‘É difícil ignorar o potencial verde do Brasil no mercado global’, diz professor da UnB


Segundo Jorge Arbache, a competitividade brasileira poderá barrar a ofensiva protecionista de gigantes como EUA, China e União Europeia

Por Leandro Becker
Atualização:
Foto: Wilton Junior
Entrevista comJorge ArbacheProfessor de economia da UnB

Priorizar as vantagens competitivas naturais e o potencial de liderar uma nova indústria verde no mercado internacional são caminhos — e desafios — para o Brasil em meio a um cenário cada vez mais protecionista e fragmentado em nível global. A avaliação é de Jorge Arbache, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB).

Para ele, a disputa por espaço e milhões de dólares no processo de transição econômica para uma matriz mais sustentável coloca o Brasil em colisão com potências como Estados Unidos, China e União Europeia. Mas, apesar de tentativas de neutralização dos oponentes, o protagonismo brasileiro não pode ser ignorado, diz ele, especialmente no setor industrial.

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Arbache será um dos participantes do Fórum Estadão Think — Do Brasil para o mundo: Desafios para a nossa inserção global, uma realização do Estadão, com apoio institucional da Fiesp, do Ciesp, da Firjan e da CNI. O evento ocorre na próxima terça-feira, 12, no salão nobre da Fiesp. As inscrições podem ser feitas aqui.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

O dólar tem subido, há guerras na Europa e no Oriente Médio, e as mudanças climáticas são um desafio social e econômico. Como o sr. avalia o impacto desta instabilidade para a indústria brasileira e seus mercados externos?

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Hoje há muita incerteza associada à geopolítica e às mudanças climáticas, o que não é bom para o Brasil. Por outro lado, é necessário dizer que, quando se pensa em mudança climática, o Brasil tem um grande potencial, pois conta com uma matriz energética verde e renovável, além de ter muita água, uma biodiversidade sem igual e ser um grande produtor de alimentos. Logo, o cenário de mudança climática, se por um lado traz nervosismo em nível global, abre oportunidades para o Brasil. Ao mesmo tempo, a fragmentação dos mercados globais está trazendo cada vez mais protecionismo e discriminação. Estamos claramente em um processo de desglobalização. E países como Brasil, que tem condições de ser um grande provedor de bens industriais verdes, se veem confrontados por este contexto geopolítico que desafia as regras e os prejudica. Um exemplo é a taxa de juro elevada em países desenvolvidos, que pressiona o câmbio. Além disso, a inflação e políticas de subsídios têm gerado pressão sobre as dívidas públicas. É uma situação pouco favorável ao Brasil, pois somos confrontados com intervenções profundas nos mercados — e isso é especificamente válido para a indústria. Logo, o Brasil tem de defender seus interesses, e isso passa por confrontar regras de intervenção nos mercados.

Como essa intervenção tem se dado?

Os europeus, por exemplo, têm desenvolvido regras frontalmente contrárias aos interesses brasileiros. Eles neutralizam as nossas vantagens, e isso é uma afronta, é injustificado. Então, de um lado o contexto é muito favorável porque o Brasil sai bem na foto com a sustentabilidade, mas de outro é prejudicado por políticas intervencionistas, discriminatórias e protecionistas. Acredito, porém, que as regras de mercado tendem a prevalecer, já que este tipo de intervenção não tem perspectiva de longo prazo, pois não há como bancar uma competitividade artificial.

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'O Brasil tem uma condição quase única para contribuir com as agendas de segurança alimentar, energia verde e descarbonização do mundo', diz Jorge Arbache  Foto: Wilton Junior/Estadão

A mudança de governo parece ter feito o Brasil recuperar parte da credibilidade internacional no cenário climático e ambiental. Como isso tem impactado a economia, especialmente a indústria?

O governo tem trabalhado em algumas linhas que fazem sentido. O plano de transição ecológica é algo que explora nossas fortalezas e vantagens naturais e competitivas. O programa Nova Indústria Brasil também. Os ministérios da Agricultura e de Minas e Energia têm trabalhado em agendas muito interessantes em defesa da competitividade dos setores. Por outro lado, o contexto de hoje é muito mais complexo do que era há dois anos. Não se consegue hoje trabalhar em uma agenda de comércio e investimentos sem levar em conta variáveis geopolíticas de grande porte. E está mais difícil posicionar o Brasil. Por isso, o que precisa ser feito é perseguir princípios.

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Quais são esses princípios?

