A inflação dos principais países da América Latina está próxima do pico e deve iniciar um lento processo de desaceleração a partir do último trimestre de 2022, mas só vai convergir às metas perseguidas pelos bancos centrais da região em 2024. A avaliação consta em relatório da XP Investimentos, obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.
Entre este ano e o próximo, a corretora estima arrefecimento da inflação no Brasil (5,6% para 5,2%), México (8,3% para 5,3%), Colômbia (12% para 6,5%) e Chile (12,5% para 5,6%). Este processo deve ser puxado por uma melhora das cadeias de suprimentos globais, correção dos preços de commodities e pelo aperto monetário nas economias desenvolvidas.
“A gente começa a acompanhar sinais não só na América Latina, mas no mundo inteiro, de reversão para um processo de desinflação”, diz o economista da XP Francisco Nobre, um dos autores do estudo. “Isso deve ganhar tração principalmente no ano que vem, mas deve ser um processo lento. Tem efeitos de segunda ordem que ainda estão sendo refletidos na inflação.”
Nas contas da XP, os custos de fretes marítimos caíram cerca de 75% desde o início de 2022, o que sugere melhora das cadeias globais de suprimentos. Ao mesmo tempo, as correções dos preços de commodities colaboram para a desinflação. A corretora espera estabilização do barril de petróleo Brent em US$ 90 até o fim do ano, de cerca de US$ 94,30 às 12h30 desta quinta-feira, 13.
O aperto monetário conduzido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) também é um dos vetores de alívio para a inflação da América Latina, pelo potencial de desacelerar a economia global. O cenário da corretora considera uma taxa terminal em torno de 4,5% para os Fed Funds, embora o risco seja de um aumento mais intenso dos juros.
“O Fed está aumentando os juros em um ritmo muito mais acelerado do que fizeram em outros ciclos, caminhando para um quarto aumento de 75 pontos-base, algo que nunca foi feito antes”, comenta o economista, que vê o risco de um “aperto excessivo” dos juros americanos. “O que eles têm sinalizado é que estão mais preocupados de errar para baixo do que para cima.”
Na passagem de 2022 para 2023, a XP espera desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil (2,8% para 1%), México (2,2% para 1,5%) e Colômbia (8% para 1,6%), além de uma recessão moderada no Chile (2,1% para -0,5%), embora Nobre reconheça que o risco é de uma desaceleração global mais forte e, consequentemente, de números menores na região.
Juros
Apesar do risco de um aperto monetário global mais intenso, a XP nota que os bancos centrais latino-americanos já parecem estar chegando ao fim do seu processo de aumento de juros. Segundo Nobre, os países da região começaram a elevar as taxas antes e parecem comprometidos com a manutenção de um ritmo forte de aperto, de forma a garantir a convergência da inflação.
A corretora avalia que o aperto monetário já chegou ao fim no Brasil, com a taxa Selic em 13,75%, e no Chile, após o aumento de 0,5 ponto porcentual dos juros anunciado ontem, a 11,25%. Na Colômbia, a XP espera uma última elevação de 1,0 ponto em outubro, a 11%, enquanto o México deve aumentar os juros em 0,75 ponto em novembro e 0,25 ponto em janeiro de 2023, a um nível terminal de 10,75%.
A XP vê espaço para início do afrouxamento monetário nos países da região a partir do segundo semestre do ano que vem, embora a tendência seja de manutenção das taxas em nível elevado na comparação com os padrões históricos. No fim de 2023, a corretora prevê redução dos juros no Brasil (10%), México (10%), Colômbia (8,5%) e Chile (8,5%).
O economista alerta, no entanto, que o comportamento dos ativos latino-americanos deve continuar condicionado aos riscos políticos domésticos. “No Brasil, temos as eleições presidenciais que estão para ser definidas. Temos incertezas na Colômbia, com o começo de um novo governo de esquerda. E, no Chile, temos o mesmo cenário, com o presidente Gabriel Boric com dificuldades de implementar reformas”, comenta.