Inflação alta, PIB em baixa e incerteza global: a encruzilhada do BC para definir a taxa de juros


Copom se reúne nesta semana para decidir o rumo da Selic e indicar os próximos passos da política monetária; expectativa é pela manutenção em 13,75% ao ano

Por Luiz Guilherme Gerbelli

O Comitê de Política Monetária (Copom) vai se ver no meio de uma encruzilhada nesta semana ao ter de decidir o rumo da taxa básica de juros e indicar quais serão os próximos passos da Selic. A conjuntura é difícil porque a atividade econômica desacelera, mas a inflação é resiliente, e o cenário global se tornou mais incerto.

O rumo da política monetária se transformou em um embate público da ala política do governo, encabeçada pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), contra as decisões de Roberto Campos Neto na condução do Banco Central. No início de fevereiro, o petista chegou a afirmar que não via uma “explicação” para o patamar atual da Selic, em 13,75% ao ano.

A grande alegação do governo e da equipe econômica é de que os juros elevados estão provocando uma desaceleração da economia. Em 2023, bancos e consultorias projetam que o Produto Interno Bruto (PIB) avance próximo a 1%, abaixo do crescimento de 2,9% registrado no ano passado. E pior: não existe um cenário promissor para os próximos anos. O País também já vê um cenário mais difícil da expansão do crédito para famílias e empresas, sobretudo, depois do episódio envolvendo a Lojas Americanas, e uma perda de fôlego no mercado de trabalho.

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No radar do BC, no entanto, há uma inflação resiliente - próxima de 6% -, e expectativas fora de controle, se afastando semana a semana das metas estabelecidas. Existem ainda dúvidas com relação ao novo arcabouço fiscal, que será apresentado publicamente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para substituir o teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior. Nesse cardápio, também surgiram sinais de fragilidade da economia mundial com os últimos solavancos no sistema financeiro global.

“É uma situação difícil. Estamos num momento de transição. A inflação está desacelerando, mas ela é resistente”, afirma Alessandra Ribeiro, sócia e economista da consultoria Tendências.

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As críticas e pressões em relação ao atual patamar da taxa básica de juros não ficam restritas apenas ao presidente Lula. Entidades do setor produtivo também passaram a defender a queda da Selic. Entidades do setor produtivo também passaram a defender uma queda da Selic. “O juro alto é uma doença no Brasil e parece que ela não tem cura”, diz José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Hoje, o Brasil lida amplamente com os efeitos de uma política monetária contracionista, que leva até nove meses para se materializar na economia. Entre março de 2021 e junho do ano passado, a Selic subiu de 2% para 13,75%.

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Nesse período, o setor de máquinas e equipamentos – considerado um importante termômetro do desempenho do investimento no País – sentiu os efeitos dessa elevação. Em 2021, o faturamento cresceu 28%. No ano passado, recuou 6%. “A política monetária atingiu direto no nosso setor”, afirma Velloso.

Um levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que 23,8% dos empresários apontavam os juros elevados como um dos principais problemas enfrentados pelo setor no ano passado. Em 2021, essa queixa foi de 14,2% dos entrevistados.

“O aumento dos juros encarece os investimentos, e as empresas tendem a segurá-los”, afirma Mário Sérgio Telles, gerente executivo de economia da CNI. “E, além disso, do outro lado, há uma demanda menor para realizar esses investimentos.”

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Surto inflacionário

A escalada dos juros no País teve como pano de fundo o surto inflacionário global provocado pelos reflexos econômicos da pandemia de covid-19. No Brasil, a situação se agravou com os desarranjos patrocinados pelo Congresso e pelos governos Jair Bolsonaro e Lula nas contas públicas. Nos últimos anos, uma série de alterações nas Constituições driblaram o teto e abriram espaço para que o governo pudesse gastar mais.

O problema é que o Brasil tem um elevado endividamento para uma economia emergente. Sem uma clareza sobre o rumo das contas públicas, há uma piora da percepção de risco dos investidores em relação ao País, o que acaba desvalorizando o real em relação ao dólar e piorando o cenário para a inflação. Na prática, o trabalho do BC fica mais difícil.

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“Quando o surto inflacionário aparece, como o que a pandemia trouxe, é fundamental que os dois lados, o fiscal e o monetário, operem de mãos dadas”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Os próximos passos

Entre os analistas, há um consenso de que o Copom não deve mexer na taxa de juros na semana que vem, mas pode sinalizar alguns movimentos para preparar um corte nas próximas reuniões. No relatório Focus, os economistas consultados pelo BC projetam que a Selic deve encerrar este ano em 12,75%.