Um deles são as regras de mercado, para que países mais competitivos sejam reconhecidos. O Brasil tem uma condição quase única para contribuir com as agendas de segurança alimentar, energia verde e descarbonização do mundo. Podemos produzir muito com custo baixo e prazo muito curto, porque a energia já existe. Mas isso precisa ser políticas de Estado, não de governo. Por sorte nossa, esses princípios têm encontrado eco nas nossas condições, que podem ser fundamentais para não só desenvolver a indústria, mas para proteger a natureza e colocar o Brasil nas cadeias globais de valor pela porta da frente, já que tem algo a oferecer que outros países não têm. O governo federal tem perseguido alguns desses temas. Talvez pudesse ser mais incisivo aqui e ali, em coordenação com outras regiões, mas ainda assim acho que, em alguma medida, tem identificado pontos bastante válidos.

A estimativa nossa é de que a China leve 35 anos para converter a matriz elétrica ao nível da matriz brasileira, que é 93% renovável

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A valorização do potencial da indústria verde é uma preocupação genuína com o futuro do planeta ou corre risco de ficar mais no discurso e menos na ação?

O que está na mesa, infelizmente, não é a questão do meio ambiente e do aquecimento global. A grande disputa é sobre os supostos US$ 100 trilhões de novos negócios até 2050 associados à agenda do clima, em transição energética, transportes, infraestrutura ou mudança do padrão de consumo, entre outros. Isso vai exigir uma série de mudanças naquilo que a gente produz e consome. E a pergunta é: quem vai produzir e quem vai vender? A China é forte candidata a levar uma boa fatia porque saiu na frente em setores-chave da mudança climática. Mas o Brasil tem um potencial muito grande de ter algum quinhão que jamais teria, porque conta com uma matriz que já é verde. Enquanto isso, Europa, EUA e a própria China ainda têm de juntar dinheiro para fazer investimentos. E isso requer não só muito dinheiro, mas tempo, também. A estimativa nossa é de que a China leve 35 anos para converter a matriz elétrica ao nível da matriz brasileira, que é 93% renovável. Europa e EUA têm um número parecido. Isso nos dá uma vantagem muito grande. E o que eles fazem, então? Criam barreiras, protecionismo e discriminação que buscam neutralizar as vantagens do Brasil. Dizem que energia hidrelétrica não vale, apenas a solar, a eólica e, agora, a nuclear. É tudo para desmontar a nossa vantagem. São formas profundas e inaceitáveis de protecionismo que vão contra regras de mercado e têm grande repercussão. Vai ser uma briga grande, mas o Brasil não tem outra opção.

Até que ponto essa estratégia de neutralização do Brasil pode ser efetiva, considerando seu papel-chave no mercado internacional em setores tão importantes?

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Poucos países têm condições de fazer ofertas dos bens necessários para este período de transição econômica. Um exemplo são os biocombustíveis. Brasil e EUA são os dois maiores produtores. A diferença é que os EUA consomem todo o biocombustível internamente e ainda falta. Já o Brasil produz em quantidade que excede o que precisa. Então, você não tem outra opção para produzir SAF (combustível sustentável de aviação), por exemplo, e o Brasil tem um gigantesco potencial. O mesmo vale para e-metanol, combustível verde de navegação e etanol de segunda geração. Não tem alternativa em nível global que possa produzir na quantidade necessária. A gente tem a energia necessária para produzir hidrogênio verde e, então, o aço verde. Que outro país tem uma condição vantajosa como a nossa, combinando disponibilidade de minério de ferro de alta pureza? Se você pensa em biodiversidade e em produtos intensivos em água, qual país tem de longe as maiores reservas de água doce? O Brasil. Então, é difícil ignorar o Brasil no mercado internacional. Por isso vejo uma falta de visão estratégica nessa busca por neutralizar o nosso país, pois, do ponto de vista estrutural, essa tese não se sustenta. Há outras opções, claro, mas a custos muito altos e com produção futura, não hoje.

Se a indústria verde é um trunfo internacional para o Brasil, como driblar o negacionismo interno de setores da indústria e valorizar a sustentabilidade?

Existe essa tensão no Brasil, mas o que a gente vê mais são visões divergentes dentro dos setores. Isso acontece no agro, na siderurgia, na celulose. Você tem gente que está olhando para o passado, quer preservar o status quo, não tem interesse em fazer novos investimentos nem usar novas tecnologias. Parte do agro, por exemplo, acha que o mundo não tem outra opção. Mas no próprio agro tem uma visão crescente de que, sim, a gente tem muito a ganhar incorporando tecnologias e princípios sustentáveis. E, na verdade, isso não só faz sentido do ponto de vista ecológico e ambiental, mas em termos econômicos e financeiros. Hoje, esse diferencial já é percebido no acesso a mercados e, muito em breve, vai impactar em preços diferenciados. O que vai prevalecer é o Brasil fazer valer sua condição única de se vender ao mundo como uma economia sustentável, que faz dinheiro em cima da sustentabilidade e traz benefícios como ajudar na segurança alimentar e a descarbonizar a indústria do mundo. Sou otimista não por ser esperançoso, mas porque vejo que, do ponto de vista econômico e de negócios, isso também faz sentido e, cedo ou tarde, vai prevalecer. As vantagens comparativas e competitivas jogam a nosso favor.

