três diretores indicados pelo governo de Lula, tiveram a sua credibilidade reduzida, devido à votação em divergência dos outros membros do Copom, para reduzir 50 pontos (0,5 ponto porcentual) ao invés de 25 (0,25 ponto). O resultado foi uma enorme crítica e uma importante piora nas expectativas de inflação.

O BCB, sob a gestão do RCN (Roberto Campos Neto) avançou muito, não apenas na política monetária e cambial. Modernizar e ampliar a concorrência no ecossistema financeiro, bem como dos produtos financeiros, além de, no final, ampliar o acesso ao sistema para uma grande parcela da população que não era bancarizada, foi um grande feito dessa gestão, para a instituição.

Por isso, a meu ver, o desafio do novo presidente não se limita à manutenção do controle inflacionário, mas também à continuidade dessa agenda tão importante e inclusiva que evoluiu consideravelmente desde a gestão do Ilan.

Galípolo teve muito a aprender nesse período como diretor de política monetária. Seu desafio como presidente será não só de liderar bem os diretores e o excelente corpo técnico, mas cuidar para que as decisões sejam sempre técnicas e apoiadas em dados e evidências. Só assim ele conquistará a tão importante credibilidade, muito necessária para a minimização do custo de política monetária para manter a inflação dentro de limites razoáveis.

*Este artigo teve como coautor Italo Faviano, economista da Buysidebrasil

Tony Volpon (de abril de 2015 a julho de 2016)

Tony Volpon, ex-diretor do BC e professor da Universidade Georgetown, em Washington (EUA) Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A escolha de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central não é óbvia dada sua experiência acadêmica e profissional. Mas têm sido notáveis seus esforços desde sua nomeação como diretor de defender o sistema de metas de inflação e de não tecer nenhuma das críticas feitas por economistas heterodoxos aos modus operandi da autarquia.

Sua amizade e elogios com Roberto Campos Neto também é algo notável, dado o difícil relacionamento entre o presidente atual e o governo. Seu possível grande trunfo como presidente é exatamente o que preocupa o mercado financeiro: sua aproximação pessoal e política com o governo.

Ela pode servir para distensionar o debate sobre a política monetária em um momento onde o Copom terá de elevar o juros para aumentar a hoje baixa probabilidade de convergência de inflação à meta. Assim, Galípolo poderá, nas próximas reuniões, provar se ele de fato tem um compromisso incondicional com a meta de inflação.

BRASÍLIA – A indicação do economista Gabriel Galípolo à presidência do Banco Central por Luiz Inácio Lula da Silva representa um teste tanto à autonomia da instituição como ao compromisso do escolhido com a meta de inflação, avaliam ex-diretores do BC ouvidos pelo Estadão.

Segundo os economistas, se aprovado pelo Senado, Galípolo terá como desafio assegurar que as decisões de política monetária sejam “sempre técnicas e apoiadas em dados e evidências”, devido à sua proximidade com Lula – relação essa que, apesar de preocupar o mercado financeiro, pode ser seu “possível grande trunfo como presidente”, na interlocução com o governo.

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Alexandre Schwartsman (de novembro de 2003 a abril de 2006)

Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e consultor Foto: Werther Santana/Estadão

A escolha de Gabriel Galípolo não trouxe surpresa ao mercado. Desde sua indicação à diretoria do BC, há pouco mais de um ano, havia a suspeita (não uso a palavra por acaso) que se tratava apenas de um degrau para a presidência da instituição, repetindo, diga-se, a trajetória seguida por Alexandre Pombini (perdão, Tombini).

A ausência de surpresa é a única faceta positiva da escolha. Ao contrário de antecessores como Armínio Fraga e Ilan Goldfajn, não se trata de um macroeconomista de sólida formação acadêmica, com passagens relevantes por departamentos importantes de Economia e pelo setor privado. Em oposição a Roberto Campos Neto, não tem uma longa carreira em mesa de operações. Diferentemente de Henrique Meirelles, não chegou ao cargo para emprestar sua credibilidade à escolha.

Sua principal, senão solitária, qualidade é a proximidade ao presidente da República e ao ministro da Fazenda, forjada nos últimos anos, à sombra da parceria com Luiz Belluzzo, economista de igualmente escassa qualidade técnica.

Isto gera custos consideráveis. Face à desconfiança de indicação política para a posição, terá de se mostrar mais realista que o rei, ou seja, ainda mais duro em termos de política monetária que o próprio Roberto Campos. Por outro lado, não tem a estatura que o permita se contrapor a Lula quando este se sentir, como tantas vezes se manifestou, incomodado com o nível da taxa de juros.