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“Há muitos sinais direcionando para um corte de juros, que não é iminente. Há uma contração de crédito, há sinais no mercado de trabalho. Tem uma série de indícios de que o aperto feito no ano passado está fazendo efeito”, afirma Marcelo Ferman, CEO da gestora Parcitas. “O que deixa o cenário mais complexo são as jabuticabas brasileiras.”

No cenário local, há duas grandes incertezas. A primeira diz respeito à capacidade de o novo arcabouço oferecer estabilidade à trajetória das contas pública ao longo dos anos. Publicamente, além das críticas a Campos Neto, o presidente Lula criou uma oposição - ao menos em seu discurso - entre o controle das contas públicas e responsabilidade social. A segunda surgiu com a recente discussão sobre uma mudança meta da inflação, o que colocaria ainda mais incerteza sobre a condução da política econômica.

Campos Neto foi criticado publicamente pelo presidente Lula Foto: REUTERS/Adriano Machado

“Houve um crescimento da incerteza por conta das falas do Lula”, afirma Luiz Fernando Figueiredo, presidente do conselho de administração da Jive Investments e ex-diretor do BC. Hoje, ele diz que essa incerteza até está menor, ajudada pela retorno da cobrança de tributos sobre os combustíveis, que deve render quase R$ 30 bilhões aos cofres públicos – a volta dos impostos foi considerada uma vitória do ministro da Fazenda na busca por equilibrar as contas públicas. A leitura de Figueiredo é a de que o Copom pode começar a reduzir a Selic no fim do primeiro semestre.

Nos últimos dias, o cenário internacional contribuiu com mais um leva de incertezas. A quebra dos bancos norte-americanos Silicon Valley Bank e Signature Bank e o socorro ao Credit Suisse podem piorar o desempenho da atividade global no futuro, alterando o rumo do aperto monetário mundial. “Podem ser ventos muitos recessivos”, afirma Ferman. “Mas tudo está muito no início.”

Nesta semana, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) também se reúnese reúne. A expectativa de uma alta das taxas de juros norte-americanas de 0,50 ponto porcentual deu lugar para a possibilidade de um aumento de 0,25 ponto porcentual – aposta majoritária – ou de manutenção nos atuais 4,75% ao ano.

O Comitê de Política Monetária (Copom) vai se ver no meio de uma encruzilhada nesta semana ao ter de decidir o rumo da taxa básica de juros e indicar quais serão os próximos passos da Selic. A conjuntura é difícil porque a atividade econômica desacelera, mas a inflação é resiliente, e o cenário global se tornou mais incerto.

O rumo da política monetária se transformou em um embate público da ala política do governo, encabeçada pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), contra as decisões de Roberto Campos Neto na condução do Banco Central. No início de fevereiro, o petista chegou a afirmar que não via uma “explicação” para o patamar atual da Selic, em 13,75% ao ano.

A grande alegação do governo e da equipe econômica é de que os juros elevados estão provocando uma desaceleração da economia. Em 2023, bancos e consultorias projetam que o Produto Interno Bruto (PIB) avance próximo a 1%, abaixo do crescimento de 2,9% registrado no ano passado. E pior: não existe um cenário promissor para os próximos anos. O País também já vê um cenário mais difícil da expansão do crédito para famílias e empresas, sobretudo, depois do episódio envolvendo a Lojas Americanas, e uma perda de fôlego no mercado de trabalho.

No radar do BC, no entanto, há uma inflação resiliente - próxima de 6% -, e expectativas fora de controle, se afastando semana a semana das metas estabelecidas. Existem ainda dúvidas com relação ao novo arcabouço fiscal, que será apresentado publicamente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para substituir o teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior. Nesse cardápio, também surgiram sinais de fragilidade da economia mundial com os últimos solavancos no sistema financeiro global.

“É uma situação difícil. Estamos num momento de transição. A inflação está desacelerando, mas ela é resistente”, afirma Alessandra Ribeiro, sócia e economista da consultoria Tendências.