Priorizar as vantagens competitivas naturais e o potencial de liderar uma nova indústria verde no mercado internacional são caminhos — e desafios — para o Brasil em meio a um cenário cada vez mais protecionista e fragmentado em nível global. A avaliação é de Jorge Arbache, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB).

Para ele, a disputa por espaço e milhões de dólares no processo de transição econômica para uma matriz mais sustentável coloca o Brasil em colisão com potências como Estados Unidos, China e União Europeia. Mas, apesar de tentativas de neutralização dos oponentes, o protagonismo brasileiro não pode ser ignorado, diz ele, especialmente no setor industrial.

Arbache será um dos participantes do Fórum Estadão Think — Do Brasil para o mundo: Desafios para a nossa inserção global, uma realização do Estadão, com apoio institucional da Fiesp, do Ciesp, da Firjan e da CNI. O evento ocorre na próxima terça-feira, 12, no salão nobre da Fiesp. As inscrições podem ser feitas aqui.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

O dólar tem subido, há guerras na Europa e no Oriente Médio, e as mudanças climáticas são um desafio social e econômico. Como o sr. avalia o impacto desta instabilidade para a indústria brasileira e seus mercados externos?

Hoje há muita incerteza associada à geopolítica e às mudanças climáticas, o que não é bom para o Brasil. Por outro lado, é necessário dizer que, quando se pensa em mudança climática, o Brasil tem um grande potencial, pois conta com uma matriz energética verde e renovável, além de ter muita água, uma biodiversidade sem igual e ser um grande produtor de alimentos. Logo, o cenário de mudança climática, se por um lado traz nervosismo em nível global, abre oportunidades para o Brasil. Ao mesmo tempo, a fragmentação dos mercados globais está trazendo cada vez mais protecionismo e discriminação. Estamos claramente em um processo de desglobalização. E países como Brasil, que tem condições de ser um grande provedor de bens industriais verdes, se veem confrontados por este contexto geopolítico que desafia as regras e os prejudica. Um exemplo é a taxa de juro elevada em países desenvolvidos, que pressiona o câmbio. Além disso, a inflação e políticas de subsídios têm gerado pressão sobre as dívidas públicas. É uma situação pouco favorável ao Brasil, pois somos confrontados com intervenções profundas nos mercados — e isso é especificamente válido para a indústria. Logo, o Brasil tem de defender seus interesses, e isso passa por confrontar regras de intervenção nos mercados.

Como essa intervenção tem se dado?

Os europeus, por exemplo, têm desenvolvido regras frontalmente contrárias aos interesses brasileiros. Eles neutralizam as nossas vantagens, e isso é uma afronta, é injustificado. Então, de um lado o contexto é muito favorável porque o Brasil sai bem na foto com a sustentabilidade, mas de outro é prejudicado por políticas intervencionistas, discriminatórias e protecionistas. Acredito, porém, que as regras de mercado tendem a prevalecer, já que este tipo de intervenção não tem perspectiva de longo prazo, pois não há como bancar uma competitividade artificial.

'O Brasil tem uma condição quase única para contribuir com as agendas de segurança alimentar, energia verde e descarbonização do mundo', diz Jorge Arbache  Foto: Wilton Junior/Estadão

A mudança de governo parece ter feito o Brasil recuperar parte da credibilidade internacional no cenário climático e ambiental. Como isso tem impactado a economia, especialmente a indústria?

O governo tem trabalhado em algumas linhas que fazem sentido. O plano de transição ecológica é algo que explora nossas fortalezas e vantagens naturais e competitivas. O programa Nova Indústria Brasil também. Os ministérios da Agricultura e de Minas e Energia têm trabalhado em agendas muito interessantes em defesa da competitividade dos setores. Por outro lado, o contexto de hoje é muito mais complexo do que era há dois anos. Não se consegue hoje trabalhar em uma agenda de comércio e investimentos sem levar em conta variáveis geopolíticas de grande porte. E está mais difícil posicionar o Brasil. Por isso, o que precisa ser feito é perseguir princípios.

Quais são esses princípios?