Como vai se equilibrar entre dois senhores, ainda não sabemos. Se ficar no meio do caminho (ou de seu lado político) haverá pressões sobre dólar, expectativas inflacionárias e juros longos. Nada que não tenhamos visto durante o Pombinato, não exatamente o ponto mais brilhante de condução de política monetária nos últimos 30 anos.

Luiz Fernando Figueiredo (de março de 1999 a março de 2003)

Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e presidente do conselho de administração da Jive Investments Foto: Werther Santana/Estadão

A nomeação de Gabriel Galípolo à presidência do BCB representa um novo teste à autonomia do Bacen. Sua trajetória como diretor de política monetária foi marcada por aprendizados, tanto técnicos quanto em experiência prática. Ele virá na esteira de um governo cujo presidente desafia recorrentemente a autonomia do banco central.

Em maio passado, ele, junto aos outros três diretores indicados pelo governo de Lula, tiveram a sua credibilidade reduzida, devido à votação em divergência dos outros membros do Copom, para reduzir 50 pontos (0,5 ponto porcentual) ao invés de 25 (0,25 ponto). O resultado foi uma enorme crítica e uma importante piora nas expectativas de inflação.

O BCB, sob a gestão do RCN (Roberto Campos Neto) avançou muito, não apenas na política monetária e cambial. Modernizar e ampliar a concorrência no ecossistema financeiro, bem como dos produtos financeiros, além de, no final, ampliar o acesso ao sistema para uma grande parcela da população que não era bancarizada, foi um grande feito dessa gestão, para a instituição.

Por isso, a meu ver, o desafio do novo presidente não se limita à manutenção do controle inflacionário, mas também à continuidade dessa agenda tão importante e inclusiva que evoluiu consideravelmente desde a gestão do Ilan.

Galípolo teve muito a aprender nesse período como diretor de política monetária. Seu desafio como presidente será não só de liderar bem os diretores e o excelente corpo técnico, mas cuidar para que as decisões sejam sempre técnicas e apoiadas em dados e evidências. Só assim ele conquistará a tão importante credibilidade, muito necessária para a minimização do custo de política monetária para manter a inflação dentro de limites razoáveis.

*Este artigo teve como coautor Italo Faviano, economista da Buysidebrasil

Tony Volpon (de abril de 2015 a julho de 2016)

Tony Volpon, ex-diretor do BC e professor da Universidade Georgetown, em Washington (EUA) Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A escolha de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central não é óbvia dada sua experiência acadêmica e profissional. Mas têm sido notáveis seus esforços desde sua nomeação como diretor de defender o sistema de metas de inflação e de não tecer nenhuma das críticas feitas por economistas heterodoxos aos modus operandi da autarquia.

Sua amizade e elogios com Roberto Campos Neto também é algo notável, dado o difícil relacionamento entre o presidente atual e o governo. Seu possível grande trunfo como presidente é exatamente o que preocupa o mercado financeiro: sua aproximação pessoal e política com o governo.

Ela pode servir para distensionar o debate sobre a política monetária em um momento onde o Copom terá de elevar o juros para aumentar a hoje baixa probabilidade de convergência de inflação à meta. Assim, Galípolo poderá, nas próximas reuniões, provar se ele de fato tem um compromisso incondicional com a meta de inflação.

BRASÍLIA – A indicação do economista Gabriel Galípolo à presidência do Banco Central por Luiz Inácio Lula da Silva representa um teste tanto à autonomia da instituição como ao compromisso do escolhido com a meta de inflação, avaliam ex-diretores do BC ouvidos pelo Estadão.

Segundo os economistas, se aprovado pelo Senado, Galípolo terá como desafio assegurar que as decisões de política monetária sejam “sempre técnicas e apoiadas em dados e evidências”, devido à sua proximidade com Lula – relação essa que, apesar de preocupar o mercado financeiro, pode ser seu “possível grande trunfo como presidente”, na interlocução com o governo.

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Alexandre Schwartsman (de novembro de 2003 a abril de 2006)

Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e consultor Foto: Werther Santana/Estadão

A escolha de Gabriel Galípolo não trouxe surpresa ao mercado. Desde sua indicação à diretoria do BC, há pouco mais de um ano, havia a suspeita (não uso a palavra por acaso) que se tratava apenas de um degrau para a presidência da instituição, repetindo, diga-se, a trajetória seguida por Alexandre Pombini (perdão, Tombini).