As críticas e pressões em relação ao atual patamar da taxa básica de juros não ficam restritas apenas ao presidente Lula. Entidades do setor produtivo também passaram a defender a queda da Selic. Entidades do setor produtivo também passaram a defender uma queda da Selic. “O juro alto é uma doença no Brasil e parece que ela não tem cura”, diz José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Hoje, o Brasil lida amplamente com os efeitos de uma política monetária contracionista, que leva até nove meses para se materializar na economia. Entre março de 2021 e junho do ano passado, a Selic subiu de 2% para 13,75%.

Nesse período, o setor de máquinas e equipamentos – considerado um importante termômetro do desempenho do investimento no País – sentiu os efeitos dessa elevação. Em 2021, o faturamento cresceu 28%. No ano passado, recuou 6%. “A política monetária atingiu direto no nosso setor”, afirma Velloso.

Um levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que 23,8% dos empresários apontavam os juros elevados como um dos principais problemas enfrentados pelo setor no ano passado. Em 2021, essa queixa foi de 14,2% dos entrevistados.

“O aumento dos juros encarece os investimentos, e as empresas tendem a segurá-los”, afirma Mário Sérgio Telles, gerente executivo de economia da CNI. “E, além disso, do outro lado, há uma demanda menor para realizar esses investimentos.”

Surto inflacionário

A escalada dos juros no País teve como pano de fundo o surto inflacionário global provocado pelos reflexos econômicos da pandemia de covid-19. No Brasil, a situação se agravou com os desarranjos patrocinados pelo Congresso e pelos governos Jair Bolsonaro e Lula nas contas públicas. Nos últimos anos, uma série de alterações nas Constituições driblaram o teto e abriram espaço para que o governo pudesse gastar mais.

O problema é que o Brasil tem um elevado endividamento para uma economia emergente. Sem uma clareza sobre o rumo das contas públicas, há uma piora da percepção de risco dos investidores em relação ao País, o que acaba desvalorizando o real em relação ao dólar e piorando o cenário para a inflação. Na prática, o trabalho do BC fica mais difícil.

“Quando o surto inflacionário aparece, como o que a pandemia trouxe, é fundamental que os dois lados, o fiscal e o monetário, operem de mãos dadas”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Os próximos passos

Entre os analistas, há um consenso de que o Copom não deve mexer na taxa de juros na semana que vem, mas pode sinalizar alguns movimentos para preparar um corte nas próximas reuniões. No relatório Focus, os economistas consultados pelo BC projetam que a Selic deve encerrar este ano em 12,75%.

“Há muitos sinais direcionando para um corte de juros, que não é iminente. Há uma contração de crédito, há sinais no mercado de trabalho. Tem uma série de indícios de que o aperto feito no ano passado está fazendo efeito”, afirma Marcelo Ferman, CEO da gestora Parcitas. “O que deixa o cenário mais complexo são as jabuticabas brasileiras.”

No cenário local, há duas grandes incertezas. A primeira diz respeito à capacidade de o novo arcabouço oferecer estabilidade à trajetória das contas pública ao longo dos anos. Publicamente, além das críticas a Campos Neto, o presidente Lula criou uma oposição - ao menos em seu discurso - entre o controle das contas públicas e responsabilidade social. A segunda surgiu com a recente discussão sobre uma mudança meta da inflação, o que colocaria ainda mais incerteza sobre a condução da política econômica.

Campos Neto foi criticado publicamente pelo presidente Lula Foto: REUTERS/Adriano Machado

“Houve um crescimento da incerteza por conta das falas do Lula”, afirma Luiz Fernando Figueiredo, presidente do conselho de administração da Jive Investments e ex-diretor do BC. Hoje, ele diz que essa incerteza até está menor, ajudada pela retorno da cobrança de tributos sobre os combustíveis, que deve render quase R$ 30 bilhões aos cofres públicos – a volta dos impostos foi considerada uma vitória do ministro da Fazenda na busca por equilibrar as contas públicas. A leitura de Figueiredo é a de que o Copom pode começar a reduzir a Selic no fim do primeiro semestre.

Nos últimos dias, o cenário internacional contribuiu com mais um leva de incertezas. A quebra dos bancos norte-americanos Silicon Valley Bank e Signature Bank e o socorro ao Credit Suisse podem piorar o desempenho da atividade global no futuro, alterando o rumo do aperto monetário mundial. “Podem ser ventos muitos recessivos”, afirma Ferman. “Mas tudo está muito no início.”