Um deles são as regras de mercado, para que países mais competitivos sejam reconhecidos. O Brasil tem uma condição quase única para contribuir com as agendas de segurança alimentar, energia verde e descarbonização do mundo. Podemos produzir muito com custo baixo e prazo muito curto, porque a energia já existe. Mas isso precisa ser políticas de Estado, não de governo. Por sorte nossa, esses princípios têm encontrado eco nas nossas condições, que podem ser fundamentais para não só desenvolver a indústria, mas para proteger a natureza e colocar o Brasil nas cadeias globais de valor pela porta da frente, já que tem algo a oferecer que outros países não têm. O governo federal tem perseguido alguns desses temas. Talvez pudesse ser mais incisivo aqui e ali, em coordenação com outras regiões, mas ainda assim acho que, em alguma medida, tem identificado pontos bastante válidos.

A estimativa nossa é de que a China leve 35 anos para converter a matriz elétrica ao nível da matriz brasileira, que é 93% renovável

A valorização do potencial da indústria verde é uma preocupação genuína com o futuro do planeta ou corre risco de ficar mais no discurso e menos na ação?

O que está na mesa, infelizmente, não é a questão do meio ambiente e do aquecimento global. A grande disputa é sobre os supostos US$ 100 trilhões de novos negócios até 2050 associados à agenda do clima, em transição energética, transportes, infraestrutura ou mudança do padrão de consumo, entre outros. Isso vai exigir uma série de mudanças naquilo que a gente produz e consome. E a pergunta é: quem vai produzir e quem vai vender? A China é forte candidata a levar uma boa fatia porque saiu na frente em setores-chave da mudança climática. Mas o Brasil tem um potencial muito grande de ter algum quinhão que jamais teria, porque conta com uma matriz que já é verde. Enquanto isso, Europa, EUA e a própria China ainda têm de juntar dinheiro para fazer investimentos. E isso requer não só muito dinheiro, mas tempo, também. A estimativa nossa é de que a China leve 35 anos para converter a matriz elétrica ao nível da matriz brasileira, que é 93% renovável. Europa e EUA têm um número parecido. Isso nos dá uma vantagem muito grande. E o que eles fazem, então? Criam barreiras, protecionismo e discriminação que buscam neutralizar as vantagens do Brasil. Dizem que energia hidrelétrica não vale, apenas a solar, a eólica e, agora, a nuclear. É tudo para desmontar a nossa vantagem. São formas profundas e inaceitáveis de protecionismo que vão contra regras de mercado e têm grande repercussão. Vai ser uma briga grande, mas o Brasil não tem outra opção.

Até que ponto essa estratégia de neutralização do Brasil pode ser efetiva, considerando seu papel-chave no mercado internacional em setores tão importantes?

Poucos países têm condições de fazer ofertas dos bens necessários para este período de transição econômica. Um exemplo são os biocombustíveis. Brasil e EUA são os dois maiores produtores. A diferença é que os EUA consomem todo o biocombustível internamente e ainda falta. Já o Brasil produz em quantidade que excede o que precisa. Então, você não tem outra opção para produzir SAF (combustível sustentável de aviação), por exemplo, e o Brasil tem um gigantesco potencial. O mesmo vale para e-metanol, combustível verde de navegação e etanol de segunda geração. Não tem alternativa em nível global que possa produzir na quantidade necessária. A gente tem a energia necessária para produzir hidrogênio verde e, então, o aço verde. Que outro país tem uma condição vantajosa como a nossa, combinando disponibilidade de minério de ferro de alta pureza? Se você pensa em biodiversidade e em produtos intensivos em água, qual país tem de longe as maiores reservas de água doce? O Brasil. Então, é difícil ignorar o Brasil no mercado internacional. Por isso vejo uma falta de visão estratégica nessa busca por neutralizar o nosso país, pois, do ponto de vista estrutural, essa tese não se sustenta. Há outras opções, claro, mas a custos muito altos e com produção futura, não hoje.

Se a indústria verde é um trunfo internacional para o Brasil, como driblar o negacionismo interno de setores da indústria e valorizar a sustentabilidade?

Existe essa tensão no Brasil, mas o que a gente vê mais são visões divergentes dentro dos setores. Isso acontece no agro, na siderurgia, na celulose. Você tem gente que está olhando para o passado, quer preservar o status quo, não tem interesse em fazer novos investimentos nem usar novas tecnologias. Parte do agro, por exemplo, acha que o mundo não tem outra opção. Mas no próprio agro tem uma visão crescente de que, sim, a gente tem muito a ganhar incorporando tecnologias e princípios sustentáveis. E, na verdade, isso não só faz sentido do ponto de vista ecológico e ambiental, mas em termos econômicos e financeiros. Hoje, esse diferencial já é percebido no acesso a mercados e, muito em breve, vai impactar em preços diferenciados. O que vai prevalecer é o Brasil fazer valer sua condição única de se vender ao mundo como uma economia sustentável, que faz dinheiro em cima da sustentabilidade e traz benefícios como ajudar na segurança alimentar e a descarbonizar a indústria do mundo. Sou otimista não por ser esperançoso, mas porque vejo que, do ponto de vista econômico e de negócios, isso também faz sentido e, cedo ou tarde, vai prevalecer. As vantagens comparativas e competitivas jogam a nosso favor.