A ausência de surpresa é a única faceta positiva da escolha. Ao contrário de antecessores como Armínio Fraga e Ilan Goldfajn, não se trata de um macroeconomista de sólida formação acadêmica, com passagens relevantes por departamentos importantes de Economia e pelo setor privado. Em oposição a Roberto Campos Neto, não tem uma longa carreira em mesa de operações. Diferentemente de Henrique Meirelles, não chegou ao cargo para emprestar sua credibilidade à escolha.

Sua principal, senão solitária, qualidade é a proximidade ao presidente da República e ao ministro da Fazenda, forjada nos últimos anos, à sombra da parceria com Luiz Belluzzo, economista de igualmente escassa qualidade técnica.

Isto gera custos consideráveis. Face à desconfiança de indicação política para a posição, terá de se mostrar mais realista que o rei, ou seja, ainda mais duro em termos de política monetária que o próprio Roberto Campos. Por outro lado, não tem a estatura que o permita se contrapor a Lula quando este se sentir, como tantas vezes se manifestou, incomodado com o nível da taxa de juros.

Como vai se equilibrar entre dois senhores, ainda não sabemos. Se ficar no meio do caminho (ou de seu lado político) haverá pressões sobre dólar, expectativas inflacionárias e juros longos. Nada que não tenhamos visto durante o Pombinato, não exatamente o ponto mais brilhante de condução de política monetária nos últimos 30 anos.

Luiz Fernando Figueiredo (de março de 1999 a março de 2003)

Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e presidente do conselho de administração da Jive Investments Foto: Werther Santana/Estadão

A nomeação de Gabriel Galípolo à presidência do BCB representa um novo teste à autonomia do Bacen. Sua trajetória como diretor de política monetária foi marcada por aprendizados, tanto técnicos quanto em experiência prática. Ele virá na esteira de um governo cujo presidente desafia recorrentemente a autonomia do banco central.

Em maio passado, ele, junto aos outros três diretores indicados pelo governo de Lula, tiveram a sua credibilidade reduzida, devido à votação em divergência dos outros membros do Copom, para reduzir 50 pontos (0,5 ponto porcentual) ao invés de 25 (0,25 ponto). O resultado foi uma enorme crítica e uma importante piora nas expectativas de inflação.

O BCB, sob a gestão do RCN (Roberto Campos Neto) avançou muito, não apenas na política monetária e cambial. Modernizar e ampliar a concorrência no ecossistema financeiro, bem como dos produtos financeiros, além de, no final, ampliar o acesso ao sistema para uma grande parcela da população que não era bancarizada, foi um grande feito dessa gestão, para a instituição.

Por isso, a meu ver, o desafio do novo presidente não se limita à manutenção do controle inflacionário, mas também à continuidade dessa agenda tão importante e inclusiva que evoluiu consideravelmente desde a gestão do Ilan.

Galípolo teve muito a aprender nesse período como diretor de política monetária. Seu desafio como presidente será não só de liderar bem os diretores e o excelente corpo técnico, mas cuidar para que as decisões sejam sempre técnicas e apoiadas em dados e evidências. Só assim ele conquistará a tão importante credibilidade, muito necessária para a minimização do custo de política monetária para manter a inflação dentro de limites razoáveis.

*Este artigo teve como coautor Italo Faviano, economista da Buysidebrasil

Tony Volpon (de abril de 2015 a julho de 2016)

Tony Volpon, ex-diretor do BC e professor da Universidade Georgetown, em Washington (EUA) Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A escolha de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central não é óbvia dada sua experiência acadêmica e profissional. Mas têm sido notáveis seus esforços desde sua nomeação como diretor de defender o sistema de metas de inflação e de não tecer nenhuma das críticas feitas por economistas heterodoxos aos modus operandi da autarquia.

Sua amizade e elogios com Roberto Campos Neto também é algo notável, dado o difícil relacionamento entre o presidente atual e o governo. Seu possível grande trunfo como presidente é exatamente o que preocupa o mercado financeiro: sua aproximação pessoal e política com o governo.

Ela pode servir para distensionar o debate sobre a política monetária em um momento onde o Copom terá de elevar o juros para aumentar a hoje baixa probabilidade de convergência de inflação à meta. Assim, Galípolo poderá, nas próximas reuniões, provar se ele de fato tem um compromisso incondicional com a meta de inflação.

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