Nesta semana, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) também se reúnese reúne. A expectativa de uma alta das taxas de juros norte-americanas de 0,50 ponto porcentual deu lugar para a possibilidade de um aumento de 0,25 ponto porcentual – aposta majoritária – ou de manutenção nos atuais 4,75% ao ano.

O Comitê de Política Monetária (Copom) vai se ver no meio de uma encruzilhada nesta semana ao ter de decidir o rumo da taxa básica de juros e indicar quais serão os próximos passos da Selic. A conjuntura é difícil porque a atividade econômica desacelera, mas a inflação é resiliente, e o cenário global se tornou mais incerto.

O rumo da política monetária se transformou em um embate público da ala política do governo, encabeçada pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), contra as decisões de Roberto Campos Neto na condução do Banco Central. No início de fevereiro, o petista chegou a afirmar que não via uma “explicação” para o patamar atual da Selic, em 13,75% ao ano.

A grande alegação do governo e da equipe econômica é de que os juros elevados estão provocando uma desaceleração da economia. Em 2023, bancos e consultorias projetam que o Produto Interno Bruto (PIB) avance próximo a 1%, abaixo do crescimento de 2,9% registrado no ano passado. E pior: não existe um cenário promissor para os próximos anos. O País também já vê um cenário mais difícil da expansão do crédito para famílias e empresas, sobretudo, depois do episódio envolvendo a Lojas Americanas, e uma perda de fôlego no mercado de trabalho.

No radar do BC, no entanto, há uma inflação resiliente - próxima de 6% -, e expectativas fora de controle, se afastando semana a semana das metas estabelecidas. Existem ainda dúvidas com relação ao novo arcabouço fiscal, que será apresentado publicamente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para substituir o teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior. Nesse cardápio, também surgiram sinais de fragilidade da economia mundial com os últimos solavancos no sistema financeiro global.

“É uma situação difícil. Estamos num momento de transição. A inflação está desacelerando, mas ela é resistente”, afirma Alessandra Ribeiro, sócia e economista da consultoria Tendências.

As críticas e pressões em relação ao atual patamar da taxa básica de juros não ficam restritas apenas ao presidente Lula. Entidades do setor produtivo também passaram a defender a queda da Selic. Entidades do setor produtivo também passaram a defender uma queda da Selic. “O juro alto é uma doença no Brasil e parece que ela não tem cura”, diz José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Hoje, o Brasil lida amplamente com os efeitos de uma política monetária contracionista, que leva até nove meses para se materializar na economia. Entre março de 2021 e junho do ano passado, a Selic subiu de 2% para 13,75%.

Nesse período, o setor de máquinas e equipamentos – considerado um importante termômetro do desempenho do investimento no País – sentiu os efeitos dessa elevação. Em 2021, o faturamento cresceu 28%. No ano passado, recuou 6%. “A política monetária atingiu direto no nosso setor”, afirma Velloso.

Um levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que 23,8% dos empresários apontavam os juros elevados como um dos principais problemas enfrentados pelo setor no ano passado. Em 2021, essa queixa foi de 14,2% dos entrevistados.

“O aumento dos juros encarece os investimentos, e as empresas tendem a segurá-los”, afirma Mário Sérgio Telles, gerente executivo de economia da CNI. “E, além disso, do outro lado, há uma demanda menor para realizar esses investimentos.”

Surto inflacionário

A escalada dos juros no País teve como pano de fundo o surto inflacionário global provocado pelos reflexos econômicos da pandemia de covid-19. No Brasil, a situação se agravou com os desarranjos patrocinados pelo Congresso e pelos governos Jair Bolsonaro e Lula nas contas públicas. Nos últimos anos, uma série de alterações nas Constituições driblaram o teto e abriram espaço para que o governo pudesse gastar mais.

O problema é que o Brasil tem um elevado endividamento para uma economia emergente. Sem uma clareza sobre o rumo das contas públicas, há uma piora da percepção de risco dos investidores em relação ao País, o que acaba desvalorizando o real em relação ao dólar e piorando o cenário para a inflação. Na prática, o trabalho do BC fica mais difícil.

“Quando o surto inflacionário aparece, como o que a pandemia trouxe, é fundamental que os dois lados, o fiscal e o monetário, operem de mãos dadas”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Os próximos passos

Entre os analistas, há um consenso de que o Copom não deve mexer na taxa de juros na semana que vem, mas pode sinalizar alguns movimentos para preparar um corte nas próximas reuniões. No relatório Focus, os economistas consultados pelo BC projetam que a Selic deve encerrar este ano em 12,75%.