Priorizar as vantagens competitivas naturais e o potencial de liderar uma nova indústria verde no mercado internacional são caminhos — e desafios — para o Brasil em meio a um cenário cada vez mais protecionista e fragmentado em nível global. A avaliação é de Jorge Arbache, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB).

Para ele, a disputa por espaço e milhões de dólares no processo de transição econômica para uma matriz mais sustentável coloca o Brasil em colisão com potências como Estados Unidos, China e União Europeia. Mas, apesar de tentativas de neutralização dos oponentes, o protagonismo brasileiro não pode ser ignorado, diz ele, especialmente no setor industrial.

Arbache será um dos participantes do Fórum Estadão Think — Do Brasil para o mundo: Desafios para a nossa inserção global, uma realização do Estadão, com apoio institucional da Fiesp, do Ciesp, da Firjan e da CNI. O evento ocorre na próxima terça-feira, 12, no salão nobre da Fiesp. As inscrições podem ser feitas aqui.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

O dólar tem subido, há guerras na Europa e no Oriente Médio, e as mudanças climáticas são um desafio social e econômico. Como o sr. avalia o impacto desta instabilidade para a indústria brasileira e seus mercados externos?

Hoje há muita incerteza associada à geopolítica e às mudanças climáticas, o que não é bom para o Brasil. Por outro lado, é necessário dizer que, quando se pensa em mudança climática, o Brasil tem um grande potencial, pois conta com uma matriz energética verde e renovável, além de ter muita água, uma biodiversidade sem igual e ser um grande produtor de alimentos. Logo, o cenário de mudança climática, se por um lado traz nervosismo em nível global, abre oportunidades para o Brasil. Ao mesmo tempo, a fragmentação dos mercados globais está trazendo cada vez mais protecionismo e discriminação. Estamos claramente em um processo de desglobalização. E países como Brasil, que tem condições de ser um grande provedor de bens industriais verdes, se veem confrontados por este contexto geopolítico que desafia as regras e os prejudica. Um exemplo é a taxa de juro elevada em países desenvolvidos, que pressiona o câmbio. Além disso, a inflação e políticas de subsídios têm gerado pressão sobre as dívidas públicas. É uma situação pouco favorável ao Brasil, pois somos confrontados com intervenções profundas nos mercados — e isso é especificamente válido para a indústria. Logo, o Brasil tem de defender seus interesses, e isso passa por confrontar regras de intervenção nos mercados.

Como essa intervenção tem se dado?

Os europeus, por exemplo, têm desenvolvido regras frontalmente contrárias aos interesses brasileiros. Eles neutralizam as nossas vantagens, e isso é uma afronta, é injustificado. Então, de um lado o contexto é muito favorável porque o Brasil sai bem na foto com a sustentabilidade, mas de outro é prejudicado por políticas intervencionistas, discriminatórias e protecionistas. Acredito, porém, que as regras de mercado tendem a prevalecer, já que este tipo de intervenção não tem perspectiva de longo prazo, pois não há como bancar uma competitividade artificial.

'O Brasil tem uma condição quase única para contribuir com as agendas de segurança alimentar, energia verde e descarbonização do mundo', diz Jorge Arbache  Foto: Wilton Junior/Estadão

A mudança de governo parece ter feito o Brasil recuperar parte da credibilidade internacional no cenário climático e ambiental. Como isso tem impactado a economia, especialmente a indústria?

O governo tem trabalhado em algumas linhas que fazem sentido. O plano de transição ecológica é algo que explora nossas fortalezas e vantagens naturais e competitivas. O programa Nova Indústria Brasil também. Os ministérios da Agricultura e de Minas e Energia têm trabalhado em agendas muito interessantes em defesa da competitividade dos setores. Por outro lado, o contexto de hoje é muito mais complexo do que era há dois anos. Não se consegue hoje trabalhar em uma agenda de comércio e investimentos sem levar em conta variáveis geopolíticas de grande porte. E está mais difícil posicionar o Brasil. Por isso, o que precisa ser feito é perseguir princípios.

Quais são esses princípios?

Um deles são as regras de mercado, para que países mais competitivos sejam reconhecidos. O Brasil tem uma condição quase única para contribuir com as agendas de segurança alimentar, energia verde e descarbonização do mundo. Podemos produzir muito com custo baixo e prazo muito curto, porque a energia já existe. Mas isso precisa ser políticas de Estado, não de governo. Por sorte nossa, esses princípios têm encontrado eco nas nossas condições, que podem ser fundamentais para não só desenvolver a indústria, mas para proteger a natureza e colocar o Brasil nas cadeias globais de valor pela porta da frente, já que tem algo a oferecer que outros países não têm. O governo federal tem perseguido alguns desses temas. Talvez pudesse ser mais incisivo aqui e ali, em coordenação com outras regiões, mas ainda assim acho que, em alguma medida, tem identificado pontos bastante válidos.