“Há muitos sinais direcionando para um corte de juros, que não é iminente. Há uma contração de crédito, há sinais no mercado de trabalho. Tem uma série de indícios de que o aperto feito no ano passado está fazendo efeito”, afirma Marcelo Ferman, CEO da gestora Parcitas. “O que deixa o cenário mais complexo são as jabuticabas brasileiras.”

No cenário local, há duas grandes incertezas. A primeira diz respeito à capacidade de o novo arcabouço oferecer estabilidade à trajetória das contas pública ao longo dos anos. Publicamente, além das críticas a Campos Neto, o presidente Lula criou uma oposição - ao menos em seu discurso - entre o controle das contas públicas e responsabilidade social. A segunda surgiu com a recente discussão sobre uma mudança meta da inflação, o que colocaria ainda mais incerteza sobre a condução da política econômica.

Campos Neto foi criticado publicamente pelo presidente Lula Foto: REUTERS/Adriano Machado

“Houve um crescimento da incerteza por conta das falas do Lula”, afirma Luiz Fernando Figueiredo, presidente do conselho de administração da Jive Investments e ex-diretor do BC. Hoje, ele diz que essa incerteza até está menor, ajudada pela retorno da cobrança de tributos sobre os combustíveis, que deve render quase R$ 30 bilhões aos cofres públicos – a volta dos impostos foi considerada uma vitória do ministro da Fazenda na busca por equilibrar as contas públicas. A leitura de Figueiredo é a de que o Copom pode começar a reduzir a Selic no fim do primeiro semestre.

Nos últimos dias, o cenário internacional contribuiu com mais um leva de incertezas. A quebra dos bancos norte-americanos Silicon Valley Bank e Signature Bank e o socorro ao Credit Suisse podem piorar o desempenho da atividade global no futuro, alterando o rumo do aperto monetário mundial. “Podem ser ventos muitos recessivos”, afirma Ferman. “Mas tudo está muito no início.”

Nesta semana, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) também se reúnese reúne. A expectativa de uma alta das taxas de juros norte-americanas de 0,50 ponto porcentual deu lugar para a possibilidade de um aumento de 0,25 ponto porcentual – aposta majoritária – ou de manutenção nos atuais 4,75% ao ano.

O Comitê de Política Monetária (Copom) vai se ver no meio de uma encruzilhada nesta semana ao ter de decidir o rumo da taxa básica de juros e indicar quais serão os próximos passos da Selic. A conjuntura é difícil porque a atividade econômica desacelera, mas a inflação é resiliente, e o cenário global se tornou mais incerto.

O rumo da política monetária se transformou em um embate público da ala política do governo, encabeçada pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), contra as decisões de Roberto Campos Neto na condução do Banco Central. No início de fevereiro, o petista chegou a afirmar que não via uma “explicação” para o patamar atual da Selic, em 13,75% ao ano.

A grande alegação do governo e da equipe econômica é de que os juros elevados estão provocando uma desaceleração da economia. Em 2023, bancos e consultorias projetam que o Produto Interno Bruto (PIB) avance próximo a 1%, abaixo do crescimento de 2,9% registrado no ano passado. E pior: não existe um cenário promissor para os próximos anos. O País também já vê um cenário mais difícil da expansão do crédito para famílias e empresas, sobretudo, depois do episódio envolvendo a Lojas Americanas, e uma perda de fôlego no mercado de trabalho.

No radar do BC, no entanto, há uma inflação resiliente - próxima de 6% -, e expectativas fora de controle, se afastando semana a semana das metas estabelecidas. Existem ainda dúvidas com relação ao novo arcabouço fiscal, que será apresentado publicamente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para substituir o teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior. Nesse cardápio, também surgiram sinais de fragilidade da economia mundial com os últimos solavancos no sistema financeiro global.

“É uma situação difícil. Estamos num momento de transição. A inflação está desacelerando, mas ela é resistente”, afirma Alessandra Ribeiro, sócia e economista da consultoria Tendências.

As críticas e pressões em relação ao atual patamar da taxa básica de juros não ficam restritas apenas ao presidente Lula. Entidades do setor produtivo também passaram a defender a queda da Selic. Entidades do setor produtivo também passaram a defender uma queda da Selic. “O juro alto é uma doença no Brasil e parece que ela não tem cura”, diz José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Hoje, o Brasil lida amplamente com os efeitos de uma política monetária contracionista, que leva até nove meses para se materializar na economia. Entre março de 2021 e junho do ano passado, a Selic subiu de 2% para 13,75%.