A estimativa nossa é de que a China leve 35 anos para converter a matriz elétrica ao nível da matriz brasileira, que é 93% renovável

A valorização do potencial da indústria verde é uma preocupação genuína com o futuro do planeta ou corre risco de ficar mais no discurso e menos na ação?

O que está na mesa, infelizmente, não é a questão do meio ambiente e do aquecimento global. A grande disputa é sobre os supostos US$ 100 trilhões de novos negócios até 2050 associados à agenda do clima, em transição energética, transportes, infraestrutura ou mudança do padrão de consumo, entre outros. Isso vai exigir uma série de mudanças naquilo que a gente produz e consome. E a pergunta é: quem vai produzir e quem vai vender? A China é forte candidata a levar uma boa fatia porque saiu na frente em setores-chave da mudança climática. Mas o Brasil tem um potencial muito grande de ter algum quinhão que jamais teria, porque conta com uma matriz que já é verde. Enquanto isso, Europa, EUA e a própria China ainda têm de juntar dinheiro para fazer investimentos. E isso requer não só muito dinheiro, mas tempo, também. A estimativa nossa é de que a China leve 35 anos para converter a matriz elétrica ao nível da matriz brasileira, que é 93% renovável. Europa e EUA têm um número parecido. Isso nos dá uma vantagem muito grande. E o que eles fazem, então? Criam barreiras, protecionismo e discriminação que buscam neutralizar as vantagens do Brasil. Dizem que energia hidrelétrica não vale, apenas a solar, a eólica e, agora, a nuclear. É tudo para desmontar a nossa vantagem. São formas profundas e inaceitáveis de protecionismo que vão contra regras de mercado e têm grande repercussão. Vai ser uma briga grande, mas o Brasil não tem outra opção.

Até que ponto essa estratégia de neutralização do Brasil pode ser efetiva, considerando seu papel-chave no mercado internacional em setores tão importantes?

Poucos países têm condições de fazer ofertas dos bens necessários para este período de transição econômica. Um exemplo são os biocombustíveis. Brasil e EUA são os dois maiores produtores. A diferença é que os EUA consomem todo o biocombustível internamente e ainda falta. Já o Brasil produz em quantidade que excede o que precisa. Então, você não tem outra opção para produzir SAF (combustível sustentável de aviação), por exemplo, e o Brasil tem um gigantesco potencial. O mesmo vale para e-metanol, combustível verde de navegação e etanol de segunda geração. Não tem alternativa em nível global que possa produzir na quantidade necessária. A gente tem a energia necessária para produzir hidrogênio verde e, então, o aço verde. Que outro país tem uma condição vantajosa como a nossa, combinando disponibilidade de minério de ferro de alta pureza? Se você pensa em biodiversidade e em produtos intensivos em água, qual país tem de longe as maiores reservas de água doce? O Brasil. Então, é difícil ignorar o Brasil no mercado internacional. Por isso vejo uma falta de visão estratégica nessa busca por neutralizar o nosso país, pois, do ponto de vista estrutural, essa tese não se sustenta. Há outras opções, claro, mas a custos muito altos e com produção futura, não hoje.

Se a indústria verde é um trunfo internacional para o Brasil, como driblar o negacionismo interno de setores da indústria e valorizar a sustentabilidade?

Existe essa tensão no Brasil, mas o que a gente vê mais são visões divergentes dentro dos setores. Isso acontece no agro, na siderurgia, na celulose. Você tem gente que está olhando para o passado, quer preservar o status quo, não tem interesse em fazer novos investimentos nem usar novas tecnologias. Parte do agro, por exemplo, acha que o mundo não tem outra opção. Mas no próprio agro tem uma visão crescente de que, sim, a gente tem muito a ganhar incorporando tecnologias e princípios sustentáveis. E, na verdade, isso não só faz sentido do ponto de vista ecológico e ambiental, mas em termos econômicos e financeiros. Hoje, esse diferencial já é percebido no acesso a mercados e, muito em breve, vai impactar em preços diferenciados. O que vai prevalecer é o Brasil fazer valer sua condição única de se vender ao mundo como uma economia sustentável, que faz dinheiro em cima da sustentabilidade e traz benefícios como ajudar na segurança alimentar e a descarbonizar a indústria do mundo. Sou otimista não por ser esperançoso, mas porque vejo que, do ponto de vista econômico e de negócios, isso também faz sentido e, cedo ou tarde, vai prevalecer. As vantagens comparativas e competitivas jogam a nosso favor.