Nesse período, o setor de máquinas e equipamentos – considerado um importante termômetro do desempenho do investimento no País – sentiu os efeitos dessa elevação. Em 2021, o faturamento cresceu 28%. No ano passado, recuou 6%. “A política monetária atingiu direto no nosso setor”, afirma Velloso.

Um levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que 23,8% dos empresários apontavam os juros elevados como um dos principais problemas enfrentados pelo setor no ano passado. Em 2021, essa queixa foi de 14,2% dos entrevistados.

“O aumento dos juros encarece os investimentos, e as empresas tendem a segurá-los”, afirma Mário Sérgio Telles, gerente executivo de economia da CNI. “E, além disso, do outro lado, há uma demanda menor para realizar esses investimentos.”

Surto inflacionário

A escalada dos juros no País teve como pano de fundo o surto inflacionário global provocado pelos reflexos econômicos da pandemia de covid-19. No Brasil, a situação se agravou com os desarranjos patrocinados pelo Congresso e pelos governos Jair Bolsonaro e Lula nas contas públicas. Nos últimos anos, uma série de alterações nas Constituições driblaram o teto e abriram espaço para que o governo pudesse gastar mais.

O problema é que o Brasil tem um elevado endividamento para uma economia emergente. Sem uma clareza sobre o rumo das contas públicas, há uma piora da percepção de risco dos investidores em relação ao País, o que acaba desvalorizando o real em relação ao dólar e piorando o cenário para a inflação. Na prática, o trabalho do BC fica mais difícil.

“Quando o surto inflacionário aparece, como o que a pandemia trouxe, é fundamental que os dois lados, o fiscal e o monetário, operem de mãos dadas”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Os próximos passos

Entre os analistas, há um consenso de que o Copom não deve mexer na taxa de juros na semana que vem, mas pode sinalizar alguns movimentos para preparar um corte nas próximas reuniões. No relatório Focus, os economistas consultados pelo BC projetam que a Selic deve encerrar este ano em 12,75%.

“Há muitos sinais direcionando para um corte de juros, que não é iminente. Há uma contração de crédito, há sinais no mercado de trabalho. Tem uma série de indícios de que o aperto feito no ano passado está fazendo efeito”, afirma Marcelo Ferman, CEO da gestora Parcitas. “O que deixa o cenário mais complexo são as jabuticabas brasileiras.”

No cenário local, há duas grandes incertezas. A primeira diz respeito à capacidade de o novo arcabouço oferecer estabilidade à trajetória das contas pública ao longo dos anos. Publicamente, além das críticas a Campos Neto, o presidente Lula criou uma oposição - ao menos em seu discurso - entre o controle das contas públicas e responsabilidade social. A segunda surgiu com a recente discussão sobre uma mudança meta da inflação, o que colocaria ainda mais incerteza sobre a condução da política econômica.

Campos Neto foi criticado publicamente pelo presidente Lula Foto: REUTERS/Adriano Machado

“Houve um crescimento da incerteza por conta das falas do Lula”, afirma Luiz Fernando Figueiredo, presidente do conselho de administração da Jive Investments e ex-diretor do BC. Hoje, ele diz que essa incerteza até está menor, ajudada pela retorno da cobrança de tributos sobre os combustíveis, que deve render quase R$ 30 bilhões aos cofres públicos – a volta dos impostos foi considerada uma vitória do ministro da Fazenda na busca por equilibrar as contas públicas. A leitura de Figueiredo é a de que o Copom pode começar a reduzir a Selic no fim do primeiro semestre.

Nos últimos dias, o cenário internacional contribuiu com mais um leva de incertezas. A quebra dos bancos norte-americanos Silicon Valley Bank e Signature Bank e o socorro ao Credit Suisse podem piorar o desempenho da atividade global no futuro, alterando o rumo do aperto monetário mundial. “Podem ser ventos muitos recessivos”, afirma Ferman. “Mas tudo está muito no início.”

Nesta semana, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) também se reúnese reúne. A expectativa de uma alta das taxas de juros norte-americanas de 0,50 ponto porcentual deu lugar para a possibilidade de um aumento de 0,25 ponto porcentual – aposta majoritária – ou de manutenção nos atuais 4,75% ao ano.

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