Priorizar as vantagens competitivas naturais e o potencial de liderar uma nova indústria verde no mercado internacional são caminhos — e desafios — para o Brasil em meio a um cenário cada vez mais protecionista e fragmentado em nível global. A avaliação é de Jorge Arbache, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB).

Para ele, a disputa por espaço e milhões de dólares no processo de transição econômica para uma matriz mais sustentável coloca o Brasil em colisão com potências como Estados Unidos, China e União Europeia. Mas, apesar de tentativas de neutralização dos oponentes, o protagonismo brasileiro não pode ser ignorado, diz ele, especialmente no setor industrial.

Arbache será um dos participantes do Fórum Estadão Think — Do Brasil para o mundo: Desafios para a nossa inserção global, uma realização do Estadão, com apoio institucional da Fiesp, do Ciesp, da Firjan e da CNI. O evento ocorre na próxima terça-feira, 12, no salão nobre da Fiesp. As inscrições podem ser feitas aqui.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

O dólar tem subido, há guerras na Europa e no Oriente Médio, e as mudanças climáticas são um desafio social e econômico. Como o sr. avalia o impacto desta instabilidade para a indústria brasileira e seus mercados externos?

Hoje há muita incerteza associada à geopolítica e às mudanças climáticas, o que não é bom para o Brasil. Por outro lado, é necessário dizer que, quando se pensa em mudança climática, o Brasil tem um grande potencial, pois conta com uma matriz energética verde e renovável, além de ter muita água, uma biodiversidade sem igual e ser um grande produtor de alimentos. Logo, o cenário de mudança climática, se por um lado traz nervosismo em nível global, abre oportunidades para o Brasil. Ao mesmo tempo, a fragmentação dos mercados globais está trazendo cada vez mais protecionismo e discriminação. Estamos claramente em um processo de desglobalização. E países como Brasil, que tem condições de ser um grande provedor de bens industriais verdes, se veem confrontados por este contexto geopolítico que desafia as regras e os prejudica. Um exemplo é a taxa de juro elevada em países desenvolvidos, que pressiona o câmbio. Além disso, a inflação e políticas de subsídios têm gerado pressão sobre as dívidas públicas. É uma situação pouco favorável ao Brasil, pois somos confrontados com intervenções profundas nos mercados — e isso é especificamente válido para a indústria. Logo, o Brasil tem de defender seus interesses, e isso passa por confrontar regras de intervenção nos mercados.

Como essa intervenção tem se dado?

Os europeus, por exemplo, têm desenvolvido regras frontalmente contrárias aos interesses brasileiros. Eles neutralizam as nossas vantagens, e isso é uma afronta, é injustificado. Então, de um lado o contexto é muito favorável porque o Brasil sai bem na foto com a sustentabilidade, mas de outro é prejudicado por políticas intervencionistas, discriminatórias e protecionistas. Acredito, porém, que as regras de mercado tendem a prevalecer, já que este tipo de intervenção não tem perspectiva de longo prazo, pois não há como bancar uma competitividade artificial.

'O Brasil tem uma condição quase única para contribuir com as agendas de segurança alimentar, energia verde e descarbonização do mundo', diz Jorge Arbache  Foto: Wilton Junior/Estadão

A mudança de governo parece ter feito o Brasil recuperar parte da credibilidade internacional no cenário climático e ambiental. Como isso tem impactado a economia, especialmente a indústria?

O governo tem trabalhado em algumas linhas que fazem sentido. O plano de transição ecológica é algo que explora nossas fortalezas e vantagens naturais e competitivas. O programa Nova Indústria Brasil também. Os ministérios da Agricultura e de Minas e Energia têm trabalhado em agendas muito interessantes em defesa da competitividade dos setores. Por outro lado, o contexto de hoje é muito mais complexo do que era há dois anos. Não se consegue hoje trabalhar em uma agenda de comércio e investimentos sem levar em conta variáveis geopolíticas de grande porte. E está mais difícil posicionar o Brasil. Por isso, o que precisa ser feito é perseguir princípios.

Quais são esses princípios?

Um deles são as regras de mercado, para que países mais competitivos sejam reconhecidos. O Brasil tem uma condição quase única para contribuir com as agendas de segurança alimentar, energia verde e descarbonização do mundo. Podemos produzir muito com custo baixo e prazo muito curto, porque a energia já existe. Mas isso precisa ser políticas de Estado, não de governo. Por sorte nossa, esses princípios têm encontrado eco nas nossas condições, que podem ser fundamentais para não só desenvolver a indústria, mas para proteger a natureza e colocar o Brasil nas cadeias globais de valor pela porta da frente, já que tem algo a oferecer que outros países não têm. O governo federal tem perseguido alguns desses temas. Talvez pudesse ser mais incisivo aqui e ali, em coordenação com outras regiões, mas ainda assim acho que, em alguma medida, tem identificado pontos bastante válidos.

A estimativa nossa é de que a China leve 35 anos para converter a matriz elétrica ao nível da matriz brasileira, que é 93% renovável

A valorização do potencial da indústria verde é uma preocupação genuína com o futuro do planeta ou corre risco de ficar mais no discurso e menos na ação?

O que está na mesa, infelizmente, não é a questão do meio ambiente e do aquecimento global. A grande disputa é sobre os supostos US$ 100 trilhões de novos negócios até 2050 associados à agenda do clima, em transição energética, transportes, infraestrutura ou mudança do padrão de consumo, entre outros. Isso vai exigir uma série de mudanças naquilo que a gente produz e consome. E a pergunta é: quem vai produzir e quem vai vender? A China é forte candidata a levar uma boa fatia porque saiu na frente em setores-chave da mudança climática. Mas o Brasil tem um potencial muito grande de ter algum quinhão que jamais teria, porque conta com uma matriz que já é verde. Enquanto isso, Europa, EUA e a própria China ainda têm de juntar dinheiro para fazer investimentos. E isso requer não só muito dinheiro, mas tempo, também. A estimativa nossa é de que a China leve 35 anos para converter a matriz elétrica ao nível da matriz brasileira, que é 93% renovável. Europa e EUA têm um número parecido. Isso nos dá uma vantagem muito grande. E o que eles fazem, então? Criam barreiras, protecionismo e discriminação que buscam neutralizar as vantagens do Brasil. Dizem que energia hidrelétrica não vale, apenas a solar, a eólica e, agora, a nuclear. É tudo para desmontar a nossa vantagem. São formas profundas e inaceitáveis de protecionismo que vão contra regras de mercado e têm grande repercussão. Vai ser uma briga grande, mas o Brasil não tem outra opção.

Até que ponto essa estratégia de neutralização do Brasil pode ser efetiva, considerando seu papel-chave no mercado internacional em setores tão importantes?

Poucos países têm condições de fazer ofertas dos bens necessários para este período de transição econômica. Um exemplo são os biocombustíveis. Brasil e EUA são os dois maiores produtores. A diferença é que os EUA consomem todo o biocombustível internamente e ainda falta. Já o Brasil produz em quantidade que excede o que precisa. Então, você não tem outra opção para produzir SAF (combustível sustentável de aviação), por exemplo, e o Brasil tem um gigantesco potencial. O mesmo vale para e-metanol, combustível verde de navegação e etanol de segunda geração. Não tem alternativa em nível global que possa produzir na quantidade necessária. A gente tem a energia necessária para produzir hidrogênio verde e, então, o aço verde. Que outro país tem uma condição vantajosa como a nossa, combinando disponibilidade de minério de ferro de alta pureza? Se você pensa em biodiversidade e em produtos intensivos em água, qual país tem de longe as maiores reservas de água doce? O Brasil. Então, é difícil ignorar o Brasil no mercado internacional. Por isso vejo uma falta de visão estratégica nessa busca por neutralizar o nosso país, pois, do ponto de vista estrutural, essa tese não se sustenta. Há outras opções, claro, mas a custos muito altos e com produção futura, não hoje.

Se a indústria verde é um trunfo internacional para o Brasil, como driblar o negacionismo interno de setores da indústria e valorizar a sustentabilidade?

Existe essa tensão no Brasil, mas o que a gente vê mais são visões divergentes dentro dos setores. Isso acontece no agro, na siderurgia, na celulose. Você tem gente que está olhando para o passado, quer preservar o status quo, não tem interesse em fazer novos investimentos nem usar novas tecnologias. Parte do agro, por exemplo, acha que o mundo não tem outra opção. Mas no próprio agro tem uma visão crescente de que, sim, a gente tem muito a ganhar incorporando tecnologias e princípios sustentáveis. E, na verdade, isso não só faz sentido do ponto de vista ecológico e ambiental, mas em termos econômicos e financeiros. Hoje, esse diferencial já é percebido no acesso a mercados e, muito em breve, vai impactar em preços diferenciados. O que vai prevalecer é o Brasil fazer valer sua condição única de se vender ao mundo como uma economia sustentável, que faz dinheiro em cima da sustentabilidade e traz benefícios como ajudar na segurança alimentar e a descarbonizar a indústria do mundo. Sou otimista não por ser esperançoso, mas porque vejo que, do ponto de vista econômico e de negócios, isso também faz sentido e, cedo ou tarde, vai prevalecer. As vantagens comparativas e competitivas jogam a nosso favor.

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